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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 3 e último ) BAGAS DE BELADONA (162)

Janeiro 15, 2025

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: Luis Ordóñez, o argentino que conseguiu levar a caricatura ao Museu do Louvre – Diario de Cultura

BAGAS DE BELADONA (162)

HELIODORO TARCÍSIO          

 

BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 3 e último) – Esta saga da crítica aos escritos do Dr. Bettencourt vai terminar por aqui, para não aborrecer os leitores e também porque rapidamente se desatualiza, dada a velocidade com que eventos relacionados vão ocorrendo. A verdade é que Trump ainda nem foi empossado no dia em que escrevo e, para além de toda a mediocridade maldosa que já lhe conhecíamos, começa a revelar-se uma espécie de ditador imperialista, apenas muito levemente contido pela cada vez mais frágil democracia norte-americana. Ignoramos se o Dr. Bettencourt continua a adorá-lo, mas, como o próprio caridoso doutor nos diz, “toda a gente tem defeitos” e se ele gosta de neofascistas, bom, de um ponto de vista tolerante, isso pode ser, eventualmente, considerado mais que uma crença cega, um enorme defeito de caráter ou então, simples falta de inteligência. Restará saber se o que ainda resta de espírito democrático, senso de justiça e elementar bom senso na América, será suficiente para travar minimamente um ditador neofascista, apenas um pouco menos mau que Vladimir Putin.

Quanto ao bom Dr. Bettencourt, uma leitura apressada ou mais parcial do seu testamento trumpista, até pode dar a falsa impressão de que ele sabe do que fala. Lá diz o velho ditado, muito português, “um tolo que não fala [ou não escreve] passa por discreto”. No entanto, basta ler o texto dele com atenção para perceber as suas manobras maliciosas e mal-intencionadas ou então a sua ingénua ignorância, o chapéu que melhor lhe servir.

Grande parte da verborreia do Dr. Bettencourt assenta nas teses publicadas por um tal Marc A. Thiessen, em “8 Escolhas dos Democratas que ajudaram Trump a ser eleito”, num jornal “esquerdista”, o Mercury News, de San Jose, na Califórnia. Já sabemos que a extrema-direita americana classifica a maior parte dos media como sendo “de esquerda”, preferindo disseminar o seu veneno pelas redes sociais, sobretudo pela X, propriedade do neofascista, Elon Musk, cada vez mais o “dono daquilo tudo”. E percebemos que no caso pessoal do Dr. Bettencourt, a sua bitola pessoal é se o órgão dos media gosta ou não de Trump. É desta forma que ele classifica os media, o que me parece ser de um atroz primarismo intelectual. É verdade que a maioria dos media americanos não gosta de Trump. Mas não gosta por não ser de extrema-direita e não por ser “de esquerda”.  O espectro político partidário nos EUA é extremamente pobre e, para efeitos práticos, conta apenas com dois partidos, o Democrata e o Republicano. O Republicano assenta em valores claramente considerados “de direita” e o Democrata também é de direita ou de centro-direita, se quisermos, estando mais próximo das sociais-democracias europeias. É um partido mais preocupado com questões sociais e de cidadania, mais tolerante, progressista e mais universalista. Contudo, de esquerda política, tal como a entendemos no resto do mundo, tem pouco ou nada. Por exemplo, comparando com Portugal, estão muito longe do Partido Socialista e anos-luz do Bloco de Esquerda. Por isso, classificar media dos EUA como sendo “de esquerda” é coisa de néscio ignorante ou de extremista de direita. Mesmo assim, se formos analisar o Mercury News, percebemos facilmente que é um jornal comum, não tem nada de especial, informa com aparente isenção, que é como deve ser e publica artigos de tendências diversas dos seus editores e colaboradores. Vou dar um exemplo concreto e bem presente nos media de todo o mundo nos últimos dias, o drama em curso no momento, dos incêndios na Califórnia. O Mercury News, obviamente, tem publicado imenso sobre o assunto, basicamente numa dinâmica de informação. Onde é que o Dr. Bettencourt deve estar a ver “esquerdismo” neste caso? Provavelmente no facto de uma das notícias publicadas se referir às declarações de Trump, insultando o governador da Califórnia e apelidando-o de incompetente. Ora, o governador da Califórnia é Gavin Newsome, do Partido Democrata e conta com uma brilhante carreira política. Tenho acompanhado a tragédia e Newsome não me parece nada incompetente, pelo contrário, talvez algo impotente perante a fúria da Natureza, aliada à construção civil selvagem e descontrolada, que é culpa do capitalismo desenfreado e da ganância que lhe está associada. E Trump insulta o governador por ser democrata, acima de tudo e porque, como hiena que é, não pode deixar de aproveitar qualquer oportunidade, seja qual for para mostrar os dentes e morder os seus adversários. Além disso, ele odeia a Califórnia, um estado onde tem poucos apoiantes e que fica fora da faixa do milho, do cinturão bíblico e do Sul, ignorante, pobre, conservador, fanático e racista. O Mercury News também noticia o que tem transpirado de Washington DC, que há sinais de que Trump, depois de eleito, não disponibilizará fundos federais de auxílio às vítimas da Califórnia ou dificultará o acesso aos mesmos. Ora, sabemos todos que Trump é mau, vingativo e não tem qualquer ética nem senso de estado. Portanto, não é nada difícil acreditar nisto. O que é o Dr. Bettencourt acharia que o Mercury News deveria fazer para não ser “de esquerda”? Provavelmente, deveria omitir qualquer referência às más intenções de Trump e realçar o mais possível as acusações de “incompetência” do governador, em vez de informar a população sobre a tragédia que está a desenrolar-se. É essa a pobre bitola do Dr. Bettencourt.

