BAGA AMÉRICA ZOMBIE (BB163)
Fevereiro 07, 2025
Tarcísio Pacheco
BAGAS DE BELADONA (163)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA AMÉRICA ZOMBIE–. Recentemente, assisti a um programa na TV protagonizado por cientistas e especialistas do comportamento animal. Foi um documentário extenso, com análises profundas e sustentadas de muitos casos de claro comportamento homossexual entre animais do mesmo género, com destaque para primatas e cães, por exemplo. Uma das conclusões finais foi de que o comportamento animal homossexual foi observado em cerca de 1.500 espécies animais, um vasto número. Foram analisados diversos casos específicos. Um deles consistia num caso absolutamente revoltante. Num canil, estava um belíssimo cão jovem, de raça, que havia sido ali deixado pelo seu dono, com a finalidade de ser abatido. Estava irremediavelmente doente ou tinha atacado alguém? Nada disso, a justificação do dono era a seguinte: o meu cão é gay, “apanhei-o” a montar outro cão macho. Esta triste história tem um final feliz, o pobre cão foi salvo duma condenação à morte digna do Irão por uma moça inteligente e compassiva, que o levou para casa. Onde aconteceu isto? Claro que podia ter acontecido em qualquer lugar, afinal, energúmenos estúpidos, há-os em todo o mundo. Mas, como se está mesmo a adivinhar, este caso sucedeu nos Estados Unidos da América.
E esta história traz-me ao tema principal. Fiquei chocado, mas não exatamente surpreendido com a emergência de um vilão tão óbvio como o Donaldo. Afinal, a escalada dele pela pirâmide do poder acima não foi assim tão rápida e as evidências foram-se acumulando ao longo dos anos. A minha falta de surpresa não foi pelo vilão em si, afinal eles estão um pouco por todo o lado neste pobre planeta e apareceram regularmente ao longo da história humana. O facto é que sempre fui extremamente crítico em relação aos EUA e não, não sou comunista. Visitei os EUA e visitaria de novo sobretudo pela diversidade da paisagem e pela riqueza da sua natureza. Mas jamais viveria nesse país. Sempre me senti açoriano, primeiro que tudo e depois português e europeu até à medula. E isto é, sim, um autoelogio.
Com efeito, sempre senti que há algo de extremamente doentio e profundamente errado com a sociedade norte-americana. Num país com cerca de 331 milhões e 500 mil habitantes, só atrás da China e da Índia, que se define como uma democracia plena com eleições regulares, na verdade autodenominando-se “a maior e melhor democracia do mundo”, não há espírito crítico, não há confronto de ideias, não há dissidência nem dissonância, não há combate político e ideológico, não existe a maravilhosa diferença entre as pessoas e até os americanos de origem africana, asiática, latina ou árabe, rápida e pressurosamente se inscrevem na matriz norte-americana, muitas vezes ainda na primeira geração. Que haja não brancos a votar no Donaldo e aos pulos nos comícios dele, com o ridículo bonezinho vermelho, é algo que ultrapassa a minha compreensão. Sabemos que há pessoas muito inteligentes na sociedade americana, na ciência, na cultura, nas artes, na tecnologia, mas, até mesmo os insuspeitos cientistas sacrificam a sua inteligência no altar da conveniência política e da sobrevivência pessoal. Basta ver como a comunidade científica americana começou a fechar-se quanto às alterações climáticas e a tentar afinar pelo diapasão dominante. Está toda a gente com medo de ser despedida, de perder o cargo ou o subsídio. Em breve estarão os EUA a afirmar como um todo que não há alterações climáticas e que as vacinas provocam autismo. “God save America but, meanwhile, Drill Baby Drill”. O Donaldo já mostrou claramente que pretende dominar todo o país, começando pelos aparelhos político e judicial, passando pelo Pentágono, por todo o funcionalismo público e pelas agências governamentais, incluindo a CIA, o FBI e a NSA; há mesmo sinais de que pretende dominar a igreja, o que não surpreende, dada a sua intimidade com as altas esferas celestes; durante a campanha eleitoral vi uma publicação em que um Donaldo em pleno sermão aos seus fiéis era retratado com um belíssimo anjo com o braço por cima dos seus ombros; e outra em que o Donaldo se passeava por um jardim em amena cavaqueira e de braço dado com Jesus, provavelmente a debater a próxima manobra da “paz pela força”. Em breve pouco restará do indómito espírito pioneiro norte-americano que, mesmo tendo levado ao massacre dos primitivos donos da terra, não deixou de ser indómito e de se constituir em epopeia. Em breve, como mudou o nome do Golfo do México (claro que para mim jamais mudará) o novo marajá vai mudar o nome do país para Estados Unidos do Donaldo. E até vai conseguir inscrever isso na constituição. A menos que algum americano com a mistura suficiente de engenho, loucura, coragem e boa pontaria tome uma atitude histórica para os EUA e para o mundo. OS EUA estão no caminho certo para, a breve trecho, se assumirem plenamente como algo que na verdade sempre foram em certa medida, o paraíso da banalidade, do convencionalismo, da hipocrisia moral e política e do dogma religioso, tendo como ferramentas principais, a força bruta, o poder absoluto, a intimidação, a chantagem, a mentira, a manipulação e o medo, regados a Coca-cola light.
