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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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A RELIGIÃO CRISTIANO-RONALDISTA (BB157)

Julho 15, 2024

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: Anak Gang Sebelah: Inilah Karikatur Lucu Pemain Sepak Bola (unnuuuyyyy.blogspot.com)

BAGAS DE BELADONA (157) 

 

HELIODORO TARCÍSIO  

 

BAGA RELIGIÃO CRISTIANO-RONALDISTA – Sou apreciador de futebol, sportinguista sem fanatismos, antigo praticante e, naturalmente, sigo com atenção o percurso da nossa seleção nacional, vivendo com emoção as alegrias e tristezas.  

O artigo do meu prezado amigo, Armando Mendes (AM), no DI de 5 do corrente, sobre a prestação de Portugal no Euro 2024, provocou-me um nervoso miudinho, mas preferi aguardar pelo desfecho do jogo Portugal-França antes de me pronunciar. É que se Cristiano Ronaldo (CR) tivesse jogado bem e marcado golos, tudo lhe seria perdoado, a ele e ao padrinho Martinez. Contudo, foi o que se viu e já lá vamos. 

O Armando Mendes, rapaz da minha geração, colega de Liceu, por quem nutro estima e consideração, é jornalista profissional e homem de muitos pergaminhos e pós-formações. Só não sabia que, aparentemente, na sua obesa carteira académica, ele também contava com pós-graduação de treinador de futebol e mestrado em jornalismo desportivo. Só assim se entende que, para AM, todos os profissionais de jornalismo desportivo e as carradas de opinantes de passagem de todos os quadrantes que, ao longo do Euro criticaram a seleção, Martinez e CR sejam  “treinadores de bancada”.  

Para que fique tudo bem claro, nem sequer vou emitir qualquer opinião pessoal sobre a carreira e figura de CR porque não me parece relevante para o tema em análise. Se sou “messsiano” ou “ronaldista”, não é para aqui chamado. Basta dizer que nada tenho contra a figura que, de resto, só conheço dos media, que lhe desejo muita sorte e saúde para o resto da sua vida, que admiro a carreira fantástica que construiu desde a academia de Alvalade e que, enquanto português interessado por futebol, lhe sou reconhecido pelas brilhantes prestações que teve no passado na seleção e pelas diversas vezes que foi o salvador da equipa nacional.  

Analiso este tema como sempre fiz ao longo da minha vida; o passado ficou lá atrás e é irrecuperável, o futuro é incerto para todos nós, o que conta é sempre o momento presente. CR pode ter sido uma estrela mundial, mas já não o é e isso nem sequer começou agora. Ainda hoje, li um artigo de um conceituado jornalista desportivo italiano; dizia ele que é um admirador da seleção portuguesa e um fã devoto de CR, que considera uma lenda do desporto mundial, mas que, no Euro 2024, CR teve uma prestação abaixo de medíocre, que Portugal jogou sempre com 10 e sem ponta-de lança, o que, naturalmente, teve decisiva influência no rendimento da equipa.  

Vamos a factos do presente. A prestação de CR no Euro 2024 foi bastante semelhante à que ocorreu no Mundial de 2022, mas ainda pior. Há dois anos, já CR estava em notório e natural declínio. Refresquemos a memória:  a diferença em 2022 foi que Fernando Santos, um treinador que nunca apreciei, teve a admirável coragem e lucidez de deixar CR no banco. Foi no dia em que ganhámos à Suíça por 6-1, com o substituto direto de CR, Gonçalo Ramos, a fazer um grande jogo e a marcar 3 golos. Lembro-me bem das caretas de azedume de CR nesse dia e da sua falta de entusiasmo para festejar os golos do Gonçalo. Desta vez, o treinador é Martinez, o qual beneficiou de um longo estado de graça que, claramente, já terminou e não volta.  

Por não ter formação técnica específica, abstenho-me de analisar as estratégias de Martinez neste Euro. Porém, tenho o direito de expressar a minha opinião, livre e democraticamente, sem ser apelidado de “treinador de bancada”. Sem mais explicações, afirmo que, depois desta prova, não sou apreciador do perfil de Martinez, enquanto treinador de futebol. Não porque Portugal tenha jogado sempre mal, por vezes a equipa esteve bem e, na partida contra a França, em minha opinião, estivemos mesmo melhor do que o adversário. Alguns jogadores estiveram muito bem, como Palhinha, Pepe (fífias à parte), o guardião Diogo, Vitinha, Cancelo e Rafael Leão. Outros, de quem muito se esperava, estiveram sofríveis, especialmente, Bruno Fernandes, que foi uma desilusão. Nem refiro CR porque ele esteve ausente em todas as cinco partidas, um jogador a menos, de quem nunca se viu uma gracinha, um drible, um bom remate ou uma cobrança eficaz de um livre. Muita correria, muito pulo, falhanços indesculpáveis, um penalty por concretizar, enfim, zero futebol.  

