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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

BAGA CONFINADA (BB105)

Abril 21, 2020

Tarcísio Pacheco

c19.jpg

imagem em: https://www.hospitaldaluz.pt/funchal/en/the-hospital/media/news/15067/covid-19-new-orientations-recommendations

 

BAGAS DE BELADONA (105)

HELIODORO TARCÍSIO

BAGA CONFINADA - Gostava de escrever sobre outra coisa que não fosse o estupor do vírus. Mas está difícil. Pois se o bicho virou as nossas vidas de avesso…

Bom, por estes dias, a Internet e os media pululam de especialistas em medicina, em epidemias e em gestão de crises. Vou, por isso, abster-me de grandes tiradas. Farei apenas alguns comentários avulsos. Ao jeito dos oitavos de marmelada embrulhados em papel vegetal que a minha mãe me mandava comprar, ali na mercearia da esquina e do Sr. António, na rua dos Canos Verdes. Isto não tem nada a ver, mas pareceu-me que ficava bem, está bastante na moda rebuscar no baú das nossas memórias. E eu começo a ter uma bela coleção.

Uma coisa que se tornou chocantemente óbvia nesta pandemia, foi a nossa vulnerabilidade. Quer dizer, neste nosso modelo civilizacional antropocêntrico, em que o desenvolvimento económico contínuo e o primado da tecnologia pareciam ser a resposta para todas as necessidades, anseios e limitações do ser humano, eis que um simples vírus, que nem sequer é dos piores ou mais mortíferos, paralisa a economia mundial, confina em casa mais de metade da população do globo e mata quantidades inacreditáveis de cidadãos séniores, deixando uma série de interrogações pungentes quanto ao futuro. Conclusão, temos de deixar de nos armarmos aos cucos. Valemos pouco na ordem geral do universo. Temos aspirações a criaturas superiores, mas um bando de criaturas microscópicas hostis que nem sequer conseguem fazer sexo entre elas, põe-nos em sentido.

Outra coisa que me tem parecido evidente é a fragilidade do aparente controle social. Quer dizer, tenho-nos sentido próximos da barbárie. Não tenhamos ilusões. Parece-nos que vivemos num ambiente muito organizado, mas se as coisas se descontrolarem, um exército imenso de baratas e ratazanas que aparentam pertencer à espécie humana, sairá dos esgotos onde se acoitam para semear o caos. Senti um leve vislumbre disso quando soube que camiões portugueses carregados de equipamentos sanitários para a luta contra o Covid-19, estavam a ser atacados por grupos criminosos nas autoestradas, com o intuito de roubar o material para revenda no mercado negro. E não foi no México ou na África do Sul. Foi no coração da Europa comunitária, em estradas belgas e francesas. Olha-se para a situação e consegue-se perceber que não é preciso muito para as autoridades perderem o controle: um vírus mais pernicioso, mais mortal e mais generalista, mais mortes entre os líderes e as forças de segurança, mais problemas financeiros, miséria, carências essenciais, fome, falta de medicamentos básicos, por exemplo, bastariam para trazer às ruas gente normal desvairada e encorajar as bestas que vivem entre nós.

Todas as catástrofes, quer queiramos, quer não, têm aspetos positivos. Isso, por si só, tem conteúdo para encher uma futura crónica. Por hoje, vou apenas sublinhar o evidente, que a presente crise traz protagonismo aos líderes. Pelos bons e maus motivos. Pelo lado dos maus, Trump e Bolsonaro são os mais sérios candidatos aos Óscares. Ambos são péssimos líderes, manifestamente impreparados e sem qualquer perfil para liderança de topo. Criaturas patéticas, caricaturais, quase cómicas, não fosse a perigosidade da sua gritante incompetência, guindadas ao poder por interesses privados, manobras políticas, corrupção material e pela ignorância das massas. Como já era previsível, ambos têm estado em foco. Com perfis algo diferentes, partilham, no entanto, uma profunda e perigosa ignorância. Que Trump tenta disfarçar com a habitual arrogância truculenta e o estafadíssimo número do bode expiatório. Já com Bolsonaro, a sua imbecilidade pacóvia está para além de qualquer disfarce (e de qualquer redenção). Basta atentar nas suas recentes afirmações: “Para quê fechar escolas se o perigo de morte é para pessoas acima dos 60 anos?!”. Então, uma consequência muito positiva da crise pode ser a provável perda de popularidade e fim de carreira política, para ambos. Pode ser por impeachment, perda de eleições ou morte em atentado. É-me rigorosamente indiferente. Da forma que for mais rápida e prática. Se bem que ao impeachment, que pode ser demorado, confuso e incerto, confesso que prefiro o clássico pichamento, com alcatrão e penas, tão popular precisamente no velho Oeste. popeye9700@yahoo.com

 

 

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