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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

BAGA AMOR DE PAI TEM PODER BB155

Março 22, 2024

Tarcísio Pacheco

 

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BAGAS DE BELADONA (155)

HELIODORO TARCÍSIO          

 

BAGA AMOR DE PAI TEM PODER - Na passada semana, ao contrário do que é costume, escrevi sobre política e sobre o Chega e Ventura. Eles não são nada importantes, mesmo que no conflito nuclear que pode estar a avizinhar-se, Ventura, a esposa e a substituta da coelha Acácia (RIP) venham a fazer parte do grupo VIP com direito a mudança para um dos bunkers NBQ (Nuclear, Biológico,Químico) que existem por esse mundo fora, para albergar os donos das nossas vidas, quando fugirem da hecatombe que eles próprios criaram.

Por isso, esta semana, no Dia do Pai, decidi escrever sobre algo completamente diferente, um cruzamento das minhas memórias de infância com eventos recentes.

No passado dia 9 de março, a minha filha mais nova, Júlia, fez treze aninhos. Tenho quatro filhos, amo-os a todos por igual, mas esta é a caçula, sou louco por ela, amo-a perdidamente. Adiante, isto é pessoal, façam de conta que não leram, já explico o resto.

Um dos cenários da minha infância foi a rua dos Canos Verdes; morei lá em duas casas diferentes, nos anos 60, que já não existem, foram substituídas por outros edifícios. E só isto já mexe com a gente, saber que algo que nos foi tão familiar e tão querido já só existe na nossa mente e em meia dúzia de fotografias. Fechando os olhos, vejo com os olhos da alma, mas com todo o detalhe, o interior da minha antiga casa da esquina da rua dos Canos Verdes com a rua da Rosa. Nessa época, fazia parte de uma tribo de miúdos dos Quatro Cantos (espaço territorial que, numa perspetiva alargada, ia do Alto das Covas à rua de Jesus e à Rocha, incluindo o Relvão, o cais da Figueirinha e o próprio Monte Brasil). Como é sabido, nesse tempo, não havendo as parafernálias tecnológicas do presente e nem sequer televisão (pelo menos até 1975 e aos meus 14 anos), brincávamos imenso na rua. Ao envelhecer, é inevitável sermos invadidos de vez em quando pelas saudades da nossa meninice. É um processo dolorosamente sublime. Uma das minhas recordações mais pungentes é a das longas, doces e cálidas noites de Verão, em que as famílias daquela zona se juntavam no miradouro da Rocha (junto ao atual pub “O Pirata”) e ficavam numa amena cavaqueira entre amigos e vizinhos, enquanto as crianças brincavam por ali, algo que se tornou tristemente incomum nos dias de hoje, em que as pessoas ficam em casa, agarradas ao Facebook ou à estupidificação da TV das novelas, Big Brother e concursos.

Dessa tribo dos Quatro Cantos, entre outros, sem ser nada exaustivo, faziam parte o meu irmão, Tomás (a viver em Paris), os irmãos Medeiros (Rui, Alberto, João), meus amigos de infância, o Quim, antigo jogador e treinador de futebol, pessoal da rua de Jesus como o João Luís da Zenite (que não larga a rua de Jesus), o Félix e o irmão António, o Peres carteiro (RIP), o João Paulo e outros, uns já desaparecidos, outros vivos e pela Terceira, outros emigrados ou ausentes em parte incerta.  Circulávamos muito pelo Relvão e adjacências. Nessa época, o Relvão era apenas um monte de relva brava, uns atalhos e um campinho de terra batida (no atual campo de basquete) onde jogávamos à bola. Éramos muito criativos, tínhamos muitas brincadeiras diferentes. Uma delas era arranjar bons caixotes de papelão, desmontá-los e depois usá-los como uma espécie de trenó para descer vertiginosamente a encosta de relva do castelo, em frente à entrada principal do Relvão, sendo detidos apenas por uns arbustos que havia à beira da estrada. Havia trenós individuais e de duas ou mais pessoas.

Ora, há alguns anos, falei disto à Júlia. Ela nunca mais se esqueceu e dali para a frente, chagava-me frequentemente o juízo, para irmos escorregar na encosta. Nunca lhe disse que não, mas tinha sempre uma desculpa: não temos papelão adequado, a relva está muito húmida, tem de estar bem seca, a relva está muito alta, a relva está demasiado curta, dói-me a cabeça, choveu, está a chover ou vai chover. E nunca chegámos a ir escorregar na encosta. Agora, que Júlia já tem treze anos, é uma menina doce, que ainda pede ao papá para lhe ler uma historinha antes de dormir. Mas não voltou a falar dos papelões. Acho que é tarde demais. Frequentemente, adiamos as coisas boas que queremos fazer. E chega sempre um dia em que o tempo certo já passou. Então, é esta mensagem que vos deixo. Não adiem nada que queiram mesmo fazer (desde que seja pacífico e legal, claro). O tempo certo é hoje, é agora. Amanhã pode ser tarde demais.  POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA CHEGANICES (RIMA COM CIGANICES) BB154

Março 15, 2024

Tarcísio Pacheco

 

 

 

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imagem em: Mocidade Portuguesa, cartoon de Vasco Gargalo d’prés João Abel Manta, Salazar e André Ventura, 2020, Portugal. – Arquipélagos (arquipelagos.pt)

BAGAS DE BELADONA (154)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA CHEGANICES (RIMA COM CIGANICES…) -  Não escondo que o Chega me dá azia (como, aliás, a política em geral), mas vou resolvendo isso com sais de frutas ENO (a referência comercial é para ver se arranca de vez a minha carreira de influencer e começo a receber uns cobres…). Simplesmente, não vale a pena preocuparmo-nos com o que não podemos mudar. Diz o sistema que o voto é a arma do povo, mas o que se pode fazer, na verdade, se, por cada inteligente que vota, votam também dez idiotas, ignorantes, neofascistas, velhos fascistas, antigos pides, simples oportunistas, ressabiados ou jovens empreendedores imbuídos de espírito competitivo e à espreita de boas oportunidades para usar gravata e subir na vida. Ouço dizer que muitos votam Chega porque estão fartos dos partidos tradicionais, cansados de promessas jamais cumpridas e de problemas locais que nunca mais se resolvem. Não duvido que assim seja e até entendo. Sou terceirense e de promessas por cumprir, entendo eu. Porém, o fenómeno do Chega vai muito para além disso. Se fosse só por cansaço e protesto, as pessoas votariam num qualquer dos pequenos partidos que infestam a nossa cena política e há-os para todos os gostos.  Acredito que a maior parte dos cheganos vota no líder, André Ventura. Este é um claríssimo exemplo de líder populista, que está na moda nos tristes dias de hoje. O significado do termo populismo é variável no tempo e no espaço e não é sequer recente, os líderes populistas sempre existiram na História, só não lhes chamávamos isso. Contudo, é geralmente aceite que eles partilham uma série de caraterísticas: boa comunicação, perfil de liderança, capacidade para convencer o cidadão comum e influenciar pessoas, criticismo, inteligência ou esperteza (conceitos diferentes), oportunismo, conservadorismo, militarismo, nacionalismo, moralismo, racismo, na atualidade, descrença no desastre climático que se avizinha, messianismo próprio e uma aura mística ou religiosa, que ajuda bastante se estiver presente e frequentemente está, mesmo que de forma hipócrita. Dois dos líderes populistas mais conhecidos na atualidade, são Trump e Bolsonaro, que nada têm de religioso, mas que vimos frequentemente a serem “abençoados” por sacripantas evangélicas ou radicais bíblicos que, inclusivamente, levaram para os seus governos. Ora, Ventura é um pouco de tudo isto, até andou no seminário e tem um “confessor” privado, algo que era reservado antigamente aos membros da nobreza. E se o compararmos com os dois referidos populistas, Ventura até leva larga vantagem. Trump não passa de um burro gordo e endinheirado, um pateta palavroso e vazio, duma ignorância, truculência e grosseria inacreditáveis.  Bolsonaro, pior ainda, é um simples capitão do exército com pouco préstimo, que se meteu na política, é igualmente ignorante, deve pouco à inteligência e nem sequer falar sabe, era um exercício penoso e cansativo ouvir aquela criatura, o tal que “não era coveiro”. E ambos atraíram milhões nos seus países, de todas as classes sociais.  Óbvios racistas, tiveram inúmeros votantes nas comunidades negras e latinas.  Ora, Ventura é claramente mais inteligente, mais bonito, melhor comunicador que qualquer um deles e, é ambicioso, religioso e ainda por cima, é do Benfica e percebe de futebol. É o genro que qualquer pai portuga e básico quer. Ele é o abençoado, o eleito, o queridinho da catequese, o mais inteligente de todos, o que não tem papas na língua, o que diz as verdades todas, o ungido do Senhor e, claro, o único que pode levar Portugal para a frente, o D. Sebastião do séc. XXI.

