BAGA TURISMO NÁUTICO (BB 125)
Outubro 14, 2021
Tarcísio Pacheco
BAGAS DE BELADONA (125)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA TURISMO NÁUTICO – A Agenda Mobilizadora para o Setor do Turismo da Região Autónoma dos Açores do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) prevê um investimento global de 75 milhões de euros, a concretizar entre 2023 e 2025. Folgo em saber que o Turismo Náutico está contemplado, ele é referido em dois pequenos parágrafos do artigo no DI sobre esta questão. Prevêem-se melhorias das infraestruturas para o iatismo, aquisição de equipamentos para colocar iates em doca seca, criação de estruturas de reparação de embarcações e modernização de equipamentos, tendo o projeto como entidade gestora a Câmara do Comércio da Horta.
Como velejador oceânico, proprietário de veleiros de cruzeiro desde 1998 nos Açores, esta é uma área que me interessa sobremaneira. Por isso, esta notícia alegra-me, mas, à cautela, vou esperar bem sentadinho. É que uma análise amadora desta área e também a perspetiva do utente, mostram-nos que o turismo náutico nos Açores está num estado calamitoso. Não por falta de procura, todos os anos demandam as nossas águas centenas de iates de recreio de todas as nacionalidades. O caso é que os poderes instituídos parecem esquecer-se que as embarcações de recreio precisam de marinas. Se analisarmos o que têm sido feito nos Açores a este respeito nos últimos anos, até parece que há muita obra. Há, é verdade, mas, na maioria dos casos, é insuficiente ou mal feita.
Com exceção das marinas da Horta (já ampliada) e de Ponta Delgada (como seria de esperar…), as marinas dos Açores estão subdimensionadas ou foram mal feitas.
A pequena marina da ilha das Flores está inoperacional e aguarda reparação desde 2019. Vamos deixar esta de parte, afinal a culpa é do furacão Lorenzo. Para esta, até há uma boa desculpa. No Pico, a chamada ilha do futuro, uma ilha maravilhosa, que recebe cada vez mais visitantes e é enorme, com 3 vilas, simplesmente não tem marina; possui um pequeno Núcleo de Pescas (formalmente), minúsculo e com uma entrada apertada e perigosa; a multiplicação de embarcações do whalewatching e a aquisição de algumas embarcações por locais, rapidamente reduziu a praticamente zero o espaço disponível para visitantes. Em S. Jorge, existe a marina de Velas. Mal feita e subdimensionada, também ficou rapidamente quase sem espaço para visitantes. Vai valendo o espaço da ancoragem, que a baía é ampla e a competente e sempre amável prestação do funcionário, o simpático Zé Maria, que vai fazendo milagres. Na Graciosa, a ilha sempre esquecida, também não há marina, propriamente; existe também um minúsculo Núcleo de Pescas, de reduzida capacidade, na Praia; junto a Santa Cruz, no norte da ilha, finalmente, iniciou-se o há muito prometido projeto do porto de recreio da Barra; mas está longe de estar finalizado, não existe marina, apenas um molhe de proteção e uma área abrigada, falta quase tudo. Santa Maria é um caso à parte e um caso curioso porque, tratando-se de uma ilha pequena, que sempre viveu à sombra de S. Miguel, que teve momentos altos na sua história, à custa do seu excelente aeroporto, tendo perdido muitos habitantes nos últimos anos, recuperou argumentos e foi-se posicionando como uma ilha linda, enganadora, com excelentes condições para a pesca e o turismo náutico; talvez por isso, acabou por ser beneficiada com uma marina bastante ampla e funcional e uma boa estrutura portuária, em Vila do Porto.
Deixei para o fim, propositadamente, as marinas da Terceira, por ser a ilha onde habito. A marina da Praia da Vitória é de administração municipal; o seu design não é nada brilhante, podia ter ficado bem melhor; com pouca capacidade, já fica também a rebentar pelas costuras no Verão e levaram imenso tempo para substituir um pontão estragado, que muita falta fazia; no Verão 2021 esteve completamente entupida. A marina de Angra é gerida pela Portos Açores, herdeira da antiga JAP. As pessoas devem lembrar-se da guerra que foi, nos anos 90, para se conseguir construir esta marina; o sistema democrático exigia que se ouvisse um pequeno grupo de pessoas que se opunham e a baía é património histórico; ultrapassados os problemas, inaugurou-se a marina no início da década de 2000; logo se percebeu que era mal desenhada e subdimensionada. E agora, 20 anos depois, há imensos problemas de espaço na marina e já mal chega para os locais (que têm, obviamente, todo o direito de querer comprar barcos ou de mudar para barcos maiores), quanto mais para os iates estrangeiros…. Foi ver este ano, um ano atípico, devido ao fim das restrições de viagem, a enorme quantidade de veleiros de recreio, até setembro, inclusive, que ancoraram na nossa baía, por falta de espaço para atracar na marina. A marina de Angra até recebeu novos pontões e fingers, com mais capacidade, mas jazem há muito meses no Porto Pipas à espera de alguma coisa. Ouviu-se falar também de um plano para alterar a configuração da marina, criando assim mais algum espaço, mas a ideia, se realmente existiu, parece ter morrido à nascença.
E foi assim um pouco por todo o grupo Central. Numa viagem às Velas, em agosto, havia tantos iates estrangeiros ancorados que nem ancorar consegui, fiquei amarrado (mal) ao cais, das 3 da manhã até ao nascer do sol. Numa viagem às Lajes do Pico, em setembro, fiquei amarrado ao cais do Caneiro e já fiquei muito feliz por ter encontrado o cais disponível (não teria sido o caso em julho ou agosto).
Resumindo, há tanto a fazer e tanto dinheiro a gastar nesta área que com o pano de fundo habitual das guerrilhas partidárias, dos confrontos entre ilhas e do centralismo do governo centrado em S. Miguel, sinceramente, não espero grande coisa. Para mais, o atual GRA já fez saber que não precisamos de barcos porque temos aviões. Vamos ficar à escuta, no canal 16, claro. POPEYE9700@YAHOO.COM