Portanto, a jogada “inteligente” do Dr. Bettencourt, neste caso, é a tese de que até um jornal de “esquerda” publica artigos que mostram os muitos erros dos Democratas. Acontece que a melhor prova de que o Mercury News não é um jornal “de esquerda” é terem publicado um extenso artigo de Marc A. Thiessen. Ora, vejamos quem é este sujeito: Thiessen é um autor norte-americano conservador, politicamente envolvido e membro do Partido Republicano, que andou pela Casa Branca e escrevia os discursos de George W. Bush. Posteriormente, por exemplo, elogiava a tenebrosa CIA e atacava Barack Obama, enquanto defendia a tortura pela água, muito comum, em suspeitos de terrorismo islâmico em Guantánamo. Um tipo isento e um verdadeiro escuteiro, certo? A publicação de um artigo deste tipo, a criticar o Partido Democrata, vem provar que o Mercury News não é um jornal “de esquerda” ou que, no mínimo, dá espaço a todas as tendências ideológicas. E é assim que o Dr. Bettencourt achou que ia enganar o pessoal cá pelos Açores. Todos os dados estatísticos ou percentuais apresentados pelo Dr. Bettencourt são contestáveis ou discutíveis. Por exemplo, é absolutamente parcial referir que a inflação nos EUA subiu durante o mandato Biden-Harris, sem escalpelizar os motivos para isso. Seria fastidioso estar a fazer isso caso a caso, teria de escrever artigos tão longos e sonoríferos quanto o artigo dele e, provavelmente, ninguém me iria ler.

Para terminar, alguns comentários do Dr. Bettencourt que achei dos mais aparvalhados foram os que afirmavam ser o Partido Democrata o “Partido dos Pobres”, que “os democratas radicais gostam mais de gastar o dinheiro dos outros” e que “os republicanos contribuem mais e têm mais compaixão pelos pobres”. É incrível, mas o Dr. Bettencourt parece não saber nada de História. Os regimes que assentavam no enriquecimento de uma pequena fação elitista que depois partilharia teoricamente a sua prosperidade com os menos afortunados através da “caridade cristã” acabou no séc. XVIII, com a Revolução Francesa. E aí foram plantadas as sementes dos atuais regimes socialistas e sociais-democratas em que os regimes se preocupam em distribuir equitativamente os recursos, dar as mesmas oportunidades a toda a gente e garantir que todos tenham uma vida digna e as suas necessidades básicas satisfeitas. É o dinheiro de todos para todos, não é o “dinheiro dos outros”. Solidariedade social não tem nada a ver com compaixão e menos ainda com caridade. Vá-se cultivar Dr. Bettencourt. E de caminho, esclareça-nos se concorda com a anexação militar e violenta da Gronelândia, com a hipotética anexação militar e violenta dos Açores, como valiosa posição geoestratégica, se concorda com as ameaças ao vizinho e aliado Canadá e ao Panamá, países soberanos, se concorda com o uso do exército para expulsar imigrantes, se concorda com o fim do direito internacional e com o regresso ao barbarismo do direito do mais forte, se alinha na negação das alterações climáticas induzidas pelos seres humanos e na negação das vacinas e finalmente se concorda com “a paz”na Ucrânia, com grande prejuízo do invadido e à custa do benefício de um invasor selvagem e criminoso de guerra. Diga-nos se também admira ditadores que são “líderes fortes”. É que tudo isto e muito mais é Trump e o senhor adora-o. Mais uma vez, só para sabermos com quem lidamos…para percebermos se é néscio, ingénuo, ignorante, extremista de direita ou neofascista. Porque um destes carapuços vai assentar-lhe na perfeição. popeye9700@yahoo.com