Havia a mania parva de que Portugal era imune ao crescimento da extrema-direita, mas é claro que era só uma questão de tempo. Ventura pode ser bonitinho, mas não é exatamente original. A dolorosa verdade é esta, vivemos um pavoroso tempo histórico em que a extrema-direita ganha força e se consolida, um pouco por todo o lado. Isto é como uma epidemia de peste, alastra depressa. Um velho fascista local anda deliciado, a babar-se todo publicamente por Ventura, porque, claro, jamais imaginou que antes de morrer ia ver isto voltar ao tempo em que servia de cão de fila de Salazar. Eles estão por todo o lado e estão a chegar ao poder ou já lá estão, na vizinha Espanha, na insuspeita e revolucionária França, na bela Holanda, na Hungria, na Eslováquia, na Itália. E porque é que isto acontece? Porque as pessoas votam neles.

E assim chegamos aos eleitores de Ventura. Temo-los visto e ouvido, por todo o lado, dantes constituíam o principal manancial para as piadas de Ricardo Araújo Pereira no seu “Isto é Gozar Com Quem Trabalha”, uma pessoa que, obviamente, Ventura deve odiar. Dantes, eram sobretudo uns patuscos que, se fosse na Terceira, dizíamos que tinham vindo de S. Rafael, abusado das bujecas  ou fumado papoilas secas. Ou eram como aquele miúdo tontinho, que foi todo engravatado para o último congresso do Chega e se atreveu a falar ao microfone, para dizer que pensava como Ventura, mas não sabia o que Ventura pensava porque, obviamente, não andava dentro da cabeça das pessoas. Antes era destes ignorantes ou simples estúpidos que aplaudem freneticamente o líder, mesmo quando não entenderam nada e papagueiam o que dele vão ouvindo. Mas à medida que o partido vai crescendo, outra fauna vai chegando e começam a aparecer alguns predadores com outras posições na cadeia alimentar. São os bem-falantes, os imitadores do líder, os dissidentes de outros partidos, os vira-casacas, os antigos comunistas de Setúbal, do Alentejo, do Algarve, os ambiciosos, os caciques locais, os betinhos sem lugar nas juventudes partidárias e, sobretudo, gente que nunca sonhou chegar a deputado e que vê agora abertas as portas de S. Bento e, quiçá, um dia, um lugarinho no Governo, um chefe de gabinete, um porta-voz, um adido de imprensa, por algum lado se chega à gamela do poder. Permanecem aqueles que sempre partilharam o ideário de Ventura, os cheganos ou melhor dizendo, venturinos legítimos.

É evidente que Ventura é uma criatura abominável. Não pelo esposo, filho, amigo, irmão ou pai que possa ser. Nada sabemos disso nem nos deve interessar. Ventura é um candidato a líder político de um país e tudo o que nos deve interessar é o que ele pensa sobre a vida e as coisas da vida. E, ao contrário do que disse aquele tontinho engravatado que o RAP impiedosamente crucificou, qualquer pessoa minimamente atenta sabe bem o que pensa Ventura pois ele já o revelou muitas vezes. Mesmo que, como qualquer líder inteligente que ainda não chegou ao poleiro grande, ele já tenha revisto e maquilhado o seu discurso, para não assustar os direitas mais tímidos. Mas, se ele um dia chegar ao poleiro grande, vai fugir-lhe a boca para a verdade, foge sempre. Hitler não começou logo por revelar que queria exterminar todos os judeus do mundo. Começou por dizer que os outros políticos eram todos corruptos, que ele era o único são e que as culpas do estado da nação alemã eram de grupos específicos de cidadãos, os “inimigos do Estado” … soa a dejá vu? É natural. Começou assim, o resto veio depois.

Também é evidente que nem todos os cheganos são neofascistas, ultranacionalistas, radicais religiosos, militaristas e outras alpistas, como o seu dono. Cada vez mais veremos gente dita “normal” entre eles, vizinhos, amigos, colegas de trabalho e até familiares, como aconteceu com o Bolsonarismo no Brasil.  Serão, na sua maioria, os seduzidos pela carinha laroca, o verbo fácil de Ventura e o seu pacote de geniais soluções para qualquer problema, prontas a usar (é só juntar água). Mas, infelizmente, é o tempo desta gente. Todos os que não são como eles, devem combatê-los (pacificamente, claro), tentar derrotá-los, mas temos de aceitar que o processo siga o seu caminho, que Ventura, o Chega e os cheganos todos cheguem lá acima, vejam a mesma vista que todos os que estiveram lá já viram antes e depois desçam, ordeiramente ou aos trambolhões e até empurrados, se assim tiver de ser. O Chega passará, como tudo passa nesta vida, mesmo que até o mundo e a própria vida passem.  POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA COMUNISMO NÃO E EIS PORQUÊ (BB153)

Dezembro 22, 2023

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: Communism - Cartoon Gallery (original-political-cartoon.com)

BAGAS DE BELADONA (153)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA COMUNISMO NÃO E EIS PORQUÊ – Em termos de escolhas na vida, a minha atitude foi sempre bem clara e coerente: sempre me assumi como um democrata que perfilha uma ideologia (que não é só política, é também filosófica e ética) de “esquerda”: É verdade que no miserável mundo de hoje, tecnologicamente tão avançado, as ideologias estão moribundas e os sistemas de poder assentam em capitalismo, acumulador, fútil, materialista e ganancioso ou em ditadura, autoritária, materialista e repressiva, ambos poluidores cegos,  com controle absoluto das pessoas ou ainda em misturas caricatas dos dois sistemas, como nos casos chinês ou russo (não é por acaso que são tão amigos…).

Por outro lado, ao longo do tempo, a minha reflexão pessoal tem-me levado a reconhecer que jamais seria comunista, por vários motivos. Contudo, o comunismo ou os comunistas não são “maus”. Esse é o tipo de abordagem primária, próprio de mentes ignorantes, como as da América profunda de Trump ou de organizações de extrema-direita, como o Chega português. Na sua origem, o comunismo é uma ideologia extremamente nobre, assente em valores elevados como a igualdade social, a justiça, a fraternidade, a solidariedade e a partilha. Seria absolutamente estúpido dizer-se que esses valores são “maus”. Os filósofos inovadores, de Proudhon a Marx, formularam ideias que eram revolucionárias no seu tempo e que se destinavam a mudar sistemas antigos pela raiz, a acabar com os regimes autoritários, conluiados frequentemente com religiões organizadas. Isso só podia ser feito pela força e pela violência, pelo poder das turbas armadas, apoiadas por grupos militares, porque nem reis nem czares nem os seus generais abdicariam pacificamente do poder. Os processos só podiam ser revolucionários e sangrentos e efetivamente foram-no. Por outro lado, muitos comunistas, sobretudo os teóricos, foram idealistas, sonhadores e utópicos. Para mudar, a Humanidade precisou destas pessoas e dos seus processos revolucionários. Foi assim que fomos passando do sistema do Antigo Regime (o que existia antes da Revolução Francesa cortar cabeças), governado por reis e imperadores, com direitos herdados por nascimento e geralmente abençoados por “Deus”, para sistemas mais ou menos democráticos, governados por comités revolucionários e representantes eleitos daqueles que passariam a ser o poder maior, o chamado “povo”.

