Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

BAGA FORMAÇÃO DE NAVEGADORES DE RECREIO

Outubro 09, 2019

Tarcísio Pacheco

IMG_20190826_203855 - Cópia.jpg

foto: Tarcísio Pacheco

 

BAGAS DE BELADONA (81)

 

HELIODORO TARCÍSIO

 

 BAGA FORMAÇÃO DE NAVEGADORES DE RECREIO – Como esta semana vão todos fazer análises dos resultados eleitorais e do abstencionismo, vou continuar a surfar a minha onda contra corrente e aproveitar para escrever sobre algo que me é caro e próximo.

Sou sócio fundador do Angra Iate Clube (1995) e formador da sua Escola de Formação de Navegadores de Recreio desde 1998, com base na minha condição de Patrão de Costa desde 1984, Yachtmaster Ocean (shorebased course, Reino Unido, 2018, através de escola certificada pela Royal Yachting Association), skipper em embarcação própria, velejador com experiência oceânica de longa distância e formador licenciado, com certificação pedagógica pela Universidade dos Açores. Este período inicial justifica-se apenas por entender que as pessoas devem comprovar que sabem do que falam.

Ao longo da minha prática como formador nesta área, tenho vindo, por assim dizer, a especializar-me no curso de Patrão Local, de longe o mais procurado pelos navegadores açorianos. Contam-se por centenas os candidatos que formei a este nível, com índices de aprovação próximos dos cem por cento.

Normalmente, só quando as pessoas pensam em adquirir uma embarcação é que se lembram que, se ainda não o sabem, precisam de aprender a manobrá-la e de obter uma licença náutica, vulgo “carta”. A legislação portuguesa atual, alterada em 2018, obriga os cidadãos a obterem certificação formal numa das quatro categorias existentes (Marinheiro, Patrão Local, Patrão de Costa e Patrão do Alto) para poderem pilotar uma embarcação de recreio em águas portuguesas. Além disso, as licenças portuguesas, bilingues na atualidade, são válidas em toda a CE e aceites um pouco por todo o mundo.  Embora as exigências variem noutros países, a tendência atual a nível mundial é tornar obrigatório algum nível de certificação, por questões de segurança e como reação à multiplicação de embarcações de recreio de todos os tipos e ao enorme aumento de tráfego neste sector. Dentre os candidatos açorianos, encontra-se quem diz que vai ao Continente “comprar uma carta”, quem prefere alinhar em “cursos intensivos” e quem vem ter com o Angra Iate Clube para obter formação séria e paciente, sem pressas. São os que valorizam a aprendizagem tanto quanto “a carta”.

Como é natural, o meu percurso como formador evoluiu, ao longo destes vinte e um anos. Creio que hoje em dia leciono um curso de Patrão Local bem estruturado, completo e totalmente assente no currículo formal publicado para este nível de aprendizagem, estando, obviamente, preparado para lecionar outros níveis. No entanto, julgo que as pessoas fazem alguma confusão com a formação e é por isso que partilho esta reflexão.

Não acredito em cursos “intensivos” nesta área como os oferecidos por outras escolas. Menos ainda acredito em formação para “exame”. Os conteúdos são densos e o seu domínio exige um período de tempo conveniente e alguma prática. Como explico sempre aos meus formandos, a carta de Patrão Local acarreta grande responsabilidade já que, nos Açores, permite, por exemplo, comandar uma embarcação que pode ser até de grande porte, entre as ilhas do Grupo Central (e para os outros Grupos sob autorização expressa e pontual do Capitão do Porto) podendo navegar de noite e transportando, usualmente, pessoas próximas como amigos e familiares, incluindo crianças. Um exame é apenas a aferição de um certo nível de conhecimento pessoal num dado momento. Uma licença é apenas um pedaço de papel. Nem um curso nem uma carta fazem de ninguém um navegador competente e responsável. Muito menos um curso intensivo e uma carta obtida de forma discutível. Apenas a consciência individual, o sentido da responsabilidade, o investimento pessoal na aprendizagem e uma prática alargada podem formar, no tempo adequado, um navegador de recreio competente.

É por isso que os meus cursos não são intensivos, duram cerca de dois meses. As pessoas têm tempo de aprender e praticar. É por isso que os meus cursos são focados na aprendizagem e não na preparação para o exame, que ocorre, ao longo do processo, de forma natural. É por isso que os meus cursos implicam aulas práticas no mar, dentro do possível, com os meios disponíveis.

Acredito no processo de ensino/aprendizagem e não na “preparação para exame” à antiga portuguesa. Pior ainda é o autêntico comércio de licenças náuticas que em alguns locais se pratica, com a conivência de quem deveria fiscalizar e garantir a legalidade e a qualidade do ensino.

