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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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BAGAS DE BELADONA (86) - ANGRA SOUND BAY

Novembro 12, 2019

Tarcísio Pacheco

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imagem em: https://www.viralagenda.com/pt/events/794772/2-audicao-angra-sound-bay-2019

 

BAGAS DE BELADONA (86)

 

HELIODORO TARCÍSIO

 

BAGA ANGRA SOUND BAY 2 – Concluída a 2.ª edição do Angra Sound Bay, ficámos a saber que há boa música original com epicentro na ilha Terceira e estão todos de parabéns, entidades organizadoras, participantes e público que este ano, ao contrário de outros, foi à Praça Velha, aproveitando também uma excelente noite de S. Martinho. Este texto comenta as audições do concurso, nomeadamente a 2.ª audição, no Havana, onde estive presente, referindo-se a oito dos dez projetos concorrentes, omitindo-se, com as minhas desculpas,  dois dos projetos que se apresentaram na 1.ª audição, por não ter elementos suficientes para análise.

JOÃO DAS ILHAS – Um músico talentoso e um valor seguro, em boa hora regressado ás origens, com uma belíssima voz e uma produção própria muito interessante e com identidade, mas capaz de alternar entre ritmos bastante diferentes, conforme nos mostrou com o seu tema de sabor “regional”. Terá ainda muito para nos dar, ao longo da sua carreira. Foi um dos quatro finalistas apurados, ganhou o prémio da Melhor Composição (com um tema excelente) e ainda arrecadou o prémio da Melhor Letra, com um texto que não é da sua autoria.

ROBERTO “CARRO DE PRAÇA” – Uma presença alternativa, de pendor humorístico, para enriquecer a noite no Havana, aproveitando o enorme talento  do Patrício Vieira nesta área. O púbico divertiu-se imenso, fartámo-nos de rir. Musicalmente, não era para levar a sério nem creio que fosse essa a intenção. Pessoalmente, penso que o Patrício podia apresentar este número em espetáculos do tipo stand-up comedy ou outro, pelas ilhas fora. Há muita música no Patrício, mas há mais humor ainda.

BRUNO ROSA – O moço do Pico, a minha ilha favorita depois da Terceira, apresentou-se em palco com uma energia simpática e muito picarota, oferecendo-nos temas bonitos, com toadas simples, bastante ligados à nossa condição de ilhéus e a uma certa nostalgia insular e norte-atlântica. Poderia ter brilhado mais, mas havia estrelas maiores na noite...

HENRIQUE BULCÃO TRIO – Acompanhado por excelentes músicos, o Henrique entregou-se a uma apresentação que tinha tanto de canto como de declamação. Com efeito, é impossível não reparar na qualidade dos poemas do Henrique, que saiu ao pai, neste campo. Assim como é de notar a entrega e a emoção dele no palco. Foi um dos bons momentos da noite. Gostei particularmente da música em inglês porque tinha um belíssimo poema e resultou muito bem na voz grave do Henrique.

JOÃO FÉLIX – Sempre achei a produção musical do João Félix de grande qualidade e tive oportunidade de lhe dizer isso pessoalmente, no final de um seu concerto na esplanada da Central, há alguns anos. Quanto aos temas que apresentou neste concurso, inscrevem-se todos dentro da mesma linha melódica, muito dolente e melancólica. A qualidade das composições e da execução é indiscutível e seria muito difícil não o selecionar para a final no contexto em que concorreu. Contudo, de um ponto de vista meramente pessoal, esta sonoridade específica não me seduz. Foi um dos 4 finalistas apurados.

JOEL MOURA & NÉLIA MARTINS – Sempre senti admiração pelo Joel Moura, uma presença habitual no antigo Angra Rock e que ainda anda por aqui. Admiro a sua perseverança e resiliência, ao continuar a produzir música original, a que ele gosta e é capaz de fazer, independentemente de quaisquer críticas ou tentativas de desmotivação. É sempre de louvar. Em relação à Nélia Martins, na ilha todos conhecemos a potência e qualidade da sua belíssima voz. Quanto a esta parceria em particular, teriam beneficiado se tivessem tomado outras opções. Quando o projeto foi anunciado, no imediato pensei que o Joel compunha e tocava e a Nélia cantava, uma vez que as vozes não se podem comparar. Seria isso a fazer mais sentido, uma vez que o Joel é sobretudo compositor e músico e a Nélia é uma cantora. Fiquei surpreendido, pela negativa, ao ver a intervenção vocal da Nélia quase reduzida a uma espécie de back vocal ou sublinhados sonoros. Deste modo, a voz da Nélia não brilhou.