Até aqui tudo bem. Pode parecer que não, mas a Humanidade deu grandes saltos em frente, mesmo escorregando em sangue, nomeadamente com a Revolução Francesa de 1789, a Revolução Russa de 1917 ou, porque não, com a mais ou menos pacífica e muito sui generis Revolução dos Cravos de 1974. Podemos ter sido dos últimos a abandonar o fascismo, mas, pelo menos, mostrámos ao mundo como se fazem revoluções com muitas flores e quase sem tiros. Um aparte, isto só mesmo em Portugal, carago, onde a coluna revolucionária de Salgueiro Maia com destino a Lisboa, foi parando nos sinais vermelhos perto da capital.  Imagine-se o que seria encher os lançadores de mísseis, os canos dos tanques, as turbinas dos caças, com toneladas de flores e entupir aquilo tudo, na Rússia, na Coreia do Norte, na China, no Irão… utópico, mas lindíssimo… Que cena de Hollywood…

O problema está em que depois de, gloriosa e revolucionariamente instaurado o comunismo, é preciso mantê-lo. E é aqui que a porca torce o rabo, passada a euforia revolucionária. É que a espécie humana, naturalmente, é pouco fraterna ou solidária e muito diferente das comunidades de insetos, como as de formigas. Tem os seus surpreendentes momentos e exceções, é certo, mas, como espécie, somos naturalmente individualistas, egoístas, egocêntricos, agressivos, territoriais, ambiciosos, frequentemente gananciosos, acumuladores e muito competitivos. Basta ver a postura apalermada e acéfala como, na atualidade, pais, educadores e governantes, dizem às crianças e jovens que “o mundo de hoje é muito competitivo e têm de estar preparados” como se isso fosse um mantra forçosamente positivo ou inevitável, uma preciosa lição de vida. A educação deveria estar centrada nos valores da solidariedade e da cooperação e não da competição, como muito bem enunciou Montessori.

É por isso que o comunismo só é funcional em pequenas comunidades que o praticam em liberdade, por convicção, sendo as pessoas livres de permanecer ou sair do sistema, sem repressão nem autoritarismo. Esse é o verdadeiro comunismo e o único funcional, aquele em que as pessoas, de comum acordo e livremente, se organizam para viver em “comunas”, estando subjacente algum tipo de sistema de referência, filosófico ou religioso.  Como regime de massas, generalista, simplesmente, o comunismo não funciona, por ser contrário à natureza humana. A história mostra que teve de ser sempre imposto, à força bruta e sangrenta, o que foi levando à implosão dos sistemas ao longo do tempo. Na verdade, já quase não restam regimes ou partidos verdadeiramente comunistas no mundo, independentemente de terem ou não sido substituídos por alguma coisa que preste (raramente o foram). Na chamada “maior democracia do mundo”, os EUA, o comunismo é, desde sempre, demonizado, de forma grosseira e obtusa, por um sistema ferozmente capitalista e bestialmente individualista, que mistura e manipula muito bem a ignorância, o conservadorismo, a hipocrisia, o moralismo, o primitivismo religioso e os instintos mais primários e de que Donald Trump é um belíssimo representante, líder e guru. Na China, o sistema é cada vez mais repugnantemente híbrido e transformou-se numa gigantesca colónia de formigas obedientes e trabalhadoras, em que qualquer dissidência é ferozmente decapitada, ao primeiro sinal de “mijo fora do penico”. E em Portugal temos um Partido Comunista, contraditório e anacrónico que, sob a estimável bandeira da defesa dos interesses dos trabalhadores, teima em reverenciar um sistema que, simplesmente já não existe, cenários e atores, e vai morrendo lentamente. Isso não quer dizer que não faça falta; o ideário comunista é importante num sistema democrático de ideologias múltiplas; tem o seu lugar e o seu papel. Em países como a Venezuela ou a Rússia, temos simplesmente tirania, repressão, corrupção e ditadores patéticos, nada de invulgar na espécie humana. No Irão, temos uma teocracia cruel e impiedosa, absolutamente desprezível, que há de implodir um dia (que pena não ser já para a semana…). E a Coreia do Norte não é nada disto, é um caso à parte, uma feroz ditadura familiar, uma distopia incrível e revoltante, com armamento nuclear, que pode perfeitamente despoletar o fim do planeta e da Humanidade, que só esperaríamos encontrar num filme de ficção científica classe B. É absolutamente arrepiante que seja real. Arrepia-me todos os dias. É por isso que gosto de chamar “leitão” ao Querido Líder (um bucha nuclear, patético e ridículo, que, tal como pai e o avô, nunca passou um dia que fosse a fome que impõe ao seu povo), embora me custe ofender os suínos, perfeitamente inocentes e vítimas diárias nos matadouros do sistema.

Então, meus amigos, é isto, por estes motivos, comunismo não, obrigado. Mas também, para mim, capitalismo não, neoliberalismo não, direita não, extrema-direita ainda menos, religiões, estou fora, sou agnóstico e espiritualista, violência, nunca,  competição deixa-me indiferente, não sou um bicho da selva. Na verdade, parece-me que o que eu gosto, o que eu queria, não é deste mundo. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGAS DE BELADONA (152)

Dezembro 18, 2023

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: Cartoon funny santa claus with a glass Royalty Free Vector (vectorstock.com)

 

BAGAS DE BELADONA (152)

HELIODORO TARCÍSIO          

 

BAGA ESPÉCIE IMPRESTÁVEL – Que raio de espécie ruim e estuporada é a humana… Isso vê-se de muitas maneiras, nem é preciso ir buscar nenhum dos muitos massacres, recentes ou antigos (deve estar a acontecer algum enquanto escrevo…). Basta atentar na forma como nos exprimimos no quotidiano. Em Portugal, por exemplo, para referir duas pessoas que combinam bem, num casal por exemplo, que estão quase sempre de acordo, até poderíamos dizer “se um diz abraça, o outro diz beija” … Mas, claro que não, o que dizemos é “se um diz mata, o outro diz esfola”. Salta à vista a nossa ruindade essencial e estrutural… E não vir um asteroide bem grande por aí abaixo…

 

BAGA VITÓRIA DO HAMAS – Não sendo licenciado em Comentadoria, nem mestre em relações internacionais, ando, no entanto, atento ao que se vai passando neste pobre e plastificado mundo…. Sou equidistante na questão do conflito em curso em Gaza, visto que, como se diz em bom português, tanto torço o pescoço a um fanático islâmico como a um judeu ortodoxo de extrema-direita. Ou a qualquer fanático, de qualquer ramo. Não tenho muitas dúvidas sobre os principais objetivos do Hamas quanto ao massacre de 7 de outubro e à tomada de reféns. Olhando para o que se tem passado em Gaza, percebe-se que o Hamas atingiu perfeitamente os seus maiores objetivos. Na prossecução do seu grande e confessado objetivo que é destruir por completo Israel e expulsar, de novo, os judeus, do Médio Oriente, com o 7 de outubro, o Hamas pretendeu provocar Israel (o que nem é muito difícil) de maneira a levar aos extremos o seu espírito de vingança. Isso pôde ser facilmente conseguido com o massacre de civis inocentes e a tomada de reféns (o que lhes dava uma posição negocial defensiva, enquanto continha o ímpeto bélico dos israelitas). Tendo reagido Israel exatamente como se esperava, com uma divina, bíblica e letal fúria de vingança, desatando a bombardear Gaza e a massacrar palestinianos indiscriminadamente, civis, mulheres e muitas, muitas crianças, uma parte substancial da opinião pública mundial tem apoiado os palestinianos de Gaza. E isso enfraquece Israel e os seus aliados e fortalece o que resta do Hamas e os seus aliados. Israel tornou-se odiosa, ao defender argumentos maquiavélicos e amorais para massacrar crianças. E com isto, os do Hamas, do Hezbollah e os demónios negros dos aiatolás, esfregam as garras, de contentes. O Hamas está-se nas tintas para as crianças palestinianas, aliás, eles imaginaram as coisas precisamente assim e funcionam numa lógica de martírio, deles próprios e dos outros, em que a vida humana tem pouco ou nenhum valor. Por outros motivos, Israel também se está nas tintas para as crianças palestinianas, que veem, aliás, como futuros recrutas do Hamas ou do Hezbollah. Quanto à comunidade internacional, todos condenam a violência, mas ninguém quer receber refugiados palestinianos, nem sequer os vizinhos árabes… E é nesta porca e hipócrita miséria que andamos… E não vir um asteroide bem grande por aí abaixo…

