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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

BAGA NOBRE SACRIFÍCIO (BB159)

Outubro 30, 2024

Tarcísio Pacheco

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imagem em: Pin page

 

BAGAS DE BELADONA (159)

HELIODORO TARCÍSIO          

 

BAGA NOBRE SACRIFÍCIO – Ao seguir as notícias da passada semana sobre aquele corajoso agente da lei que, na Cova da Moura, com risco da própria vida e em defesa das famílias portuguesas de bem (de sangue puro lusitano e constituídas por pai, mãe e dois filhos, de preferência um casalinho) pregou três balázios certeiros num mouro altamente suspeito, dei por mim, pela primeira vez na vida, a apoiar o Ventura. Não, não me internem ainda em S. Rafael, eu já explico porquê.

Fiquei particularmente afetado pelas afirmações do próprio Ventura, de que está a ser perseguido e que querem prendê-lo, tentando assim, malevolamente, decapitar a liderança deste PRECIID (Processo Revolucionário em Curso Imparável e de Inspiração Divina), assim chamado para diferenciar do outro de má memória, o PREC dos comunas. Dei comigo a pensar, isto é intolerável, prender um homem destes, um líder das massas, um iluminado, alguém predestinado a mudar o mundo. Ná, é preciso fazer algo de extraordinário e altamente simbólico, que perdure na memória do país para sempre e daí em diante também. Algo que coloque o país nas bocas do mundo, que eclipse até o resultado das eleições norte-americanas. Quiçá, que possa inspirar o próprio Trump…então, resolvi sugerir à liderança do Chega e ao próprio André Ventura, um ato radical e simbólico, o mais nobre sacrifício que um patriota pode fazer, na defesa de um país, da sua gloriosa história, das suas instituições sagradas e dos cidadãos do bem. Trata-se de algo que proporciona até imensa visibilidade, pelo menos depois de se dissipar a fumaça. Com efeito, vou sugerir ao Ventura que se imole pelo fogo em frente à Assembleia da República, como protesto pelo que lhe querem fazer e pelo desrespeito pelos nossos anjos de azul, que não podem dar tiros à vontade e, ainda por cima, ao que dizem, contam nas fileiras com elevada percentagem de apoiantes do Chega. Não vale a pena organizar mais manifestações, isso qualquer um faz, os comunas são peritos nisso. Quer-se ver é quem é que se rega com gasolina e ateia uma bela fogueira em si mesmo, algo muito mais raro entre nós. Além de ser um ato de extrema coragem, transmite uma mensagem decisiva, do género, vejam até que ponto estamos dispostos a ir, para defender a Pátria e as pessoas de bem. Imagine-se a cena, um dia convenientemente sombrio (mas não chuvoso, o que seria contraproducente), o largo de S. Bento repleto de Cheganos (a escadaria não, isto é gente amiga da ordem e que respeita a lei), todos vestidos de branco, a cor da virgindade e da pureza  racial, de semblante muito sério, muitos com lágrimas nos olhos, alguns a rezar o terço, a deputada Marta Martins da Silva a fazer uma comovente dança fúnebre, os tambores do museu da Mocidade Portuguesa a rufar e o Ventura, a chegar, muito pálido e sereno, envolto numa grande bandeira de Portugal, de olhos postos no céu, a marchar lentamente em passo de procissão para a zona sacrificial, amparado pelo seu confessor privado. E depois, o seu bom e fiel lugar-tenente, aquele senhor que infelizmente tem com cara de mouro e triplo queixo,  que costuma estar sempre atrás dele nas entrevistas, a dizer que sim com a cabeça, transido de emoção e com mãos trémulas, puxaria de uma garrafa de litro de bom azeite português, cheia de gasolina de alta octanagem benzida pelo bispo de Lisboa e aspergeria abundantemente o seu líder; em seguida, Ventura faria um curto mas tocante discurso, em que ofereceria o seu sacrifício na defesa da Pátria, da Honra e do Bem, após o que ele próprio atearia o fogo e morreria num silêncio heroico, apenas quebrado pelos soluços e uivos de dor da multidão e pelo som das roupas a serem rasgadas em sinal de luto. Um pouco mais tarde, não faltariam também cinzas, para cobrir a cabeça com a mesma finalidade. E tudo isto seria transmitido pelas televisões para o resto do mundo, com destaque para uma equipa de enviados especiais da Fox News. Por uma vez, ninguém ia querer saber da Ucrânia e do Líbano.  Só de imaginar a cena dá-me arrepios patrióticos pela espinha abaixo, murmúrios de angústia vesicular e uma espécie de flatulência da alma.

