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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 1) (BB 160)

Janeiro 02, 2025

Tarcísio Pacheco

 

BAGAS DE BELADONA (160)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 1)  - Recentemente, aproveitando o muito generoso e aparentemente ilimitado palco disponibilizado pelo Diário Insular, o Dr. Manuel Bettencourt, ilustre médico dentista da Califórnia e emigrante açoriano da ilha Graciosa, usou quatro páginas completas deste jornal, para publicar um fervoroso auto de amor pelo seu herói, Donald Trump. De quem, ingenuamente, diz que “(…) Ninguém é perfeito neste mundo. O Trump tem os seus defeitos como todos nós”. Claro que qualquer um poderia usar as mesmíssimas palavras para se referir a Joe Biden ou a Kamala Harris (sem o deselegante artigo definido…), que o Dr. Bettencourt demoniza, responsabilizando-os por todos os males de que sofre a América atual. É uma expressão vaga e tonta, que é habitualmente utilizada para desculpar quem queremos inocentar de culpas, incluindo nós próprios. Em última análise é aplicável a qualquer um, incluindo Vladimir Putin.

Sinceramente, nem sei por que ponta pegar no artigo de opinião do Dr. Bettencourt porque todo ele é altamente criticável e repleto de informação deturpada, exagerada ou simplesmente falsa. Precisaria das mesmas quatro páginas que ocupou no DI para um comentário completo e a preceito. E acho que não devo fazer isso, nem o DI, provavelmente, me daria o mesmo palco.

O Dr. Bettencourt não precisava de ter invadido e ocupado o jornal da ilha para nos dizer que é um apoiante indefetível de Trump. Mas invadir e ocupar é o estilo desta gente do MAGA. Sabemos todos que a maioria dos emigrantes açorianos nos EUA, especialmente os de primeira geração, vota em Trump. E também conhecemos as razões para isso. Que não são nada lisonjeiras para a comunidade.  Do Dr. Bettencourt, que andou na faculdade a estudar medicina, esperar-se-ia bastante mais e melhor. No mínimo, que não se limitasse a papaguear as atrocidades néscias e sofismas maliciosos com que Trump, os seus aliados e os hackers russos inundaram as redes sociais. Mas é sobretudo isso que o Dr. Bettencourt fez, espalhando pelo meio, uma caterva de números selecionados criteriosamente para reforçar os seus pobres pontos de vista.

Afirma o Dr. Bettencourt que foi “20 anos do Partido Democrata”, mas que este se radicalizou nos últimos anos, numa deriva para a esquerda. Só a discussão disto já dava uma tese académica. Para se perceber porque é que naquela que costuma ser considerada “a maior democracia do mundo”, o debate político e ideológico é tão pobre que os eleitores se reveem apenas em dois partidos. Não é um regime de partido único, mas é um regime de dois partidos únicos. Como é único o sistema eleitoral norte-americano, que satisfaz os eleitores dos EUA, mas parece ser cada vez mais suspeito e pobre para o resto do mundo livre. Outra coisa que o Dr. Bettencourt não parece compreender é que o que nos EUA passa por ser “mais de esquerda”, para as democracias evoluídas do mundo, é apenas “um pouco menos de direita”, já que sempre imperou no país um absoluto primarismo político-ideológico e um claro alinhamento à direita. Não há esquerda política nos EUA.  Incrivelmente, o que o Dr. Bettencourt mais abomina nos democratas é que se tenham afastado mais ainda do tradicional discurso republicano. O Dr. Bettencourt não parece gostar da diferença e da diversidade de opiniões, ele é todo pelas ovelhinhas brancas. Até porque as ovelhinhas pretas devem ser imigrantes mexicanos, ilegais, claro.

Outra coisa que o Dr. Bettencourt nos diz é que os democratas “(…) são capazes de tudo e mais alguma coisa para se manterem no PODER” (sic). Não me diga, é mesmo assim? Tipo quê, tipo não aceitar resultados de eleições e decisões judiciais legítimas e promover e incentivar a invasão, com destruição, feridos e mortos, da sede de algum órgão de soberania, tipo, o Capitólio? Xiii, realmente, o caso é grave e até já lhe dou alguma razão, que patifes criminosos!

E o Dr. Bettencourt segue por ali abaixo, num ritmo frenético e nauseante, parecendo entender pouco para além das técnicas dentárias. Não entende, por exemplo, que está em curso um ataque feroz e sem precedentes aos regimes democráticos do mundo livre, à união e cooperação entre eles e à sua expressão militar, que é a aliança defensiva da NATO. Este tema é muito bem tratado pelo escritor e jornalista, José Rodrigues dos Santos, no seu livro mais recente, Protocolo Caos. Claro que para a mentalidade básica do Dr. Bettencourt, este insuspeito escritor deve ser “comunista”. Esse ataque é perpetrado sobretudo pela Rússia, mas também pela China, Irão e Coreia do Norte, ou seja, pelas principais ditaduras da atualidade. Alguma vez o Dr. Bettencourt parou para pensar porque é que Trump é o favorito de Putin nos EUA? Nada disto é simples, mas uma das razões é o ataque sistemático de Trump à comunicação social livre e independente, preciosa em democracia, de que o Dr. Bettencourt faz uma obediente e acéfala crítica.   Papagueando Trump, o Dr. Bettencourt acha que a maior parte dos media americanos é mais ou menos “de esquerda”, com a CNN à cabeça e com poucas exceções, entre as quais, se destaca, obviamente, a Fox News, controlada pelos conservadores, de quem Trump disse ser a única estação que diz a verdade. Na Rússia, Putin deu cabo de todos os media independentes, através dos seus métodos usais, assassinato simples à cabeça, mas também encarceramento, encerramentos compulsivos, processos criminais e outros métodos agressivos, restando apenas os órgãos formais, subservientes ou totalmente alinhados. Assim, Putin, evita qualquer crítica ou oposição. Nos EUA, Trump declara a maioria dos media “de esquerda” e mentirosos, ou seja, todos os que ele acha que o prejudicam e estipula que apenas alguns, como a Fox News dizem a verdade. E, para além disso e sobretudo, privilegia as redes sociais como meio principal de comunicação. Toda a gente sabe que o Twitter era o seu principal canal de comunicação com o país e com a sua rede de apoiantes. E depois, como o Twitter, apesar da sua enorme elasticidade, também tinha os seus limites, acaba por formar a sua própria rede social, de onde ninguém o pode expulsar e que ele controla totalmente. E porque é que Putin e Trump fazem ambos a mesma coisa? Porque sabem muito bem que as redes sociais são selvas de onde estão totalmente ausentes quaisquer critérios de ética, verdade, justiça ou deontologia profissional. Nas redes sociais, qualquer um pode vomitar o seu próprio veneno, sem que nada lhe aconteça, pelo menos nos EUA (em Portugal e na CE já não é bem assim por estar criminalizado o incitamento ao ódio e à violência). Por outro lado, nas redes sociais, impera o anonimato cobarde. Além disso, é muito fácil, com as tecnologias atuais e as enormes e bem preparadas redes de hackers, com propósitos muito sombrios, criar perfis falsos e espalhar mentiras e boatos à fartazana. Um método relativamente simples e bem conhecido é, por exemplo, a respeito de uma qualquer das muitas tolices e mentiras que Trump escreve nas redes sociais, colocar uma série de comentários favoráveis com origem em perfis falsos. Isso gera um movimento de bola de neve e a partir de certa altura, começam a aparecer em catadupa os comentários favoráveis de verdadeiros americanos, encorajados pelo que vão lendo. Parece haver um enorme apoio popular a Trump e, às tantas, já há mesmo, o processo nunca mais para, já teve a sua ignição artificial. Obviamente, isso vai ampliando o campo de recrutamento e criando a “aura de Trump” como um grande “patriota”, the man for the job. O propósito de toda esta verdadeira sabotagem é simples e medonho ao mesmo tempo, é semear o caos e a discórdia no Ocidente, é levar a América ao descalabro, é criar fossos e divisões entre a América e a Europa, é desmembrar a aliança atlântica. E assim, Trump, que se julga muito inteligente, vai fazendo, ingenuamente, o jogo de Putin. O movimento do “America First” só aparentemente beneficia os EUA e prejudica muitos outros países, nomeadamente os da CE e o Canadá. Na verdade, qualquer processo isolacionista prejudica toda a gente. Não há ação sem reação, uma das regras mais simples de entender do Universo. Mas Trump não tem faculdades intelectuais, bom senso básico ou perfil de estadista para entender isso.

