QUANDO AS BESTAS SOMOS NÓS...
Novembro 19, 2013
Tarcísio Pacheco
Há diversos indicadores que nos dão a medida exata do desenvolvimento da uma determinada sociedade. É comum que esses indicadores sejam confundidos com critérios materiais e economicistas como o número de shoppings, o número de automóveis, a quantidade de estradas e uma data de outras coisas que se medem per capita. Para mim, todavia, nunca foi assim. O desenvolvimento material é perfeitamente secundário, sobretudo se não ocorrer, simultaneamente ou antes, claro progresso na ética, na intelectualidade, na consciência, na ecologia e ambientalismo, na informação, na cultura, na igualdade social, na paridade dos géneros, na compaixão, no respeito por todos e no amor pela natureza e pelos animais.
É precisamente disso que venho tratar hoje, de animais, mais especificamente cães e gatos, os animais domésticos mais comuns e mais próximos de nós. Os Portugueses acham-se muito desenvolvidos atualmente mas, como bem vemos, nem sequer no critério material isso é verdadeiro. E nos Açores ainda é pior. Pelo que sei e pelo que vejo, somos uma das regiões do país onde há mais crueldade para com estes animais. Tirando o caso dos toiros na ilha Terceira, onde são, na generalidade, muito bem tratados , as bestas somos nós. Relativamente a cães, por exemplo, praticamos o abate generalizado e regular nos canis municipais; o abandono é frequente; os maus tratos também; é prática comum manter cães acorrentados ou fechados em pequenos canis, em espaços exíguos e insalubres, quantas vezes mal nutridos, sem possibilidades de manter uma higiene mínima; condenamos estes pobres animais a penas de prisão perpétua que nem existe no nosso Código Penal, ainda por cima sem culpa formada; acima de tudo, estes animais não recebem qualquer carinho, não conhecem qualquer interação social, nunca passeiam e por vezes nem sequer tem acesso ao sol. E quanto à crueldade de que são vítimas muitas vezes, creio que é preciso ter uma alma negra e ausência de valores fundamentais para infligir sofrimento a criaturas que são claramente capazes de sentir e transmitir emoções relevantes, amor, carinho, saudade, lealdade, solidariedade, coragem e até ciúme. Pior que isso só mesmo comê-los, como fazem alguns Chineses, não todos.
Este artigo é um pequeno contributo para a tomada de consciência e para fomentar a mudança de atitudes. Na verdade, podemos todos fazer alguma coisa. É já no próximo domingo, dia 24 de Novembro, que podemos sacudir a nossa tradicional preguiça e inércia e nos juntarmos a uma iniciativa louvável, Terceira – Cordão Humano pela Adoção e Esterilização dos Animais – NÃO AO ABATE, a representação local de um evento nacional, que pretende chamar a atenção para a crueldade do abate de cães e gatos no nosso canil municipal que, mesmo beneficiando de novas instalações, não passa de uma miserável antecâmara de morte e em que o esforço para salvar a vida dos animais é mínimo. A iniciativa ocorre no dia referido, pelas 15.00 horas, na Praça Velha, em frente à Câmara Municipal. O evento pode ser encontrado no Facebook sob a mesma designação e lá são referidos os locais onde pode ser assinada a respetiva petição, que está também a circular pela cidade, através de voluntários.
Para terminar, uma palavra de apreço pela Associação dos Amigos dos Animais da Ilha Terceira (Animais Terceira no Facebook), cujo canil se situa na Vinha Brava. A respetiva Direção, associados, amigos e voluntários dedicam-se a esta causa com entusiasmo e prejuízo do seu tempo e vida privada, sem qualquer retribuição que não seja o amor pelos animais e o afeto que deles recebem em troca. No entanto, a vida deste associação é difícil, as condições materiais precárias, apesar da boa vontade e há pouquíssimo apoio das entidades públicas, o que também mostra claramente o nosso fraco nível de desenvolvimento.
Amigos, concidadãos, podem ajudar participando no evento do próximo domingo, assinando a respetiva petição, tornando-se sócios da Animais Terceira (10 euros/ano), colaborando com esta entidade de diversas maneiras.
Não maltratem os vossos animais nem mantenham os vossos cães acorrentados ou encarcerados. Se não os podem ter, não tenham. E lembrem-se, podem ter a certeza, não tenho dúvidas, quem cuida bem dos animais são os melhores de nós, quem os maltrata são os piores de nós. Não se portem como bestas. POPEYE9700@YAHOO.COM