Com o máximo de sinceridade de que sou capaz, não tenho dúvidas de que este nobre sacrifício seria muito benéfico para o país. Iria gerar um culto nacional concorrente ao de Fátima e do Pe. Cruz, com todo o bom Chegano a montar um altarinho em casa, em que a fotografia do abnegado líder estaria permanentemente ladeada por flores frescas e velas acesas. A própria Santa Sé não poderia ficar indiferente e é certo que contaríamos com mais um beato português, que seria mais tarde promovido a santo, talvez São Ventura (uma vez que já existe um Santo André). As autoridades deste país, especialmente agora, que se conseguiu expulsar o monhé para a Europa, iriam, finalmente, perceber que é essencial para o bem e o progresso dos verdadeiros portugueses, expulsar os emigrantes todos e branquear a população. E imagine-se o merchandising, a circular por todo o mundo, graças aos turistas, as estampas com a fotografia de Ventura, as piedosas medalhinhas de trazer ao pescoço, as t-shirts, os cachecóis…

A minha única dúvida é se o auto de fé deveria ocorrer no largo de S. Bento ou no Martim Moniz. Neste local, o simbolismo e a mensagem seriam duplamente evidentes. Martim Moniz entalou os testículos na porta do castelo, no cerco à moirama, em nome da Pátria. André Ventura queimaria os testículos e tudo o resto no lugar que tem o seu nome. O duplo simbolismo adviria do facto da moirama ter mais tarde reconquistado o Martim Moniz, passando por lá os dias a vaguear, sem fazer nenhum, a gastar os subsídios em bebidas exóticas, após que vão para casa fazer ranchadas de filhos que já nascem com direito a cidadania e, quando crescem, se entretém a vender droga e a queimar caixotes de lixo e autocarros.

Atreves-te, André? Fico com alguma esperança… se for preciso alguma coisa da minha parte, não sou rico, mas uma pequena contribuição, para uns decilitros de gasolina ou assim, é só dizeres. Tenho MBWay. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA CIDADANIA (BB158)

Outubro 23, 2024

Tarcísio Pacheco

 

BAGAS DE BELADONA (158)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA CIDADANIA – Não tenho dúvidas em afirmar que, a par do Português e da Matemática, a disciplina de Cidadania é das mais importantes do atual currículo escolar nacional. Como disciplina transversal a todo o percurso escolar, naturalmente com conteúdos e estratégias adequados a cada nível etário, acompanha o estudante desde o 1.º ciclo até ao final da sua formação obrigatória. É nesta disciplina que o estudante vai apreendendo conceitos que são fundamentais para desenvolver uma sociedade saudável e equilibrada. São conceitos e valores cada vez mais relevantes no turbulento mundo atual, em que forças sombrias trabalham ativamente para nos fazer retroceder centenas de anos, aos tempos da obscuridade intelectual, do fanatismo moral e religioso, da violência como instrumento de poder, da ignorância, da intolerância, da aversão primitiva e instintiva a tudo o que é diferente, do nacionalismo parolo.  

A nossa atual disciplina de Cidadania apresenta um vasto currículo de temas, muito bem selecionados e estruturados que, claramente, pretendem transmitir importantes valores universais, num quadro de evolução social e de mentalidades, que se relacionam com a cultura democrática, a cidadania ativa, o pacifismo, a tolerância, a não discriminação, a aceitação da diferença e a importância de continuarmos a ser um regime e uma sociedade laicos, com clara separação entre religião e estado. Ninguém diria, há uns anos, que este último item necessitaria de ser mencionado ou incluído, mas, tendo em conta a proliferação de igrejas evangélicas radicais nos últimos anos, com um discurso bélico e agressivo e claras intenções de controlar a sociedade, através dos media e das ligações ao poder político, torna-se fundamental garantir a continuidade deste pilar das sociedades democráticas evoluídas.

