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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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BAGAS DE BELADONA (54) BAGA A INSÍDIA DO CAPITAL

Setembro 25, 2018

Tarcísio Pacheco

 

ganância.jpg

 imagem em: https://www.lagoinha.com/o-perigo-da-ganancia/

 

 

BAGAS DE BELADONA (54)

 

HELIODORO TARCÍSIO

                  

BAGA A INSÍDIA DO CAPITAL – Primeiro vieram as grandes superfícies, os hipermercados e afins. Toda a gente achou o cúmulo do progresso, ia-se de carro, não faltava estacionamento, coberto inclusivamente, era tudo brilhante, limpo, quase excessivamente abundante e os preços eram melhores. No Inverno, os terceirenses começaram a ir passear para o híper, para curtir, enfim, um clima de shopping, como há nos lugares evoluídos. Criou-se emprego, exaustivo, escravizante e mal pago mas criou-se. Alguns pequenos comerciantes foram resistindo, remando contra a maré, adiando o inevitável. Mas a bruteza da realidade em breve se impôs e foram fechando os minimercados e as mercearias de bairro, um negócio após outro. Ficaram alguns, poucos, que tinham os seus trunfos, nome, antiguidade, alguma reconversão, localização, teimosia, falta de alternativa e estarem abertos a desoras. Anos passaram, o capital, animadíssimo, a encher a barriga gulosa com baixos salários e altos lucros e, entretanto, alguns processos naturais e espontâneos começaram a acontecer. Como quando a vegetação se apossa de um espaço urbano abandonado. Pelo meio das ruas e dos bairros, timidamente, foram ressurgindo minimercados convencionais e outros pequenos negócios, alguns fantasiados de mercearias gourmet e de lojas de conveniência, abertas até tarde. Dir-se-ia que se tinha descoberto um ponto fraco na fortaleza do capital, se este os tivesse. De repente, a brigada do reumático já podia ir às compras de novo. As velhinhas, todas contentes, foram às caves e dispensas limpar o pó aos seus velhos sacos de compras com rodinhas. Já era possível sair de casa de bata e chinelos para ir comprar meia-dúzia de ovos. Rolos no cabelo não, nada de exageros, isto é uma crónica respeitável e não um cliché dos anos 60. Agora, já sabíamos de novo a quem pertencia o estabelecimento, tratávamos por tu a menina da caixa, sabíamos um bocado da vida dela. Já havia outra vez tempo para mãos inteiras de conversa e saborosos mexericos. Antes de comprar, podíamos provar o queijo de S. Jorge, de que éramos fiéis clientes e havia mesmo um ou outro que admitia praticar a velhíssima tradição do rol dos fiados. E instalou-se a esperança. Já nos parecíamos outra vez com pequenas ilhas perdidas na vastidão do Atlântico Norte e nem tanto com peças contaminadas no xadrez dos poderosos. Voltáramos a viver uns para os outros, como mandam os livros sagrados todos. E o que sucedeu então? Ah, dizem que Deus não dorme mas quem não dorme é o capital…Para este, as pessoas dividem-se em três grupos: clientes, parceiros e futuros clientes. Concorrentes são baratas, toleradas se ficarem nos seus buracos, esmagadas de imediato se mostrarem atrevimento. Esperança? Nenhuma esperança, diz o capital raivoso. Então, o capital pensou “aié?”, arregaçou as mangas, tirou uns trocos miúdos da bolsa e desatou a comprar negócios falidos, de preferência em esquinas conspícuas ou em ruas estratégicas. Nesses lugares, o capital fez obras rápidas e em pouco tempo abriu uma rede de médias superfícies. Como o capital é ardiloso, deu-lhes nomes fofos e sugestivos, como “Aki Perto “e “O Meu Super”. O povo, desprevenido, incauto, ingénuo, fica a pensar que a coisa também é deles. E, geralmente, fica feliz porque lhe nasceu um híper pechinchinho ali perto. Nunca chega a saber  que os donos daquilo tudo moram a milhares de quilómetros e têm nomes como Dr. Sonae e Mr. Franchising. A este fenómeno chamam várias coisas, oportunidade de negócio, empreendedorismo, marketing, instinto comercial. Mas não se iludam, no fim das contas é apenas a velha conhecida de sempre, a ganância capitalista, a esmagar os pequeninos do granel, como esmagou os pequenos agricultores e lavradores e como esmagará toda a vida nos ossos da Terra até nem lhes restar sequer o tutano. Aí, então, o capital terá ganho definitivamente a guerra na Terra. Marte virá a seguir.  POPEYE9700@YAHOO.COM

 

 

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