 

BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 2) BAGAS DE BELADONA (161)

Janeiro 13, 2025

Tarcísio Pacheco

 

 

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imagem em: Luis Ordóñez, o argentino que conseguiu levar a caricatura ao Museu do Louvre – Diario de Cultura

 

BAGAS DE BELADONA (161)

HELIODORO TARCÍSIO          

 

BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 2)  - Ora, prosseguimos então com o contraditório ao Dr. Bettencourt, emigrante graciosense, ilustre dentista na Califórnia e admirador incondicional de Donald Trump. Esclareça-se que se o Dr. Bettencourt se tivesse limitado a dar a sua opinião sobre Trump, nada teria a dizer, pelo menos publicamente. Ele há gostos para tudo. A Betty Grafstein gostava do José Castelo-Branco. O que realmente me desencadeou um prurido no sistema nervoso central foi o facto do Dr. Bettencourt nos atirar com uma carga brutal das mentiras e falsidades inventadas por Trump, pelos seus apoiantes e pelos hackers russos ou pró-russos, seus parceiros. Aparentemente, o Dr. Bettencourt acha que os açorianos ainda vivem no ambiente de ignorância, incultura e simplicidade de espírito da Graciosa da sua infância. O tempo também passou por aqui e não apenas pela soalheira Califórnia. O Dr. Bettencourt parece achar que somos todos burros nos Açores. Mas lembro-lhe que a ilha Graciosa, sobretudo a do seu tempo, era o grande centro açoriano de produção e exportação de burros. Agora, há menos burrinhos, é certo, mas espalham-se pelas ilhas todas.

Ah, e há também o facto de eu considerar Trump uma criatura absolutamente detestável e um dispensável malefício, para os EUA e para o mundo. Como numa conhecida anedota, Trump é seguramente mais de 100 kg de gordura perniciosa e mórbida, formada à base de cheeseburgers e coca-cola light, que produzem flatulência pestífera, inflamação intelectual e incontinência verbal.

