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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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A DECADÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA - TAKE TWO

Novembro 27, 2007

Tarcísio Pacheco

IMAGEM: http://confrontos.no.sapo.pt/page9.html

 

 

Com o seu último artigo, o Sr. Ramiro Carrola provou, definitivamente, que não é digno do meu respeito e muito menos da minha esmerada educação na Suiça. Por isso termina aqui este folhetim e não voltarei a referir-me publicamente ao nome de semelhante criatura. Apesar dos meus maus fígados, desejo-lhe um lugarzinho no Céu mas, sinceramente, confesso o meu pessimismo. Encontramo-nos por aí, na rua da Sé ou daqui a muitos anos, lá pelo Inferno que, alegorias alternativas e menos dantescas, descrevem animado e muito quentinho. Com o meu “ódio vesgo e mesquinho” pela Igreja Católica, como indivíduo violento e sanguinário que sou, não terei naturalmente qualquer hipótese de alcançar o Céu, privilégio de almas mais puras; S. Pedro dar-me-á desdenhosamente com a porta nas trombas, isto se não for recebido por anjos musculosos, de túnicas negras, cabeças rapadas e braçadeiras da PIDE ou por celestiais pit bulls. Na verdade, sempre achei aquela coisa de ficar sentado numa nuvem branca, tocando harpa por toda a eternidade, um pouco aborrecido e até meio perigoso, devido aos raios ultra violeta. Além de que as túnicas brancas não me ficam bem. Como dizia o Arnaldinho lá num dos seus filmes de acção, “Case Carrola – TERMINATED”. Salazar teria dito ARQUIVADO, parece melhor mas é singela ilusão, foi isso que ele disse no caso do General Humberto Delgado.

Agora, sobre a Igreja Católica e a sua decadência actual, ainda estou longe de ter escrito tudo o que me apetece. Sou um crítico, naturalmente não faço a apologia ou a defesa, caberá a outros faze-lo. A isto chama-se confronto de ideias, é salutar e não existe onde há unanimidade e massificação. Mas espero que o façam de modo inteligente, o único que vale a pena ler. Apresentar uma defesa da Igreja Católica com recurso a um dos seus campeões, neste caso, Madre Teresa de Calcutá, é um perfeito disparate. Naturalmente, Madre Teresa foi uma figura digna do respeito universal, alguém que, por vocação, dedicou toda a sua vida à caridade desinteressada e à defesa dos mais pobres, miseráveis e indefesos; é digna de toda a nossa admiração que, sem dúvida, lhe foi tributada ainda em vida; inspirou-se com certeza nos preceitos da primitiva mensagem cristã; a mesma que tem pouco a ver com a actual Igreja de Roma que agora critico; alem disso há muitas figuras que no mundo se destacaram pela sua acção humanitária em todos os quadrantes religiosos e na sociedade civil. A Igreja Católica, como todas as sociedades humanas, tem de tudo no seu seio, como em todo o lado, algumas pessoas de muito valor, muita gente mediana e alguns vermes. Não me referi a estes, do mesmo modo que não me referi aos heróis, não seria justo. Exactamente por isso nunca individualizei as minhas críticas, todas dirigidas à Instituição, à sua história, aos seus erros, à sua evolução e ao seu papel no mundo de hoje. E nunca é demais repetir, ao contrário do que proclamam mentes torpes, não sinto o menor ódio pela Igreja Católica. Olhem, vou confessar, pronto, eu odeio algumas coisas, odeio baratas e odeio qualquer pessoa que faça mal a uma criança, estes são alguns dos meus ódios de estimação. Quem nunca odiou nada nem ninguém, que me atire a primeira pedra. De Madre Teresa estou a salvo, não há pedras no Céu.

