Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

VAMOS TODOS SER "NEW AGE" ?

Agosto 02, 2012

Tarcísio Pacheco

 

 

IMAGEM: http://www.jesus-is-savior.com/Family/Parents%20Corner/new_age_in_public_schools.htm

 

 

Frequentemente acusado de ser um espírito demasiado crítico, desta vez sossego os meus adversários ideológicos, tendo em conta que até concordo com parte de um artigo primário, escolástico, atávico, obscurantista, ultra conservador, ortodoxo e serôdio, escrito por um padre católico, que encontrei recentemente ao pesquisar a versão electrónica de um jornal local.

Concordo especificamente com a parte em que o articulista reconhece que “(…) está-se infiltrando por toda a parte, até mesmo nestas pacatas ilhas dos Açores, um pretensa corrente cultural (…), referindo-se ao movimento New Age ou Nova Era, na sua tradução em língua portuguesa. Só concordo com esta parte, mesmo assim com total reserva quanto ao adjectivo “pretensa” mas, convenhamos, já é um princípio, que demonstra a minha boa vontade.

Contudo, já que alguém escreveu sobre este tema, manipulando a realidade, como sempre,  em todos os casos de fanatismo, então acredito que seja correcto proporcionar aos leitores o acesso a uma  perspectiva diferente.

O movimento New Age toma este nome devido ás suas características peculiares, porque é preciso dar algum nome às coisas e porque há uma forte carga simbólica nesta designação, significando um corte com o obscurantismo, dogmatismo e rigidez do passado, por oposição à “Velha Era”, que trouxe tanto sofrimento à Humanidade, por via da ignorância, da intolerância, do fanatismo ideológico e da ortodoxia religiosa.

O movimento New Age NÃO é uma religião, não tem chefe máximo, livros sagrados, templos, sacerdotes, dirigentes, missionários, organização, sedes, política institucional, finanças, estratégias concertadas, catequese infantil, proselitismo, congregação para a defesa da fé, milícias próprias, bens materiais e muito menos reivindicações de poder ou lamentações por falta de influência na sociedade humana. Não segue tão pouco uma fé maciça e unificada, daí que muitas práticas e filosofias sejam aceites. Não é obrigatório rotular sempre as coisas mas andaremos perto de verdade se definirmos a Nova Era como um movimento de espiritualidade e conhecimento, um espaço universal, transversal,  sem contornos nem fronteiras ou barreiras,  um cenário de encontro entre pessoas e ideias muito diversas, num clima de liberdade e tolerância, com a finalidade última de evolução espiritual, de melhorar a vida do ser humano no planeta Terra, em todos os aspectos. De facto, a Nova Era é a não organização. Nesse sentido, atribuir-lhe objectivos de arrasar e substituir o Cristianismo, ou qualquer outra religião é, no mínimo, um perfeito disparate, fruto da ignorância.  Resulta de um complexo de perseguição e vitimação, cada vez mais comum na Igreja Católica;  tudo o que não é como eles é contra eles e é um alvo a abater.

A Nova Era caracteriza-se como um movimento social e espiritual, emergente na dita sociedade ocidental, que busca, em última análise, a Verdade Universal e permitir à raça humana atingir o seu mais elevado potencial em todos os domínios da vida. Combina múltiplos aspectos de crenças, filosofias, religiões ou ciências, de que são referentes, por exemplo, a cosmologia, a astrologia, esoterismo, medicinas alternativas, música, colectivismo, sustentabilidade e natureza. A ênfase é colocada no desenvolvimento individual, no pressuposto de que todas as criaturas são diferentes e únicas, rejeitando qualquer forma de massificação, associada ás doutrinas religiosas e aos dogmas. A ideia base é de que, se cada indivíduo, efectuar com sucesso um percurso de desenvolvimento pleno, espiritual sobretudo mas também intelectual, emocional, material e moral, então toda a Humanidade atingirá um estado de harmonia em uníssono. Como movimento totalmente aberto e plural, recebe influências também da maior parte das religiões instituídas, incluindo o Cristianismo, partindo do principio que todas as crenças têm elementos válidos, que não há verdades absolutas e que ninguém é dono da verdade.

O movimento, como é definido no presente,  enraíza-se no clima de liberdade, diferença e contestação dos anos 60 do século XX. Mas as suas origens são múltiplas, abrangendo desde ideias recentes até correntes filosóficas da Antiguidade pré-cristã.