Se algum dia a entidade com quem colaboro há 21 anos deixar de se conduzir pelas premissas que enunciei, de certeza que termino aí a minha carreira de formador nesta área. popeye9700@yahoo.com

 

 

BAGA NO CAIS DA CALHETA

Junho 18, 2019

Tarcísio Pacheco

284166_167210786751154_909772492_n.jpg

BAGAS DE BELADONA (78)

 

HELIODORO TARCÍSIO   

 

BAGA NO CAIS DA CALHETA – No fim de semana do feriado da Autonomia, abalámos até S. Jorge, no meu Nantucket Clipper 30, o Popeye, um veleiro de cruzeiro construído na Inglaterra em 1978 e que é, obviamente, o veleiro mais bonito da marina de Angra.

O nosso plano era simples, amarrar o barco, alugar uma scooter e ir fazer uns trilhos numas fajãs. Sabendo que a minúscula marina de Velas estava repleta, decidimos ficar pela Calheta, um porto sem marina, mas praticável, desde que o mar esteja calmo e não haja muita corrente. Depois de uma noite de sexta agitada (partimos à meia noite logo após um evento de Zumba na Biofeira, na Praia da Vitória), a navegar a boa velocidade apenas com a vela grande, sob um vento norte frescalhote e acima da previsão meteorológica, de manhã ainda tivemos de navegar a motor e a custo contra um vento furioso que rondara, entretanto para oeste, mesmo contrário ao nosso rumo. Entrámos na baía da Calheta por volta das 13h00 de sábado. Inicialmente, pensara em ancorar, mas como vi a maior parte do cais antigo livre e o mar estava calmo, decidi atracar ali. Reparei logo numa enorme tenda montada mesmo no meio do cais e cheia de movimento. Pouco depois aproximou-se um segurança que me informou estar ali a preparar-se, para o dia 10, as cerimónias oficiais dos dias de Portugal e da Autonomia, com a presença dos principais figurões da política regional. E que, na opinião dele, embora não tivesse ainda ordens expressas nesse sentido, o Popeye “não ia poder ficar atracado ali”.  Não dei muita importância ao assunto, amarrámos bem o barquito e fomos à nossa vida, só voltámos noite cerrada, para dormir. No domingo, a mesma coisa, saímos cedo para ir fazer o trilho da fajã da Caldeira de Santo Cristo pela serra do Topo, ida e volta. Estava um maravilhoso dia de Primavera e aproveitámo-lo bem.

Na verdade, nada de especial se passou. Nenhuma autoridade me interpelou. Ninguém falou comigo. Não tenho razões de queixa.  Mas durante o dia de domingo, via telemóvel, recebi vários recados indiretos, veiculados por velejadores da Terceira que estavam atracados nas Velas. Segundo estes, o responsável pela marina de Velas (pessoa muito simpática e correta, que conheço pessoalmente) havia-lhes dito, primeiro que eu tinha de sair cedo na manhã de segunda-feira, dia 10 e num recado posterior, que “tinha de sair de imediato”. Na ausência de contatos formais, continuei a não ligar nenhuma ao assunto e a conviver pacificamente com a luxuosa tenda na vizinhança, agora já cheia de cadeiras, microfones e equipamento de comunicação. Mantive o meu plano original que era largar na 2.ª feira bem cedo para a Terceira, pois trabalhava na terça. Larguei às 6 da manhã. Até hoje, não sei qual era a ideia. Mas não gostei das pressões indiretas para sair mais cedo do cais da Calheta. Um barco não é um automóvel que, se não estacionar aqui, estaciona acolá. Os barcos precisam de atracar em segurança nas marinas, num cais ou, na pior das hipóteses, de ancorar, desde que seja em fundos de boa tença e não haja demasiado vento ou corrente. Pago os meus impostos para poder usufruir das estruturas e serviços públicos. Também contribuo para os ordenados dos políticos. E não entendo como que é que o meu humilde veleiro poderia incomodar suas excelências ou colocar em risco a sua segurança. Querem fazer política à beira-mar pois que façam. Devem achar giro. Mas deixem os barcos em paz. Já basta o que um desportista náutico português tem de suportar, de custos, impostos, taxas, burocracia e problemas de toda a ordem, num país que é hipocritamente designado como “de marinheiros”. POPEYE9700@YAHOO.COM

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2010
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2009
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2008
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2007
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2006
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2005
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2004
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2003
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2002
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2001
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2000
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 1999
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D

Fazer olhinhos

Em destaque no SAPO Blogs
pub