Relativamente a instituições da Igreja Católica, de apoio social e humanitário, estou, na generalidade, de acordo com Ramiro Carrola, provavelmente para grande surpresa deste. Quem diria, são as coisas do relativismo. Embora neste mundo, a Igreja Católica não possa, de modo algum arrogar-se o exclusivo deste tipo de instituições, que existem em muitas outras religiões, grandes e pequenas, assim como ao nível de outras instâncias e organizações humanas. Mas sem dúvida, muitas destas instituições da Igreja Católica foram ou são bem úteis, embora muitas vezes as suas práticas e princípios tenham revelado contornos duvidosos, menos claros ou questionáveis. Basta lembrar todos os escândalos de cariz sexual ligados a muitas destas instituições e as suas ligações obscuras ao mundo da política (que não tem rigorosamente nada de divino…), da alta finança e até do crime organizado em todo o mundo. Mas, para arrematar a questão, não vejo razão para se invocar este tipo de instituições no contexto de críticas sobre a decadência da Igreja Católica. Como toda a gente, tenho uma determinada veia religiosa e acredito que todas as religiões, desde que pacíficas e bem intencionadas, são importantes como sistemas de ligação entre o humano e o divino, como tentativas de explicação do transcendente, como fontes de ânimo, que possam trazer alguma luz e esperança, nem que seja através da fé, à nossa dramática condição de mortais conscientes da sua mortalidade e ignorantes dos mistérios da vida e da morte. Em nenhum dos meus anteriores artigos advoguei a extinção da Igreja Católica. O problema é que eu escrevo para as pessoas inteligentes mas não posso evitar que as outras me leiam. Ou me respondam. Todas as Igrejas têm o seu papel e o seu lugar no mundo. O que defendo é que a Igreja Católica necessita urgentemente de uma profunda reforma que, infelizmente, me parece bem longínqua. É uma organização muito antiga, embora não tanto como a própria religião cristã. Na verdade, a Igreja Católica, tal como a conhecemos, nasceu a partir da conversão do Imperador Constantino, que concedeu liberdade de culto aos cristãos através do Édito de Milão, em 313. Foi verdadeiramente aí que a Cruz, sempre ou quase sempre de Espada na mão, iniciou a sua submissão do mundo. Os preceitos doutrinais da Igreja conheceram várias modificações importantes ao longo da sua história. Mas passaram dois mil anos. Nos séculos XIX e XX o mundo mudou rapidamente, em todas as vertentes. E agora a velocidade da mudança, de realidades, hábitos, costumes, perspectivas, preocupações e mentalidades, é vertiginosa. A Igreja Católica está em profunda e contínua decadência. Na minha perspectiva, se a orientação (divina claro, pois se vem do Papa…) continuar a ser a defesa da mais pura e inalterável ortodoxia, este processo continuará, em ritmo cada vez mais acelerado. Não advogo nada de complicado mas algumas pessoas precisam sempre que lhes façam um desenho…

Oportunamente, por ironia, vem o Sr. Bispo de Angra dar-me razão na extensa entrevista publicada na edição de 19 de Novembro do seu “órgão oficial” da Diocese e que resulta da análise do recente encontro dos bispos portugueses com Bento XVIem Roma. Nessetexto, o Sr. Bispo apresenta conclusões do seu próprio Relatório: “ Os Açores têm 241.763 habitantes, dos quais 231.243 se declaram católicos (…) 28% da população frequenta regularmente a Missa Dominical (…) A prática religiosa é mais baixa no escalão etário dos 25 aos 39 anos (…) Verifica-se um processo de desmantelamento progressivo do modelo de cristandade (…) Urge, por um lado, evangelizar a religiosidade popular e inculturar melhor o processo catequético (…) “. Também é referido o interesse do Papa pelo culto ao Espírito Santo nos Açores, antigamente mal visto pela Igreja mas de cujo interesse rapidamente se aperceberam. De todas as declarações do Sr. Bispo de Angra, desta e de outras, se infere que a decadência da Igreja Católica é um facto assumido pela própria, ao mais alto nível. Infelizmente não se vislumbra qualquer perspectiva de mudança ao nível do que realmente afasta as pessoas da Igreja, alguns dos seus mais velhos, ressequidos e teimosos dogmas e preconceitos. Para dar a volta a isto, a “nova” estratégia é continuar a catequizar as crianças, claro, esses seres vulneráveis e indefesos e apostar na religiosidade popular (culto do Espírito Santo, Fátima, romarias e procissões, etc.), que vai dando uma ilusão de comunhão entre as massas e a Igreja Católica.

Para terminar, ainda recebi uma ajudinha extra, do nosso velho conhecido, Padre Caetano Tomás, com quem sinto vontade de cruzar argumentos desde que há uns largos meses publicou a sua cruzada pessoal contra O Código Da Vinci. Mas na altura feneceu-me a pena. Desta vez, o Padre Tomás publicouem A União de 17 de Novembro, um artigo em que explicitamente reconhece a decadência da Igreja Católica, embora a coloque entre aspas. Basicamente o Padre Tomás defende que isto estava tudo previsto, que “ (…) A Igreja não morrerá, haja a decadência que houver…”. Todos os que criticam o Cristianismo (que até nem é o meu modesto caso…), talvez devido à sua elevada agressividade (a mansidão parece ser exclusiva dos cristãos…) cometem umas tremendas asneiras de avaliação, magistralmente denominadas por “ignorância de elenco”. Parece que a crítica à Igreja Católica só resulta exercida por dentro. Querem ver que ainda tenho de entrar para o Seminário… Terei então de me haver com o risco de excomunhão, conhecida que é a imensa tolerância e clima democrático dentro da Igreja Católica. Resumindo, para o Padre Tomás, os cães ladram mas a caravana passará. Não há realmente argumentos contra uma fé deste quilate. Não ladro mais, por hoje.

 

popeye9700@yahoo.com

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