BAGA MORTÁGUA
Maio 14, 2019
Tarcísio Pacheco
BAGAS DE BELADONA (74)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA MORTÁGUA – As manas Mortágua e, por arrasto, todo o grupo conhecido como “as meninas do BE” vieram, nos últimos anos, agitar a cena política portuguesa, provocando ódios e paixões. Para que fique claro, sou membro do grupo das paixões. Até porque elas são todas giras e estou farto de políticos feios e vestidos da mesma maneira. Elas representam uma lufada de ar fresco, são o berço e o motor das novas ideias e atitudes que vão fazendo evoluir a mentalidade portuguesa, embora devagarinho porque a populaça não se dá com grandes e bruscas inovações. As manas Mortágua são odiadas sobretudo pelos setores mais conservadores e convencionais da sociedade, pela Igreja Católica, claro, a campeã da misoginia e pelos inúmeros homens que receiam a inteligência feminina e a ascensão social da mulher.
Recentemente, um articulista do DI escandalizou-se com a brejeirice de uma das manas Mortágua que, em recente evento comemorativo da liberdade, através do megafone, expressou o desejo de que Santo António levasse Bolsonaro para junto de Salazar. E ainda se mostrou receoso de que o caso provocasse um incidente diplomático entre Portugal e Brasil. Não deixa de ter a sua razão. Se Portugal e o Brasil entrassem em guerra, era bem capaz de ser uma coisa mais tipo batalha naval e se eles nos afundassem um submarino, era logo metade da nossa frota subaquática que ia à vida. E os danos colaterais poderiam ser significativos. Era provável que tivéssemos de deixar de apresentar escolas de samba nos nossos corsos carnavalescos devido à forte possibilidade de infiltração de espiões inimigos. Muitas casas de alterne, um próspero negócio intercultural, teriam de fechar, por míngua de “funcionárias”. E os restaurantes deixariam de servir picanha com feijão preto e arroz. Pessoalmente, eu também seria afetado: cachaça de cana só no mercado negro e a caipirinha passaria para 50 euros o copo. Pior que isto, só se a minha filha, nascida na Bahia, se passasse para o lado inimigo e espiasse lá por casa. Só coisas horríveis. E tudo porque a Mortágua se lembrou de agarrar num megafone. Podia perfeitamente ter agarrado noutra coisa qualquer.
Mas talvez não haja razões para tanto alarme, digo eu. Para começar, duvido que o simpático e casamenteiro Santo António se dê com tão más companhias e ainda menos que faça biscates para Caronte. Por outro lado, embora ambos se inscrevam no mesmo universo ideológico, não sei se Salazar iria gostar. Era um fascista conservador, cinzento e contido, mas nada tinha de ignorante. Não me parece que apreciasse a figura tansa e histriónica de Bolsonaro, aos pulos num palco, a metralhar os adversários com um microfone. E, como católico ortodoxo, iria olhar de soslaio para a bem ativa assessoria evangélica do presidente brasileiro.
Quanto ao hipotético incidente diplomático, estranho sobremaneira que o nosso articulista, tão cheio de pruridos, tenha ficado tão escandalizado com a brincadeira da Mortágua e não se tenha sentido, no mínimo, incomodado, com a intolerável intromissão de ministro Sérgio Moro na política e justiça portuguesas, ao tecer comentários públicos no nosso país sobre José Sócrates e a sua atual condição, apelidando-o perante os media, de “criminoso”. Este verdadeiro incidente diplomático, que nem sequer foi sancionado por qualquer santo de renome, deveria ter sido caso para protesto formal e censura imediata. Mas os mesmos brandos costumes que nos permitem a brejeirice de mandar um fascista vivo ir fazer companhia a um fascista morto, fazem com que comportamentos tão aberrantes não provoquem mais do que sorrisos amarelos e conversas de café. Somos assim, fofinhos…acrescente-se a tudo isto que, como Miguel Sousa Tavares comentou num recente telejornal, Sérgio Moro é uma figura perfeitamente controversa, para dizer o mínimo. Um juiz de Direito que representou praticamente todos os papéis disponíveis no célere processo que condenou Lula, ainda o potencial vencedor das últimas presidenciais brasileiras e o grande adversário de Bolsonaro, num arremedo de processo judicial que faz rir qualquer país civilizado, em que a acusação não foi capaz de apresentar qualquer prova material e se baseou totalmente na delação premiada e anónima. Logo em seguida, Moro, o carrasco de Lula, do grande obstáculo entre Bolsonaro e o cadeirão presidencial, após as eleições, é promovido a ministro. Recentemente, disse de Bolsonaro que este é um grande democrata e que a democracia não está em perigo no Brasil. Ri-me muito com isto. E veio a Portugal meter o nariz num processo judicial em curso, traindo o princípio basilar da presunção de inocência, o que é especialmente grave num magistrado. Porque é que Sérgio Moro é um cara legal e a Mortágua é uma atrevida de megafone em punho, é um mistério que ultrapassa o meu fraco entendimento. POPEYE9700@YAHOO.COM