Para terminar esta parte, vou dar um exemplo de como o arrazoado do Dr. Bettencourt está cheio de patranhas. Diz ele que os media de esquerda “encobriram o problema cognitivo do presidente Joe Biden”. Ora, isso é absolutamente falso. Biden tinha realmente um problema de desempenho mental, causado, muito provavelmente, pela sua avançada idade. Mas, quando esse problema se tornou patente, nomeadamente a respeito do desempenho de Biden no seu último debate com Trump, o facto foi amplamente noticiado, inclusive pela CNN e por muitos outros órgãos, nos EUA e por todo o mundo. Leio notícias todos os dias, na comunicação social, procurando fontes diversificadas e evitando as redes sociais, que uso para outras coisas, nomeadamente para uma socialização saudável. Todos os media falaram nisso, mostrando imagens. Foi mesmo a grande notícia por algum tempo.  Porque era inegável, porque era notícia, porque era informação relevante e porque não havia qualquer motivo para o esconder, pelo contrário.

Para não ocupar demasiado espaço no jornal, ficarei por aqui agora, mas voltarei ao tema. O Dr. Bettencourt merece. Apesar de tudo, desejo-lhe um Feliz Ano Novo, por ser um açoriano. Já a Trump, desejo-lhe um Péssimo Ano Novo. Se bem que ele não precisa dos meus desejos nefastos, ele é bem capaz de tratar disso sozinho, como já se viu, ao criar problemas ainda antes do início do mandato, com vizinhos e amigos como o Canadá, a Dinamarca, o Panamá, toda a Comunidade Europeia e com a NATO.  POPEYE9700@YAHOO.COM

 

 

 

BAGA COMUNISMO NÃO E EIS PORQUÊ (BB153)

Dezembro 22, 2023

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: Communism - Cartoon Gallery (original-political-cartoon.com)

BAGAS DE BELADONA (153)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA COMUNISMO NÃO E EIS PORQUÊ – Em termos de escolhas na vida, a minha atitude foi sempre bem clara e coerente: sempre me assumi como um democrata que perfilha uma ideologia (que não é só política, é também filosófica e ética) de “esquerda”: É verdade que no miserável mundo de hoje, tecnologicamente tão avançado, as ideologias estão moribundas e os sistemas de poder assentam em capitalismo, acumulador, fútil, materialista e ganancioso ou em ditadura, autoritária, materialista e repressiva, ambos poluidores cegos,  com controle absoluto das pessoas ou ainda em misturas caricatas dos dois sistemas, como nos casos chinês ou russo (não é por acaso que são tão amigos…).

Por outro lado, ao longo do tempo, a minha reflexão pessoal tem-me levado a reconhecer que jamais seria comunista, por vários motivos. Contudo, o comunismo ou os comunistas não são “maus”. Esse é o tipo de abordagem primária, próprio de mentes ignorantes, como as da América profunda de Trump ou de organizações de extrema-direita, como o Chega português. Na sua origem, o comunismo é uma ideologia extremamente nobre, assente em valores elevados como a igualdade social, a justiça, a fraternidade, a solidariedade e a partilha. Seria absolutamente estúpido dizer-se que esses valores são “maus”. Os filósofos inovadores, de Proudhon a Marx, formularam ideias que eram revolucionárias no seu tempo e que se destinavam a mudar sistemas antigos pela raiz, a acabar com os regimes autoritários, conluiados frequentemente com religiões organizadas. Isso só podia ser feito pela força e pela violência, pelo poder das turbas armadas, apoiadas por grupos militares, porque nem reis nem czares nem os seus generais abdicariam pacificamente do poder. Os processos só podiam ser revolucionários e sangrentos e efetivamente foram-no. Por outro lado, muitos comunistas, sobretudo os teóricos, foram idealistas, sonhadores e utópicos. Para mudar, a Humanidade precisou destas pessoas e dos seus processos revolucionários. Foi assim que fomos passando do sistema do Antigo Regime (o que existia antes da Revolução Francesa cortar cabeças), governado por reis e imperadores, com direitos herdados por nascimento e geralmente abençoados por “Deus”, para sistemas mais ou menos democráticos, governados por comités revolucionários e representantes eleitos daqueles que passariam a ser o poder maior, o chamado “povo”.

Até aqui tudo bem. Pode parecer que não, mas a Humanidade deu grandes saltos em frente, mesmo escorregando em sangue, nomeadamente com a Revolução Francesa de 1789, a Revolução Russa de 1917 ou, porque não, com a mais ou menos pacífica e muito sui generis Revolução dos Cravos de 1974. Podemos ter sido dos últimos a abandonar o fascismo, mas, pelo menos, mostrámos ao mundo como se fazem revoluções com muitas flores e quase sem tiros. Um aparte, isto só mesmo em Portugal, carago, onde a coluna revolucionária de Salgueiro Maia com destino a Lisboa, foi parando nos sinais vermelhos perto da capital.  Imagine-se o que seria encher os lançadores de mísseis, os canos dos tanques, as turbinas dos caças, com toneladas de flores e entupir aquilo tudo, na Rússia, na Coreia do Norte, na China, no Irão… utópico, mas lindíssimo… Que cena de Hollywood…

O problema está em que depois de, gloriosa e revolucionariamente instaurado o comunismo, é preciso mantê-lo. E é aqui que a porca torce o rabo, passada a euforia revolucionária. É que a espécie humana, naturalmente, é pouco fraterna ou solidária e muito diferente das comunidades de insetos, como as de formigas. Tem os seus surpreendentes momentos e exceções, é certo, mas, como espécie, somos naturalmente individualistas, egoístas, egocêntricos, agressivos, territoriais, ambiciosos, frequentemente gananciosos, acumuladores e muito competitivos. Basta ver a postura apalermada e acéfala como, na atualidade, pais, educadores e governantes, dizem às crianças e jovens que “o mundo de hoje é muito competitivo e têm de estar preparados” como se isso fosse um mantra forçosamente positivo ou inevitável, uma preciosa lição de vida. A educação deveria estar centrada nos valores da solidariedade e da cooperação e não da competição, como muito bem enunciou Montessori.