No cômputo geral, não vi que Martinez tivesse feito grande coisa para melhorar o nosso crónico problema da finalização, além de ter delineado algumas estratégias que não pareceram fazer sentido, vistas de fora e ter desvalorizado quase por completo, o nosso magnífico lote de suplentes. Mas, acima de tudo, não lhe perdoo a reverência imbecil e totalmente injustificada a CR, o facto de ter dado a titularidade quase a 100% a uma unidade em claríssimo sub-rendimento e ainda o facto de lhe permitir ser o dono de todos os livres perigosos da equipa, assim como dos penalties.  

Humildemente, assumo que pouco entendo de futebol em termos técnicos. Mas outros entendem por mim. Sem sequer referir as paletes de opiniões críticas do adepto comum, sem a menor dúvida, afirmo que no meio desportivo profissional, quer em Portugal, quer no estrangeiro, a opinião unânime foi que CR esteve medíocre e que nunca deveria ter jogado a titular sempre e o tempo todo. Como escreveu um insuspeito jornalista desportivo português, Martinez transformou o Euro 2024 numa tournée de despedida de CR.  

Para mim, a grande nota positiva da nossa participação foi termo-nos livrado finalmente de um CR decadente. Prevejo um futuro brilhante para a nossa seleção, embora não necessariamente com Martinez. Para que AM não fique muito abespinhado, faço-lhe saber que uma das minhas filhas é ronaldinha e ficou amuada comigo. Vivo o problema portas adentro. Nada posso fazer, afinal, como em qualquer religião, não vale a pena argumentar com os cristiano-ronaldistas. Amén.  

POPEYE9700@YAHOO.COM 

 

BAGA TELENOVELA QATAR 2022 (BB141)

Dezembro 20, 2022

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: FIFA World Cup 2022 Qatar Wallpapers - Wallpaper Cave

BAGAS DE BELADONA (141)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA TELENOVELA QATAR 2022 – E pronto, chegou ao fim esta telenovela das Arábias, que prendeu aos écrans durante várias semanas todos aqueles que apreciam futebol.

Sou dos que pensam que o Mundial 2022 jamais deveria ter-se realizado no Qatar, um país que como regime e cultura me desagrada profundamente. Gosto muito de viajar, mas tenho posições éticas quanto a isso. Nunca fui, nem irei ao Qatar, Dubai ou Arábia Saudita. E não é anti-islamismo, uma vez que já estive em Marrocos e na Turquia, por exemplo. Mas os petrodólares falaram mais alto e toda esta história mostra bem o abominável mundo em que vivemos, escravizado pelo amor ao dinheiro e submerso em hipocrisia. Contudo, o momento dos protestos deveria ter sido muito antes, quando o Qatar apresentou a sua candidatura e depois, quando a FIFA anunciou a sua decisão. Depois do facto consumado, no momento do Mundial, não vi muita relevância em protestar e tomar atitudes simbólicas. Ainda assim, neste quesito, o nosso presidente da República não esteve nada bem, o que me faz pensar que, tal como Cristiano Ronaldo (CR7), está na fase de descer a montanha e fá-lo com surpreendente deselegância.

Seja como for, o Mundial despertou paixões e provocou ressentimentos, com as pessoas a extremarem posições, com uma evidente falta de tolerância e desportivismo. No meu Facebook fui publicando as minhas opiniões sobre o que foi acontecendo, nomeadamente com a nossa seleção. Um antigo colega de faculdade, que anda pelo meu Facebook, sentiu-se extremamente afetado pelas minhas posições, ao ponto de desatar a insultar-me publicamente, chegando ao cúmulo de me chamar “lampião” só porque nunca fui fã de CR7. Um pesado insulto para um sportinguista como eu e que revela a tonta facilidade com que se insulta alguém que, na verdade, se desconhece quase por completo. Uma paixão tão acrisolada por CR7 fez-me até desconfiar que as fotos de meninas descascadas com que esta criatura nos mimoseia quase diariamente na sua página são apenas fogo de vista para esconder o fascínio pelo corpo musculado e atlético de CR7. Será?