 

BAGA O PORQUINHO CHORÃO – O leitãozinho norte-coreano apareceu recentemente na televisão dele a chorar baba e ranho e assoar-se com um lencinho branco, dizendo-se muito triste pela baixa natalidade das mulheres norte-coreanas e apelando a uma mudança social. Se bem sei como funcionam as coisas por lá, toda a população do país, em idade fértil, deve ter estado a anotar furiosamente nos seus bloco-notas as ideias lascivas e sugestões lúbricas do Grande e Querido Líder. Até porque sabemos que por lá, quem se esquecer do bloco-notas e for denunciado por um vizinho invejoso, pode muito bem ir parar a uma mina de carvão, com contrato de trabalho vitalício. Este apelo do Querido Líder pode vir a ter consequências positivas, pode levar a que toda a gente na Coreia do Norte desate a fazer sexo a toda a hora, o que é bom para a pele, unhas, para a saúde em geral, gerando euforia e felicidade. Alimentar as crianças vindouras e suas mães é outra questão, até porque para criar cada milhar de crianças é um míssil nuclear a menos. Mas isso, os amigos chineses resolvem. Bom, neste caso, vou suspender o asteroide, ninguém merece morrer assim, desprevenido e em cuecas.

 

BAGA AH! É VERDADE, É NATAL – Tenho de ter em conta que é Natal, curtíssimo período de paz e boa vontade na Terra, que celebra o nascimento de todos os que nasceram a 25 de dezembro, excetuando Jesus de Nazaré, que ninguém faz a mínima ideia de quando nasceu. Nem quem era o pai biológico dele, mas isso é outra história.  Não vamos estragar o espírito de Natal com maledicências. Para isso, já temos aquele programa da Maya e C.ª. Como ia dizendo, visto que é Natal, talvez tenha exagerado na história do asteroide bem grande. Imbuído de verdadeiro espírito natalício, troco por uma data de asteroides pequeninos e muito bem apontados, no dia e hora certos: a Moscovo, em dia de reunião do governo, com Putin e Medvedev presentes, à Casa Branca, se Trump for reeleito, de preferência com muitos apoiantes dele nas redondezas, etc, etc. Eu sei, o que estão a pensar, vão ser precisos muitos asteroides pequeninos por esse mundo fora … Que bela coisa para se pedir ao Pai Natal…. Vou já escrever a cartinha pedindo um saco cheio de asteroides explosivos e uma pontaria afinada, que é para não cair nenhum nos Açores. E que ninguém me acuse de falta de espírito natalício, seria injusto, não me importo nada que os pequenos bólides venham embrulhados em papel festivo e com lacinhos. Como é de bom tom desejar-se, Feliz Natal para todos, muita saúde, comei, bebei, festejai à nova moda da Coreia do Norte, sejam felizes enquanto podem e para sempre, se conseguirem. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA "EU CASAVA COM ELA" (BB151)

Novembro 07, 2023

Tarcísio Pacheco

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imagem em: Latest World & National News & Headlines - USATODAY.com

 

BAGAS DE BELADONA (151)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA “EU CASAVA COM ELA” – Para tirar qualquer dúvida e para quem não me conhece, não advogo em causa própria; sempre me senti heterossexual e sempre fui um confesso admirador de Miguel Sousa Tavares (MST), cuja inteligência e espírito crítico elogiei publicamente bastas vezes. Nem sempre concordei com ele, o que me parece também sinal de inteligência, não concordar sempre e admitir mudar de ideias. Lembro-me, por exemplo, de discordar de MST e de escrever sobre isso, há alguns anos, quando saíram as primeiras leis antitabagismo, resultantes das descobertas científicas sobre os malefícios do fumo passivo. Na época, MST, um fumador inveterado, clamava contra a proibição de se fumar em restaurantes e profetizava o encerramento de muitos locais devido a esse facto. Nada disso aconteceu, tratava-se de um processo de evolução social imparável e, se não me engano, até o próprio MST deixou de fumar mais tarde ou algo do género. Já agora, não concordo nada com alguns aspetos da atual lei antitabagismo, mas isso é outra história. Claro que se MST viesse discutir comigo o assunto, fá-lo-ia de forma inteligente e até convincente. Pessoas como MST parecem sempre inteligentes, mesmo quando não têm razão. É exatamente o contrário de criaturas como Donald Trump, que parecerão sempre estúpidas, mesmo no caso improvável de terem razão.

Como já devem ter adivinhado, visto que não estou para subtilezas, hoje escrevo sobre o recente escândalo protagonizado por MST e o seu amigalhaço, o conceituado jornalista, José Alberto Carvalho, em pleno Jornal Nacional da TVI. Ao comentar a atualidade, MST foi convidado a pronunciar-se sobre a recente eleição de Marina Manchete, uma mulher transsexual, como Miss Portugal. E ele comentou o assunto de forma chocantemente grosseira e preconceituosa, como grande parte do país ficou a saber, graças ao poder da televisão. Como sabemos, discordou da possibilidade de uma pessoa transgénero concorrer a um concurso de beleza e terminou o seu “brilhante” comentário com uma piscadela de olho cúmplice ao Carvalho, ao mesmo tempo que lhe dizia algo como “Eu não casava com ela e tu, casavas, Zé Alberto?”. Atrapalhadíssimo, o Zé Alberto lá piscou o olho mais afastado das câmaras, na esperança de que não se notasse lá em casa, fez um sorriso amarelo e respondeu, baixinho que não, não casava. Claro que de imediato, o Carvalho, um jornalista conceituado, competente e experiente, com uma imagem pública construída ao longo de muitos anos, percebeu que tinha feito asneira em prime time. E tentou emendar a mão, logo no dia seguinte, com um texto demasiado longo, para que lhe desculpassem o indesculpável. Bastaria ter escrito algo como “Peço desculpa ao país, sei que fiz m… acontece que sou um ser humano imperfeito e cometo erros frequentemente, foi o caso, fiquei atrapalhado…” É claro que o Carvalho é uma pessoa como outra qualquer, tem direito a cometer erros e a ter as opiniões pessoais e os preconceitos que quiser. Não pode é aproveitar a sua condição de figura pública que nos aparece lá em casa diariamente, para os exprimir. Quando muito, só o deveria fazer no âmbito de um programa de debate em que, obviamente, estão presentes diferentes pontos de vista (pelo menos nos regimes democráticos) e os espetadores têm acesso às teses e ao seu contraditório. E mesmo assim, o papel do jornalista, enquanto tal, não é bem o de exprimir as suas convicções pessoais no trabalho…