Temos assistido nos últimos dias às declarações públicas de uma série de atores políticos do grupo no poder, do 1.º Ministro a outros ministros e deputados sobre a necessidade de rever os currículos escolares. Tem sido patético observar como eles se esforçam por fazer eco das posições do Chega, num piscar de olhos à extrema-direita que acreditam ser imprescindível para os seus objetivos políticos. Mas sem nunca particularizar e esclarecer o que deve ser alterado nos currículos escolares, acredito que, basicamente, por vergonha. Claro que todos percebemos o que é que incomoda tanto os Cheganos e, quando eles têm o microfone, não se coíbem de o dizer claramente, são as questões ligadas à educação sexual, sobretudo no que respeita à tolerância, à não discriminação, ao respeito pela diferença e, acima de tudo, à identidade de género, a questão que lhes faz mais confusão. É isso que lhes frita mais neurónios e como eles não têm muitos, esses fazem-lhes falta.

Ao contrário do que diz o Chega, eles não querem retirar da disciplina de Cidadania conteúdos de caráter ideológico e de fação (seja lá o que isso for…). Ou melhor, não querem simplesmente retirá-los, querem retirá-los e substituí-los por conteúdos da sua cartilha ideológica, que é, como todos sabem, de natureza pró-fascista, com base no número dos seus votantes e na “vontade das famílias” – conceito absolutamente discutível e nebuloso.

Vamos ser claros, o Chega é o inimigo na sociedade portuguesa atual. E não acredito que 1.250.000 portugueses sejam pró-fascistas. Acredito que alguns o sejam, inevitavelmente, e que outros se cheguem para o partido por oportunismo. É o conhecido fenómeno bola-de-neve, um partido cresce e atrai bandos de carreiristas e oportunistas ambiciosos. Acredito, isso sim, que muitos se tenham deixado seduzir pelo  carisma pessoal do líder e ao seu discurso básico e demagógico. O exemplo histórico mais fácil, que todos conhecemos foi o de Adolfo Hitler, que nem sequer beneficiava de uma carinha laroca e ainda tinha um bigodinho ridículo. E todos sabemos como acabou.  É absolutamente arrepiante perceber como é fácil seduzir multidões quando se tem o dom da palavra e o verbo fácil. É que a multidão é a forma de vida mais estúpida que existe neste planeta.

Entretanto, deixem lá a disciplina de Cidadania em paz. Está muito bem como está atualmente. Como pai de uma estudante de 13 anos (pai de mais 3, mas, no tempo dos outros era só a pobre Religião e Moral Católicas…) não quero que mudem nada na disciplina de Cidadania. Ou, por outra, pode-se mudar sempre, claro, mas para melhor, no sentido evolutivo, inclusivo, libertário e sim, vanguardista, por que raio é que este adjetivo se tornou repentinamente negativo?

Por fim, é fundamental lembrar que os regimes totalitários deste mundo não toleram nem admitem nos seus currículos escolares, uma disciplina como a de Cidadania. Falo especialmente da Rússia, todos sabemos o que por lá se anda a ensinar nas escolas, nacionalismo, autoridade absoluta do estado, militarismo e intolerância em todos os sentidos.

Por isso, se não quisermos ficar parecidos com a sociedade russa ou bielorussa, com a América profunda de Trump, com o Brasil de Bolsonaro, com a sociedade dos aitolás iranianos, temos de ser mais inteligentes. E cortar o que for preciso. Na Revolução Francesa foram cabeças.  Senão, meus caros, ainda vamos voltar aos crucifixos e aos retratos dos governantes nas escolas…e aí eu teria, forçosamente, de entrar na clandestinidade e isso não me daria jeito nenhum hoje em dia, com a idade que já tenho e o barco ali na marina… POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA CHEGANICES (RIMA COM CIGANICES) BB154

Março 15, 2024

Tarcísio Pacheco

 

 

 

chega.jpg

imagem em: Mocidade Portuguesa, cartoon de Vasco Gargalo d’prés João Abel Manta, Salazar e André Ventura, 2020, Portugal. – Arquipélagos (arquipelagos.pt)

