BAGA AUTONOMIA 2
Fevereiro 05, 2019
Tarcísio Pacheco
imagem em: https://aeconomiadual.org/2015/06/24/democracia-direta-e-a-falencia-da-representacao/
BAGAS DE BELADONA (68)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA AUTONOMIA 2 – Vejo pouca utilidade em fazer reformas em que o poder continue assente em partidos políticos, regionais ou não. Continuará tudo na mesma, sem alterações de paradigma. E a alternativa não tem de ser perspetivas populistas, que abomino. Defino populistas como chicos espertos cheio de soluções fáceis para problemas complicadíssimos ou mesmo insolúveis. Hipócritas, sonsos e aldrabões, artistas na manipulação das massas, vendedores de banha da cobra. Mas o melhor das alternativas é que há sempre outras.
No fundo, a maioria das pessoas quer o mesmo, saúde para si e para os seus, pão, paz, trabalho e um futuro positivo que o senso comum confunde bastante com progresso material e evolução tecnológica. E com muita pressa, sempre a ganhar tempo, indo a todo o lado, voando pelos ares a 800 km/h. É a delirante civilização beija-flor, com cada vez menos flores naturais, por míngua de abelhas polinizadoras. Tudo com muito “desenvolvimento económico” rumo não se sabe bem a quê, embora se fale cada vez mais em “sustentabilidade”, uma coisa boa, desde que levada a sério e não apenas para encher chouriços. Já eu, também gosto de comer todos os dias (comida vegetariana e biológica) mas preocupo-me sobretudo com a educação, a verdadeira, universal e gratuita , a aprendizagem e exercício de uma ética superior e universal em todos os domínios da vida (absolutamente ligada à educação), a busca do conhecimento como um fim em si mesmo num percurso holístico que persegue a iluminação interior, no fim total do sofrimento animal em todas as suas vertentes, na ecologia e na salvaguarda da bola azul que é a nossa casa comum, até notícia em contrário. E, sobretudo, no fim do dinheiro, da posse e acumulação material e da competição como diretrizes da sociedade. Ou seja, a antítese do neoliberalismo. São os grandes vetores que me preocupam e o legado ideológico que deixaria aos meus filhos: amor (energia mais importante da vida), filosofia e matemática (pedras angulares do conhecimento), artes (criação, fruição e prazer inocente) e natureza (a nossa mãe, mesmo que severa). Sim, eu sei, é lirismo puro. Medina Carreira (RIP, 07/2017), um homem obcecado pelos números, ter-me-ia perguntado de imediato “e quanto é que custa isso tudo???”.
Para os Açores, vou morrer com um sonho utópico e tão ridículo quanto uma carta de amor ou um presidente negro nos EUA no tempo de Martin Luther King; uma autonomia muito mais alargada do que a atual, nos limites, de forma a que fossemos nós a decidir sobre o nosso futuro e deixássemos de ser meros peões estratégicos no xadrez de poderosos que vejo com asco; que pudéssemos colher os frutos do oceano em que vivemos, por exemplo; é que nem sequer o nosso mar é nosso; uma sociedade em que os partidos políticos fossem apenas organizações como outras quaisquer, obviamente permitidas pela lei mas sem acesso direto ao poder; um sistema político em que a unidade “ilha” fosse a essencial e tão autónoma quanto possível, sendo cada ilha dirigida por uma espécie de conselho de ilha, eleito por sufrágio universal e direto dos seus ilhéus, a cada 4 anos, com mandato não renovável, o que eliminaria os políticos profissionais (condições deste género não atrairiam estas nefastas criaturas) e diminuiria bastante as tendências para o caciquismo, o populismo, o nepotismo e a corrupção. Todo o poder político e decisório estaria assente nestes conselhos. As pessoas e não os militantes dos partidos a decidir sobre a sua vida e o seu futuro, com renovação a cada 4 anos. No fundo, este sistema haveria de evoluir para as ilhas unidas nalgum tipo de organização federalista. Haveria muitos detalhes a discutir nesta estrutura, nomeadamente as questões de proporcionalidade, de fiscalização do poder e como evitar o canibalismo natural das ilhas maiores, mas não pretendo ser exaustivo nem tão pouco saberia sê-lo.
Tenho poucas dúvidas de que isto seria o melhor para os Açores. Mas duvido que venha a acontecer, pelo menos nos próximos 50 anos. No fundo, estamos a falar de mudança de paradigmas e de mentalidades e, no âmbito político e institucional, também de revisão constitucional. De consciencialização e de evolução significativa. Tudo isto é muito lento. A fibra ótica é que é rápida. Os partidos políticos, especialmente os três que têm ruminado na manjedoura do poder desde 1974, PS, PSD e o vírus oportunista CDS-PP, têm o sistema bem blindado. São eles os verdadeiros donos de Portugal e regiões autónomas. Eles não querem nenhuma mudança de paradigma mesmo que, hipocritamente, afirmem o contrário. Sabem que a mudança de paradigma seria o seu fim. E a crescente abstenção eleitoral é-lhes perfeitamente indiferente porque não os afeta, isso faz parte da blindagem que com tanto empenho fabricaram, dizem eles que “é a democracia a funcionar” (a funcionar às mil maravilhas para eles, claro). É importante discutir estas coisas, mas faço-o sem qualquer esperança.
Eu sei, isto é ridículo. O melhor deixar isto para as pessoas sérias, graves e engravatadas. Decidi até nem publicar estes textos mas é como a carta daquele pai para o filho: “Filho, era para te mandar uma nota de 50 euros mas só me lembrou depois de já ter fechado o envelope…” POPEYE9700@YAHOO.COM