Por falar em tese, quanto à de MST, não foi o essencial que me chocou. Discordo dele, mas, numa perspetiva dialética, parece-me que a sua tese é defensável e respeitável. Trata-se, afinal, de uma questão de opinião. Cabe-me assinalar que discordo e explicar porquê. Com os avanços da medicina, na atualidade, é comum vermos serem corrigidos nas pessoas erros da natureza ou danos causados por doenças ou acidentes. Naturalmente, a maioria das pessoas vê isso, como aceitável e até mesmo “bom”. No entanto, só à primeira vista é que a questão de transsexualidade se assemelha à injeção de gel num traseiro magro descaído ou a um enxerto para renovação de pele queimada num incêndio. Quem somos e como nos sentimos, do ponto de vista da identidade de género, é algo que condiciona toda a nossa vida e nos define enquanto seres humanos. Nem imagino o drama que deve ser alguém nascer com a morfologia externa e interna de um género e sentir-se do outro, a nível psicológico, emocional e afetivo. Deve ser algo desesperante e complicadíssimo, até porque se trata de um longo processo de tomada de consciência, à medida que uma criança vai crescendo e apercebendo-se das realidades da sua vida. Até há pouco tempo, pouco restava a uma pessoa nessa situação do que fechar-se no “armário”, assumir-se como “gay” ou ter uma vida assexuada (essa foi uma opção não tão invulgar como se pensa…) e sofrer pela vida fora, pressões, críticas, preconceito e violência, física e psicológica. Felizmente, com o avanço da medicina, ganhámos a possibilidade de corrigir esse tipo de erro da natureza. Não é um processo fácil nem deverá sê-lo, até porque essas pessoas, quase sempre muito jovens, devem estar bem conscientes, bem informadas, devidamente apoiadas e terem a certeza absoluta da sua opção. Até porque há sempre a hipótese, perfeitamente respeitável, das pessoas preferirem assumir-se como homossexuais ou bissexuais. Cada caso é único.

Se MST lesse isto, estaria a pensar, mas afinal o que é que esta abrótea quer? Não estamos em desacordo. Mas, na verdade, estamos em profundo desacordo. MST clama que respeita inteiramente o direito à livre opção em termos de identidade sexual e mudança de género. E se calhar até respeita. Mas, depois o respeito dele acaba aqui. Onde começa o meu próprio respeito. Para MST, Marina Manchete nasceu homem e é uma mulher artificial, digamos que uma mulher biónica, um belíssimo cyborg, um produto de ficção científica da Netflix. A quem deve estar vedado um concurso de beleza, qualquer que seja, uma vez que já não é homem e não tem direito a ser mulher. Para MST, a Marina nem é homem nem mulher, é uma meia-pessoa, condenada para o resto da vida dela.

Para mim, a Marina é uma mulher que, por erro da natureza (que erra com imensa frequência) nasceu com órgãos genitais masculinos. Um erro grosseiro da natureza, agora revertido pela medicina. Depois disso, Marina pôde assumir-se totalmente como a mulher que sempre foi e as portas do mundo e da vida estão abertas para ela de par em par. O que inclui concursos de beleza, se ela gosta disso.

O país ficou a saber que o Miguel e o Zé Alberto não casavam com a Marina. Eu estou fora do mercado casamenteiro, mas, se não fosse por isso, casaria com a Marina, sim, se me apaixonasse por ela, encantado por casar com uma mulher tão bonita. O que me parece é que a Marina não casaria com nenhum de nós e faz ela muito bem. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA UEI TOIRO (BB 150)

Outubro 26, 2023

Tarcísio Pacheco

 

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BAGAS DE BELADONA (150)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA “UEI TOIRO!!!”  – Tese: gostar de animais e defender os seus direitos é bom e é nobre. Contem comigo. Nesse sentido, não há nada de errado em ser “anti-taurino”, goste-se ou não. É o direito de opinião, uma das bases do sistema democrático que, por isso mesmo, não existe nas autocracias da Rússia, do Irão ou da Coreia do Norte. Só se exige que não se se minta nem se manipule informação, como faz a autora do blog de extrema-direita, “Arco de Almedina”, que apelidava todos os terceirenses de “doentes mentais e bêbados” e com quem tercei armas publicamente, aqui há uns anos. E como faz o PAN quando diz que “há cada vez mais pessoas contra as touradas”. Porque, se isso não é exatamente mentira, a verdade é que se trata de poucas pessoas e se reduz a um número insignificante no caso da ilha Terceira, especialmente no que respeita à nossa tourada à corda. A manipulação da informação e a forma como a apresentamos, podem deturpar a verdade. E a verdade é que, por enquanto, uma larga maioria de terceirenses ama os touros bravos e as touradas.

As manobras traiçoeiras, da parte do lobby anti-taurino têm-se sucedido, com a conivência de alguns políticos que, como qualquer bom político, vestem a camisola que lhes dá mais jeito na hora. É disso exemplo, a alteração legislativa no sentido de impedir as crianças de assistir a touradas de praça. É a cartilha do atual ministro da Saúde, que quer fazer-nos deixar de fumar, à força, no período de uma legislatura política. E para isso, vale tudo, mesmo inventar ou ocultar informação. Antes essa criatura se ocupasse da salvação do nosso Serviço Nacional de Saúde, área em que se tem mostrado profundamente incompetente.

Sempre fui amigo dos animais e pugnei pelos seus direitos, admitindo que isso se inscreve num quadro de evolução da espécie humana, necessariamente lenta, visto que somos uma espécie primitiva, brutal e agressiva, ainda que com capacidade de evolução. Por outro lado, todos nascemos num lugar onde a vida se alimenta da vida, onde todas as criaturas se consomem umas às outras. Essa é a realidade do nosso planeta, aquela com que todos deparamos quando nascemos e que não é da nossa responsabilidade.

O meu problema não é com os chamados anti-taurinos, desde que eles não mintam nem manipulem informação. Compreendo-os perfeitamente e até partilho algumas perspetivas com eles. Porém, não tenho qualquer respeito por anti-taurinos que não sejam estritamente vegetarianos; parece-me o cúmulo da hipocrisia reivindicar o fim das touradas e a extinção do touro bravo da Terceira (porque é disso que se trata, no fundo) e logo em seguida sentar-se ali no restaurante da Vinha Brava, a comer um belo bife de touro. Para correr nas ruas ou na arena, um touro de 3 ou 4 anos não serve, mas está tudo bem se, ainda novilho, for abatido no matadouro (por métodos “humanos”, claro…), esquartejado no talho e servido às partes no prato. Isto é repugnante, para além de imbecil.

Na verdade, o que mexe comigo é mais atitudes como a do PAN. O encarniçamento específico desta gente contra as touradas nos Açores é patético, absurdo e fundamentalmente estúpido. Se o PAN quer defender os direitos dos animais, não lhe faltarão causas, nos Açores, em Portugal e pelo mundo fora: todas as inúmeras unidades industriais de criação de animais para abate e aproveitamento de algo do seu corpo, a carne, sobretudo, mas também os ovos, o leite, o pelo, o couro, os ossos, os chifres, as escamas, os órgãos internos, as ovas ou o fígado gordo; a realidade medonha dos estábulos, viteleiros e aviários de produção intensiva; todos esses animais vivem brutais, cruéis e curtos simulacros de vida; todas as situações, comuns nos Açores, de cães que vivem todo a vida acorrentados ou enclausurados em pequenos canis; as inúmeras aves, concebidas para voar livremente nos céus, que vivem encerradas em gaiolas; os animais que ainda vivem em jaulas nos zoológicos; os animais que são torturados e mortos diariamente nas empresas de pesquisa médica e bioquímica, especialmente macacos e cães, mas também diversas espécies de roedores. Isto para não referir sequer os gravíssimos efeitos no ambiente a nível mundial, causados pelas grandes explorações agropecuárias. Quer dizer, é um oceano de causas a defender, se o PAN e todos os amigos de animais deste mundo quiserem entreter-se.

E se o PAN ou outra organização qualquer, defenderem a total e imediata cessação da exploração dos animais no mundo e exigirem o fim de toda e qualquer forma de crueldade contra os animais, sobretudo a criação industrial de animais para abate e consumo, seja do que for, incluindo-se aqui qualquer tipo de touradas, então, sim senhor, estarei de acordo, mesmo sendo apreciador de touradas e frango de churrasco. Porque não precisamos de consumir carne alguma para viver e aqui estaríamos perante atitudes de ética, grandeza de espírito, superioridade, bondade, compaixão, tolerância, justiça e, sobretudo, inteligência. Aí, estaríamos, de facto e finalmente, a evoluir como espécie.