BAGAS DE BELADONA (154)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA CHEGANICES (RIMA COM CIGANICES…) -  Não escondo que o Chega me dá azia (como, aliás, a política em geral), mas vou resolvendo isso com sais de frutas ENO (a referência comercial é para ver se arranca de vez a minha carreira de influencer e começo a receber uns cobres…). Simplesmente, não vale a pena preocuparmo-nos com o que não podemos mudar. Diz o sistema que o voto é a arma do povo, mas o que se pode fazer, na verdade, se, por cada inteligente que vota, votam também dez idiotas, ignorantes, neofascistas, velhos fascistas, antigos pides, simples oportunistas, ressabiados ou jovens empreendedores imbuídos de espírito competitivo e à espreita de boas oportunidades para usar gravata e subir na vida. Ouço dizer que muitos votam Chega porque estão fartos dos partidos tradicionais, cansados de promessas jamais cumpridas e de problemas locais que nunca mais se resolvem. Não duvido que assim seja e até entendo. Sou terceirense e de promessas por cumprir, entendo eu. Porém, o fenómeno do Chega vai muito para além disso. Se fosse só por cansaço e protesto, as pessoas votariam num qualquer dos pequenos partidos que infestam a nossa cena política e há-os para todos os gostos.  Acredito que a maior parte dos cheganos vota no líder, André Ventura. Este é um claríssimo exemplo de líder populista, que está na moda nos tristes dias de hoje. O significado do termo populismo é variável no tempo e no espaço e não é sequer recente, os líderes populistas sempre existiram na História, só não lhes chamávamos isso. Contudo, é geralmente aceite que eles partilham uma série de caraterísticas: boa comunicação, perfil de liderança, capacidade para convencer o cidadão comum e influenciar pessoas, criticismo, inteligência ou esperteza (conceitos diferentes), oportunismo, conservadorismo, militarismo, nacionalismo, moralismo, racismo, na atualidade, descrença no desastre climático que se avizinha, messianismo próprio e uma aura mística ou religiosa, que ajuda bastante se estiver presente e frequentemente está, mesmo que de forma hipócrita. Dois dos líderes populistas mais conhecidos na atualidade, são Trump e Bolsonaro, que nada têm de religioso, mas que vimos frequentemente a serem “abençoados” por sacripantas evangélicas ou radicais bíblicos que, inclusivamente, levaram para os seus governos. Ora, Ventura é um pouco de tudo isto, até andou no seminário e tem um “confessor” privado, algo que era reservado antigamente aos membros da nobreza. E se o compararmos com os dois referidos populistas, Ventura até leva larga vantagem. Trump não passa de um burro gordo e endinheirado, um pateta palavroso e vazio, duma ignorância, truculência e grosseria inacreditáveis.  Bolsonaro, pior ainda, é um simples capitão do exército com pouco préstimo, que se meteu na política, é igualmente ignorante, deve pouco à inteligência e nem sequer falar sabe, era um exercício penoso e cansativo ouvir aquela criatura, o tal que “não era coveiro”. E ambos atraíram milhões nos seus países, de todas as classes sociais.  Óbvios racistas, tiveram inúmeros votantes nas comunidades negras e latinas.  Ora, Ventura é claramente mais inteligente, mais bonito, melhor comunicador que qualquer um deles e, é ambicioso, religioso e ainda por cima, é do Benfica e percebe de futebol. É o genro que qualquer pai portuga e básico quer. Ele é o abençoado, o eleito, o queridinho da catequese, o mais inteligente de todos, o que não tem papas na língua, o que diz as verdades todas, o ungido do Senhor e, claro, o único que pode levar Portugal para a frente, o D. Sebastião do séc. XXI.

Havia a mania parva de que Portugal era imune ao crescimento da extrema-direita, mas é claro que era só uma questão de tempo. Ventura pode ser bonitinho, mas não é exatamente original. A dolorosa verdade é esta, vivemos um pavoroso tempo histórico em que a extrema-direita ganha força e se consolida, um pouco por todo o lado. Isto é como uma epidemia de peste, alastra depressa. Um velho fascista local anda deliciado, a babar-se todo publicamente por Ventura, porque, claro, jamais imaginou que antes de morrer ia ver isto voltar ao tempo em que servia de cão de fila de Salazar. Eles estão por todo o lado e estão a chegar ao poder ou já lá estão, na vizinha Espanha, na insuspeita e revolucionária França, na bela Holanda, na Hungria, na Eslováquia, na Itália. E porque é que isto acontece? Porque as pessoas votam neles.