É por isso que o comunismo só é funcional em pequenas comunidades que o praticam em liberdade, por convicção, sendo as pessoas livres de permanecer ou sair do sistema, sem repressão nem autoritarismo. Esse é o verdadeiro comunismo e o único funcional, aquele em que as pessoas, de comum acordo e livremente, se organizam para viver em “comunas”, estando subjacente algum tipo de sistema de referência, filosófico ou religioso.  Como regime de massas, generalista, simplesmente, o comunismo não funciona, por ser contrário à natureza humana. A história mostra que teve de ser sempre imposto, à força bruta e sangrenta, o que foi levando à implosão dos sistemas ao longo do tempo. Na verdade, já quase não restam regimes ou partidos verdadeiramente comunistas no mundo, independentemente de terem ou não sido substituídos por alguma coisa que preste (raramente o foram). Na chamada “maior democracia do mundo”, os EUA, o comunismo é, desde sempre, demonizado, de forma grosseira e obtusa, por um sistema ferozmente capitalista e bestialmente individualista, que mistura e manipula muito bem a ignorância, o conservadorismo, a hipocrisia, o moralismo, o primitivismo religioso e os instintos mais primários e de que Donald Trump é um belíssimo representante, líder e guru. Na China, o sistema é cada vez mais repugnantemente híbrido e transformou-se numa gigantesca colónia de formigas obedientes e trabalhadoras, em que qualquer dissidência é ferozmente decapitada, ao primeiro sinal de “mijo fora do penico”. E em Portugal temos um Partido Comunista, contraditório e anacrónico que, sob a estimável bandeira da defesa dos interesses dos trabalhadores, teima em reverenciar um sistema que, simplesmente já não existe, cenários e atores, e vai morrendo lentamente. Isso não quer dizer que não faça falta; o ideário comunista é importante num sistema democrático de ideologias múltiplas; tem o seu lugar e o seu papel. Em países como a Venezuela ou a Rússia, temos simplesmente tirania, repressão, corrupção e ditadores patéticos, nada de invulgar na espécie humana. No Irão, temos uma teocracia cruel e impiedosa, absolutamente desprezível, que há de implodir um dia (que pena não ser já para a semana…). E a Coreia do Norte não é nada disto, é um caso à parte, uma feroz ditadura familiar, uma distopia incrível e revoltante, com armamento nuclear, que pode perfeitamente despoletar o fim do planeta e da Humanidade, que só esperaríamos encontrar num filme de ficção científica classe B. É absolutamente arrepiante que seja real. Arrepia-me todos os dias. É por isso que gosto de chamar “leitão” ao Querido Líder (um bucha nuclear, patético e ridículo, que, tal como pai e o avô, nunca passou um dia que fosse a fome que impõe ao seu povo), embora me custe ofender os suínos, perfeitamente inocentes e vítimas diárias nos matadouros do sistema.

Então, meus amigos, é isto, por estes motivos, comunismo não, obrigado. Mas também, para mim, capitalismo não, neoliberalismo não, direita não, extrema-direita ainda menos, religiões, estou fora, sou agnóstico e espiritualista, violência, nunca,  competição deixa-me indiferente, não sou um bicho da selva. Na verdade, parece-me que o que eu gosto, o que eu queria, não é deste mundo. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA LULOVITCH (DA SILVA)

Bagas de Beladona (148)

Julho 20, 2023

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: FRAGA CARICATURAS: FORÇA LULA!

 

 

BAGAS DE BELADONA (148)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA LULOVITCH (da Silva) – Esta baga foi escrita logo após a reeleição de Lula e as suas infelizes declarações acerca da invasão da Ucrânia. Calhou a não ser publicada e foi ficando na gaveta. É repescada agora, num momento oportuno, em que Lula insiste nas suas lamentáveis opiniões públicas.

Fui sempre um portuga apoiante de Lula da Silva. Elogiei as grandes melhorias que ele introduziu na sociedade brasileira, a sua humildade e simplicidade e o seu percurso de vida, de operário metalúrgico a líder de um dos maiores países do mundo. Apoiei-o sempre contra o Capitão Pô, o execrável Bolsonaro. A quem fiz uma entrevista fictícia no Palácio do Planalto, que pretendia expor a sua falta de inteligência, o seu primarismo e a sua total inadequação à nobre função. Nunca acreditei nas culpas de Lula que considerei sempre uma vítima de conspiração maliciosa da extrema-direita brasileira, a família política e ideológica natural do Capitão Pô. Porém, Lula tem culpas novas no cartório e nestas eu acredito, já que as tenho visto com os meus próprios olhos.

Eu e Lula acabámos, estamos de relações cortadas. Escusa ele de me convidar para churrasquinhos, caipirinhas ou rodas de samba. Gosto muito disso tudo, mas, com outros, não com ele. Sou um simples cidadão que nunca quis saber de política ou de poder. Não devo nada a ninguém. Pouco me importa a opinião do Avô Beijinhos ou do chefe da banda nacional. Eu sinto-me embaraçado. Porque eu gostava do cara.

O momento atual é o mais perigoso que a Humanidade alguma vez viveu. É um tempo de atitudes e escolhas, sem subterfúgios, meias palavas ou discursos ocos. E não é apenas pelo perigo de conflito nuclear, que é, obviamente, o pior. É também e talvez sobretudo porque todos os ditadores do mundo estão bem atentos, a ver o que se passa. Ah, quer dizer que podemos invadir países vizinhos, anexar territórios à força, fazer referendos ilegais, lançar mísseis e bombas à fartazana, contratar mercenários selvagens, destruir edifícios de apartamentos, escolas e hospitais e matar civis, incluindo mulheres e crianças? Tudo o que nos pode acontecer é umas sanções económicas? E se tivermos armamento nuclear, é só fazer chantagem, que eles se borram todos? Então espera aí que eu também quero.

É porque vivemos estes tempos assim que qualquer líder mundial tem de medir muito bem o seu discurso público. E não vir com conversinhas dúbias sobre paz. Todos queremos paz, eu, o Papa e toda a gente na minha rua. Mas a paz sempre teve um preço, muitas vezes altíssimo. Para falar de paz sem a explicar muito bem e com detalhes, como se fossemos todos muito estúpidos, é melhor ficar calado. Porque a paz nos termos de Putin não é paz nenhuma, é apenas a tentativa patética de legitimar o que é impossível de legitimar perante o mundo. Qualquer discurso sobre paz que não refira claramente a qualidade de agressor da Rússia, o fim da atividade militar e a retirada total da Rússia dos territórios ilegalmente ocupados, da Crimeia ao Donbass, é apenas alinhar no jogo de Putin. Coisa a que Lula se prestou com incrível simplismo e descontração. Se, por detrás disto, ainda estiverem critérios de natureza económica, pior ainda, é sinal de que a ética e o direito universal estão mortos. Ou critérios de reverência ao poder bruto, para não irritar os chineses, que são uns ricaços muito sensíveis. Afinal, segundo Lula, a culpa é sobretudo da Ucrânia que teima em resistir e também da Europa e dos EUA, que teimam em ajudá-la a resistir. Talvez a Europa e os EUA não devessem ter resistido aos nazis. Deu muito prejuízo e irritou muita gente.

E se algum dos dez países que fazem fronteira com o Brasil, da Argentina à Venezuela, anda com o olho nalgum pedaço de terra brasileira, agora é o momento certo para avançar e anexar uns pedaços de território e uns rios. Afinal, Lula, que sempre foi um político coerente, não vê problema algum nisso. Pelo contrário, vai falar de paz, a guerra sai cara, vai ficar tudo bem. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGAS DE BELADONA (142)

Dezembro 30, 2022

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: New and Improved Taliban | claytoonz

 

BAGAS DE BELADONA (142)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA FERNÃO DE MAGALHÃES – Ao ler o editorial do DI de 29 de dezembro, que se refere a uma publicação recente de um autor espanhol sobre a famosa viagem de circum-navegação do nosso compatriota, Fernão de Magalhães, ao serviço de Espanha, na época, entre 1519 e 1522 e ao seu lamento sobre não haver uma “história ibérica” deste grande feito, lembrei-me que uma das minhas recentes leituras foi precisamente sobre este tema. Na edição deste ano do Outono Vivo, em boa hora adquiri o livro Fernão de Magalhães – A Primeira Viagem de Circum-Navegação, de David Salomoni, um investigador, creio que de nacionalidade italiana, ao serviço da Universidade de Lisboa. Trata-se de um relato fascinante, de leitura obrigatória para quem se interessa por História, mar e aventura, o que é decerto o meu caso. Tudo se baseia na crónica detalhada, minuciosa e, sobretudo e aparentemente, equidistante e não alinhada de Antonio Pigafetta, um marinheiro, geógrafo e escritor de Vicenza (Itália), um dos 18 sobreviventes da expedição (que partiu com 260 homens) que lograram regressar a Sevilha em 1522, a bordo da nau Victoria. A fidelidade de Pigafetta parece ter estado com Magalhães (de quem era incondicional admirador) e, tanto quanto sabemos, com a verdade. Embora o original do seu texto se tenha perdido, a sua crónica permanece como o relato mais fiel desta apaixonante aventura trágico-marítima. Consistindo num trabalho de investigação histórica, o texto de Salomoni apoia-se em factos documentados e onde há lugar a conjeturas, especulações ou deduções, isso é assumido. Além disso, Salomoni faculta-nos todo o enquadramento do contexto histórico. Como já sabíamos, D. Manuel I de Portugal recusou qualquer apoio ao projeto de Magalhães, daí ele ter ido bater à porta da concorrência. Espanha era a grande rival de Portugal, na época e o seu grande interesse era chegar às ilhas das especiarias por Oeste e, sobretudo, provar que estas se encontravam na área de domínio espanhol definida pelo tratado de Tordesilhas. Percebe-se o desinteresse português, nós já estávamos lá em força, o Índico e os mares do Extremo-Oriente eram dominados pelos portugueses, chegar lá por outra via, incerta, demorada e tortuosa, não parecia trazer nada de relevante para os interesses portugueses. Concluímos que uma “história ibérica” desta odisseia seria muito difícil. Os interesses eram e são completamente divergentes. Até porque, na época, o poder espanhol tudo fez para apagar o papel de Magalhães e glorificar o capitão espanhol que logrou regressar a Sevilha, Juan Sebastián Elcano. Não nos deixemos enganar. O estreito que dá passagem para o Pacífico, no extremo meridional da América do Sul chama-se “de Magalhães” e não “de Elcano”. Era bom para Espanha, mas as ambições espanholas foram… pelo cano.

