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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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BAGA METEOEXPERTS (BB167)

Outubro 13, 2025

Tarcísio Pacheco

 

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imagem: link de imagem indisponível

 

BAGAS DE BELADONA (167)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA METEOEXPERTS – Com o acesso livre e generalizado da maioria da população à Internet, multiplicam-se as páginas pessoais nas redes sociais. Os “influencers” são mais que as mães russas, o que é cada vez mais fácil. Vivem em constante disputa para ganhar mais “seguidores”. Alguns têm muitos milhares. Alguns ganham dinheiro com esta atividade, mas também é frequente pretenderem apenas notoriedade, serem conhecidos ou fazerem parte de alguma organização que pretende promover (ou destruir) alguma coisa; por vezes, são apenas pessoas que se dedicam a um determinado tema por paixão pessoal. Os temas das páginas variam imenso: desporto, moda, saúde, sociedade, humor, alimentação, animais, direitos humanos, religiões, música, cultura ou simples atualidade. Refletindo a decadência da nossa civilização, há muitos “influencers” cujas páginas promovem ideias extremamente negativas, ou então são de uma miserável futilidade e vacuidade intelectual. Uma grande parte dos “influencers” é inofensiva, mas alguns são extremamente perigosos, no terrível presente que vivemos. São os que, individualmente ou em grupo, trabalham todos os dias para criar o caos social e facilitar a emersão de grupos políticos e a implantação do ideário da extrema-direita. Claro que não me refiro aos simples papagaios do partido Chega, em Portugal ou do movimento MAGA, nos EUA, por exemplo. Esses são apenas peças inconscientes de um xadrez muito mais amplo, peões menores habilmente manipulados por mentes muito perversas, mas inteligentes. Por detrás deles existem estruturas bem organizadas e muito complexas, transnacionais e que contam, inclusivamente com servidores informáticos dedicados.

Este é um tema complexo. O que me fez escrever hoje é um assunto mais circunscrito. São os “peritos” em meteorologia que agora abundam nas redes sociais. Eles cresceram em consonância com o aparecimento e vulgarização de muitos sites de meteorologia, a maior parte parcialmente gratuitos e com ambientes e informação de fácil leitura, interpretação e descodificação. Não são, evidentemente, meteorologistas profissionais. Estes fizeram formação académica específica e trabalham, geralmente, para entidades públicas. Para além da sua formação, têm, evidentemente, acesso a estruturas, recursos, informação, equipamentos, modelos e ferramentas que só estão ao alcance de profissionais. Mesmo assim, as previsões meteorológicas que produzem não são sempre 100% exatas. Por diversas razões, sendo a principal que a ciência meteorológica é tão exata quanto possível. Muitas vezes só se consegue produzir valores de probabilidade, especialmente no que respeita a níveis de precipitação. Apesar de todos os avanços científicos e tecnológicos, as alterações climáticas vertiginosas a que assistimos no presente, baralham muitas vezes os dados e confundem as previsões. Por isso, criticar a informação meteorológica oficial por nem sempre ser exata é um ato de cegueira e de ignorância. Especialmente nos Açores, onde o tempo, por razões bem conhecidas da ciência, é, por natureza, bastante instável. É contribuir para criar a ideia do “meteolixo”,  à semelhança do que já existe para a comunicação social, o “jornalixo”.  Por detrás disto, está uma perversidade terrível e muito mal-intencionada, a de que se deve confiar sobretudo e apenas, no que se lê nas redes sociais. É assim que a extrema-direita tem crescido, em Portugal e em todo o mundo. Os meteorologistas amadores vão buscar os dados que divulgam aos diversos sites onde eles estão disponíveis para toda a gente. Por isso, acima de tudo, considero-os “divulgadores”. Que também se enganam com frequência, obviamente. Um dos mais conhecidos “peritos” meteorológicos açorianos está sediado na Terceira e a sua página conta com cerca de 30.000 seguidores. Tudo bem quanto a isso. O homem é um apaixonado da meteorologia, o que não tem nada de mal, à partida. O que é realmente incrível é a confessada incapacidade dos seus seguidores para obterem diretamente as previsões meteorológicas que pretendem. O que isso nos diz sobre o nível cultural e  intelectual da sociedade açoriana. O que isso nos revela sobre analfabetismo funcional e tecnológico e info exclusão. Ainda recentemente, uma conhecida minha, que eu julgava mais evoluída, numa discussão de Facebook, rogava ao divulgador meteorológico que, por amor de Deus, não desistisse da sua atividade porque “não era capaz de entender a informação meteorológica oficial”. Fiquei estarrecido. Se fossemos ao principal site meteorológico nacional, o do I.P.M.A. (Instituto Português do Mar e da Atmosfera), no separador “Previsão Descritiva”, para o dia em que escrevo (8 de outubro), para o grupo Central dos Açores e para este dia, podíamos ler o seguinte: “Céu geralmente muito nublado. Períodos de chuva e aguaceiros, por vezes FORTE. Condições favoráveis à ocorrência de trovoada. Vento sueste moderado a fresco (20/40 km/h) com rajadas até 55 km/h, rodando para sul. Estado do mar: Mar cavado. Ondas do quadrante oeste de 1 a 2 metros. Temperatura da água do mar: 22ºC. “. Previsão que se revelou bastante acertada ao longo do dia. A minha pergunta é: que parte desta previsão, feita por meteorologistas profissionais, é que esta senhora, que até tem estudos e não é nenhuma ignorante, não entende?! É realmente de pasmar.

Para concluir, não vejo nada de errado em alguém criar uma página relativa à sua paixão pessoal, nas redes sociais. Por mim, pode ter os milhões de seguidores que quiser, desde que não seja nada que infrinja a lei (o que nas redes sociais é cada vez mais difícil de avaliar). No caso específico da meteorologia, não vejo nada de errado em que alguém peça e receba “previsões” sobre chuva, por exemplo, por causa de uma tourada, festa, casamento, batizado ou churrascada. O que isso possa revelar de analfabetismo funcional, iliteracia tecnológica ou simples preguiça, não passará de uma questão pessoal. Todavia, no que respeita a eventos que podem colocar em risco a vida e a segurança das pessoas, o caso muda radicalmente de figura. Falo, por exemplo, de mau tempo, tempestades severas ou furacões. Nesses casos, jamais se deve recorrer a “previsões” de “peritos” que não são meteorologistas profissionais. Consultem as previsões oficiais, nomeadamente as do I.P.M.A., embora existam muitas alternativas.  Com licença da expressão, “qualquer burro as entende”. Até Donald Trump, embora eu não garanta, uma vez que esta criatura já se armou em meteorologista no passado, com graves consequências. Mas este foi um exemplo radical, admito. O ideal é consultar várias fontes e cruzar dados, dependendo do que precisamos de saber.  Pior ainda, se falamos de saídas para o mar. Aliás, qualquer titular de uma carta náutica, que não saiba um mínimo de meteorologia, deve arrumar o barco e voltar à escola. Que eu saiba, aqui na ilha, apenas a Escola de Formação de Navegadores de Recreio do Angra Iate Clube ensina meteorologia.

Posto isto, eu também quero é sol na eira e chuva no nabal, como toda a gente. Isso quer dizer que podem ter acabado os meus banhos de mar, mas, em contrapartida, agora é que os meus araçás estão a ficar amarelos e gordinhos. É assim a vida. popeye9700@yahoo.com

 

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