Se não é este o caso, se o PAN ou outros quaisquer, se encarniçam de forma absurdamente específica contra as touradas nos Açores e especialmente na ilha Terceira, então só posso ser contra porque não consigo abordar esta questão de outra forma que não seja a inteligente e válida para a nossa realidade atual: se as touradas forem proibidas, em poucos anos, as raças de touros bravos extinguir-se-ão por completo, ou, paradoxo do absurdo, serão criadas apenas como bovinos de carne, como outros quaisquer; mesmo o touro criado para a tourada de praça, para a arena, será, sem dúvida, objeto de um determinado nível de tortura e crueldade mas até ao dia da sua entrada na arena, terá uma vida relativamente curta mas muito mais natural e feliz do que um bovino de carne; os touros bravos da Terceira, do ponto de vista da sanidade animal, sofrem efetivamente momentos de stress e lesões  físicas nas touradas à corda mas, na sua maior parte, vivem vidas tranquilas e relativamente longas, nos seus pastos do mato, onde nós passamos a admirá-los, no Inverno.

Já não será para o meu tempo de vida, mas consigo imaginar no futuro, o fim das touradas na Terceira. Dentro do quadro geral de evolução da espécie humana, isto se não nos aniquilarmos mutuamente num futuro próximo, o que me parece cada vez menos improvável. Se sobrevivermos ao holocausto, o fim das touradas na Terceira irá ocorrer um dia, por diversas razões, mas sobretudo porque as mentalidades mudaram substancialmente e as pessoas serão muito mais educadas, cultas, pacíficas, sensíveis e inteligentes, mais espirituais e menos materialistas. Seremos, então, outros, que não estes, de agora.

Entretanto, na realidade atual do mundo, que é terrível, e até ao final da minha vida, irei defender a tourada à corda da Terceira, sobretudo, sem deixar jamais de exigir o melhor tratamento possível para os nossos touros e criticar qualquer ato de crueldade ou violência desnecessários. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA LULOVITCH (DA SILVA)

Bagas de Beladona (148)

Julho 20, 2023

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: FRAGA CARICATURAS: FORÇA LULA!

 

 

BAGAS DE BELADONA (148)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA LULOVITCH (da Silva) – Esta baga foi escrita logo após a reeleição de Lula e as suas infelizes declarações acerca da invasão da Ucrânia. Calhou a não ser publicada e foi ficando na gaveta. É repescada agora, num momento oportuno, em que Lula insiste nas suas lamentáveis opiniões públicas.

Fui sempre um portuga apoiante de Lula da Silva. Elogiei as grandes melhorias que ele introduziu na sociedade brasileira, a sua humildade e simplicidade e o seu percurso de vida, de operário metalúrgico a líder de um dos maiores países do mundo. Apoiei-o sempre contra o Capitão Pô, o execrável Bolsonaro. A quem fiz uma entrevista fictícia no Palácio do Planalto, que pretendia expor a sua falta de inteligência, o seu primarismo e a sua total inadequação à nobre função. Nunca acreditei nas culpas de Lula que considerei sempre uma vítima de conspiração maliciosa da extrema-direita brasileira, a família política e ideológica natural do Capitão Pô. Porém, Lula tem culpas novas no cartório e nestas eu acredito, já que as tenho visto com os meus próprios olhos.

Eu e Lula acabámos, estamos de relações cortadas. Escusa ele de me convidar para churrasquinhos, caipirinhas ou rodas de samba. Gosto muito disso tudo, mas, com outros, não com ele. Sou um simples cidadão que nunca quis saber de política ou de poder. Não devo nada a ninguém. Pouco me importa a opinião do Avô Beijinhos ou do chefe da banda nacional. Eu sinto-me embaraçado. Porque eu gostava do cara.

O momento atual é o mais perigoso que a Humanidade alguma vez viveu. É um tempo de atitudes e escolhas, sem subterfúgios, meias palavas ou discursos ocos. E não é apenas pelo perigo de conflito nuclear, que é, obviamente, o pior. É também e talvez sobretudo porque todos os ditadores do mundo estão bem atentos, a ver o que se passa. Ah, quer dizer que podemos invadir países vizinhos, anexar territórios à força, fazer referendos ilegais, lançar mísseis e bombas à fartazana, contratar mercenários selvagens, destruir edifícios de apartamentos, escolas e hospitais e matar civis, incluindo mulheres e crianças? Tudo o que nos pode acontecer é umas sanções económicas? E se tivermos armamento nuclear, é só fazer chantagem, que eles se borram todos? Então espera aí que eu também quero.

É porque vivemos estes tempos assim que qualquer líder mundial tem de medir muito bem o seu discurso público. E não vir com conversinhas dúbias sobre paz. Todos queremos paz, eu, o Papa e toda a gente na minha rua. Mas a paz sempre teve um preço, muitas vezes altíssimo. Para falar de paz sem a explicar muito bem e com detalhes, como se fossemos todos muito estúpidos, é melhor ficar calado. Porque a paz nos termos de Putin não é paz nenhuma, é apenas a tentativa patética de legitimar o que é impossível de legitimar perante o mundo. Qualquer discurso sobre paz que não refira claramente a qualidade de agressor da Rússia, o fim da atividade militar e a retirada total da Rússia dos territórios ilegalmente ocupados, da Crimeia ao Donbass, é apenas alinhar no jogo de Putin. Coisa a que Lula se prestou com incrível simplismo e descontração. Se, por detrás disto, ainda estiverem critérios de natureza económica, pior ainda, é sinal de que a ética e o direito universal estão mortos. Ou critérios de reverência ao poder bruto, para não irritar os chineses, que são uns ricaços muito sensíveis. Afinal, segundo Lula, a culpa é sobretudo da Ucrânia que teima em resistir e também da Europa e dos EUA, que teimam em ajudá-la a resistir. Talvez a Europa e os EUA não devessem ter resistido aos nazis. Deu muito prejuízo e irritou muita gente.

E se algum dos dez países que fazem fronteira com o Brasil, da Argentina à Venezuela, anda com o olho nalgum pedaço de terra brasileira, agora é o momento certo para avançar e anexar uns pedaços de território e uns rios. Afinal, Lula, que sempre foi um político coerente, não vê problema algum nisso. Pelo contrário, vai falar de paz, a guerra sai cara, vai ficar tudo bem. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGAS E BAGUINHAS DE SÃO JOÃO (BB147)

Julho 05, 2023

Tarcísio Pacheco

 

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BAGAS DE BELADONA (147)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGAS E BAGUINHAS DE S. JOÃO

 BAGA SANJOANINAS 2023 – Estas Sanjoaninas 2023 foram de arromba e deixo aqui os meus parabéns à organização. Foram umas festas muito concorridas e com momentos de muito brilho, com imensa gente nas ruas e um programa muito diversificado e equilibrado. Obrigado.

BAGA NOITE DAS MARCHAS – Eu próprio marchante, esperei para ver, mas, continuo a pensar do mesmo modo. Este é um dos pontos mais altos das festas, com uma adesão fantástica, quer da parte dos marchantes, quer da parte do público. Todos os anos, com tendência para agravamento, tem surgido o mesmo problema: um excesso de marchas que coloca problemas práticos e logísticos. Do meu ponto de vista, urge tomar medidas, sempre no sentido de beneficiar a festa. A atitude da CMAH foi a se anunciava e que eu esperava. Resume-se a não fazer nada “para não interferir numa iniciativa popular”, esperando que os problemas se resolvam por si. Esta é uma atitude eminentemente política, mas, na verdade, não fazer nada é também uma atitude e bastante cínica, por sinal. Porque a jogada da CMAH era bastante clara. É praticamente impossível gerir as 42 marchas que se apresentavam à partida. Então, a opção da CMAH foi ficar quieta e calada, esperando que algumas marchas desistissem, sobretudo por o sorteio as ter colocado nas últimas posições, mas também por outros motivos diversos. Foi a decisão da nossa marcha, a da TerDança, colocada na 37.ª posição. Acabámos por desfilar na mesma, com muito gosto, na marcha de S. Bento, que nos recebeu com muita gentileza e simpatia. O sucesso das duas marchas que desfilaram forçosamente no dia seguinte, após as marchas infantis, a de Santa Bárbara e uma de S. Miguel, pode apontar numa direção desejável.