BAGA GUERRA NA UCRÂNIA – Vou seguindo as notícias sobre a guerra sobretudo na Internet (onde podemos escolher as fontes) mas também um pouco nos canais televisivos portugueses. Não sou gaulês, mas confesso que tenho algum medo de que o céu me caia sobre a cabeça embora costume ter mais medo ainda de cair do céu, sempre que viajo de avião. O certo é que nunca como agora, foram tão abundantes os especialistas em guerra, coisas militares e estratégia. E nunca estivemos tão perto do precipício, convindo, perceber, pelo menos, como e quando vamos morrer todos e não sermos apanhados no duche ou com coisas combinadas. Entre os inúmeros comentadores tenho as minhas simpatias e antipatias. Dou mais valor aos comentadores mais inteligentes, menos especializados e que emolduram os seus comentários com considerações de ordem filosófica e ética. Mas há um que suporto mal, o major-general Agostinho Costa, um homem com uma perspetiva absolutamente condicionada pelo que ele designa como “realidade militar”. Ainda ontem, pude assistir à sua verborreia militarista em confronto com a comentadora Helena Ferro Gouveia, na CNN Portugal. Para Costa, que não deixa de confessar a sua “simpatia” pela resiliência do povo ucraniano, o que conta são “as realidades militares no terreno”. Ou seja, nada disto vale a pena porque a Rússia é muito forte, o exército ucraniano é muito menor e está cansado e a Ucrânia só sobrevive devido ao apoio dos EUA. Ficamos sem perceber onde é que Costa quer chegar. Isto é, deveríamos deixar Putin e a sua ditadura nojenta em paz, para prosseguirem, sem oposição, a cruzada brutal que iniciaram em 2014, com a anexação da Crimeia? Talvez uns votos de protesto na ONU, se o Conselho de Segurança permitir? E mais uma meia-dúzia de sanções à Rússia? Quer gostemos, quer não (eu odeio isso), a realidade do nosso mundo é que existe um regime brutal, ditatorial, hostil, imperialista, homicida e agressivo, como a atual Rússia, com o apoio cada vez menos dúbio da besta chinesa, do regime paranoico e delirante da Coreia do Norte e do regime violento e fanático do Irão. Bolsonaro também era simpatizante, mas já não conta, felizmente. Os EUA já explicaram por diversas vezes que estão a prestar todo o apoio possível em cada momento e que este é dinâmico, ou seja, depende, da evolução da situação e das iniciativas da Rússia. Esta é, a meu ver, a única posição inteligente a seguir. Infelizmente, se não queremos uma guerra generalizada ou um conflito nuclear (que seria, muito provavelmente, o fim da Humanidade), só nos resta ir apoiando a Ucrânia da melhor forma possível, a ver se a Rússia se cansa ou se chega o fim do mundo, o que acontecer primeiro. No meio disto tudo, tenho dificuldades em perceber o que pretende o senhor major-general Agostinho Costa.

BAGA AFEGANISTÃO – Fala-se muito em ajudar o povo afegão, sobretudo o seu elemento feminino, mas creio que quem precisamos mesmo de ajudar são os talibans. Entre as inúmeras rezas diárias, o estudo do Corão e um mínimo de higiene com aquelas barbaças piolhosas, não lhes deve restar muito tempo para pensar na vida. Definitivamente, pensar não é o modo de ser taliban. Então devíamos ajudá-los com algumas sugestões. Segundo creio, o grande problema deles é evitar o convívio das mulheres com quaisquer homens que não sejam do seu estrito círculo familiar. E terá sido sobretudo por isso que resolveram impedir o acesso das afegãs à educação. Creio que o problema se podia resolver com alguma facilidade. Basta proibir o acesso dos homens às escolas e universidades. E já agora, ao governo também. Assim só haveria mulheres no governo e nos centros de educação e não haveria socialização indesejada. E se os homens ficassem fechados em casa e só pudessem sair com uma esposa, mãe, irmã ou mesmo prima afastada, tudo seria bastante mais harmonioso e teriam muito tempo livre para estudar o Corão. Além disso, parece que outro problema central é os homens verem as mulheres dos outros, por isso as mulheres têm de andar cobertas dos pés à cabeça. Isso resolvia-se facilmente se vendassem todos os homens. Só poderiam andar sem venda dentro de casa. Como os talibans já não veem praticamente nada, não se perderia grande coisa. Podia-se resolver as coisas assim com simplicidade, digo eu, nada como experimentar.POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGAS DE BELADONA (139)

Outubro 07, 2022

Tarcísio Pacheco

 

 

 

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imagem em: https://www.i24news.tv/en/news/international/europe/1664811804-russians-escaping-mobilization-look-to-georgia

 

BAGAS DE BELADONA (139)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA PORTUGAL/ESPANHA – Assisti ontem, com pesar, ao jogo de eliminação da seleção portuguesa da Liga das Nações, depois de uma prometedora vitória em casa da Chéquia. Já não é de agora, confesso que nunca apreciei Fernando Santos, enquanto treinador e selecionador. Respeito-o e reverencio o seu palmarés e as alegrias que já nos deu. Merece o nosso reconhecimento. Porém, o seu perfil, ultraconservador, ultra- prudente e mais que teimoso, casmurro mesmo, sempre me desagradou. Ontem, foi mais do mesmo. Claro que era um jogo difícil, contra uma seleção bastante inferior à fantástica Espanha de anos recentes, mas ainda assim, uma seleção forte. Os tiques costumeiros de Santos estiveram bem patentes. A sua relutância em substituir Cristiano Ronaldo, em nítido declínio e cada vez mais um jogador a menos dentro do campo; a dificuldade de fazer substituições a tempo e horas; ontem, milhões de pessoas viram que as substituições deviam ter acontecido logo após o intervalo, quando a equipa começou a claudicar e não a 15 minutos do final e os grandes planos do treinador, no banco, mostraram bem as suas caretas de indecisão; e, finalmente, escolhas discutíveis e embirrações inexplicáveis com jogadores em grande forma, como o melhor marcador do campeonato nacional de 2020/21, Pedro Gonçalves.

Penso que Santos merece ir ao mundial do Qatar, mas vejo esse evento como o final da sua carreira, como selecionador nacional. Após o Qatar, deve reformar-se, ir embora ou ser despedido. Qualquer que seja o nosso desempenho.

