BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 2) BAGAS DE BELADONA (161)
Janeiro 13, 2025
Tarcísio Pacheco
imagem em: Luis Ordóñez, o argentino que conseguiu levar a caricatura ao Museu do Louvre – Diario de Cultura
BAGAS DE BELADONA (161)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 2) - Ora, prosseguimos então com o contraditório ao Dr. Bettencourt, emigrante graciosense, ilustre dentista na Califórnia e admirador incondicional de Donald Trump. Esclareça-se que se o Dr. Bettencourt se tivesse limitado a dar a sua opinião sobre Trump, nada teria a dizer, pelo menos publicamente. Ele há gostos para tudo. A Betty Grafstein gostava do José Castelo-Branco. O que realmente me desencadeou um prurido no sistema nervoso central foi o facto do Dr. Bettencourt nos atirar com uma carga brutal das mentiras e falsidades inventadas por Trump, pelos seus apoiantes e pelos hackers russos ou pró-russos, seus parceiros. Aparentemente, o Dr. Bettencourt acha que os açorianos ainda vivem no ambiente de ignorância, incultura e simplicidade de espírito da Graciosa da sua infância. O tempo também passou por aqui e não apenas pela soalheira Califórnia. O Dr. Bettencourt parece achar que somos todos burros nos Açores. Mas lembro-lhe que a ilha Graciosa, sobretudo a do seu tempo, era o grande centro açoriano de produção e exportação de burros. Agora, há menos burrinhos, é certo, mas espalham-se pelas ilhas todas.
Ah, e há também o facto de eu considerar Trump uma criatura absolutamente detestável e um dispensável malefício, para os EUA e para o mundo. Como numa conhecida anedota, Trump é seguramente mais de 100 kg de gordura perniciosa e mórbida, formada à base de cheeseburgers e coca-cola light, que produzem flatulência pestífera, inflamação intelectual e incontinência verbal.
Prosseguindo, como não há esquerda política nos EUA, só há direita, mais liberal ou mais conservadora, não faz sentido dizer que a maior parte dos media americanos é “de esquerda”. E o Dr. Bettencourt diz isto como se ser “de esquerda”, da verdadeira e não da que fica ligeiramente à esquerda da direita, fosse uma espécie de anátema, o que é, no mínimo, anacrónico, no mundo de hoje. Ser de esquerda, nas democracias evoluídas é simplesmente pensar de maneira diferente e preferir um determinado tipo de organização social, alternativo, que não é o habitualmente o da direita. Mas o Dr. Bettencourt e o seu ídolo, Dr. Trump, usam o esquerdismo político como insulto. Todos vimos, durante a campanha eleitoral, em direto na TV, o futuro líder máximo dos EUA apelidar Kamala Harris de preta, burra, ignorante e...”comunista”. Diga-nos, Dr. Bettencourt, já que admira tanto o seu ídolo, se é tão mal-educado, arrogante, racista e bruto quanto ele? Só para sabermos com quem lidamos e se calhar, evitarmos a sua cadeira de dentista, não vá anestesiar-nos a boca com um “fake shot”. O Dr. Bettencourt diz que nos EUA os media são quase todos de esquerda. Isso não faz qualquer sentido. Eu sou de esquerda, mas sou democrata primeiro que tudo e defendo uma comunicação social livre, isenta e plural. Essa é a única que importa, a verdadeiramente livre que, tendo em conta o livre direito de expressão, constitucionalmente consagrado, pode adotar as tendências que quiser e escrever ou transmitir notícias e programas de informação e atualidade com o formato que preferir. O confronto de ideias é sempre salutar. O que é que não pode? Não pode escrever ou transmitir mentiras ou falsidades. Porque aí deixa de ser comunicação social, para ser entidade política e panfletária, com um determinado alinhamento e protagonista de um determinado processo político, com objetivos maliciosos definidos. Um órgão de comunicação social que publique mentiras (propositadamente ou por não se ter assegurado da verdade, primeiro, como seria sua obrigação) deixa de ser comunicação social, passa a ser outra coisa qualquer, provavelmente obscura. Todos os ditadores temem a comunicação social livre. No Irão, na China e na Coreia do Norte, ela, pura e simplesmente, não existe. Não há liberdade de expressão nestas ferozes ditaduras. Na Rússia, apenas existe teoricamente, uma vez que a Rússia atual é na verdade uma ditadura centrada no antigo KGB e uma das primeiras coisas de que o seu ditador, Putin, tratou, quando chegou ao poder, foi de esmagar a comunicação social livre. E nos EUA, o regime atual, que é o de uma democracia que sempre foi altamente criticável, mas que se mostra cada vez mais pobre, com total concentração de poder, demoniza a maior parte da comunicação social, rotulando-a “de esquerda”, o que é um insulto pesado no paupérrimo espectro político-partidário dos EUA. E transfere-se a comunicação para as redes sociais, onde a desregulação e a desresponsabilização são totais. Agora, tudo é possível e as portas do Inferno mal se abriram; Zuckenberg, colocando-se obedientemente na fila da gamela para comer, veio dizer que já não é preciso verificar factos no Facebook, para não agredir a “liberdade de expressão”. Devia querer dizer “liberdade de mentir”. Putin deve estar a esfregar as mãos de contente, uma vez que agora vale mesmo tudo nas redes sociais.
