BAGA TPC, NÃO OBRIGADO!
Janeiro 14, 2019
Tarcísio Pacheco
imagem em: https://ionline.sapo.pt/523494
BAGAS DE BELADONA (65)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA TPC, NÃO OBRIGADO! – Notícias recentes dão conta de que a comunidade Valenciana, em Espanha, decretou a limitação dos TPC (trabalhos de casa) para crianças entre os seis e os dezasseis anos. Ficamos também a saber, através da TVI24, que, em Portugal, pelo menos o agrupamento de escolas de Carcavelos já baniu os trabalhos de casa há cinco anos. São notícias que saúdo com alegria. Finalmente, há indícios de mudança e posições formais sobre o tema, embora tudo aconteça em câmara lenta em Portugal no sector da Educação. Sou um ex-docente, licenciado e com uma pós-graduação em Pedagogia. Apesar de ser um “puto” recém-licenciado, no final da década de 80 já pensava como penso agora. Enquanto fui professor, até 1992, jamais passei TPC aos meus alunos, que tinham taxas de sucesso perfeitamente dentro da média ou superiores. É que eu gostava deles e respeitava-os. Já nessa época entendia que se as crianças se levantam cedo, de segunda a sexta e passam uma grande parte do seu dia na escola, sujeitas à disciplina e a tarefas de aprendizagem, depois do término das atividades escolares, devem estar livres para ocupar o seu tempo até à hora de dormir com as coisas que gostam de fazer, que podem ser tão variáveis como, por exemplo, desporto, música, artes diversas, leitura recreativa, cinema e televisão, passear ao ar livre, andar de bicicleta, ajudar os pais em algumas tarefas, conviver com a família, brincar, dormir uma sesta ou simplesmente não fazer nada, o famoso ócio, que pode ser uma coisa muito salutar. Claro, tenho de incluir aqui os videojogos mas, pessoalmente, sempre afastei os meus filhos disso, por entender que não trazem benefício algum, contribuem para a estupidificação geral da sociedade, fomentam o isolamento e desencorajam a comunicação. Escusado será dizer que, relativamente aos meus 4 filhos e no que dependia de mim, sempre os proibi de fazer trabalhos de casa durante a semana, admitindo-os, eventualmente, por vezes, ao fim de semana e em períodos de férias. Deparei sempre com muita resistência, quer da parte das mães deles (mais por recearem represálias para os filhos) quer da parte dos professores. Cheguei a receber recados da escola do género “se o teu pai não gosta que te mude de escola…”. É que, tanto quanto tenho conhecimento, o TPC é um mantra sagrado para muitos professores nos Açores, região de cultura conservadora e tradicionalista que jamais se distinguiu pela inovação. O problema começa logo no 1.º ano, agrava-se muito a partir do 5.º e toca, frequentemente, as raias do absurdo daí para a frente, com cargas irrazoáveis de TPC em várias disciplinas ao mesmo tempo que, se levadas a sério, manteriam os alunos escravizados. Contudo, se não se faz os TPC, muitos professores exercem represálias e prejudicam os alunos. É uma verdadeira guerra. Na minha prática docente percebi que há uma relação inversamente proporcional entre a competência dos professores e a prescrição de TPC. Mais ou menos assim “eu não te consigo ensinar na escola, então vai aprender para casa”. Sei perfeitamente que o tema TPC é uma discussão em aberto. Os seus defensores dizem que consolidam aprendizagens. Mas isso não justifica o seu uso e abuso até porque a escola tem de ter momentos de aprendizagem E momentos de consolidação da mesma. E este é um tema polémico que sempre dividiu opiniões entre os pedagogos. Sou pela consolidação natural das aprendizagens na vida da criança. Acredito que os TPC possam ser importantes para alguns alunos, eventualmente, nalguns casos. Por exemplo, em casos particulares de dificuldades específicas de aprendizagem. Mas não sempre, não para todos e nunca como regra universal e sagrada. Sou pelo fim dos TPC. Até visto um colete amarelo por isso, embora prefira o verde. Comigo, a miúda vai sempre atrás e não faz TPC. Eu amo-a. POPEYE9700@YAHOO.COM