BAGA TAUROMÁQUICA 2
Dezembro 10, 2018
Tarcísio Pacheco
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BAGAS DE BELADONA (61)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA TAUROMÁQUICA 2 – Hoje, vou escrever sobre a tourada de praça (doravante referida como “a tourada”). Embora praticamente só assista a touradas na Terceira e a uma média de duas por época, tenho de admitir que sou aficionado. Isso não me impede, porém, de ser crítico e autocrítico. Um dos meus problemas com a tourada é que quase nunca vi defendê-la com argumentos inteligentes e não demagógicos.
Vamos por partes. Há muita coisa admirável na tourada. Tem arte, beleza, elegância, cor, vida, alegria, coragem, música e emoção. A arte de toureio é difícil, exige talento natural, mas também muita dedicação e trabalho árduo. Poucos sãos os toureiros que vingam e a competição é acesa. Os touros são animais formidáveis, de instinto apurado, estética admirável, corajosos e, com frequência, de grande nobreza. Os cavalos de lide são dos animais mais bonitos do mundo, reunindo quase tudo o que nos faz admirar um animal, beleza, porte, elegância, inteligência, dedicação, coragem, nobreza e também um instinto inigualável. Os cavaleiros tauromáquicos são equitadores exímios que trabalham duramente para obter aqueles resultados. Uma das qualidades mais admiráveis na tourada é a coragem. Só uma mente muito ignorante, como a da triste Elisabete Ferreira, do blog “Arco de Almedina”, pode pensar o contrário. Todos os toureiros e forcados são pessoas corajosas. Acredito que a maioria dos forcados sente medo ao enfrentar aqueles 500 ou 600 kg de fúria galopante que já causou tantas mortes e ferimentos graves. Mas ultrapassam o seu medo e vão em frente. Isso é a verdadeira coragem, não é a ausência de medo, que é uma patologia como outra qualquer e não tem, em si, nada de admirável.
Por outro lado, não consigo ignorar os aspetos negativos da tourada e não suporto clichés do tipo “a nobre luta entre a inteligência humana e o poder da fera”. O touro é efetivamente magoado, há sofrimento animal envolvido; é retirado do seu ambiente natural, isolado dos seus congéneres, levado para um meio desconhecido e absolutamente hostil, é desafiado e humilhado e é espicaçado de diversas formas para trazer ao de cima os seus instintos naturais mais brutais. A sorte de varas, por exemplo, se nada há a dizer relativamente aos seus pressupostos técnicos, compreensíveis, é pavorosa do ponto de vista ético. Na verdade, toda a tourada, do princípio ao fim, é um processo fabricado, artificial, por isso tem regras muito precisas senão a coisa não dá certo. Um toiro selvagem só é perigoso se se sentir ameaçado no seu meio natural. Além disto, o touro não é absolutamente estúpido, tem uma certa capacidade de aprendizagem. Mas só tem aquela oportunidade, só é lidado uma vez. Uma segunda lide está fora de questão, na atualidade. Na verdade, independentemente da coragem e talento do toureiro, a lide vive da inocência e ingenuidade do bicho. E depois vem a morte, na arena, em Espanha, o que me parece totalmente inaceitável e não me deixo convencer pela poesia da “verdade do toureio” e dos “valores de vida e morte”, expressões ocas que no fundo querem dizer pouco e que pretendem justificar o injustificável. Por outro lado, nas arenas portuguesas, sabemos todos que o touro vai dali para o matadouro, o que dá no mesmo, na prática e é de profunda hipocrisia porque o touro pode ser morto à vontade, desde que seja longe dos nossos olhos…
Pensando assim, será que posso falar de um lado positivo? Há alguma margem para isso. Mas, para começar, só respeito os anti taurinos que são estritamente vegetarianos e, pessoalmente, só aceito discutir a sério o fim das touradas no quadro de uma vasta discussão sobre toda e qualquer forma de sofrimento animal. Não concebo atitude mais hipócrita do que sair de uma manifestação anti taurina para ir devorar um bife em sangue à Portugália. No fim de contas, acabo a pensar que um touro de lide tem uma vida curta (4 a 5 anos) mas com bastante qualidade, de qualquer ponto de vista. Se renascesse como animal bovino e pudesse escolher (deixando de lado o caso da vaca leiteira, já que não me imagino com tetas), tenho a certeza que preferia ser um touro português de lide do que um bovino português de carne, esse pobre animal, que passa por um curto e cruel simulacro de vida e é visto como um monte de bifes desde o dia em que nasce, até ao dia em que entra na casa de terror que é um matadouro, para ter uma morte “humana” (isto, aparentemente, sossega a maior parte das consciências… viva a elasticidade da consciência). POPEYE9700@YAHOO.COM