A verdade é que, como é natural, nos media americanos e um pouco por toda a parte, há muita inteligência e espírito crítico. É na cultura, nas artes, no cinema, na literatura e no mundo da informação, que encontramos as pessoas mais inteligentes das sociedades. É por isso que Trump, um pseudolíder que se promove através da estupidez, da incultura e da ignorância, odeia Hollywood, por exemplo. Por norma, por vocação, por formação e pela natural filtragem sócio académica, os jornalistas são inteligentes, críticos e excelentes analistas da realidade social e da sua evolução. Algumas das pessoas que considero mais inteligentes em Portugal, ou são jornalistas ou têm presença assídua nos media, em programas de grande informação. Posso até nem gostar de algumas das pessoas que vou nomear, mas considero-as muito inteligentes: Miguel Sousa Tavares, Ricardo Araújo Pereira, José Rodrigues dos Santos, Pacheco Pereira (dos poucos inteletuais de direita cuja inteligência admiro), Daniel Oliveira, Clara Ferreira Alves, Raquel Varela, Rogério Alves ou Osvaldo Cabral, nos Açores, para referir apenas alguns e dentre os viventes. Grande parte dos media americanos não gosta de Trump e é fundamentalmente por isso que o Dr. Bettencourt diz que eles são “de esquerda”. Na verdade, as razões para os media americanos não gostarem de Trump tem menos a ver com posições políticas, muito menos de uma esquerda inexistente na América e prendem-se sobretudo com o perfil de Trump, um indivíduo execrável, estúpido, ignorante, um falso líder e sobretudo, um dos maiores mentirosos da História. O que nos leva às “Fake News”.
A expressão “Fake News” surgiu precisamente na 1.ª presidência de Trump e, de alguma forma, foi cunhada por ele e usada exaustivamente. O que não deixa de ser paradoxal e profundamente cómico, na medida em que Trump é uma espécie de campeão mundial das “Fake News”. Que o Dr. Bettencourt use esta expressão referindo-se aos media “de esquerda” é da gente se urinar todos pelas pernas abaixo de tanto rir. Trump é um mentiroso patológico e usa a desinformação como arma política de eleição. Esta é uma tática bem conhecida e usada por muitos governantes e ditadores há muito tempo, ao longo da História. Sucede que no passado, era quase impossível desmentir as inverdades. Mas, na atualidade, as mentiras são denunciadas quase em simultâneo, por exemplo, pela comunicação social livre e isenta, que, obviamente, não deve deixar passar mentiras para o público. Exemplo: sistematicamente, qualquer referência a uma das muitas acusações de conduta ilegal e criminosa de Trump era e é rotulada de “fake news”. Mas, quando Trump proferiu em direto na TV uma das suas mais recentes grandes mentiras, que imigrantes haitianos nos EUA andavam a matar e a comer animais de estimação, essa afirmação, apesar de quase imediatamente desmentida por insuspeitas autoridades locais, continuou a ser usada pelos MAGA na persecução dos seus objetivos. Foi uma mentira que causou dano e sofrimento a pessoas inocentes e alimentou muitas injustiças e nunca foi reconhecida ou negada por Trump. Esse tipo de mentiras é de uma virulência feroz. E não é preciso fazer nada de especial, apenas atirar a mentira para o ar e depois, já é tarde mais, sabemos como é, o megafone MAGA pega naquilo, os imigrantes haitianos são uns “selvagens canibais” e os imigrantes ilegais em geral, são os responsáveis pela maioria dos problemas da América, rua com eles, usem o Exército se for preciso. A impunidade de Trump é total atualmente. A própria criatura disse algo como, “eu posso apalpar qualquer mulher ou matar alguém na rua, vão sempre gostar de mim”. Diga-nos, Dr. Bettencourt, Trump é conhecido por gostar de apalpar mulheres e gabar-se disso; que faria se Trump apalpasse alguma mulher da sua família? O seu amor pela criatura é mesmo incondicional? E antes de responder, lembre-se que qualquer mulher pertence a uma família e é filha de alguém. Qualquer afirmação ou notícia incómoda para Trump é rotulada de “fake news” com origem nos media “de esquerda” enquanto para a legião “trumpista”, qualquer mentira da criatura, das muitos a concurso, é imediatamente branqueada, sem contraditório ou então rapidamente esquecida, se insustentável. E é esta a bolha em que vivem o Dr. Trump e o Dr. Bettencourt.
Talvez fique hoje por aqui. Tenho a sensação de que vou passar o ano de 2025 a escrever para o Dr. Bettencourt. É que o testamento dele a favor de Trump é tão absurdo e tão falso que a ando a relê-lo para o criticar, desde 27 de dezembro e a toliçada é tanta e tão motivadora que, num total de quatro páginas e dezasseis colunas, ainda vou a criticar a primeira coluna. Temos serão. Pode ser que me farte. Mas não é hoje ainda. POPEYE9700@YAHOO.COM