 A primeira utilização conhecida do termo New Age foi a da carismática escritora e médium  russa,  Helena Blavatsky,  no seu livro The Secret Doctrine, publicado em 1888. Ela escreveu algo tão profundo como isto: todas as religiões são verdadeiras ao nível dos seus ensinamentos internos mas problemáticas ou imperfeitas nas suas manifestações externas. Tendo sido, sem dúvida, uma pessoa diferente e não convencional, Blavatsky teve muitos críticos e inimigos. O articulista do jornal “A União” é apenas mais um a chamar-lhe “vulgar charlatã”. Vulgar é também a estratégia de tentar denegrir a imagem e a obra de alguém que não conhecemos nem compreendemos e que perfilhou ideias muito diferentes das nossas.

Como já afirmei antes, em última análise, o  propósito da Nova Era é  tornar as pessoas mais felizes. Admite-se que possa haver muitos caminhos para isso. São todos bem vindos à festa da vida,  se vierem por bem e em paz.. . De braços abertos, sem exclusões, venham a nós os divorciados, as mulheres que abortam, todos os gays e lésbicas deste mundo. Os sacerdotes católicos e as suas  equipas de catequistas também são bem vindos, desde que não nos queiram converter… Desde que não venham de cruz em riste, falar-nos do pecado original, da culpa, da expiação, do sacrifício, da proibição, da negação do prazer e da alegria de viver, ameaçar-nos com as penas do Inferno.

Quem quiser ser “New Age” pode faze-lo facilmente… Não é preciso pagar jóia, quota, abrir conta bancária, apresentar atestado médico ou certificado de habilitações. Basta ser PACÍFICO, tolerante e de espírito aberto, feliz por viver mas também ser solidário, justo, fraterno, generoso e amar as pessoas, os animais e a natureza. Os padres católicos não gostam disto, vá-se lá saber porquê… Talvez porque nos faltem  rituais, regras, catedrais, um líder, um livro sagrado, um mistério insondável qualquer, tipo Santíssimo Trindade, um pobre que tenha sido crucificado  para nos salvar, uma mãe virgem, enfim, uma boa dúzia de mártires, preferencialmente mortos sob tortura…

Há quem pense que ser “New Age” é forçosamente ser esotérico, iniciar-se numa religião finamente esquisita como a Wicca, vestir-se todo de preto, adoptar um ar vagamente alucinado, fazer estágios no Nepal e proclamar que não se gosta de futebol. Mas na verdade pode ser tão simples. Ser “New Age” é tudo aquilo que se faz com bondade e amor, em paz, procurando a sintonia com o universo e a nossa consciência cósmica, procurando sempre evoluir e aprender. Se isto soa a “esotérico”, já vos digo que pode ser apenas dedicar mais tempo à leitura e à reflexão, á meditação, dedicar algum do nosso tempo ao voluntariado social, ajudar quem precisa, agir com bondade, respeito, responsabilidade  e amabilidade genuína na nossa vida quotidiana, interessarmo-nos pelo ambiente, fazer a nossa parte, tratar bem os animais, oferecer flores à esposa,  interessarmo-nos bastante pelo prazer sexual dela, olhar  de noite para a lua e o céu estrelado e meditar sobre os mistérios da vida, beber muita água, respeitar a natureza, proteger as crianças, ser curioso, muito curioso, escrever um poema, fugir do convencionalismo e do estereótipo, ir mais ao cinema,  manter o espírito aberto para coisas diferentes, aprender uma língua estrangeira, ouvir muita musica, assistir a concertos, aprender a tocar um instrumento musical. A música é uma linguagem de comunicação com o divino. Claro que não me refiro a Tony Carreira. Não o acho nada “New Age”. Mas acho que ele deve continuar a cantar as coisinhas dele e desejo-lhe sinceramente saúde e êxito. Pensar assim já é muito “New Age”.

Talvez eu tenha feito um pouco da minha parte hoje. Se houvesse uma convenção anual de New Age, talvez o meu nome fosse citado por um admirado (e invejado) líder conferencista e o meu nome ficasse na lista de candidatos a umas férias de sonho. Talvez eu ganhasse até uma menção honrosa no boletim trimestral da Associação para a  Promoção da Nova Era e um crachat  com o meu nome.. Como, felizmente, nada disto existe, vou simplesmente continuar a minha vidinha, na minha “onda”, sentindo-me “bem”, “descontraído” e curtindo “uma boa” seja lá o que for isso, desde que seja mesmo bom e não comprometa a minha alma imortal.

POPEYE9700@YAHOO.COM

 

 

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2010
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2009
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2008
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2007
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2006
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2005
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2004
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2003
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2002
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2001
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2000
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 1999
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D

Fazer olhinhos

Em destaque no SAPO Blogs
pub