Já elenquei aqui nestas páginas as opções que podem estar em cima da mesa. Mas continuo a pensar, firmemente, que deve haver um regulamento das marchas, que eu próprio classifico como de muito difícil produção, mas que deve ser tão consensual quanto possível. Caso contrário, a tendência será termos todos os anos este regabofe, esta confusão e a CMAH a empurrar o problema para a frente com a barriga. Que coisa!

BAGUINHA MUSICAL – Como melómano (a música é alimento para a alma), a oferta musical das festas tem sempre a minha melhor atenção. Certas noites, optei por ficar pelo palco da marina e aproveitar as excelentes bandas locais que por lá passaram, com grande animação e adesão do público. Deixo aqui um conselho ao vocalista da belíssima banda do Antero Ferreira & Filhos, um rapaz com uma voz fantástica, que já sigo há muito tempo: rapaz, bebe menos whisky antes dos concertos, fala menos (é verdade, és bastante chato, pelo menos tens noção disso) e não é preciso tanto palavrão. Noutras noites, fui até ao Bailão, já que compro sempre a pulseira. Tento sobretudo ver o que não conheço. Foi assim que comecei logo com a Bárbara Bandeira. Não tenho muito a dizer. A produção intensiva de música para telenovelas, a que até Paulo Gonzo sucumbiu, é uma fonte segura de receita. É bom para quem gosta de novelas. É o filão melopop (neologismo meu para música enjoativa e repetitiva). Por suspeitar que o Nuno Qualquer Coisa era mais do mesmo, já lá não fui. A noite das bandas tributo dos Nirvana e Linkin Park foi excelente e muito concorrida. O Nininho Vaz Maia foi uma ótima surpresa, um cantautor muito genuíno e orgulhoso das suas raízes, o que só lhe fica bem. Apresentou-se com ritmos latinos e quentes, a lembrar os sempiternos Gipsy Kings e com uma dupla de apoio vocal extremamente agradável à vista. Porém, as letras são bastante apimbalhadas e ao Nininho falta potência vocal, o que é pena. Fui também ver o Jovem Dionísio, do Brasil. Não sabia bem o que é indie pop e menos ainda bedtime pop. Agora já sei, é música agradável e simpática, para adormecer. Ouvi 5 temas, quase iguais e fui-me embora, para o cais da Alfândega, curtir música do mundo variada, com o Antero Ávila e companhia.

Tenho muitas saudades do tempo em que o cartaz musical das Sanjoaninas era selecionado por uma comissão de gente com bom gosto, como o meu amigo Duarte Dores. Agora, quem escolhe é gente profissional que, gerindo o orçamento de que dispõe, contrata as “tendências do mercado”, sobretudo do mercado jovem, sobretudo da faixa das pitas.

BAGA TOY – Baga quem? O Toy não era aquele cachorro dos livros dos Sete, da Enyd Blyton? Eu gostava desse bichinho…POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA MARCHAS DE S. JOÃO (BB146)

Abril 18, 2023

Tarcísio Pacheco

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BAGAS DE BELADONA (146)

HELIODORO TARCÍSIO          

 

BAGA MARCHAS DE S. JOÃO – O texto que se segue é importante, mas apenas no contexto da cultura e da vida local, nomeadamente na ilha Terceira.

Vai sendo tempo da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (câmara) se organizar e tomar decisões de fundo no que respeita à organização das marchas de S. João das Sanjoaninas.

As marchas de S. João foram uma novidade do pós-sismo de 80 e tiveram tal aceitação e crescimento nos anos seguintes que, hoje em dia, ninguém imagina as nossas festas sem a noite de S. João e as suas marchas. Tornou-se uma das atrações fundamentais das festas, a par da música, dos cortejos, das tascas ou das touradas. No entanto, no que respeita às marchas, há anos que se vinha registando problemas, devido ao elevado número de marchas inscritas, com tendência crescente, ano após ano. No interregno da pandemia, o problema não se colocou. No ano passado, o regresso das marchas foi algo tímido. Mas, em 2023, as marchas voltaram em força, com um total de 42 marchas inscritas, sendo que 13 delas são “de fora”.

É óbvio que um tão grande número de marchas coloca sérios problemas de organização, especialmente à câmara, “mãe” das nossas maiores festas concelhias. São problemas de difícil solução. Levantam questões complicadas como fazer desfilar 42 marchas num período de tempo minimamente aceitável, para os marchantes e para o público e, por exemplo, como conciliar o término do desfile com a usual festa popular de sardinhada, fogueiras e folia na rua de S. João.

Como há, naturalmente, muita dissonância nas opiniões, que vão desde a mais tolerante e topa tudo (vamos marchar e há de ser o que Deus quiser) até às mais radicais, como não aceitar marchas “de fora” ou remetê-las todas para uma noite de S. João B no dia seguinte, este ano,  instalou-se uma grande balbúrdia, com muita discussão, críticas e queixas. Dizem-me também que até há um regulamento das marchas mas que a câmara não o está a aplicar.

Ora bem, reconheço as dificuldades para resolver os problemas e não tenho nenhuma solução milagrosa, que me dera, mas, não a tenho. Sinto até mesmo dificuldade em emitir uma opinião firme porque há diversas soluções, umas mais inteligentes e criativas do que outras, sendo que algumas me desagradam e até mesmo me repugnam, especialmente as que estão eivadas de radicalismo regionalista, como excluir as  marchas “de fora” ou tratá-las de forma discriminatória.

Aquilo que venho dizer, sobretudo, é que é preciso que a câmara tome decisões a este respeito. Em minha opinião, é necessário criar um Regulamento das Marchas de S. João, definitivo e impositivo. Para que não seja uma coisa à russa ou chinesa, convém que seja minimamente consensual. Como não é possível que todo o concelho o discuta, acho mais correto que a discussão ocorra no âmbito da Assembleia Municipal, onde todas as freguesias do concelho estão representadas. Até porque, depois de haver uma proposta de regulamento, as juntas de freguesia podem auscultar a opinião dos seus fregueses sobre este assunto. Embora possa parecer lógico e desejável que representantes das marchas participem da discussão, não considero isso viável, uma vez que, embora haja marchas que participam regularmente e há muito tempos, outras há que são efémeras e transitórias. Quem vem “de fora” é bem-vindo (na minha ótica) mas quem tem de decidir as regras é a câmara e o povo do concelho.

Duma coisa estou certo, um regulamento cem por cento consensual será impossível. Haverá sempre muita discordância e crítica. Mas, depois de redigido, fechado e aprovado, com o tempo, as pessoas habituar-se-ão às normas instituídas. Aqui temos mesmo de ser rigorosos. Quem não concordar com o regulamento, pois tem a opção de não participar das marchas.

Esse regulamento terá, forçosamente de escolher entre diversas opções, sendo possível até optar por soluções mistas. Segue-se uma lista de opções possíveis, tal como as vejo. Não defendo nenhuma em particular, no momento, limito-me a elencá-las: manter tudo como está, como sempre foi, o percurso de sempre, uma única noite de S. João, a 23 de junho, um único desfile de marchas, independentemente do número de marchas e da hora de término do desfile; fazer dois dias de desfile, um a 23, outro a 24, depois das marchas infantis, que poderiam começar mais cedo; fazer um segundo desfile de marchas noutra noite que não a de 24; mudar o percurso, reduzindo-o, excluindo a rua de S. João e a dos Minhas Terras (o ponto fraco e mais polémico do percurso); iniciar o desfile muito mais cedo, ao final da tarde, em vez de ser ao início da noite; reservar o desfile de 23 para as marchas da ilha; estabelecer um número máximo de  marchas; excluir as marchas de fora da ilha.