E assim chegamos aos eleitores de Ventura. Temo-los visto e ouvido, por todo o lado, dantes constituíam o principal manancial para as piadas de Ricardo Araújo Pereira no seu “Isto é Gozar Com Quem Trabalha”, uma pessoa que, obviamente, Ventura deve odiar. Dantes, eram sobretudo uns patuscos que, se fosse na Terceira, dizíamos que tinham vindo de S. Rafael, abusado das bujecas  ou fumado papoilas secas. Ou eram como aquele miúdo tontinho, que foi todo engravatado para o último congresso do Chega e se atreveu a falar ao microfone, para dizer que pensava como Ventura, mas não sabia o que Ventura pensava porque, obviamente, não andava dentro da cabeça das pessoas. Antes era destes ignorantes ou simples estúpidos que aplaudem freneticamente o líder, mesmo quando não entenderam nada e papagueiam o que dele vão ouvindo. Mas à medida que o partido vai crescendo, outra fauna vai chegando e começam a aparecer alguns predadores com outras posições na cadeia alimentar. São os bem-falantes, os imitadores do líder, os dissidentes de outros partidos, os vira-casacas, os antigos comunistas de Setúbal, do Alentejo, do Algarve, os ambiciosos, os caciques locais, os betinhos sem lugar nas juventudes partidárias e, sobretudo, gente que nunca sonhou chegar a deputado e que vê agora abertas as portas de S. Bento e, quiçá, um dia, um lugarinho no Governo, um chefe de gabinete, um porta-voz, um adido de imprensa, por algum lado se chega à gamela do poder. Permanecem aqueles que sempre partilharam o ideário de Ventura, os cheganos ou melhor dizendo, venturinos legítimos.

É evidente que Ventura é uma criatura abominável. Não pelo esposo, filho, amigo, irmão ou pai que possa ser. Nada sabemos disso nem nos deve interessar. Ventura é um candidato a líder político de um país e tudo o que nos deve interessar é o que ele pensa sobre a vida e as coisas da vida. E, ao contrário do que disse aquele tontinho engravatado que o RAP impiedosamente crucificou, qualquer pessoa minimamente atenta sabe bem o que pensa Ventura pois ele já o revelou muitas vezes. Mesmo que, como qualquer líder inteligente que ainda não chegou ao poleiro grande, ele já tenha revisto e maquilhado o seu discurso, para não assustar os direitas mais tímidos. Mas, se ele um dia chegar ao poleiro grande, vai fugir-lhe a boca para a verdade, foge sempre. Hitler não começou logo por revelar que queria exterminar todos os judeus do mundo. Começou por dizer que os outros políticos eram todos corruptos, que ele era o único são e que as culpas do estado da nação alemã eram de grupos específicos de cidadãos, os “inimigos do Estado” … soa a dejá vu? É natural. Começou assim, o resto veio depois.

Também é evidente que nem todos os cheganos são neofascistas, ultranacionalistas, radicais religiosos, militaristas e outras alpistas, como o seu dono. Cada vez mais veremos gente dita “normal” entre eles, vizinhos, amigos, colegas de trabalho e até familiares, como aconteceu com o Bolsonarismo no Brasil.  Serão, na sua maioria, os seduzidos pela carinha laroca, o verbo fácil de Ventura e o seu pacote de geniais soluções para qualquer problema, prontas a usar (é só juntar água). Mas, infelizmente, é o tempo desta gente. Todos os que não são como eles, devem combatê-los (pacificamente, claro), tentar derrotá-los, mas temos de aceitar que o processo siga o seu caminho, que Ventura, o Chega e os cheganos todos cheguem lá acima, vejam a mesma vista que todos os que estiveram lá já viram antes e depois desçam, ordeiramente ou aos trambolhões e até empurrados, se assim tiver de ser. O Chega passará, como tudo passa nesta vida, mesmo que até o mundo e a própria vida passem.  POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA PARECE QUE É POLÍTICA MAS É SÓ CHUPAR LAPAS (BB129)

Fevereiro 08, 2022

Tarcísio Pacheco

26-vasco-gargalo-mocidade-portuguesa-dapres-ja-manta-_9 (1).jpg

 

imagem em: Mocidade Portuguesa, cartoon de Vasco Gargalo d’prés João Abel Manta, Salazar e André Ventura, 2020, Portugal. – Arquipélagos (arquipelagos.pt)

 