Prosseguindo, como não há esquerda política nos EUA, só há direita, mais liberal ou mais conservadora, não faz sentido dizer que a maior parte dos media americanos é “de esquerda”. E o Dr. Bettencourt diz isto como se ser “de esquerda”, da verdadeira e não da que fica ligeiramente à esquerda da direita, fosse uma espécie de anátema, o que é, no mínimo, anacrónico, no mundo de hoje. Ser de esquerda, nas democracias evoluídas é simplesmente pensar de maneira diferente e preferir um determinado tipo de organização social, alternativo, que não é o habitualmente o da direita. Mas o Dr. Bettencourt e o seu ídolo, Dr. Trump, usam o esquerdismo político como insulto. Todos vimos, durante a campanha eleitoral, em direto na TV, o futuro líder máximo dos EUA apelidar Kamala Harris de preta, burra, ignorante e...”comunista”. Diga-nos, Dr. Bettencourt, já que admira tanto o seu ídolo, se é tão mal-educado, arrogante, racista e bruto quanto ele? Só para sabermos com quem lidamos e se calhar, evitarmos a sua cadeira de dentista, não vá anestesiar-nos a boca com um “fake shot”. O Dr. Bettencourt diz que nos EUA os media são quase todos de esquerda. Isso não faz qualquer sentido. Eu sou de esquerda, mas sou democrata primeiro que tudo e defendo uma comunicação social livre, isenta e plural. Essa é a única que importa, a verdadeiramente livre que, tendo em conta o livre direito de expressão, constitucionalmente consagrado, pode adotar as tendências que quiser e escrever ou transmitir notícias e programas de informação e atualidade com o formato que preferir. O confronto de ideias é sempre salutar. O que é que não pode? Não pode escrever ou transmitir mentiras ou falsidades. Porque aí deixa de ser comunicação social, para ser entidade política e panfletária, com um determinado alinhamento e protagonista de um determinado processo político, com objetivos maliciosos definidos. Um órgão de comunicação social que publique mentiras (propositadamente ou por não se ter assegurado da verdade, primeiro, como seria sua obrigação) deixa de ser comunicação social, passa a ser outra coisa qualquer, provavelmente obscura. Todos os ditadores temem a comunicação social livre. No Irão, na China e na Coreia do Norte, ela, pura e simplesmente, não existe. Não há liberdade de expressão nestas ferozes ditaduras. Na Rússia, apenas existe teoricamente, uma vez que a Rússia atual é na verdade uma ditadura centrada no antigo KGB e uma das primeiras coisas de que o seu ditador, Putin, tratou, quando chegou ao poder, foi de esmagar a comunicação social livre. E nos EUA, o regime atual, que é o de uma democracia que sempre foi altamente criticável, mas que se mostra cada vez mais pobre, com total concentração de poder, demoniza a maior parte da comunicação social, rotulando-a “de esquerda”, o que é um insulto pesado no paupérrimo espectro político-partidário dos EUA. E transfere-se a comunicação para as redes sociais, onde a desregulação e a desresponsabilização são totais. Agora, tudo é possível e as portas do Inferno mal se abriram; Zuckenberg, colocando-se obedientemente na fila da gamela para comer, veio dizer que já não é preciso verificar factos no Facebook, para não agredir a “liberdade de expressão”. Devia querer dizer “liberdade de mentir”. Putin deve estar a esfregar as mãos de contente, uma vez que agora vale mesmo tudo nas redes sociais.

A verdade é que, como é natural, nos media americanos e um pouco por toda a parte, há muita inteligência e espírito crítico. É na cultura, nas artes, no cinema, na literatura e no mundo da informação, que encontramos as pessoas mais inteligentes das sociedades.  É por isso que Trump, um pseudolíder que se promove através da estupidez, da incultura e da ignorância, odeia Hollywood, por exemplo.  Por norma, por vocação, por formação e pela natural filtragem sócio académica, os jornalistas são inteligentes, críticos e excelentes analistas da realidade social e da sua evolução. Algumas das pessoas que considero mais inteligentes em Portugal, ou são jornalistas ou têm presença assídua nos media, em programas de grande informação. Posso até nem gostar de algumas das pessoas que vou nomear, mas considero-as muito inteligentes: Miguel Sousa Tavares, Ricardo Araújo Pereira, José Rodrigues dos Santos, Pacheco Pereira (dos poucos inteletuais de direita cuja inteligência admiro), Daniel Oliveira, Clara Ferreira Alves, Raquel Varela, Rogério Alves ou Osvaldo Cabral, nos Açores, para referir apenas alguns e dentre os viventes. Grande parte dos media americanos não gosta de Trump e é fundamentalmente por isso que o Dr. Bettencourt diz que eles são “de esquerda”. Na verdade, as razões para os media americanos não gostarem de Trump tem menos a ver com posições políticas, muito menos de uma esquerda inexistente na América e prendem-se sobretudo com o perfil de Trump, um indivíduo execrável, estúpido, ignorante, um falso líder e sobretudo, um dos maiores mentirosos da História.  O que nos leva às “Fake News”.

