BAGA VOU CHATEÁ-LO SIM MAS FOI ELE QUEM COMEÇOU (110)
Junho 05, 2020
Tarcísio Pacheco
imagem em: https://outofworld.wordpress.com/2011/12/29/funcionarios-nossos-amigos/
BAGAS DE BELADONA (110)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA VOU CHATEÁ-LO, SIM, MAS ELE FOI QUEM COMEÇOU – No Diário Insular de quarta-feira, 27 de maio, saiu asneira da grossa embora o título até tivesse sido bem escolhido, já que era “Inconsistências”. Dececionou-me, o “Não me chateies” (sempre gostei do email dele). Até parece uma daquelas pessoas que tentou ser funcionário público, não conseguiu e ficou a odiar-nos para o resto da vida. Será uma possível psicose. Bom, antes isso que entrar numa repartição pública com uma arma e matar toda a gente (aproveitando que estavam distraídos no Facebook ou a mandar SMS para amantes) como na loucura dos EUA.
Voltando ao Inconsistente, naquele dia, deve ter acordado com a vesícula purulenta e resolveu babar-nos com um ódio vesgo e insano pelos funcionários públicos. Que coisa tão tacanha, provinciana e neoliberal…A ironia é que se o azedo escriba tivesse ficado por aquele tipo de funcionalismo público com família ou padrinho em cargo de poder ou bem visto no “partido”, que existe e sempre existiu, até podíamos ter estado basicamente de acordo. Mas, seja por ignorância ou má fé, para o Inconsistente, todos os funcionários públicos, com exceção daqueles que considera “essenciais” e que devem ser os que espera virem a tratar-lhe do futuro AVC e mudar-lhe a fralda, o resto vive “em ócio permanente”, a ler os tweets do Trampa.
Isto é daquele tipo de gente, tão comum em sociedades atrasadas, que acha que trabalho intelectual não é trabalho, que teletrabalho é brincadeira, que quem não sabe fazer, ensina, que os reclusos deviam andar todos em trabalhos forçados a limpar florestas e que, para quem frequenta ginásios, há muita pedra para acartar. Geralmente, estes críticos são os primeiros a gritar aos quatro ventos quando acham que há uma falha desse mesmo estado que eles pretendem pequeno e fraco. Mas se há algo que a pandemia veio demonstrar é que só estados fortes, bem estruturados e bem geridos conseguem combater eficazmente situações radicais, como guerras, catástrofes ou pandemias. Afinal, o Estado somos todos nós, o nosso território, as leis, a propriedade pública e as autoridades eleitas pelo povo democraticamente e mudadas de 4 em 4 anos. Numa situação como o Covid-19, quem se espera que venha garantir a saúde, segurança e bem-estar das pessoas, sem intuitos de lucro ou proveito material? A PT? A Galp Energia? A Mota-Engil? Ou o Governo e a Assembleia da República?
Incrivelmente, da pandémica situação, o quezilento escriba consegue concluir que os funcionários públicos não servem para nada porque estiveram “de férias” durante 2 meses e ninguém deu por falta deles. Isto é uma conclusão digna de um Bolsonaro. Quer dizer, a vida parou totalmente durante dois meses, por imposição das autoridades eleitas por nós e acertadamente, ao que parece, com exceção dos serviços considerados essenciais à vida, como os serviços de urgência na saúde, a alimentação, a segurança dos cidadãos e a recolha de lixo, para referir os óbvios. Tudo o resto parou, a vida de todos nós ficou em suspenso, educação, comércio, restauração, serviços, turismo, diversão, cultura e outros setores. E continua assim ainda, em larga medida. E disto o Inconsistente consegue concluir que de professores a engenheiros, passando por eletricistas, cantoneiros e bibliotecários, todas as pessoas que, trabalhando de segunda a sexta em horário completo e que, para além da sua especialidade são também funcionários públicos, não servem para nada e não fazem cá falta nenhuma. É brilhante, o Inconsistente. Bom, se fosse só isto, já era uma tristeza. Mas é preciso dizer que o Inconsistente revelou também muita ignorância sobre o funcionalismo da atualidade. A menos que se trate de malícia dolosa e aleivosia pura. Diz o desvairado escriba que ninguém controla o teletrabalho e que ninguém quer saber da produtividade do funcionário em regime normal. Até pode ter sido mais ou menos assim, no passado. Mas, na atualidade, isto é totalmente falso. Isto é uma absoluta mentira, que deve ser denunciada. As pessoas em teletrabalho são controladas pelos seus chefes, através de relatórios diários obrigatórios, da conclusão com proveito das tarefas que lhes são distribuídas e a sua atividade é escrutinada com muito mais minúcia do que dantes, sem a menor dúvida porque o escrutínio é diário, permanente e detalhista. O escriba com azia não sabe nada sobre teletrabalho, como pouca gente por aqui sabe, aliás. Mas escreve sobre isso para os jornais. Deve ser um tele especialista em assuntos diversos. Um Cláudio Ramos da imprensa cinzenta. Contudo, ignora ou finge ignorar que há muitas empresas privadas em Portugal que decidiram manter o teletrabalho depois do desconfinamento. Será que o fazem porque isso é prejudicial para as suas operações comerciais, neoliberais e lucrativas? Na atualidade, nenhum funcionário público tem trabalho garantido para a vida toda, já não é assim, o mundo pula e avança embora alguns não ser apercebam disso. Os funcionários públicos são avaliados, têm de cumprir critérios de execução e os relógios de ponto (tendencialmente de impressão digital), controlam a assiduidade de uma forma absolutamente estrita. Claro que na cabeça do Inconsistente, os funcionários públicos são todos uns aldrabões que andam com os dedos indicadores uns dos outros nos bolsos. Fico por aqui hoje, para não ocupar mais espaço, mas fui professor desde a faculdade e funcionário público, com orgulho, desde 1993. Poderei ter muito mais a dizer sobre o assunto. É que, ao contrário de qualquer comerciante ou empresário ou de um profissional liberal, nós não trabalhamos para enriquecer ou angariar clientes, trabalhamos para a comunidade. Faz diferença. popeye9700@yahoo.com