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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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BAGAS DE BELADONA (85) BAGA MENINO OU MENINA?

Novembro 06, 2019

Tarcísio Pacheco

fundamentalismo cristão.jpg

imagem em: https://www.paulopes.com.br/2014/07/fundamentalismo-cristao-brasileiro-tem-se-expandido-na-politica.html#.XcKgJFQRcdU

BAGAS DE BELADONA (85)

HELIODORO TARCÍSIO

BAGA MENINO OU MENINA? Lá no Continente há uma senhora, Maria Helena Costa (MHC), com maus dentes, o que não é bom para a imagem e pode até levar a graves infeções no cérebro. Aliás, leva, de certezinha. MHC adquiriu alguma visibilidade pública nos últimos tempos, mercê da sua cruzada contra aquilo que diz ser “a destruição das famílias” e a “desconstrução da masculinidade”.  A gente pensa que Portugal até está a evoluir, mas depois damos com as estatísticas de violência doméstica e com figurinhas como MHC e ficamos amargamente desiludidos.

 Antes de se dedicar à “sua luta”, MHC tinha abraçado a promissora carreira de chefe de secção de roupa infantil numa loja do antigo Feira Nova. Infelizmente, não se deixou ficar por lá. A páginas tantas, sentiu um profundo apelo uterino e decidiu ficar por casa a cuidar dos filhos. Jamais teríamos ouvido falar dela fora da sua rua se, talvez por ter demasiado tempo livre, não tivesse respondido a um chamamento divino, abraçando com apostólico afã, uma nova carreira na apaixonante área do fundamentalismo cristão.  Pelo meu lado, até gosto disso, no sentido de que já me fazia falta uma causa "fraturante", anos volvidos sobre o meu envolvimento desinteressado na discussão pública sobre o aborto e o casamento gay, por exemplo.

Em entrevista, MHC, perante as questões colocadas, inicia sempre a sua resposta com um “Então,” uma bengala discursiva enfática, arrogante, sapiente e, acima de tudo, sustentada em certezas absolutas. Pois se está na Bíblia, quem é ela, serva de Deus, para discordar… Concordo, sobretudo na parte do “serva de Deus”. Basicamente, para esta senhora, o mundo divide-se em pilinhas e ratinhas. Ela sempre teve uma ratinha e nunca lhe passou pela cabeça que pudesse ter outra coisa. “Então”, porque é que não há de ser assim com toda a gente?  No fundo, a vida é simples, as pessoas é que complicam. Quer dizer, quantos WC é que vão ser precisos no futuro, em cada lugar? Este atentado à ordem natural das coisas é suspeito de favorecer também um dos piores crimes contra o neoliberalismo dominante: a insustentabilidade económica. Por outro lado, MHC é capaz de ter a bem-aventurança garantida; estou longe de ser um perito mas tenho uma vaga ideia de haver qualquer coisa na Bíblia sobre uma relação entre os pobres de espírito e o Reino dos Céus.

O que esta senhora diz e escreve desmonta-se facilmente pois trata-se de um discurso pobre, fanatizado, mal sustentado, pouco racional e absolutamente crivado de preconceitos. Mas como ela fala e escreve muito, é preciso falar e escrever tanto quanto ela. E para isso não tenho tempo, já que também tenho filhos e sou dono de barco, não de casa.

Desde que se deixou ficar por casa, com muito tempo para matar, MHC deu em “estudar”; diz que a sua “área” é a análise sócio cultural à luz da Bíblia; uma especialidade académica que nem é tão rara assim, promovida que tem sido por Bolsonaro e Trump.  Pressupõe que o Deus bíblico existe, coisa que ninguém conseguiu até agora provar e que, portanto, é tudo ideias divinas, que vêm de cima; pressupõe também que o texto bíblico é a transcrição mais ou menos exata do que o próprio Deus disse a várias pessoas na Antiguidade, algo que é tão suspeito quanto a própria Igreja Católica Romana, uma organização altamente manipuladora, castradora, maquiavélica e hipócrita.

Para já, fica o seguinte comentário: ninguém, nenhum governante, investigador ou psiquiatra inventou nada acerca da identidade de género, que é aqui o tema central e a pulga que causa a comichão em MHC. Essa questão é tão antiga quanto a própria homossexualidade humana que, por sua vez, ao que sabemos, é tão antiga quanto a espécie humana. Simplesmente, além dos inevitáveis estudos científicos sobre o assunto, a Humanidade, apesar dos inúmeros problemas, confrontos e retrocessos civilizacionais, beneficia atualmente de uma abertura imparável de mentalidades. A atenção dada à identidade do género é apenas a forçosa resposta política a um reconhecimento do problema e conduz a uma intervenção efetiva no sentido de proteger e ajudar as pessoas que nasceram com o equipamento errado, nomeadamente as crianças, claro. Cientificamente, sei que existe a perceção de que há uma idade ideal para atuar, inevitavelmente abrangendo o período escolar, mas a lógica diz-me que cada caso tem de ser estudado individualmente. Para terminar, por hoje, não faço a menor ideia se Deus existe e MHC também não, uma vez que nem ela nem ninguém apresentou até agora qualquer prova material da existência de Deus. É como os Gnomos, é quase certo que os há, mas eu cá nunca vi nenhum. Mas, mantendo o espírito aberto a todas as possibilidades, mesmo improváveis, existindo o Deus bíblico em que MHC acredita piamente, o que faria sentido para mim seria que tivesse criado almas, equipando-as com um corpo material temporário a fim de que pudessem viver no planeta Terra. E almas são como anjos, não tem género, aliás, são mais uma síntese dos dois princípios, masculino e feminino. É por isso que nós todos, almas incarnadas, partilhamos ambas as energias. É quase certo que voltarei a este assunto. popeye9700@yahoo.com

 

 

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