A expressão “Fake News” surgiu precisamente na 1.ª presidência de Trump e, de alguma forma, foi cunhada por ele e usada exaustivamente. O que não deixa de ser paradoxal e profundamente cómico, na medida em que Trump é uma espécie de campeão mundial das “Fake News”. Que o Dr. Bettencourt use esta expressão referindo-se aos media “de esquerda” é da gente se urinar todos pelas pernas abaixo de tanto rir.  Trump é um mentiroso patológico e usa a desinformação como arma política de eleição. Esta é uma tática bem conhecida e usada por muitos governantes e ditadores há muito tempo, ao longo da História. Sucede que no passado, era quase impossível desmentir as inverdades. Mas, na atualidade, as mentiras são denunciadas quase em simultâneo, por exemplo, pela comunicação social livre e isenta, que, obviamente, não deve deixar passar mentiras para o público. Exemplo: sistematicamente, qualquer referência a uma das muitas acusações de conduta ilegal e criminosa de Trump era e é rotulada de “fake news”. Mas, quando Trump proferiu em direto na TV uma das suas mais recentes grandes mentiras, que imigrantes haitianos nos EUA andavam a matar e a comer animais de estimação, essa afirmação, apesar de quase imediatamente desmentida por insuspeitas autoridades locais, continuou a ser usada pelos MAGA na persecução dos seus objetivos. Foi uma mentira que causou dano e sofrimento a pessoas inocentes e alimentou muitas injustiças e nunca foi reconhecida ou negada por Trump. Esse tipo de mentiras é de uma virulência feroz. E não é preciso fazer nada de especial, apenas atirar a mentira para o ar e depois, já é tarde mais, sabemos como é, o megafone MAGA pega naquilo, os imigrantes haitianos são uns “selvagens canibais” e os imigrantes ilegais em geral, são os responsáveis pela maioria dos problemas da América, rua com eles, usem o Exército se for preciso.  A impunidade de Trump é total atualmente. A própria criatura disse algo como, “eu posso apalpar qualquer mulher ou matar alguém na rua, vão sempre gostar de mim”. Diga-nos, Dr. Bettencourt, Trump é conhecido por gostar de apalpar mulheres e gabar-se disso; que faria se Trump apalpasse alguma mulher da sua família? O seu amor pela criatura é mesmo incondicional? E antes de responder, lembre-se que qualquer mulher pertence a uma família e é filha de alguém. Qualquer afirmação ou notícia incómoda para Trump é rotulada de “fake news” com origem nos media “de esquerda” enquanto para a legião “trumpista”, qualquer mentira da criatura, das muitos a concurso, é imediatamente branqueada, sem contraditório ou então rapidamente esquecida, se insustentável. E é esta a bolha em que vivem o Dr. Trump e o Dr. Bettencourt.

Talvez fique hoje por aqui. Tenho a sensação de que vou passar o ano de 2025 a escrever para o Dr. Bettencourt. É que o testamento dele a favor de Trump é tão absurdo e tão falso que a ando a relê-lo para o criticar, desde 27 de dezembro e a toliçada é tanta e tão motivadora que, num total de quatro páginas e dezasseis colunas, ainda vou a criticar a primeira coluna. Temos serão. Pode ser que me farte. Mas não é hoje ainda.  POPEYE9700@YAHOO.COM

 

 

I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 1) (BB 160)

Janeiro 02, 2025

Tarcísio Pacheco

 

BAGAS DE BELADONA (160)

HELIODORO TARCÍSIO          

 BAGA I LOVE YOU SO MUCH DEAR MR. TRUMP (Take 1)  - Recentemente, aproveitando o muito generoso e aparentemente ilimitado palco disponibilizado pelo Diário Insular, o Dr. Manuel Bettencourt, ilustre médico dentista da Califórnia e emigrante açoriano da ilha Graciosa, usou quatro páginas completas deste jornal, para publicar um fervoroso auto de amor pelo seu herói, Donald Trump. De quem, ingenuamente, diz que “(…) Ninguém é perfeito neste mundo. O Trump tem os seus defeitos como todos nós”. Claro que qualquer um poderia usar as mesmíssimas palavras para se referir a Joe Biden ou a Kamala Harris (sem o deselegante artigo definido…), que o Dr. Bettencourt demoniza, responsabilizando-os por todos os males de que sofre a América atual. É uma expressão vaga e tonta, que é habitualmente utilizada para desculpar quem queremos inocentar de culpas, incluindo nós próprios. Em última análise é aplicável a qualquer um, incluindo Vladimir Putin.

Sinceramente, nem sei por que ponta pegar no artigo de opinião do Dr. Bettencourt porque todo ele é altamente criticável e repleto de informação deturpada, exagerada ou simplesmente falsa. Precisaria das mesmas quatro páginas que ocupou no DI para um comentário completo e a preceito. E acho que não devo fazer isso, nem o DI, provavelmente, me daria o mesmo palco.