Portanto, o que é realmente incrível não é que os EUA tenham produzido o Donaldo. O sistema deles favorece o aparecimento de patifes deste quilate. Do meu humilde ponto de vista, o Donaldo é um perfeito crápula, um demente perigoso, com ideias próximas da ideologia fascista, que jamais deveria estar à frente de nada, exceto das suas próprias empresas privadas, bastante mal geridas e, aliás, sobre as quais recaem suspeitas (a acusação não é minha, vem de fontes pouco políticas e assenta em fortes indícios) de terem sido salvas da bancarrota a certa altura, por abundantes injeções de dinheiro russo. Daí toda a condescendência do Donaldo com o Vladimiro, para além da admiração pessoal entre pares. Eu não o queria nem para presidente do clube de xadrez da minha freguesia. O Donaldo deveria estar na prisão ou pior. Além disso, ao contrário do que alguns comentam por aí, o Donaldo não me parece muito inteligente. Basta estar com um pouco de atenção, ver como ele funciona e percebemos que ele é perfeitamente previsível. As aspirações que expressa são verdadeiras e mostram bem a sua baixeza de caráter. Como ele tem a esperteza suficiente para perceber que a sua pior retórica suscitaria forte oposição, dos mais variados quadrantes, opta por a anunciar ao mundo mesmo assim, sem qualquer enfeite. Mesmo antes de tomar posse já teve ataques de flatulência intestinal pela boca. Imediatamente após tomar posse, anunciou ao mundo o que realmente gostaria de fazer, mas sabe ser impossível. Será das raras vezes que diz a verdade. Fazem parte desse filme, por exemplo, o canal do Panamá, a Gronelândia, o Canadá, a faixa de Gaza e o plano de mudar a constituição para conseguir um terceiro mandato e, quem sabe, um quarto. O Donaldo queria mesmo ficar com isto tudo, se o deixassem. As pessoas normais assustam-se e reagem. Quando esbarra com forte oposição, recua um pouco, finge saber refletir ou manda os seus esbirros recuarem por ele. E talvez consiga assim concessões que jamais conseguiria de outro modo. É assim que funciona o Donaldo, com arrogância, agressividade, intimidação e abuso. Ele tem um ego extremamente inflacionado e julga-se uma das criaturas mais inteligentes que já pisaram a Terra. Deve achar-se um grande jogador de golfe e de poker. Por isso, usa e abusa do bluff. Qualquer pessoa minimamente inteligente percebe que qualquer ato expansionista agressivo do Donaldo significaria quase de imediato o fim de Taiwan. E mesmo que o Donaldo pouco se importe com Taiwan, teria aberto a caixa de Pandora, que jamais conseguiria voltar a fechar. Donaldo é fundamentalmente estúpido e destituído do mais elementar bom senso. Mas não é tão estúpido que não entenda o óbvio. O que nunca é estúpido é a História, que analisa, avalia, julga e explica o passado, à distância. E não tenho a menor dúvida de que, se o mundo sobreviver a psicopatas como Donaldo, Vladimiro e outros do mesmo clube, a História considerará Donaldo, de muito longe, o pior presidente de sempre dos EUA e quiçá do mundo.
Portanto, e para concluir, Donaldo não é surpresa. Surpresa será talvez ter escravizado o partido republicano e ter seduzido tantos milhões de americanos. Mas não fez Hitler o mesmo na década de 30 do séc. XX com uma nação se calhar muito mais civilizada que os atuais EUA e onde havia muito mais inteligência per capita? Será a estupidez viral e contagiosa? Se calhar é isso que é o Donaldo é, um daqueles fungos recém-descobertos que se apoderam das mentes de alguns insetos e os transformam em zombies. É isso que me parecem os EUA de hoje. Uma nação gravemente doente, infestada por um fungo parasita, grande, gordo, nefasto, malévolo, vagamente alaranjado e com uma coroa vermelho tóxico por cima. Uma grande nação zombie.popeye9700@yahoo.com