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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

BAGA PAN PAN PAN (BB136)

Julho 11, 2022

Tarcísio Pacheco

Olho-Nu-20ago14.jpg

imagem em: Touradas à corda representam 2,47% do PIB dos Açores - NATURALES (naturales-tauromaquia.blogspot.com)

BAGAS DE BELADONA (136)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA PAN PAN PAN – O título da baga de hoje é uma onomatopeia, mas não tem nada a ver com o nome do partido, é o som de um toiro do Humberto Filipe (esse é único partido a que pertenço), daqueles bem grandes, às marradas no deputado do PAN que o quer condenar à não existência. Arreia-lhe pra baixo, meu bicho lindo, não te acanhes.

Creio ter-me cruzado recentemente, nestas páginas com uma notícia sobre uma proposta legislativa do PAN no sentido de acabar com as touradas em todas as ilhas onde elas ocorrem. Dei-lhe a pouca atenção que me merece. No entanto, é uma oportunidade para, mais uma vez, me referir a este assunto.

Para que não haja dúvidas, sou um acérrimo defensor da tourada á corda da Terceira, deixando de lado, por enquanto, a tourada de praça, por sempre ter achado que são bastantes diferentes, nos seus pressupostos e implicações.

Defendo a tourada à corda com paixão, mas não a invoco no meu argumentário porque as paixões de uns são os ódios de outros, o que é perfeitamente compreensível e aceitável. Tento defender a tourada à corda com argumentos racionais e que fazem sentido, pelo menos para mim. Por isso, sinto-me à vontade para dizer que defender de forma isolada o fim das touradas à corda nos Açores, é uma patetice sem nexo. Tivesse o PAN incluído esta questão num rol imenso de problemas que afetam o bem-estar animal e já seriam coerentes. O PAN exige que se acabem todas as touradas nos Açores. Se, por exemplo, ao mesmo tempo, exigisse que se acabasse definitivamente com a criação de animais para abate e consumo humano, se almejassem acabar com o bife à portuguesa, a costeleta de novilho, a alcatra, a morcela, as linguiças e a bifana, essa instituição regional e quisessem pôr toda a gente a comer couves e cenouras com arroz, eu rir-me-ia de tal candura, mas aplaudiria a coerência. Assim, resta a singela patetice.

O meu primeiro argumento, não o é, na verdade, é apenas um facto que, como tal, não é escamoteável. O toiro de lide terceirense, só existe porque, com o tempo e muito trabalho, se apurou a raça e as suas características de bravura, através do cruzamento, da melhoria genética, do maneio no mato e da própria lide regular que mantém o animal num estado de apuro e vigília, que permanece nos seus genes e é transmitido à descendência. É por isso que o fim das touradas seria o fim do touro, mesmo que se conservassem alguns exemplares, para as fotos turísticas. É isso que o PAN na verdade propõe, o fim do touro bravo terceirense. Não me parece que os principais interessados, os animais, podendo, votassem pelo fim da sua própria existência. Adiante, que isto não pode ser apresentado como argumento, numa dinâmica de dialética inteligente.

Por outro lado, não me faltam argumentos. Deixando de lado a não existência, que é simplesmente estúpida e mata a discussão à nascença, ao toiro terceirense, restaria apenas a opção de servir para bifes, o que já acontece, aliás, nalguma medida, uma vez que a carne de toiro tem mercado. E se um toiro só tiver estas duas opções, o matadouro ou a corda, se o animal pudesse escolher, não tenho dúvidas sobre essa escolha. O bovino de carne tem uma vida curta e inglória, apenas um cruel simulacro do que poderia ser a sua vida de ruminante livre num mundo sem predadores. Mais tarde ou mais cedo é arrancado aos pastos verdes ou à prisão do estábulo para ser trucidado por métodos “humanos” nos matadouros. Quanto ao toiro terceirense, tem uma rica vida, a que eu queria para mim, se tivesse nascido com um par de chifres. Passa a maior parte da sua vida feliz e despreocupado no mato, no seu ambiente natural, não lhe falta erva tenra, ração quando é preciso e muita água fresca. Para outras necessidades, abundam as vacas lindas, pestanudas e submissas. Por outro lado, como os neoliberais adoram lembrar, “não há almoços grátis”. Em contrapartida da bela vida, aos toiros é exigido que, de maio a outubro, de dez em dez dias, na pior hipótese, corram pelos arraiais da ilha, sofrendo umas arrelias da populaça, uns puxões da corda e umas quedas no asfalto, contribuindo com a sua parte para a vida em sociedade. É isto um destino cruel? Não me parece…se revelarem qualidade, terão uma longa e protegida vida, uma vez que serão ativos valiosos para o ganadeiro. Se tiverem um comportamento medíocre, poderão realmente acabar no matadouro, mas ainda assim, terão tido uma vida mais longa e infinitamente melhor do que um bovino de carne. Estão, como todos nós, sujeitos à pressão da competitividade, o que até costuma ser encarado como um fator positivo. Há aqui o que Rousseau teria chamado de “contrato social”, com direitos e deveres.

Quanto ao PAN, prefere que os toiros não existam ou que passem a ser projetos de alcatra. Por isso, o que é que os do PAN merecem? Marradas, muitas marradas.

E agora, foguetes pró ar que hoje há tourada rija na Casa da Ribeira, com quatro puros e eu estarei lá com certeza, com a minha Maria, de calções e ténis, a correr na rua e a prestigiar esses belíssimos animais, que muito admiro e prezo. Viva o toiro bravo terceirense! POPEYE9700@YAHOO.COM

 

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