FRANÇOISE, PABLO E O JAQUIM
Agosto 24, 2012
Tarcísio Pacheco
IMAGEM: http://www.sapergalleries.com/PicassoWomen.html
Muito boa a entrevista com Françoise Gilot, num número recente da revista SÁBADO. Gilot, agora com 90 anos muito lúcidos, foi casada com Pablo Picasso, com quem teve dois filhos, um deles, a conhecida Paloma. Para além das interessantes revelações sobre a sua vida com um Picasso bem mais difícil do que se possa imaginar, Gilot revela uma mente aberta, inteligente, privilegiada mesmo; perante a questão de um eventual arrependimento por ter vivido com Picasso, ela responde o seguinte: “Os arrependimentos são uma pura perda de tempo. Além disso, é muito mais interessante passar por coisas trágicas, com pessoas interessantes, do que viver uma vida maravilhosa com uma pessoa medíocre. É falso acreditar que se consegue encontrar a paz com alguém medíocre. Essa pessoa também nos vai destruir; só vai é demorar um pouco mais de tempo.” Instada a desenvolver esta ideia, ela ainda acrescenta: “É simples: tornando a nossa vida aborrecida. Se quisermos realmente viver, é preciso arriscar algo dramático – de outro modo, não vale a pena viver a vida (…) Isso é o pior que nos pode acontecer: tornarmo-nos aborrecidos.”
Não conhecia a senhora. Nas minhas conversas com Picasso, ele nunca me falou dela. Tinha muito mau feitio, sobretudoem jejum. Agora, apaixonei-me pela Françoise. Uma paixão casta e pura, bem entendido. Ela prefere homens mais velhos. Digamos que partilharia um crepe Suzete com ela, dois dedos de cognac e um cantinho do sofá. E ficaria a ouvi-la e a aprender. Quem também podia aprender qualquer coisinha com ela é o Joaquim Machado, micaelense, antigo Subsecretário Regional da Comunicação Social e cronista do DI. O homem não quer que a gente se divorcie. Diz que é uma coisa moderna e ele, que é “um home antigo e cmé dado” não concorda. Diz que o pessoal se acasala sem estar preparado para a arte de amar. Diz que as festas de casamento são todas umas grandes farras e que dos convidados também ninguém entende nada do assunto. Diz que o pessoal desiste ao menor desentendimento. E que, ainda por cima, ficam amigos dos ex-consortes. É assim mesmo amigo Jaquim, um velho conhecido, talvez mais velho que conhecido. É que o Jaquim até é bom rapaz e era bom de bola. Mas já nasceu assim. Velhinho, casado, eternamente casado. Aborrecido, talvez pensasse mas não dissesse “ma chérie” Françoise. Ainda espero por uma segunda crónica, atrevo-me mesmo a aguardar um “Manual da Arte de Amar”. O Jaquim deve isso à sociedade. Para essa gente aprender como é. A ver se deixam de acasalar por aí. E se passam a fazer uns casamentos solenes e tristonhos, como deve ser. Mais parecidos com a realidade da maior parte dos casamentos. E se partem a louça toda e se arranham até fazer sangue pelo menos durante uns vinte anos. Nada menos que isso. Talvez seja até preferível esperar até que um não aguente mais e mate o outro. Tem havido casos. E, se calhar, é assim que deve ser. Ou vai ou racha. E eles racham as cabeças uns aos outros frequentemente. Nada de meios termos nem paninhos quentes. Sobretudo, nada de esperanças nem segundas oportunidades. Isso soa a igreja evangélica. E o Jaquim é católico, que eu sei. E, se por incorrigível teimosia e manifesta estupidez, o pessoal tiver a ousadia de se divorciar, mesmo contra a vontade do Jaquim, ao menos não se falem mais, mudem de passeio ao cruzarem-se na rua e olhem para o lado com um ar de absoluto desprezo. Não deram para consortes, agora querem dar para amigos… onde é que já se viu um desplante destes. Tabefes, escarradelas, maledicência, talvez até mesmo uma macumba, isso é que é a receita indicada. E se houver filhos, azar deles. Tivessem impedido os pais de se divorciar, nem que fosse à força. Grande Jaquim, tanta gente a marchar errado e só tu com o passo certo, um filho assim é o orgulho de quaisquer pais.
Daqui para a frente, parece-me imperativo pedir a opinião do Jaquim antes de casar. Assim uma espécie de Alta Autoridade para as Questões Matrimoniais. Afinal, apesar de só ter casado uma vez, ele parece saber tudo sobre o assunto. Ele dará o seu veredicto, depois de vos fazer um inquérito, destinado a apurar, entre outras coisas, se já andavam acasalados antes e se dominam verdadeiramente a arte de amar.
Podem também falar com Françoise Gilot, uma pessoa experiente que, certamente, vos dirá que o casamento é, de longe, a vossa melhor probabilidade de virem no futuro a colorir com um pouco de drama as vossas vidas cinzentas. Convém, ao menos, parecerem inteligentes. Qualquer coisa me diz que ela não suporta gente estúpida. Duvido que falasse com o Alberto João Jardim, por exemplo. Também tenho sérias dúvidas sobre Cavaco Silva. Tenho a certeza que, ele se encontrasse com ela, encheria primeiro a boca de figos passados de Boliqueime e depois, em plena mastigação, lhe diria algo original e profundo como “É com toda a sinceridade que lhe digo que tenho a certeza que a Dona Françoise vai continuar a encantar-nos com a sua excelente pintura durante muitos anos ainda…”
A mim, sempre me fez espécie que os famosos CPM’s (cursos de preparação para o matrimónio) sejam orientados por padres que, se forem especialistas nalguma coisa que envolva sexo, só se for em pedofilia e por casais orgulhosamente ortodoxos e abençoados pela Santa Sé, entenda-se, casados uma única vez, para sempre. Perdoem-me os leitores mais sensíveis o final desta última frase, sei que é um conceito violento, casar para sempre. Bom, isto é como fazer perguntas sobre o espaço a um astronauta que esteve na Lua. Na Lua ?! Eu quero é falar com quem esteve na Lua, em Marte, nos anéis de Saturno e até já deu um pulinho a Alfa Centauro… POPEYE9700@YAHOO.COM