BAGAS PRAÇA VELHA E PULSEIRAS OU CHIPS?
Fevereiro 20, 2019
Tarcísio Pacheco
BAGAS DE BELADONA (70)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA PRAÇA VELHA – Dois artigos chamaram-me a atenção no DI do passado dia 9. Um deles era sobre a Praça Velha e o novo palco elevatório, já em construção, uma excelente solução. Sempre tive dificuldade em entender a sanha contra a animação na Praça Velha, a menos que emane da politiquice local porque aí já entendo. Por esse mundo fora, as cidades usam as suas principais praças como cenário de eventos culturais, de cidadania e até políticos. Antes das determinações do atual edil municipal, a Praça Velha era basicamente uma rotunda, com os automóveis a circularem incessantemente à sua volta. Pois os críticos têm saudades desse tempo e até clamam pelo seu regresso. Por esse mundo fora, os países civilizados fecham os centros históricos das suas cidades aos automóveis e deixam as rotundas para as periferias. Por cá, ainda estamos na fase da Revolução Industrial. Sem fumos e barulhos não há “pugrésso”. O que é importante é poder subir e descer a rua da Sé de automóvel, sem grandes incómodos. E queixam-se da poluição causada pelo circuito forçado via Garoupinha ou Cruzeiro. Quer dizer, o problema não é a invasão crescente do centro de Angra pelos automóveis, o ruído, a poluição atmosférica e visual, a dificuldade de estacionamento e de circulação de peões; não é o facto de grande parte da população ser comodista ao extremo e se achar demasiado fina para usar os parques e transportes públicos e de estar disposta a quase tudo para não andar 200 metros a pé; não é o facto do parque automóvel duma pequena ilha crescer desmesuradamente ano após ano, sem controle à vista porque mexer com interesses comerciais e liberdades individuais, em nome de um bem maior e do equilíbrio do planeta é coisa de “comunistas”. Não, o grande problema é a Praça Velha, que devia ser apenas rotunda automóvel, recreio de pombos e antecâmara municipal. Temos outros recintos? Claro que temos. Temos gente e vida cultural para os encher a todos regularmente? É claro que não temos. Um certo tipo de animação, popular, aberta por todos os lados, franca, convidativa, com um palco coberto e estruturas para venda de comida, bebida e artesanato, é perfeita para a praça. Não é preciso reservas ou bilhetes, nem sequer é preciso saber do evento, basta passar por lá, pelo coração da cidade, sentir-se atraído e juntar-se à festa, como vejo fazer a imensos turistas. E deixem-se de conversas dúbias sobre o clima, é ameno e moderado quando é para atrair turistas, é húmido e chuvoso quando se trata de animar a Praça Velha…
BAGA PULSEIRAS OU CHIPS? – Equipar os funcionários públicos com dispositivos de geo localização semelhantes a pulseiras eletrónicas? A sério, mesmo? E porque não chips debaixo da pele como nos cães? Seria mais eficaz e assim não haveria desculpas do tipo “acabou a bateria” ou “zona sem rede”. A sanha da direita contra os funcionários públicos é tanto ou mais conhecida quanto a pretensa tendência daqueles para as escapadinhas. Subjacente a isto, está a psicose do controle e o sonho de privatizar tudo, até acabarmos a pagar o ar que respiramos, a tanto por metro cúbico; quem exceder a sua quota diária, paga suplemento ou tem de parar de respirar até ao dia seguinte. A direita divisionista classifica os trabalhadores em dois grupos, os do sector público e os do sector privado. Eu sigo outro processo: os servidores públicos, que o são porque assim o escolheram; os que preferiram o privado e isso é lá com eles; os que tentaram ser servidores públicos, mas não conseguiram, não tendo ninguém a obrigação de lhes aturar as frustrações, azedumes e ressabiamentos. Neste sistema, ninguém tem de se queixar. Quanto à brilhante ideia do controle, tem excelentes implicações práticas, partindo até dos próprios exemplos apresentados e refinando-o ao máximo possível: se o sistema nos disser que determinado funcionário público se ausentou da ilha, podemos seguir-lhe as deambulações nos mapas Google, averiguando se é uma vulgar “escapadinha” ilegal (é primário ou reincidente?), férias autorizadas (para onde, com quem?), doença (em que órgão, é grave?), formação profissional (outra vez?!), compras nos shoppings (comprou o quê? A pronto ou a crédito?), adultério (aí temos mesmo de saber com quem) ou participação em sexo grupal (aqui talvez baste saber quantos eram). Refere-se ainda, com toda a propriedade, a vantagem de saber se o funcionário está no WC, caso em que seria preciso “esperar uns minutos”; mas (sinto-me inspirado) e se refinássemos o sistema ao ponto de incluir uma análise à matéria fecal? É que, se for diarreia, talvez não valha a pena esperar… As possibilidades deste sistema inteligente são infinitas…E, embora os trabalhadores do privado sejam todos santas criaturas e o modelo a seguir, nunca fiando, o melhor é equipar toda a gente com chip, já a partir do nascimento, para contornar eventuais protestos, porque há sempre gente que está contra o “pugrésso”. POPEYE9700@YAHOO.COM