BAGA DEIXEM-SE DE TRETAS (BB124)
Outubro 07, 2021
Tarcísio Pacheco
- BAGAS DE BELADONA (124)HELIODORO TARCÍSIOBAGA DEIXEM-SE DE TRETAS - Há uma velha anedota sobre um tipoque quer ir para a Marinha e, quando vai à primeira entrevista, perguntam-lhe se sabe nadar…e ele responde “Hã?! Então, vocês não têm lábarcos??”.As posições do Governo Regional dos Açores (GRA) sobre o transportemarítimo de passageiros nas nossas ilhas fazem-me lembrar essa piada. Ébem capaz que, aí para fora, alguém comente com um dos nossosgovernantes, (traduzindo livremente de estrangeiro): “Ah, então, o senhor égovernante nos Açores, sim senhor, lá no meio do mar, ouço dizer que émuito bonito, então os senhores têm lá muitos barcos, não é verdade, já sesabe, são ilhas...”; ao que o nosso governante deverá responder algo como“Nem por isso, não precisamos, temos alguns aviõezinhos…”.O que é mais interessante é que até há algum consenso entre o executivoregional anterior e o atual, nesta matéria. O governo PS também não sabiao que havia de fazer com os navios de passageiros. Uma manobradescarada, mas comum a todos os políticos é, quando não querem fazeralgo ou não sabem o que fazer, encomendam estudos e nomeiam comissõespara estudar o problema. Entretanto, o tempo vai passando e olhandodistraidamente até parece que algo está a ser feito. Mas não está, nuncaestá. Depois, ainda me criticam por, em geral, não apreciar políticos.No momento, o atual governo promete decisões sobre esta questão paradaqui a dois anos. Entretanto e comme d’habitude, vamos andando com aSATA ao colo e o GRA vai encomendar estudos a profissionais de estudos,
- que nós conhecemos na gíria popular como “empatas” improdutivos. Nopassado recente, o governo PS também andou aos tombos com os navios.Devia ser gente que enjoava com o balanço. Foi a bizarra história do ferry“Atlântida”, que ia ser o “nosso ferry” e que depois encalhou porque lhefaltava 1 nó na velocidade de cruzeiro - versão oficial - (creio que navegaagora pela Noruega, onde não são tão esquisitos…). Depois foi a onerosasolução de fretar dois ferries estrangeiros todos os Verões. Uma soluçãoque, diga-se a verdade, foi sempre assumida como de recurso e temporária.E, entretanto, ia-se brincando ao jogo da encomenda de anteprojetos econcursos, com vista à construção de um ferry açoriano. Nisto e noutrascoisas se entretiveram os socialistas até a oposição vender a alma ao Diaboe agarrar o poder com unhas cobiçosas e dentes sôfregos. Chega de estar naoposição, pensaram eles em surdina.E agora, entrou uma gente cuja grande diferença dos socialistas é na cordas gravatas e que tem este discurso paranoico sobre os navios: os Açoresnão precisam de barcos porque têm aviões e uma nova tarifa porreira e asligações marítimas de passageiros entre todas as ilhas eram um circo deVerão. Em caso de dúvida, sacam da calculadora e pregam um sermãosobre taxas de ocupação.Entretanto, as famosas rampas ro-ro, que custam os olhos da cara, que tantonos fartámos de reivindicar e que em Angra (como sempre, tarde, a máshoras ou nunca) só deveremos ter em 2022, na melhor das hipóteses,quedam-se como excelentes pontos de apoio à pesca lúdica, entre setembroe maio.Também dizem, o GRA e os seus cúmplices neste crime, que ter um ferryaçoriano permanente implica custos incomportáveis. E comparam oincomparável custo por cabeça, uma vez que não há qualquer semelhançaentre os dois tipos de transporte, marítimo e aéreo. Isto é o cúmulo dahipocrisia. Então, e ter uma companhia aérea regional, de bandeira, sai degraça? É verdade que, por agora, estamos a pagar uma tarifa interilhasespecial e reduzida, mas quanto é que pagamos todos os meses, cada um denós (os que trabalham), para sustentar uma companhia aérea que não dálucro, que cria prejuízo todos os dias e que acumula um passivo, esse sim,
- verdadeiramente incomportável, que é gerido sempre da mesma forma,com injeções de capital da banca (que não faz caridade)? Então, não sejamhipócritas, trata-se, acima de tudo, de decisões políticas, com valor relativo.Não façam de conta que não há alternativas. Poupem-nos aos mantrasvazios e imbecis. Já parece o discurso de outro, do Coelho de má memória,“vivemos acima das nossas possibilidades” etc, etc, repetido até à náusea.Há alternativas e até já as apontei nestas páginas. Devemos aprender comos que são mais espertos do que nós, com humildade. Com a Islândia,poderíamos ter aprendido como é que se lida com banqueiros corruptos ecriminosos. Infelizmente, nunca o fizemos. E com as Faroé, podemosaprender como é que se transporta carga marítima, de todos os tipos epassageiros, ao mesmo tempo, por qualquer mar ou oceano, usando rampasro-ro, em qualquer época do ano, cancelando viagens, naturalmente,quando as condições meteorológicas são demasiado adversas.Eu cá não sei de nada, não tenho acessos a fontes privilegiadas. Masacredito que por detrás destas decisões, aparentemente néscias e pacóvias,esteja mais do mesmo de sempre: promover e salvar a SATA, a qualquercusto e agora também, atender as queixas das empresas de rent-a-car,algumas delas pertencentes a grupos poderosos, que praticam preçosescandalosos e que muitas vezes, no pino do Verão, nem sequer têm ofertasuficiente.O mote do GRA parece ser agora “vocês hão de andar é de SATA, queiramou não; se não querem, vão a nado ou comprem um barco”. Agora é quepodemos dizer com propriedade “pegou-lhe a SATA” porque não há maisnada para lhe pegar…ainda bem que tenho o meu próprio navio. Mas sóconsigo levar as bicicletas. POPEYE9700@YAHOO.COM