BAGAS DE BELADONA (129)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA PARECE QUE É POLÍTICA, MAS É SÓ CHUPAR LAPAS - André Ventura foi perentório. Estará vigilante e não deixará que os erros de José Sócrates sejam repetidos. Destaco a adjetivação “vigilante”, uma novidade no país que me remete para manobras caras às direitas (vigilantes de bairro, comités de observação da decência social, grupos de cidadãos armados e formação de milícias). Fica o país assim bastante mais descansado, finalmente há alguém que não dorme, para ficar a vigiar e, acima de tudo, tem em carteira um grupo de erros totalmente novinhos em folha e nunca cometidos antes. Sempre os mesmos erros não, por favor. Creio mesmo que alguns foram já ensaiados nas campanhas eleitorais do Chega, como Ricardo Araújo Pereira tão animadamente nos mostrou. São erros fixes, erros mesmo geniais, de gente claramente diferente, psiquiatricamente falando. E para um cargo de vigilância no Chega, embora localizada, quero já propor uma pessoa, uma vizinha dos meus sogros, numa rua de Ponta Delgada. Não posso revelar o nome, por questões de confidencialidade e segurança, mas esta senhora dedica cerca de 22 horas diárias às tarefas de vigilância da rua, a partir do seu posto de observação privilegiado, na varanda do 1º andar da sua casa. As 2 horas restantes (que ela está a pensar seriamente em reduzir, para agradar a Ventura e servir o país) são para coisas menores como alimentar-se e dormir. O banho é só ao domingo (um dia morto), conforme ela própria explicou, trabalho com os olhos, transpiro pouco e além disso “da minha casa de banho não consigo ver nada”. Perfeitamente compreensível. Típica intervenção desta vigilante, se vir alguém a bater a uma porta surda: “Ei senhor, não vale a pena, eles saíram, mas costumam estar em casa a partir dumas sete da tarde…”. Informação rigorosa e detalhada.  Se houvesse um vigilante deste calibre em cada rua, jamais o motorista de Sócrates teria podido andar nas voltinhas do patrão sem dar nas vistas.

É raro, mas às vezes dá-me para pensar em politiquices, geralmente integra-se na depressão de Inverno, em períodos mortos do Covid e enquanto não chega uma série realmente fixe na Netflix. É um bocado aquilo de nos entregarmos a concursos de cuspo porque não há nada melhor para fazer. Na verdade, na maior parte do tempo fico a pensar nos mistérios do Universo. Enquanto não chego a qualquer conclusão, passo os olhos pelas notícias, a ver o que está na moda. Que, presentemente, é Covid, crise do Benfica e eleições. Covid já tive, obrigado, crise do Benfica não é exatamente uma má notícia para mim (desculpa RAP), restam então as eleições.

Os comentadores eleiçoeiros são mais que sapos num pântano. E cada um puxa a brasa à sua sardinha. Eu não gosto de sardinhas, mas apraz-me assoprar uma brasa aqui e ali. Já se sabe que isto de análise de resultados eleitorais é filosofia esotérica e um pouco de física quântica, está nas categorias superiores do pensamento cognitivo. Não é, decididamente, para a minha pobre cabeça. Eu sou mais de passear no calhau e comer lapas ao luar. Ideologicamente sou de esquerda, como nunca escondi, sei exatamente o que isso significa e até já o revelei ao mundo nestas páginas. Não alinho com a “grande derrota” do BE. O BE demonstrou ao país que se mantém fiel ao seu ideário e que os seus eleitores e simpatizantes (eu sou apenas um destes últimos) podem contar com caráter e coerência. Não contem com o BE para panelinhas e jogadas asquerosas. O BE fez muito bem no passado em estabelecer compromissos com o PS e com o PCP. Tratava-se então de expulsar do poder uma direita tóxica para o país. Era um desígnio nacional. Foi uma ótima geringonça, enquanto durou, com uma parte da frente muito gira. No passado recente, António Costa já não estava disponível para negociar seriamente e estabelecer compromissos. Talvez farejasse já trono absoluto para o seu tímido socialismo bem puxado ao centro. O BE fez muito bem em manter-se igual a si próprio e a não viabilizar um orçamento que traía os seus princípios. Perderam muitos deputados, mas ganharam respeito e estatuto, que não é a mesma coisa que poder. Uma parte significativa do seu eleitorado escolheu o voto útil e terá votado PS. Não os censuro, a alternativa era terrível. Continuem sempre, meninas bonitas e inteligentes do BE.

Pronto, era só isto. Esta era a parte séria, a menos importante, claro. Agora vou-me ali e já não volto. Muita saúde. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

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