O Dr. Bettencourt não precisava de ter invadido e ocupado o jornal da ilha para nos dizer que é um apoiante indefetível de Trump. Mas invadir e ocupar é o estilo desta gente do MAGA. Sabemos todos que a maioria dos emigrantes açorianos nos EUA, especialmente os de primeira geração, vota em Trump. E também conhecemos as razões para isso. Que não são nada lisonjeiras para a comunidade.  Do Dr. Bettencourt, que andou na faculdade a estudar medicina, esperar-se-ia bastante mais e melhor. No mínimo, que não se limitasse a papaguear as atrocidades néscias e sofismas maliciosos com que Trump, os seus aliados e os hackers russos inundaram as redes sociais. Mas é sobretudo isso que o Dr. Bettencourt fez, espalhando pelo meio, uma caterva de números selecionados criteriosamente para reforçar os seus pobres pontos de vista.

Afirma o Dr. Bettencourt que foi “20 anos do Partido Democrata”, mas que este se radicalizou nos últimos anos, numa deriva para a esquerda. Só a discussão disto já dava uma tese académica. Para se perceber porque é que naquela que costuma ser considerada “a maior democracia do mundo”, o debate político e ideológico é tão pobre que os eleitores se reveem apenas em dois partidos. Não é um regime de partido único, mas é um regime de dois partidos únicos. Como é único o sistema eleitoral norte-americano, que satisfaz os eleitores dos EUA, mas parece ser cada vez mais suspeito e pobre para o resto do mundo livre. Outra coisa que o Dr. Bettencourt não parece compreender é que o que nos EUA passa por ser “mais de esquerda”, para as democracias evoluídas do mundo, é apenas “um pouco menos de direita”, já que sempre imperou no país um absoluto primarismo político-ideológico e um claro alinhamento à direita. Não há esquerda política nos EUA.  Incrivelmente, o que o Dr. Bettencourt mais abomina nos democratas é que se tenham afastado mais ainda do tradicional discurso republicano. O Dr. Bettencourt não parece gostar da diferença e da diversidade de opiniões, ele é todo pelas ovelhinhas brancas. Até porque as ovelhinhas pretas devem ser imigrantes mexicanos, ilegais, claro.

Outra coisa que o Dr. Bettencourt nos diz é que os democratas “(…) são capazes de tudo e mais alguma coisa para se manterem no PODER” (sic). Não me diga, é mesmo assim? Tipo quê, tipo não aceitar resultados de eleições e decisões judiciais legítimas e promover e incentivar a invasão, com destruição, feridos e mortos, da sede de algum órgão de soberania, tipo, o Capitólio? Xiii, realmente, o caso é grave e até já lhe dou alguma razão, que patifes criminosos!