Fazer este regulamento não será uma tarefa fácil. Mas é algo que tem mesmo de ocorrer. Para se acabar definitivamente com a confusão e regabofe atuais, com provável reedição todos os anos.POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGAS DE BELADONA (BB145)

Abril 12, 2023

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: Beladona é tóxica, mas muito útil para a farmacologia (coisasdaroca.com)

BAGAS DE BELADONA (145)

HELIODORO TARCÍSIO          

 

BAGA CANSADA – As pessoas têm-me perguntado porque não tenho escrito. Não há uma resposta simples para isso. Quando não tenho nada de inteligente, interessante, crítico ou humorístico para falar, prefiro ficar calado. Mas, fazendo uma reflexão autocrítica sobre o assunto, no fundo, creio que sei a resposta. Aqui, no nosso cantinho açoriano, sentimo-nos protegidos dos males maiores do mundo. Compreendo isso e até partilho desse sentimento ou não tivesse escolhido permanecer nestas ilhas pela maior parte da minha vida. Mas a verdade é que, olhando à nossa volta, o mundo está tão feio, porco, mau, selvagem, cruel e decadente, que o meu impulso mais forte é para me concentrar naquilo que aprendi que é realmente importante na vida: as pessoas que amamos, acima de tudo e, depois,   as coisas que dão prazer e sentido à nossa vida, no meu caso, o mar, o meu veleiro, a natureza, as viagens, a música, a leitura, o cinema e o desporto, o saudável, não competitivo e que não dá dinheiro, as aulas de Zumba que ministro, os passeios de bicicleta, os trilhos e as caminhadas A verdade é que estou cansado. Mais do que nunca, sinto que é urgente que vivamos o melhor possível o tempo que restar a cada um de nós, sem tomar nada como garantido. Nem sequer a luz e o calor do sol ou um simples amanhã. Nem sequer isso.

BAGA TRÂNSITO EM ANGRA – Há algum tempo, esteve entre nós um senhor, cujo nome não retive, que veio apresentar um estudo sobre algumas cidades europeias com problemas de trânsito e sobre as diferentes soluções adotadas. Inevitavelmente, colocaram-lhe a questão do trânsito automóvel em Angra. O cerne da sua resposta foi que Angra não foi feita para os carros e que as pessoas e os comerciantes em particular, precisam de entender que os carros não compram, as pessoas é que o fazem. Os carros só ocupam espaço, fazem barulho, atropelam e poluem, pelo menos os que ainda têm motores de combustão, que é ainda a maioria. Creio que este senhor deve ter sido ouvido com respeito, mas também ceticismo e alguma displicência. É preciso vir alguém de fora dizer aquilo que, mesmo sem ter mestrado em urbanismo e ambiente, ando a dizer há anos. Percebemos que tem sido feito um esforço em Angra, nomeadamente pela Câmara Municipal, para melhorar, ordenar e disciplinar o trânsito automóvel e o estacionamento na cidade. Creio que todos entendem e louvam isso, menos a oposição, claro, que jamais estará satisfeita. Mas isso é o ADN de que qualquer oposição. Contudo, estamos ainda muito longe da solução ideal, que sei já não ser para o meu tempo. E isso, seria fechar por completo o centro histórico de Angra ao trânsito particular e apostar numa rede de transportes públicos não poluentes, de preferência gratuitos, já que pagamos elevadíssimos impostos ou, no mínimo, muito baratos. Já não estarei aqui para ver, mas, o futuro dar-me-á razão. Se houver, um futuro, evidentemente (remeto para a primeira baga).

BAGA TRANSPORTE MARÍTIMO DE PASSAGEIROS – Este é outro assunto que já referi diversas vezes. Jamais perdoarei ao atual governo regional ter acabado com o transporte marítimo de passageiros entre todas as ilhas dos Açores e obrigar-nos a viajar todos nos aviõezinhos da SATA. Por isso (mas também pela coligação com a extrema-direita, entre outras coisas), jamais terão o meu precioso voto. Como se não fossemos ilhas no meio do mar e como se não tivéssemos gastado milhões nos últimos anos a construir e melhorar os portos das ilhas. Que afinal, não são ilhas, são aeroportos rodeados por água. Mais uma vez, sem ter mestrado em transportes, ou em qualquer outra área, sou apenas mestre do meu veleiro, sugeri por diversas vezes nestas páginas que o governo se informasse sobre as soluções de transporte misto de carga e passageiros que adotaram outros países, regiões e ilhas onde há gente mais inteligente. Isso caiu em saco roto, como é evidente. Mas, há algum tempo, foi publicado algo no DI sobre o assunto, no âmbito de um programa de intenções do governo regional. Pela primeira vez, desde há muito, falou-se em “estudos” sobre o transporte misto de carga e passageiros, que é perfeitamente viável, como é óbvio e tem muitas vantagens.  Tratando-se de “estudos” é provável que o assunto se arraste durante uns quantos anos, de “estudos”. A menos que o governo mude…as notícias muito recentes sobre a aquisição pela Atlânticoline de dois ferries elétricos não mudam em nada o panorama, embora envolvam dois fatores positivos: a aposta em embarcações menos poluentes e mais modernas e a abertura de uma rota entre S. Miguel e Santa Maria, que já deveria existir há muito.

BAGA TRAMPALHICES – O início do processo de acusação de Donald Trump nos EUA decorreu exatamente como se esperava. A criatura declarou-se inocente dos 32 crimes de que é acusada. Trump fez extensas declarações, na comunicação social, na sua rede social própria e perante os seus apoiantes. Uma das que retive foi “nunca pensei que isto acontecesse na América”. Estava a referir-se à criminosa invasão do Capitólio, que ele próprio orquestrou e apoiou? Era bom, era, mas, claro que não. Referia-se às acusações que sobre ele pendem. Como se esperava, a defesa de Trump assenta quase exclusivamente na politização do caso, tentando fazer-se passar por vítima e mártir. Um Martin Luther King da extrema-direita. Inteligentemente, Biden e o partido democrata em geral não caem nessa esparrela e mantêm silêncio sobre o assunto. Deixam o poder judicial cumprir a sua obrigação e fazer o seu trabalho. Veremos o que acontece. Mas tremo só de pensar que esta criatura possa voltar a ganhar as eleições do próximo ano nos EUA. A Humanidade está à beira do abismo (e não é só com a guerra da Ucrânia) e ter um tosco, bronco, ignorante, de extrema-direita à frente dos EUA numa altura destas é arrepiante e pode muito bem ser o passo que nos vai precipitar. Declarações recentes da criatura (“se for eleito, no dia seguinte acabo com a guerra na Ucrânia; dava-me bem com Putin; comigo no poder, jamais teria acontecido a invasão da Ucrânia e acredito que a Rússia vai tomar toda a Ucrânia”), levam-me a crer que a receita da criatura para acabar com a guerra é simplesmente deixar de apoiar a Ucrânia. O que, evidentemente, acabaria com a guerra, mas também com a Ucrânia e entregaria a vitória a Putin e à sua sangrenta ditadura neoimperialista.

Sou bastante pessimista quanto ao futuro próximo. Mas, no mínimo, o mundo precisa de inteligência, ética, coragem e bom-senso. Tudo o que Trump não tem. Trump é só dinheiro, mentiras, incompetência, ignorância, fanfarronice e bazófia.

Se acreditam nalgum deus, então rezem, rezem muito. Ou então, gozem férias, viagem, vão à praia. Aproveitem ao máximo. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

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