BAGA O ÊXODO – Temos assistido nos últimos dias a um verdadeiro êxodo de russos que fogem da mobilização parcial decretada por Putin. Só não veem isso o papagaio do Kremlin e o Paulo Santos, aqui na Terceira. Um país ex-colonialista e ex-fascista, como Portugal, que enviava carne fresca de canhão para África até abril de 1974, tem obrigação de compreender e até apoiar os russos. Afinal, antes do 25 de Abril, muitos jovens portugueses fugiam da mobilização para a guerra. Até eu, que já sou um filho de democracia, após a faculdade, perante a perspetiva de ser forçado a cumprir o serviço militar obrigatório, tentei escapar-me para o Canadá, onde tinha família e para os PALOP’s, como cooperante, em ambos os casos sem sucesso, historieta que já contei nestas páginas.

Tenho-me inteirado das opiniões dos comentadores. As opiniões dividem-se entre acolher os russos em debandada (EUA) ou forçá-los a ficar na Rússia, para fazerem oposição a Putin (Finlândia). Ora, Putin é um psicopata e um assassino. E um psicopata acossado, uma espécie particularmente perigosa. As alternativas, para os mobilizáveis que ficarem na Rússia é ir para a guerra ou para a prisão ou pior ainda. Por motivos humanitários, penso que o mundo livre os deve acolher. Constituirão sempre um grupo anti-Putin e entre eles há intelectuais e quadros que farão falta na Rússia ditatorial e distópica. Nomeadamente a EU devia estabelecer uma política comum a esse nível. Mesmo sabendo que acolher refugiados na EU será cada vez mais difícil, agora que o Chega italiano, de extrema-direita, neo-fascista e amigo de Putin, chegou ao poder.

BAGA “LUXOS DE VERÃO” – Jamais me conformarei com a decisão do Governo Regional de acabar com os ferries entre todas as ilhas dos Açores, com a justificação de que não precisamos deles, porque temos aviões. Depois da palhaçada do ferry Atlântida, da responsabilidade do anterior governo socialista, o atual governo coligado não quis ficar atrás e chamou aos ferries que fretávamos todos os anos, um “luxo de Verão”.
As motivações são claras. Como sempre, trata-se de proteger a SATA e de caminho dar o jeito aos amigos das empresas de rent-A-car, nomeadamente as poderosas, como a Ilha Verde. Mas a argumentação do governo não podia ser mais falaciosa. O custo real da tarifa de residente é muito mais elevado que 60 euros. Quem paga a diferença? Pagamo-la nós todos, com os nossos impostos. Isso é que é um verdadeiro luxo, sustentar uma companhia aérea regional que dá prejuízos de luxo há um ror de anos e continua a dar. E coitado de quem anda atrás de um carro para alugar em S. Miguel, por exemplo ou noutra ilha qualquer, em época alta. Alugar carros do grupo A por 100 e 200 euros ao dia, quando os há, isso é que é um verdadeiro luxo. Este ano, em Santa Maria, em agosto, paguei 300 euros por um aluguer de 3 dias, viatura do grupo A. E, mesmo assim, foi porque tínhamos um conhecido na Ilha Verde, porque, com os Açores na moda e o retorno em massa do fluxo turístico, simplesmente não há viaturas suficientes e o mercado está completamente desregulado. Uma consequência óbvia é um enorme aumento do aluguer privado, ilegal, por debaixo da mesa.

Sustentar a SATA e os donos das rent-A-car, isso é que é um grande luxo.

Há alternativas modernas para transporte misto de carga e passageiros em modernos ferries, durante todo o ano, como já exemplifiquei aqui, mas isso também não interessa, até porque mexe com outro setor absolutamente mafioso, o do transporte de mercadorias nas ilhas por via marítima. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA MUDANÇA FORÇADA E BRUTAL (BB135)

Julho 04, 2022

Tarcísio Pacheco

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imagem em: Medieval Cartoon Weapons. Game Icons. | CartoonDealer.com #68416921

 

BAGAS DE BELADONA (135)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA MUDANÇA FORÇADA E BRUTAL – Recentemente, vi-me forçado a mudar as minhas perspetivas mais consolidadas e mais refletidas. Tenho um passado de ativista em prol de diversas causas, entre as quais destaco o pacifismo, o antimilitarismo e o antinuclear. Nos meus tempos de faculdade, usava regularmente o pin que então estava na moda, o do “Nuclear, não, obrigado”. Era contra o uso da energia nuclear, mesmo para fins pacíficos e então, para fins militares, nem se fala. Pertenço a uma geração que ainda era obrigada a prestar serviço militar obrigatório, sob pena da pessoa ser declarada “contumaz” e perseguida de diversas formas. Ainda antes do final do meu curso, o sistema saltou-me em cima e lá tive de ir à força até à Escola Prática de Cavalaria (EPC, já extinta), em Santarém, onde me declarei objetor de consciência e tive de suportar as macaquices e humilhações a que se sujeitavam, nessa época, os que invocavam esse estatuto. O estatuto de objetor de consciência era recente, mal visto e a legislação que o suportava era medíocre na sua formulação. O que eles queriam era que os objetores se declarassem testemunhas de Jeová ou algo semelhante e que jurassem preferir morrer a matar uma mosca com uma vassoura. Não era o meu caso, matei muita mosca nesta vida e ainda não acabei. O certo é que um ano depois, o Exército voltou a chamar-me, quando acabei o curso. Fiz contas à vida e como não me apetecia fugir para lugar nenhum, lá acabei por aceitar ser incorporado, em agosto de 1986. Fui graduado da Polícia do Exército e cumpri 16 meses, em Santarém, Lisboa e Ponta Delgada. Tenho um espírito prático e otimista, que tenta sempre tirar o melhor partido das circunstâncias, ou não fosse sagitariano. Não dei o tempo por perdido. A farda ficava-me bem, especialmente a boina preta com espadas cruzadas. Desportista desde sempre, gostava da parte da atividade física, tolerava a seca da parte militar e achava que, na incerteza desta vida, não era de todo inútil aprender a matar gente, sempre numa perspetiva de defesa, bem entendido. E aos fins de semana vinha para Lisboa, para o apartamento do meu bom amigo de infância, Prof. João Pedro Mont’Alverne e fazíamos grandes cowboyadas na noite lisboeta com outros amigos dos Açores nas mesmas circunstâncias. Entenda-se, eu tinha 25 aninhos…. Adiante, esta parte não interessa muito para a questão.

Pela vida fora, mantive a minha essência, facto de que me orgulho. Isto não é o Mole Pastoso, que começou no maoísmo e depois se converteu às delícias do capitalismo. Mantive-me sempre antitudo o que me cheirasse a militarismo e belicismo, contra o serviço militar obrigatório, contra os grandes exércitos, contra a NATO, contra a venda livre de armas nos EUA, contra a presença americana na base das Lajes, contra o armamento, excetuando o das forças de segurança, contra as armas nucleares, contra todos os tiranetes do mundo e contra qualquer guerra em qualquer lado. Um pouco ingenuamente, reconheço, imaginei que a caminhada da Humanidade, mesmo com todos os obstáculos e percalços, fosse, devagarinho, muito devagarinho, quase parada, no sentido da construção de um mundo mais pacífico e mais justo.

E agora? Bom, agora, mudei. Não no essencial, aí serei sempre o mesmo até ao fim. Mas rendi-me às realidades. Não somos uma espécie pacífica e ponto final. Somos uma espécie bélica e agressiva. Entre nós há gente boa, mas há também muitas bestas cruéis. Somo assim, brutos e maus e nada há a fazer contra isso. Para quem é religioso, se há um Deus e se foi Ele quem nos criou, está na hora de Lhe pedirem para assumir as responsabilidades. Não é para me gabar, mas se eu tivesse criado o mundo, teria cá colocado criaturas bem melhores, mais do género do povo do filme Avatar, até porque o azul é a minha cor favorita. Seria um povo azul, com asas para voar (não gostei muito da parte de andar a domesticar bestas aladas) e doce como o mel, seria só natureza, música e muito amor. Peço antecipadamente desculpa pela blasfémia, mas Deus parece-me um Criador genial, mas muito incompetente, distraído e um poucochinho desequilibrado, até depressivo. Talvez não haja Prozac no Céu.