UZHOMS – Em qualquer show coletivo, não duvido que esta banda tenha de se apresentar em último lugar pois é inegável o clima de alegria e boa disposição que inspiram. Garantem sempre um final em festa. À parte disso, são todos músicos com qualidade e apresentam um pop-rock com temas que já vão sendo bem conhecidos como o seu brilhante “John d’América”. As suas composições caraterizam-se por um rock alegre e bem ritmado, em que está sempre presente um humor irresistível que perpassa por todos, mas se centra sobretudo na veia cómica do vocalista. Lembram-me bastante bandas icónicas e raras, como os saudosos Fúria do Açúcar. Quanto à qualidade musical dos temas apresentados, considero-a variável, mas sempre interessante e nunca pobre. Foram um dos quatro finalistas selecionados e levaram o prémio do Melhor Projeto, o que me pareceu aceitável e justo.

SAMFADO – Trio formado por amigos e colegas universitários para este concurso, embora já tocassem ocasionalmente juntos. São eles, a Inês Bettencourt, terceirense, o Eduardo Abreu, madeirense e o Pedro Cotti, brasileiro de S. Paulo. Este último é o compositor e letrista do trio. Já conhecia dois dos temas compostos pelo Pedro e tinham-me ficado de imediato gravados na alma, pela grande qualidade de músicas e letras. A Inês, já conhecida na Terceira (musicais Mamma Mia e Gente em Branco, projeto Safira, etc), é dona de uma voz muito bonita e afinada e tem uma excelente presença de palco, temperada pela simpatia pessoal e pela frescura da juventude, embora não devesse cantar sentada, por vários motivos. Com uma execução musical competente e suficiente, numa versão nitidamente pensada para o contexto de pequenos espaços em que este grupo nasceu, os quatro temas apresentados são todos de grande qualidade, em minha opinião. É incrível pensar que pelo menos um destes temas foi composto em cima do joelho. O grupo pode vir a beneficiar no futuro do enriquecimento musical das composições e da inclusão de um percussionista (samba sem percussão é como um jardim sem flores…). Além disso, se quiserem sair do nível da apresentação intimista, terão, obrigatoriamente, de usar instrumentos com amplificação. O seu som era quase inaudível na Praça Velha, o que foi uma pena e os prejudicou. Foram apurados para a final. popeye9700@yahoo.com

 

 

BAGA ANGRA SOUND BAY (84)

Outubro 29, 2019

Tarcísio Pacheco

angra sound bay.png

imagem em: https://angradoheroismo.pt/event/concurso-angra-sound-bay-2019-1a-audicao/

 

BAGAS DE BELADONA (84)

 

HELIODORO TARCÍSIO

 

BAGA ANGRA SOUND BAY – Por razões pessoais, mas também por ser um amante de música em geral, este ano, pela primeira vez, participei mais de perto, como espectador, no Angra Sound Bay, o concurso sucessor do velhinho Angra Rock. Por isso, estava no Havana, no Porto das Pipas, no passado dia 25 de outubro. No momento em que escrevo, ainda se ignora o desfecho do concurso. Não irei, por isso e de momento, tecer quaisquer considerações sobre os projetos concorrentes.

O Angra Sound Bay 2019, na sequência do ano anterior, anunciou inovações importantes, nomeadamente a realização de uma 1.ª audição no Continente (FNAC/Alfragide) em que se apresentaram três projetos, um deles com uma vocalista terceirense. No dia 25 realizou-se a 2.ª audição, com os restantes sete projetos.