E o Dr. Bettencourt segue por ali abaixo, num ritmo frenético e nauseante, parecendo entender pouco para além das técnicas dentárias. Não entende, por exemplo, que está em curso um ataque feroz e sem precedentes aos regimes democráticos do mundo livre, à união e cooperação entre eles e à sua expressão militar, que é a aliança defensiva da NATO. Este tema é muito bem tratado pelo escritor e jornalista, José Rodrigues dos Santos, no seu livro mais recente, Protocolo Caos. Claro que para a mentalidade básica do Dr. Bettencourt, este insuspeito escritor deve ser “comunista”. Esse ataque é perpetrado sobretudo pela Rússia, mas também pela China, Irão e Coreia do Norte, ou seja, pelas principais ditaduras da atualidade. Alguma vez o Dr. Bettencourt parou para pensar porque é que Trump é o favorito de Putin nos EUA? Nada disto é simples, mas uma das razões é o ataque sistemático de Trump à comunicação social livre e independente, preciosa em democracia, de que o Dr. Bettencourt faz uma obediente e acéfala crítica.   Papagueando Trump, o Dr. Bettencourt acha que a maior parte dos media americanos é mais ou menos “de esquerda”, com a CNN à cabeça e com poucas exceções, entre as quais, se destaca, obviamente, a Fox News, controlada pelos conservadores, de quem Trump disse ser a única estação que diz a verdade. Na Rússia, Putin deu cabo de todos os media independentes, através dos seus métodos usais, assassinato simples à cabeça, mas também encarceramento, encerramentos compulsivos, processos criminais e outros métodos agressivos, restando apenas os órgãos formais, subservientes ou totalmente alinhados. Assim, Putin, evita qualquer crítica ou oposição. Nos EUA, Trump declara a maioria dos media “de esquerda” e mentirosos, ou seja, todos os que ele acha que o prejudicam e estipula que apenas alguns, como a Fox News dizem a verdade. E, para além disso e sobretudo, privilegia as redes sociais como meio principal de comunicação. Toda a gente sabe que o Twitter era o seu principal canal de comunicação com o país e com a sua rede de apoiantes. E depois, como o Twitter, apesar da sua enorme elasticidade, também tinha os seus limites, acaba por formar a sua própria rede social, de onde ninguém o pode expulsar e que ele controla totalmente. E porque é que Putin e Trump fazem ambos a mesma coisa? Porque sabem muito bem que as redes sociais são selvas de onde estão totalmente ausentes quaisquer critérios de ética, verdade, justiça ou deontologia profissional. Nas redes sociais, qualquer um pode vomitar o seu próprio veneno, sem que nada lhe aconteça, pelo menos nos EUA (em Portugal e na CE já não é bem assim por estar criminalizado o incitamento ao ódio e à violência). Por outro lado, nas redes sociais, impera o anonimato cobarde. Além disso, é muito fácil, com as tecnologias atuais e as enormes e bem preparadas redes de hackers, com propósitos muito sombrios, criar perfis falsos e espalhar mentiras e boatos à fartazana. Um método relativamente simples e bem conhecido é, por exemplo, a respeito de uma qualquer das muitas tolices e mentiras que Trump escreve nas redes sociais, colocar uma série de comentários favoráveis com origem em perfis falsos. Isso gera um movimento de bola de neve e a partir de certa altura, começam a aparecer em catadupa os comentários favoráveis de verdadeiros americanos, encorajados pelo que vão lendo. Parece haver um enorme apoio popular a Trump e, às tantas, já há mesmo, o processo nunca mais para, já teve a sua ignição artificial. Obviamente, isso vai ampliando o campo de recrutamento e criando a “aura de Trump” como um grande “patriota”, the man for the job. O propósito de toda esta verdadeira sabotagem é simples e medonho ao mesmo tempo, é semear o caos e a discórdia no Ocidente, é levar a América ao descalabro, é criar fossos e divisões entre a América e a Europa, é desmembrar a aliança atlântica. E assim, Trump, que se julga muito inteligente, vai fazendo, ingenuamente, o jogo de Putin. O movimento do “America First” só aparentemente beneficia os EUA e prejudica muitos outros países, nomeadamente os da CE e o Canadá. Na verdade, qualquer processo isolacionista prejudica toda a gente. Não há ação sem reação, uma das regras mais simples de entender do Universo. Mas Trump não tem faculdades intelectuais, bom senso básico ou perfil de estadista para entender isso.

Para terminar esta parte, vou dar um exemplo de como o arrazoado do Dr. Bettencourt está cheio de patranhas. Diz ele que os media de esquerda “encobriram o problema cognitivo do presidente Joe Biden”. Ora, isso é absolutamente falso. Biden tinha realmente um problema de desempenho mental, causado, muito provavelmente, pela sua avançada idade. Mas, quando esse problema se tornou patente, nomeadamente a respeito do desempenho de Biden no seu último debate com Trump, o facto foi amplamente noticiado, inclusive pela CNN e por muitos outros órgãos, nos EUA e por todo o mundo. Leio notícias todos os dias, na comunicação social, procurando fontes diversificadas e evitando as redes sociais, que uso para outras coisas, nomeadamente para uma socialização saudável. Todos os media falaram nisso, mostrando imagens. Foi mesmo a grande notícia por algum tempo.  Porque era inegável, porque era notícia, porque era informação relevante e porque não havia qualquer motivo para o esconder, pelo contrário.

Para não ocupar demasiado espaço no jornal, ficarei por aqui agora, mas voltarei ao tema. O Dr. Bettencourt merece. Apesar de tudo, desejo-lhe um Feliz Ano Novo, por ser um açoriano. Já a Trump, desejo-lhe um Péssimo Ano Novo. Se bem que ele não precisa dos meus desejos nefastos, ele é bem capaz de tratar disso sozinho, como já se viu, ao criar problemas ainda antes do início do mandato, com vizinhos e amigos como o Canadá, a Dinamarca, o Panamá, toda a Comunidade Europeia e com a NATO.  POPEYE9700@YAHOO.COM

 

 

 

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