Resumindo, depois de Putin e desta Rússia, atualmente, sou a favor de um monte de coisas. Principiando pelas armas nucleares. Precisamos delas, de muitas, cada vez maiores e mais letais. Os belicistas venceram. Numa porcaria de mundo como este, a única maneira de não ser aniquilado é estar em condições de aniquilar o inimigo exatamente da mesma maneira e eles saberem perfeitamente disso. O poder nuclear é, na verdade, o grande argumento de Putin. Não fosse isso e já lhe teríamos feito a folha e salvado da morte tantos Ucranianos e Russos. Sou a favor de uma NATO poderosa, para manter na ordem, pela força e pelo medo, regimes como o russo e o chinês. Sou a favor de exércitos grandes, enormes e armados até aos dentes, especialmente com armas inteligentes e drones com fartura. E agora acho que toda a gente devia aprender a defender-se para não ter de aprender à pressa como tem acontecido com tantos civis ucranianos.

Capitulei, aceito a derrota. Esqueçam as pombinhas brancas e os cravos. Na Terra, o que conta são os fuzis, bem oleados. E, no cúmulo da minha mudança forçada e brutal, declaro que nem é a minha morte que mais temo, uma vez que ela é certa, mais tarde ou mais cedo. O que não suporto é pensar que morro e ficam russos a rir-se, a banquetear-se com caviar regado a vodka e a violar as minhas filhas. Se é para morrer, então vamos todos juntos nessa viagem. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

 

BAGA TRÁGICÓMICA (BB134)

Abril 26, 2022

Tarcísio Pacheco

Putin (1).jpgimagem em: Vladimir Putin | Cartoon Movement

 

 

BAGAS DE BELADONA (134)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA TRAGICÓMICA - Recentemente, o Grande Tumor testou um míssil novo, o top dos mísseis, com que começou logo a chantagear-nos. Com estes mísseis intercontinentais, equaciona matar-nos a todos, se não o deixarmos arrasar a Ucrânia e continuarmos a prejudicar o pobre povo russo que, coitadinho, sofre muito com a malvadez ocidental, com a perda de empregos originada pelas sanções e já nem consegue comer uma Big Mac. Bem, não acredito na Humanidade, já não é de agora e já estou por tudo. Lamento profundamente, sobretudo pelos meus filhos, mas também pelos filhos dos outros. E por todos e tudo o que amo na vida. Mas, não devemos recear a morte, já que ela é inevitável para todos os seres vivos, Grande Tumor incluído. Devemos, sim, ter medo, muito medo, de viver como ratos, escondidos nos esgotos da nossa ansiedade. A minha consolação principal é que, se acontecer o pior, morremos quase todos, mas da Rússia e dos russos pouco sobrará. De resto, temos provado ao longo dos tempos sermos uma espécie tão tóxica que, se calhar, é melhor mesmo ficarmos por aqui na nossa “evolução”, para evitar que, no futuro, venhamos a infetar outros planetas do universo com a nossa maldade essencial. Para onde fossemos levaríamos na bagagem a música de Andrea Bocelli e pombinhas brancas, é certo, mas também mísseis nucleares, para referir apenas um tipo de arma, das mais letais. E acima de tudo, exportaríamos para todo o lado, o nosso amor pelo poder, pela conquista, pela guerra, pelo confronto, pela ambição, pela competição, pela ganância, pela riqueza e pelos bens materiais.
Isto já atingiu o nível da tragicomédia e seria motivo para rirmos muito, se não houvesse tanta gente a sofrer. Os episódios absurdos acontecem praticamente todos os dias. Quando ocorreu o afundamento do cruzador Moskva, pudemos ver no “parlamento” russo, um deputado histérico, aos gritos, à beira da apoplexia, gritando que era um “ultraje”. É aqui que dá vontade de rir. Depois de toda a destruição, barbárie, violência, massacre e homicídio a que temos assistido na Ucrânia desde fevereiro, os russos sentem-se “ultrajados” pela perda de um navio e clamam por vingança. A frota russa inteira não vale a vida de uma única criança ucraniana.

Depois, temos também a cómica questão do armamento cedido pelo Ocidente à Ucrânia. O Grande Tumor até nem se importa que venham umas espingardas de caça, umas baionetas da I Grande Guerra e uns camiões de garrafas de vinho do Porto para o pessoal, depois de as beber, preparar uns cocktails molotov. Mas armamento a sério, que equilibre um pouco as capacidades de invasor e invadido, isso já é motivo para declarações de guerra. Portugal pode também mandar uns excedentes de G3, não há problema, o Grande Tumor até tolera, afinal tem os seus amigos do PCP por cá. Mas os EUA não podem mandar nada. Porquê? Porque não, evidentemente. A Ucrânia também não pode aceitar combatentes voluntários não ucranianos. Mas a Rússia pode pagar a levas de carne de canhão síria e líbia. O Grande Tumor pode ter mísseis intercontinentais que chegam a qualquer ponto da Terra em minutos e têm capacidade para destruir o planeta. Mas a Suécia e a Finlândia, países livres e soberanos, com dirigentes eleitos pelos seus povos, em regimes absolutamente democráticos, não podem aderir a uma aliança defensiva, se assim o entenderem. Como se quaisquer vizinhos não russófonos desta Rússia não tivessem que encher as fronteiras de alarmes e armadilhas para bichos perigosos, para poderem dormir minimamente descansados…

Por cá, sendo alguém que sempre se assumiu, ideologicamente, de esquerda, sinto uma imensa vergonha de partilhar o país com o PCP. Podiam até ter ficado pela simples recusa de participar na sessão com Zelesnky e já seria uma nódoa resistente a qualquer lixívia. Mas não se contentaram com isso. A declaração formal da líder parlamentar comunista foi um escarro nojento e um eco descarado da propaganda russa. O PCP é um partido anacrónico, em queda há bastante tempo, vivem em clima de negação, agarrados a um mundo que já nem existe. É bastante provável que esta atitude seja o princípio do fim para eles porque causaram asco e repulsa um pouco por todo o país. Mas não devem desanimar. Podem sempre emigrar para a Rússia, embora seja garantido que não vão encontrar por lá nenhum tipo de comunismo. De resto, entre tiranias e totalitarismos de direita ou de esquerda, não vejo qualquer diferença. Putin, Le Pen, Ventura, Trump, Bolsonaro, Maduro, Kim Jong-un, Orbán, para citar apenas alguns de entre os vivos, são todos filhos da mesma Besta. É tudo a mesma farinha, só que em sacos diferentes. Lixo e escória da Humanidade.

POPEYE9700@YAHOO.COM

 

 

BAGA MUNDO FEIO (BB 133)

Abril 05, 2022

Tarcísio Pacheco

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imagem em: U.S. weighs tougher Russia sanctions after evidence of Bucha killings – KleaBe

 

BAGAS DE BELADONA (133)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA MUNDO FEIO – A raça humana é terrível e a nossa civilização já era uma coisa feia de se ver “lá de cima”, se é que há alguém ou alguma coisa a observar-nos, de algum lado. Mas o mundo conseguiu a considerável façanha de piorar bastante, a partir de fevereiro.

Desde os primórdios da Humanidade, desde o tempo das cavernas, que somos uma raça agressiva e violenta. Encontrámos sempre bons motivos para matar, torturar, agredir, violar, assaltar, escravizar e roubar o nosso semelhante. E a parte da nossa civilização que era suposto contrariar essas tendências inatas para a desgraça, as religiões e a filosofia, a nossa parte ética e transcendental, foi ela própria, a origem de muita intolerância e violência. Porque quem quer praticar o mal encontra sempre justificação. Torta, mas encontra-a. Vejam lá se não está tudo no Alcorão…

Apesar de todos os nossos problemas, analisando a vida com o devido distanciamento crítico, era possível ver um padrão de desenvolvimento filosófico e moral, aquele que, pessoalmente, mais me interessa, acima da economia e tecnologia, os grandes eixos civilizacionais. No período entre a II Guerra Mundial e a atualidade, apesar dos muitos disparates, atentados, corrupção e malfeitorias de toda a espécie, havia um padrão evolutivo em marcha, visível, por exemplo, no respeito pela democracia, autodeterminação dos povos, tolerância religiosa, respeito pelos direitos humanos, respeito pela diferença, respeito pelos direitos dos animais e na tendência à desmilitarização e desarmamento progressivo.  

