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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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BAGA EUTANÁSIA

Maio 29, 2018

Tarcísio Pacheco

distanasia_12921_l.jpg

 imagem em: https://www.tuasaude.com/distanasia/

 

BAGAS DE BELADONA (50)

 

 

HELIODORO TARCÍSIO

 

                  

BAGA EUTANÁSIA – Adoro temas “fracturantes”. Todo eu sou uma “fractura” exposta. Vamos a isto. A minha alma fica pasma com certas posições públicas que ressumam hipocrisia. Para Rui Meireles, a expressão “morte medicamente assistida” é uma invenção da esquerda e um eufemismo que pode ser claramente substituído por “assassinem-me porque estou cansado de viver”…Por princípio sou contra eufemismos de qualquer ordem e é por isso que costumo citar os nomes das pessoas de cujas posições públicas discordo, no que sou muito criticado. As pessoas têm uma tendência natural para a hipocrisia social,  o convencionalismo e o politicamente correcto. E não gostam nada de ser criticadas publicamente, vai daí, costumam espernear e tentar responder à altura, o que, geralmente, dá em desastre. Ou então, dão-se ares de virgens ofendidas e invocam um complexo de superioridade para fazer de conta que sabem responder mas não respondem porque são bons demais para isso, como me fez o impagável Mr. Right aqui há uns tempos (por falar nisso, tanto preconceito especulativo num artigo tão curto como aquele sobre a Jane Hawking…).

Bom, quanto à eutanásia, o acto já tem um nome, inconfundível, parece-me que escusamos de inventar eufemismos e disparates. É eutanásia e acabou-se, literalmente. Concorda-se ou discorda-se. Mas, num caso ou noutro, convém fundamentar com inteligência e bom senso.

E agora, para começar, o que é isso de “valores consuetudinários da civilização cristã”? Vivemos numa república laica e devemos separar moral de religião. A ética não é exclusiva da religião. Convém mesmo separar bem as águas até porque há muitas coisas nas religiões que são de ética muitíssimo discutível. E a religião cristã é apenas uma entre bastantes e inclui várias igrejas. A mais implantada entre nós é a Igreja Católica Romana, em profunda crise na actualidade. A evolução da Humanidade faz-se pela mudança, pela reforma das ideias. A maior parte das vezes, isso significa contestar a ICR, um símbolo de conservadorismo, estagnação, fanatismo, ortodoxia, dogmatismo e da mais profunda e execrável hipocrisia. E, quanto a mim “a verdade nua e crua da realidade” é que todos nascemos para viver e morrer e todos vamos morrer um dia. E pouco mais sabemos sobre a morte de que o facto de  que desaparecemos por completo da circulação e ficamos incomunicáveis. Sem entrar em conflito com quaisquer filosofias ou crenças, afirmo que, à partida, não nos é possível escolher nascer ou não. Depois de nascido, os traços mais fortes do ser humano são a inteligência e o livre arbítrio. De forma natural, somos livres para escolher continuar a viver ou morrer. Isso é, aliás, tacitamente aceite por todos. É por isso que o suicídio não é proibido nem a tentativa é legalmente punível. E é por isso que tanta gente se suicida, é um acto diário por esse mundo fora. O suicídio é, pois, um direito natural e impossível de erradicar. Ignorá-lo é pura hipocrisia. A actual discussão pública sobre eutanásia é saudável e deve continuar, sem barreiras. É assim que as sociedades evoluem ou não. Nesse sentido, tenho direito a dar a minha opinião e a criticar outras. Como já escrevi antes neste jornal, defendo a eutanásia, dentro de parâmetros muito bem definidos, para evitar o abuso, o homicídio disfarçado, a manipulação de pessoas fragilizadas e a apropriação por parte do monstro capitalista e economicista. O sistema parece-me ético, honesto, correcto e absolutamente apropriado nos países em que está em prática, como na Holanda e na Suiça. Aliás, qualquer um de nós pode ir morrer lá, sem grandes problemas. Como íamos fazer abortos “lá fora” no passado. Por aquilo que sei, a maior parte das pessoas que recorrem à eutanásia já era utente dos meios paliativos há muito tempo. Eu penso exatamente ao contrário de Meireles, ao ser capaz de introduzir a discussão pública sobre a eutanásia, o país actual mostra-se completamente identificado com o ADN nacional. Isso implica coragem, visão, arrojo, espírito de iniciativa, vontade de mudança. Meireles não quer que vamos a reboque da Holanda ou da Suiça. Iríamos a reboque de quem? Do Irão? Do Brasil? Da Coreia do Norte? Da América bronca e evangélica de Trump? Pode Rui Meireles estar ciente de que a eutanásia vai ser implementada por muitos países, incluindo Portugal, é uma questão de tempo. Provavelmente, é ainda para o seu tempo. Desde que não se suicide antes, claro. POPEYE9700@YAHOO.COM

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