O PÓS-CHARLIE
Janeiro 30, 2015
Tarcísio Pacheco
imagem e citação em: http://livrespensadores.net/a-liberdade-de-expressao-deve-ter-limites/
(...) “ter liberdade de expressão” significa que você tem o direito de dizer o que você bem entender para quem você bem entender. Pouco importa, no caso, se a pessoa vai gostar ou não do que você diz – o que importa é que ela terá o mesmo direito de te responder à altura e você terá, democraticamente, de ouvir a resposta (...)
O PÓS-CHARLIE
TARCÍSIO PACHECO
O Charlie foi mais daquilo a que já nos acostumámos. Violência e homicídio às mãos de extremistas fanáticos. O que eles defendem ou querem é indiferente. Todos querem alguma coisa e acham-se no direito de matar para o conseguir.
O pós-Charlie está a ser como previra. Recentemente, no rádio do carro, ouvi uma senhora clamar que era “essencial” debater a liberdade de expressão; que nada está “acima da crítica” incluindo a liberdade de expressão. Não apanhei o nome da senhora mas para ser entrevistada sobre o assunto devia ser uma VIP nacional, mesmo que de categoria B ou C. Também acrescentou que o Charlie Hebdo já tinha publicado cartoons “violentos” contra outras religiões, incluindo a católica. E que, como católica, se tinha sentido muito ofendida. Sorte do Charlie Hebdo que na altura esta senhora não tinha um par de Kalashnikovs à mão.
Seja quem for esta senhora, para mim já passou a ser a Rainha da Falácia. É claro que devemos ser livres de debater a liberdade de expressão ou outra coisa qualquer. Mas neste momento temos liberdade de expressão, então se a queremos debater é para a restringir. Esta é a primeira falácia. A outra é a linha de pensamento implícita de que liberdade de expressão é muito fixe mas só enquanto não “ofende” ninguém. Parece-me uma questão de obtusidade inteletual não perceber porque é que este tipo de discurso é falacioso. Haverá sempre algum fanático, um ignorante ou um simples idiota para quem alguma coisa é “sagrada”. Então, para não “ofendermos” ninguém, talvez devêssemos fazer um referendo nacional sobre matérias suscetíveis de ofender alguém e com o resultado final criar um Índex de assuntos sobre os quais será proibido fazer humor. Já estou a ver o filme: todas as religiões, o ateísmo e agnosticismo porque também têm direito, a Santíssima Trindade, mesmo que ninguém entenda o que é isso, as mães, os partidos políticos, os governantes e presidentes da República, militares e polícias, juízes, clubes de futebol e por aí fora, a lista de temas e personalidades “sacralizáveis” será com certeza interminável.
Meus caros, deixem-se de tretas. Essa coisa do “sagrado” não passa de uma invenção humana. Ninguém, jamais, apresentou provas de que o seu Deus existe. E jamais Deus algum se revelou em direto à Humanidade de forma universalmente indiscutível. Então, todas as religiões e teorias “sagradas” são criações puramente humanas, tão criticáveis e ridicularizáveis como outra coisa qualquer. Além de que, evidentemente, parto do princípio de que liberdade de expressão é um assunto cívico, social, coletivo e institucional e que religião é da esfera pessoal, íntima e privada. Nada de confusões, muita gente morreu para que chegássemos até aqui.
Para mim só existe uma coisa sagrada, que é a vida, até porque nós não a sabemos criar nem devolver, uma vez perdida. Ela é-nos oferecida e deve ser integralmente respeitada. E todas os dias ela é espezinhada neste mundo. Indignem-se com isso.
Acho incrível que as pessoas se amofinem contra a “liberdade de expressão” e não demonstrem qualquer preocupação com a exportação do islamismo radical para todo o mundo, com a multiplicação das escolas corânicas na Europa, com o uso das mesquitas para espalhar o veneno da intolerância e do ódio, com a pressão dos tradicionalistas para que lhes seja permitido praticar na Europa a discriminação, escravização das mulheres e a fanatização das crianças que praticam nas Arábias, com a confessada intenção de islamizar o mundo todo, tanto através da força bruta como do cavalo de Tróia da democracia. Não sou contra o islamismo como não sou contra religião alguma, por principio mas sou contra a força bruta, a violência, a discriminação, a intolerância e o fanatismo, tudo coisas típicas das sociedades submetidas à sharia. Querem mudar alguma coisa ao nível da liberdade de expressão? Então lutem pela liberdade de expressão das mulheres no Egipto, para dar apenas um pequeno exemplo. Elas, que são humilhadas, discriminadas e violadas todos os dias, vão agradecer-vos.
Os únicos limites para a liberdade de expressão devem ser os que estão definidos na Constituição de cada país bem como na Lei Civil. Se ocorrer algum atropelo, devemos recorrer ao sistema de Justiça, independente por definição.
Entretanto, devemos rir muito, de Jesus, de Maomé, de Buda e do resto da pandilha toda. Rir só faz bem à saúde. Apanhar com balas e bombas é que é um bocado indigesto. E se não fosse pelo facto da Humanidade ser tão violenta, agressiva e perigosa, eu diria que somos uma raça ridícula. Talvez metade do Universo inteligente se ria de nós. E talvez a outra metade nos veja como uma praga de gafanhotos. POPEYE9700@YAHOO.COM