Esse padrão teve agora uma quebra evolutiva brutal, com a entrada em cena de Putin, o Grande (Tumor). Na verdade, tudo isto estava a ser preparado há muito tempo, ensaiado na Síria e iniciado na Crimeia mas o mundo andava distraído, entretido com um projeto, que agora sabemos fantasioso, de paz, tecnologia, prazer, turismo, ecologia, cultura e grandes negócios.

Criaturas infernais como o Grande Tumor foram abundantes na História, Gengis Khan, Átila, o Huno, Alexandre, o Grande, Napoleão Bonaparte, Hitler… Psicóticos megalómanos, que sonharam construir impérios sobre o sangue e as tripas de quem se lhes opusesse. Mas não estávamos à espera que nos surgisse um em pleno séc. XXI.

A situação na Ucrânia está a atingir os limites do minimamente tolerável. O ponto em que alguma coisa tem mesmo de ser feita. O nível de insanidade, loucura, alienação e agressividade está a tornar-se rapidamente insustentável. Estamos perante uma trágica palhaçada. No presente, o Grande Tumor é um líder totalmente desacreditado, a Rússia tornou-se um estado pária entre as nações civilizadas e pacíficas e absolutamente nada do que diz o Grande Tumor ou qualquer membro da sua corte, merece a mínima credibilidade. Temos de partir do princípio que mentem sempre. Cada vez mais parecido com o Grande Suíno Coreano, o Grande Tumor Moscovita só é escutado quando fala sentado numa das suas seis mil e tal ogivas nucleares. E como ele, agora, está lá sentado a maior parte do tempo, isso provavelmente anda a causar-lhe bicos de papagaio e aumentar-lhe a acidez da bílis que, de resto, sempre foi tóxica e fedorenta, desde os tempos do KGB.

Atenção, que não perdi o senso da realidade. O Grande Tumor é uma besta apocalíptica, provavelmente a pessoa mais odiada do mundo na atualidade e eu próprio tenho sonhos deliciosos em que lhe rebento a cabeça.  Mas não há inocentes nesta tragédia planetária. Basta lembramos a forma ignóbil como os EUA trataram (e ainda tratam) Cuba durante tanto tempo e as inúmeras trapalhadas que congeminaram por esse mundo fora, por onde lhes cheirasse a comunismo ou a mero esquerdismo. E não sei se há assim tanta diferença entre KGB e CIA. Contudo, os EUA nunca invadiram Cuba (embora o tenham equacionado), não arrasaram a ilha, não lhe atiraram com mísseis, não mataram crianças cubanas e não massacraram civis. Tem-lhes feito muito mal mas deixaram-nos sempre viver e acolhem os muitos que fogem para Miami. E os EUA não têm sonhos megalómanos de alargar “o seu império” e dominar o mundo, pelo menos não militarmente. O amor natural da Humanidade pelo dinheiro faz isso por eles. Sempre fui crítico dos EUA mas, apesar de tudo, há grandes diferenças. E não há comparação possível entre soldado russos e norte-americanos.

Uma palavra sobre Donald Trump. Se alguém ainda tinha alguma ilusão de que esta criatura apresentava algum vestígio do que é preciso para ser estadista mundial, para além de prosápia e dinheiro, deve ter ficado esclarecido agora. Só faltou mesmo um email para o amigo Vladimir, a usar em caso de guerra, com as localizações GPS das propriedades da  família Biden. E nem uma palavra em defesa da Ucrânia. Que criatura nojenta. Que asco me causa.

Ando a ver atentamente o que se passa. Desejo ardentemente estar enganado mas prevejo tempos tenebrosos para o mundo no futuro próximo. Que raio de mundo feio! POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA O QUE É QUE NOS IRÁ ACONTECER? BB132

Março 29, 2022

Tarcísio Pacheco

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imagem em: Putin's war. | Cartoon Movement

 

BAGAS DE BELADONA (132)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA O QUE É QUE NOS IRÁ ACONTECER? – Sou um típico sagitariano, logo, sou também um incorrigível otimista. Continuo a ir trabalhar todos os dias, a cuidar da minha filha de 11 anos, dou as minhas aulas de Zumba, vou ao ginásio, estou em várias frentes das Sanjoaninas deste ano, preparo o meu veleiro para o Verão e tenho planos para viagens de férias. A minha vidinha boa do costume. Porém, acordo todos os dias e visto-me de ansiedade. Em casa, não largo a CNN. Confesso a minha atual dificuldade em viver a simplicidade do dia a dia na paz das nossas ilhas. Impressiona-me que se continue a falar de questões comuns ou mesmo triviais, como se nada de diferente se passasse no mundo. Impressiona-me que se continue a encarar isto sobretudo como uma crise económica e um movimento solidário de apoio a refugiados ucranianos e à Ucrânia em geral (que está muito bem, obviamente e de que participo, como posso). Será que eu é que sou esquisito ou patologicamente ansioso e mais ninguém acha que podemos estar perante a última crise, a crise que vai acabar com todas as outras? É que olho para a situação e para mim é cristalino como água açoriana que tudo pode acontecer. Então, a questão fundamental é o que é que nos vai acontecer? E acordo todas as manhãs a pensar nisto…

Por mais que olhe para a situação e absorva informação diversificada, não vejo quaisquer perspetivas de soluções pacíficas, pelo contrário. Não é preciso ser político profissional, comentador diplomado ou especialista militar. Está tudo lá, os ingredientes para a receita do desastre total. Um ditador paranoico e cada vez mais descontrolado e agressivo, cheio de tiques nacionalistas e manias de imperialismo, à frente de um país económica e militarmente poderoso, rodeado por um aparelho dependente, subserviente, acrítico e corrupto, no seio de uma sociedade reprimida e muito pouco (e mal) informada), com um arsenal de armas nucleares capazes de destruir todo o planeta e a civilização humana em pouquíssimo tempo. Nem o porquinho da Coreia do Norte chegou a este nível de loucura e eu tinha medo dele.

Temos visto, recentemente, o papagaio do Kremlin a chantagear-nos com o conflito nuclear. Claro que até certo ponto é pura chantagem, a poderosa arma do medo. Mas é o que mais temo porque a loucura de Putin pode efetivamente chegar a esse ponto suicida. À vista disso, uma guerra convencional generalizada é menos má. Acredito que a Rússia perderia, isolada como está, por muito horror e destruição que ocorressem. Sabendo que os Açores não ficariam à margem, a base das Lajes e todas as estruturas importantes, militares ou não, como aeroportos e portos, seriam potenciais alvos. O conflito nuclear, porém, é o nível último do caos universal, ninguém lhe escapará e será provavelmente, o fim da civilização humana, embora bestas protegidas como o próprio Putin possam sobreviver-lhe (mas não durante muito tempo).  

Como expressei recentemente nestas páginas, continuo a pensar que as únicas saídas positivas poderão passar pela posição da China (sempre dúbia, calculista e hipócrita, mas não paranoica e suicida) e a possibilidade remota de uma revolta interna russa, de haver um grupo de russos com inteligência, bom senso e um mínimo de sanidade metal.