Nas últimas partidas, torci por Marrocos, a equipa revelação da prova, por achar que mereciam. Na final, torci pela Argentina e por Messi, por isso, eles e eu, estamos de parabéns. Obrigado. Foi uma final fantástica, como tudo o que deve ter uma final, emoção, bom futebol, excelentes jogadas, golos sublimes, reviravoltas e muito suspense. A este propósito, também fui criticado. Um amigo disse-me que torcia pela Croácia e pela França, por ser “europeu”. O que é que bom futebol tem a ver com critérios continentais, pensei eu… Na verdade, sou um adepto não convencional. Acima de tudo, privilegio o bom futebol. Goste que ganhe quem mais mereceu e melhor jogou.

A propósito da nossa seleção, os factos mostram que tinha razão, o que é sempre agradável, mesmo respeitando diferentes opiniões. Numa das minhas últimas bagas, referi-me ao Mundial e expressei a opinião de que este deveria ser o fim da linha para Fernando Santos, qualquer que fosse a nossa prestação. E assim foi, realmente, Santos foi-se embora, encerrou-se um ciclo e aguardamos agora um ridente porvir, com o próximo selecionador que, seja quem for, terá direito, sem dúvida, ao apoio inicial de todos os Portugueses e a um estado de graça.  Quanto a Santos, nunca o apreciei, enquanto treinador. Da seleção portuguesa dos últimos anos, o que mais se ouviu dizer? Que tínhamos um naipe fantástico de jogadores selecionáveis, mas jogávamos mal. É essa também a minha opinião. E quando o problema não é a qualidade individual porque somos um pequeno país com um enorme talento futebolístico, um viveiro de craques, mas sim atitude, estratégia e modelo de jogo, então, a culpa só pode ser do selecionador. No tempo de Santos, cometemos a incrível proeza de ganhar um Europeu, quase sempre jogando mal e num modelo claramente defensivo. Santos foi assim, para mim, um treinador cabeçudo, conservador, previsível, calculista e inimigo do futebol que mais me agrada, o futebol de ataque, de coração e de risco. Com Santos, ganhámos um Europeu e uma Taça das Nações, mas raramente jogámos bem, fomos altamente irregulares e protagonizámos, por sistema, apuramentos medíocres e sempre no fio da navalha.
Não me despeço sem me referir ao duelo Messi / CR7. Na verdade, para mim, nunca houve qualquer duelo. São jogadores bastante diferentes, então, não foi difícil escolher. Sempre preferi Messi. Vejo CR7 sobretudo como um excelente goleador, com muitos recursos, bom a fazer golos de todas as formas, de remate direto, de livre, de cabeça e de penalty e que, por via, desse talento e de muito trabalho ganhou muitos prémios individuais. Mas Messi é muito mais que isso, um jogador absolutamente completo e que também marca muitos golos, sendo menos brilhante com a cabeça. Está claramente muito mais perto de Maradona, por exemplo, talvez o melhor jogador de sempre. Se alguma dúvida existia ainda, o papel de Messi na campanha da Argentina no Qatar, desfê-la por completo. Messi é o maior e mais nada. Além do incomparável talento, naquilo que o público comum sabe dele, parece ser uma pessoa humilde e sóbria, sem toques de vedetismo, uma espécie de anti-herói.

CR7 é bem diferente em todos os aspetos. Lamentavelmente, está a terminar a sua brilhante carreira sem qualquer dignidade. Sem conhecer a personagem nem (felizmente) ninguém da família, parece-me claro o que lhe passou pela cabeça nos tempos recentes. Quando começou a perder o estatuto de estrela intocável, no Manchester United, inventou problemas que não existiam, decidiu sair com estrondo e resolveu dar aquela inoportuna entrevista. O intuito era claro: concentrar as atenções sobre si próprio (o que foi extremamente incómodo para a seleção portuguesa), fazer um belo mundial e conseguir um último supercontrato num grande europeu. E até podia ter sido assim. Infelizmente, o tiro saiu-lhe pela culatra e acertou-lhe no pé direito. Teve todas as oportunidades, mas desperdiçou-as. Foi titular nos três primeiros jogos no Qatar e teve uma prestação medíocre. No jogo com a Suíça, em que Santos teve um raro rasgo de coragem, ficou no banco, assistiu à magnífica prestação da equipa e viu o seu substituto marcar três golos e brilhar a grande altura. Foi então que se revelou o verdadeiro CR7 e o mundo inteiro assistiu às suas incríveis caretas de azia e azedume. Que atitude lastimável.

Espero e desejo o melhor para a nossa seleção, com ou sem CR7, neste novo ciclo, que se inicia em breve com a campanha de apuramento para o Europeu de 2024 e até já comprei bilhetes para um jogo no estádio da Luz. Bora lá, Portugal.

POPEYE9700@YAHOO.COM

 

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