BAGA O QUE É QUE NOS IRÁ ACONTECER? BB132
Março 29, 2022
Tarcísio Pacheco
imagem em: Putin's war. | Cartoon Movement
BAGAS DE BELADONA (132)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA O QUE É QUE NOS IRÁ ACONTECER? – Sou um típico sagitariano, logo, sou também um incorrigível otimista. Continuo a ir trabalhar todos os dias, a cuidar da minha filha de 11 anos, dou as minhas aulas de Zumba, vou ao ginásio, estou em várias frentes das Sanjoaninas deste ano, preparo o meu veleiro para o Verão e tenho planos para viagens de férias. A minha vidinha boa do costume. Porém, acordo todos os dias e visto-me de ansiedade. Em casa, não largo a CNN. Confesso a minha atual dificuldade em viver a simplicidade do dia a dia na paz das nossas ilhas. Impressiona-me que se continue a falar de questões comuns ou mesmo triviais, como se nada de diferente se passasse no mundo. Impressiona-me que se continue a encarar isto sobretudo como uma crise económica e um movimento solidário de apoio a refugiados ucranianos e à Ucrânia em geral (que está muito bem, obviamente e de que participo, como posso). Será que eu é que sou esquisito ou patologicamente ansioso e mais ninguém acha que podemos estar perante a última crise, a crise que vai acabar com todas as outras? É que olho para a situação e para mim é cristalino como água açoriana que tudo pode acontecer. Então, a questão fundamental é o que é que nos vai acontecer? E acordo todas as manhãs a pensar nisto…
Por mais que olhe para a situação e absorva informação diversificada, não vejo quaisquer perspetivas de soluções pacíficas, pelo contrário. Não é preciso ser político profissional, comentador diplomado ou especialista militar. Está tudo lá, os ingredientes para a receita do desastre total. Um ditador paranoico e cada vez mais descontrolado e agressivo, cheio de tiques nacionalistas e manias de imperialismo, à frente de um país económica e militarmente poderoso, rodeado por um aparelho dependente, subserviente, acrítico e corrupto, no seio de uma sociedade reprimida e muito pouco (e mal) informada), com um arsenal de armas nucleares capazes de destruir todo o planeta e a civilização humana em pouquíssimo tempo. Nem o porquinho da Coreia do Norte chegou a este nível de loucura e eu tinha medo dele.
Temos visto, recentemente, o papagaio do Kremlin a chantagear-nos com o conflito nuclear. Claro que até certo ponto é pura chantagem, a poderosa arma do medo. Mas é o que mais temo porque a loucura de Putin pode efetivamente chegar a esse ponto suicida. À vista disso, uma guerra convencional generalizada é menos má. Acredito que a Rússia perderia, isolada como está, por muito horror e destruição que ocorressem. Sabendo que os Açores não ficariam à margem, a base das Lajes e todas as estruturas importantes, militares ou não, como aeroportos e portos, seriam potenciais alvos. O conflito nuclear, porém, é o nível último do caos universal, ninguém lhe escapará e será provavelmente, o fim da civilização humana, embora bestas protegidas como o próprio Putin possam sobreviver-lhe (mas não durante muito tempo).
Como expressei recentemente nestas páginas, continuo a pensar que as únicas saídas positivas poderão passar pela posição da China (sempre dúbia, calculista e hipócrita, mas não paranoica e suicida) e a possibilidade remota de uma revolta interna russa, de haver um grupo de russos com inteligência, bom senso e um mínimo de sanidade metal.
Quanto às perspetivas mais próximas, do meu ponto de vista são terríveis. A NATO vai armar-se em força e estacionar nas suas atuais fronteiras a Leste. É óbvio que os EUA também têm o seu arsenal nuclear no mesmo nível de alerta da Rússia, mesmo que não façam alarde disso. Não acredito que Putin recue. Percebemos muito bem agora (mesmo que discordemos totalmente e as odiemos) as motivações de Putin. A questão é que ele apresenta sinais claros de deterioração mental. Sem qualquer pretensão caricatural, a identificação dele com a personalidade de Adolf Hitler (que a História provou ser um louco muito perigoso) é cada vez mais evidente. A ajuda militar à Ucrânia vai crescer cada vez mais. Pessoalmente, por muito pacifista que seja, não posso deixar de apoiar isso, a agressão de Putin é intolerável. Não vamos lá com falinhas mansas e milagres de Fátima. À medida que a Rússia for perdendo terreno, efetivos e material, Putin sentir-se-á cada vez mais enraivecido e acossado. E é aí que tudo, rigorosamente tudo, pode acontecer. Desconfio que a Rússia, num futuro próximo, “se sentirá ameaçada” por bem pouco.
A respeito da minha última Baga (cenários possíveis para a atual crise) um amigo disse-me que eu tinha sido apocalítico. Fui sim, confirmo, embora tenha tentado encarar o assunto com um mínimo de humor. A possibilidade existe, infelizmente e não é ténue. Estamos à beira do desastre. Sou o único ansioso por estes lados? Mais ninguém pensa no que nos irá acontecer?
POPEYE9700@YAHOO.COM