Quanto às perspetivas mais próximas, do meu ponto de vista são terríveis. A NATO vai armar-se em força e estacionar nas suas atuais fronteiras a Leste. É óbvio que os EUA também têm o seu arsenal nuclear no mesmo nível de alerta da Rússia, mesmo que não façam alarde disso. Não acredito que Putin recue. Percebemos muito bem agora (mesmo que discordemos totalmente e as odiemos) as motivações de Putin. A questão é que ele apresenta sinais claros de deterioração mental. Sem qualquer pretensão caricatural, a identificação dele com a personalidade de Adolf Hitler (que a História provou ser um louco muito perigoso) é cada vez mais evidente. A ajuda militar à Ucrânia vai crescer cada vez mais. Pessoalmente, por muito pacifista que seja, não posso deixar de apoiar isso, a agressão de Putin é intolerável. Não vamos lá com falinhas mansas e milagres de Fátima. À medida que a Rússia for perdendo terreno, efetivos e material, Putin sentir-se-á cada vez mais enraivecido e acossado. E é aí que tudo, rigorosamente tudo, pode acontecer. Desconfio que a Rússia, num futuro próximo, “se sentirá ameaçada” por bem pouco.

A respeito da minha última Baga (cenários possíveis para a atual crise) um amigo disse-me que eu tinha sido apocalítico. Fui sim, confirmo, embora tenha tentado encarar o assunto com um mínimo de humor. A possibilidade existe, infelizmente e não é ténue. Estamos à beira do desastre. Sou o único ansioso por estes lados? Mais ninguém pensa no que nos irá acontecer?

POPEYE9700@YAHOO.COM

BAGA O ESCÁRNIO DA LOUCURA (BB131)

Março 17, 2022

Tarcísio Pacheco

putin hitler (1).jpg

 

BAGAS DE BELADONA (131)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA O ESCÁRNIO DA LOUCURA - Quanto à Ucrânia, eis, do meu ponto de vista, a lista ordenada das possibilidades em campo, por ordem de preferência pessoal e também numa escala descendente de benevolência, sendo que, a partir do cenário 4, a benevolência se esvai e a única incógnita que resta é a do nível de malevolência.

Cenário 1 – Evidentemente, o meu favorito e pelo qual nutro mesmo uma acrisolada paixão. Putin têm um inesperado acesso de gentileza e faz-nos o favor de falecer. Hipótese altamente improvável, dirão alguns, mas convém não esquecer que ele irá seguramente falecer, mais dia menos dia, o timing é que pode ser inconveniente; hoje, amanhã, o mais tardar até ao próximo fim de semana é que dava mesmo jeito, na pior das hipóteses, antes da Primavera, que é quando o tempo se põe a jeito para reconstruções. O processo de falecimento de Putin é irrelevante, não nos vamos prender com detalhes. Pode ser por um valente traumatismo ucraniano, por exemplo. Ou pode dar-se o caso de Deus (ausente da cena há não sei quantos mil anos mas convém lembrar que para Ele foi uma escapadinha de 5 dias…) finalmente voltar daquelas fantásticas férias de sonho noutro universo, um universo feliz, ficar um bocado chateado com a barafunda e desarrumação na Sua ausência e resolver brindar Putin com um daqueles AVC’s que matam ao fim de 3 dias mas entretanto deixam a boca à banda e os olhos a girar, cada um para o seu lado; esta hipótese também é excelente, facilmente se concordará que, se alguém nestas tristes circunstâncias tentar dizer “carreguem no botão vermelho”, o mais provável é que se perceba algo como “dói-me imenso um artelho”, caso que se resolveria então com fricções de pomada Voltaren e comprimidos para dormir e ficar caladinho até ao fim.

Cenário 2 – Portugal volta a ser o farol do mundo, 500 anos depois. A Virgem de Fátima n.º 13 é enviada em campanha para a Ucrânia, (incorporada no corpo de voluntários com a patente de coronela) e mal Putin dá com ela, opera-se um milagre (sem, necessariamente, o Sol parar de girar) e Putin  converte-se. Acaba a guerra, Putin pede desculpa, ordena a retirada de todas as tropas, oferece-se para pagar as despesas todas, declara 50 anos de fornecimento gratuito de energia a toda a Europa e as lojas MacDonald voltam a abrir na Rússia, o que abranda o descontentamento dos russos mais bélicos.

Cenário 3 – Eclode uma revolta na Rússia, não do povo comum porque desses, os que se atreveram a erguer um cartaz, já foram presos, deportados para a Sibéria ou assassinados, fora os milhares que fugiram para a Finlândia. A revolta é operada por um grupo de militares descontentes. Putin é deposto e ele, todo o seu governo e as chefias militares são entregues às instâncias internacionais e julgados por crimes de guerra.

Cenário 4 – Um grupo de mediadores constituído pelo Papa, pelo presidente chinês, Erdogan e por Cristiano Ronaldo consegue demover Putin de arrasar a Ucrânia, falando-lhe ao pâncreas (na ausência aparente de coração); há um cessar-fogo, negociações, cedências de parte a parte como é dado, acabam por se entender e a vida volta ao normal, tanto quanto possível, até à próxima crise porque ninguém aceita desfazer-se das armas nucleares.

Cenário 5 – Os EUA e a CE conseguem convencer a China a ficar quietinha e a acabar o namoro com a Rússia. Putin não desiste de arrasar a Ucrânia e a guerra alastra. Provavelmente porque cai um míssil russo na Polónia, matando cidadãos de um país da NATO ou algo semelhante. Os Estados Unidos da América, a maior parte dos países da Europa e outras ainda, como a Austrália e Nova Zelândia declaram guerra à Rússia. Passam-se vários anos, há uma mortandade tremenda e uma enorme destruição, o mundo fica de pantanas, mas sobrevive. As principais cidades russas são obliteradas, a Rússia capitula, Putin é capturado ou entregue pelos seus pares, ele e os seus colaboradores mais próximos são julgados e condenados a prisão perpétua.

Cenário 6 – A China resolve alinhar na desgraça total com a Rússia. A guerra generaliza-se na mesma. Um cenário idêntico ao n.º 5, mas com índices de mortandade e destruição incrivelmente superiores. O resultado final é imprevisível, mas sempre dentro dos parâmetros da hecatombe.

Cenário 7 – Altamente improvável, mas a registar como longínqua possibilidade. A Rússia sozinha ou a Rússia e a China aliadas ganham a guerra contra os Aliados da III Guerra Mundial. O mundo cai no caos permanente e a miséria não terá um fim á vista. A civilização humana pode ser irrecuperável.

Cenário 8 – Propositadamente ou por acidente, o conflito nuclear é desencadeado, à escala mundial. Nos primeiros 2 ou 3 dias, as principais cidades da Europa e dos EUA são arrasadas, assim como toda a Rússia. Nos dias seguintes, a maior parte das grandes cidades do mundo, alvos militares, portos, aeroportos e todo o tipo de infraestruturas, terão o mesmo destino. A maior parte da população mundial morre neste período. Uma grande parte dos sobreviventes morre num período de alguns meses, devido aos efeitos da radiação. Em 2 ou 3 semanas, instala-se o Inverno nuclear, sobretudo na faixa central do planeta, até aos limites das zonas temperadas, mas, na verdade, todo o planeta, de polo a polo, será afetado. O Sol não passará pelas espessas nuvens da nova atmosfera terrestre. A maior parte dos animais e plantas não sobreviverá. Em pouco tempo deixará de haver água potável ou comida e quem não tiver morrido antes, os mais felizardos, morrerá de fome e de sede. Sobreviverão apenas alguns animais mais resistentes, como as baratas, os mais prováveis herdeiros da Terra. Sobreviverão, pelo menos durante algum tempo, alguns pequenos grupos de serres humanos, fechados em bunkers no subsolo, que já existem, construídos em segredo, com água e provisões para muito tempo. Esses bunkers estão reservados para elites políticas, seus familiares diretos e gente muito rica. É provável que Putin sobreviva e até reencontre os ratos da sua infância, que lhe terão moldado o carácter. Mas o planeta será inabitável à superfície durante muitos anos. E o cenário de extinção da raça humana é muito provável.

Nos Açores, a política regional torna-se irrelevante. Todas as lagoas de S. Miguel se tornam altamente radioativas. Na ilha Terceira, as Sanjoaninas e as touradas à corda serão canceladas, definitivamente. A alma humana morre. Tudo desaparece. É o fim. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

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