Fui acompanhando o Angra Rock ao longo dos anos e cheguei a escrever sobre o concurso, numa fase de nítido declínio, quando se realizava no palco do Bailhão e estava às moscas. Na época, impressionava-me bastante que uma ilha que se orgulha de gostar de folia, que delira com qualquer pimba que venha por aí abaixo e que se amontoa para ver o Ivo Silva e “bailarinas”, encarasse com tanto desinteresse e desprezo, música original dos seus conterrâneos. Percebi que folia, música e boa música são coisas bem diferentes e por vezes até antagónicas. Também não ajudava muito que “música original” na Terceira significasse sobretudo rock, especificamente metal e gótico. Compreende-se que o próprio nome e ideia original fossem condicionantes.  Na verdade, as coisas não mudaram assim tanto porque mentalidades mudam devagar, é preciso esperar que as gerações sejam educadas, processo lento e complexo. Assisti às duas últimas finais, na Praça Velha e estava sempre bem fraquinho de público, talvez também por ser já depois do Verão e ao ar livre. Contudo, no Havana, no dia 25, tivemos uma noite de música ao vivo diferente e muito agradável, bem composta ao nível do público embora seja forçoso reconhecer que o espaço é pequeno e que só os músicos, acompanhantes, familiares e amigos, enchiam o recinto; mais tarde foi chegando a fauna habitual do Havana ao fim de semana e depois ainda, o rebanho de caloiros da UA, para os rituais da praxe.

Hoje vim ao terreiro sobretudo para congratular-me pela sobrevivência do concurso, para felicitar, nesse sentido, a AJITER (Associação Juvenil da Ilha Terceira) e a CMAH, entidades responsáveis pelo evento, pela capacidade e vontade de o manterem vivo e por procurarem melhoria e inovação num concurso que, sinceramente, há muito tempo precisava de estrutura e produção. Saúdo o Havana e a FNAC, pela disponibilidade e parceria. E para dizer publicamente que gostei muito daquela noite, independentemente da minha avaliação sobre cada projeto.

Nesta fase, tenho apenas uma crítica a fazer. Considerar o voto do público parece-me uma ideia justa e correta. Já não posso dizer o mesmo da forma como se recolhe este voto, que é distribuir papelinhos pelo público presente nas audições, com um código irrepetível e um link para uma página de votação. Percebe-se qual é a ideia. É, de alguma forma, fazer refletir a presença, o entusiamo e a preferência do público no desfecho final do concurso e levar mais gente às audições. Contudo, a estratégia dos papelinhos parece-me medíocre, falível, enganadora, prestando-se a manhas e manipulações. Desconheço a identidade e os critérios do júri, mas acredito que a seleção dos três projetos finalistas tenha por base critérios de qualidade, no que realmente é relevante: tema original, composição musical, letra (poema), execução, nível e desempenho de cada músico ou intérprete. Ouvi dizer que, recentemente, o Ivo Silva encheu a Praça Velha. Se ele tivesse concorrido ao Angra Sound Bay (afinal a “música” dele é…original), com a sua pseudo-música, talvez tivesse levado os seus admiradores e a freguesia do Raminho em peso à audição. Talvez tivesse recebido muitos papelinhos e muitos votos do público. Isso teria alguma coisa a ver com a qualidade musical do projeto? Quanto mais gente eu levar comigo a uma audição “melhor” é a minha música? Popularidade significa forçosamente qualidade? Se é para manter o voto do público (questão sempre discutível), devem reformular o processo. Pessoalmente, penso que é de manter o voto do público mas talvez não a 50%.

Em minha opinião, embora este concurso interesse mais aos Terceirenses, qualquer pessoa em Portugal deve poder votar independentemente de ir às audições ou não. A composição do júri deve ser claramente divulgada. E a organização deve publicar os vídeos na Internet, em página própria e delimitar um prazo para as pessoas poderem votar, de forma irrepetível, claro, usando os recursos tecnológicos disponíveis.

Quando esta crónica for publicada, a decisão do júri poderá ser já conhecida. Tenho as minhas preferências pessoais, obviamente, mas desejo boa sorte a todos e que ganhem aqueles que o mereçam, já que é um concurso. Já ficámos todos a ganhar, este ano, por termos tido dez projetos de música original a concorrer. Que venha mais música, sempre.  popeye9700@yahoo.com

 

 

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