BAGAS DE BELADONA (142)
Dezembro 30, 2022
Tarcísio Pacheco
imagem em: New and Improved Taliban | claytoonz
BAGAS DE BELADONA (142)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA FERNÃO DE MAGALHÃES – Ao ler o editorial do DI de 29 de dezembro, que se refere a uma publicação recente de um autor espanhol sobre a famosa viagem de circum-navegação do nosso compatriota, Fernão de Magalhães, ao serviço de Espanha, na época, entre 1519 e 1522 e ao seu lamento sobre não haver uma “história ibérica” deste grande feito, lembrei-me que uma das minhas recentes leituras foi precisamente sobre este tema. Na edição deste ano do Outono Vivo, em boa hora adquiri o livro Fernão de Magalhães – A Primeira Viagem de Circum-Navegação, de David Salomoni, um investigador, creio que de nacionalidade italiana, ao serviço da Universidade de Lisboa. Trata-se de um relato fascinante, de leitura obrigatória para quem se interessa por História, mar e aventura, o que é decerto o meu caso. Tudo se baseia na crónica detalhada, minuciosa e, sobretudo e aparentemente, equidistante e não alinhada de Antonio Pigafetta, um marinheiro, geógrafo e escritor de Vicenza (Itália), um dos 18 sobreviventes da expedição (que partiu com 260 homens) que lograram regressar a Sevilha em 1522, a bordo da nau Victoria. A fidelidade de Pigafetta parece ter estado com Magalhães (de quem era incondicional admirador) e, tanto quanto sabemos, com a verdade. Embora o original do seu texto se tenha perdido, a sua crónica permanece como o relato mais fiel desta apaixonante aventura trágico-marítima. Consistindo num trabalho de investigação histórica, o texto de Salomoni apoia-se em factos documentados e onde há lugar a conjeturas, especulações ou deduções, isso é assumido. Além disso, Salomoni faculta-nos todo o enquadramento do contexto histórico. Como já sabíamos, D. Manuel I de Portugal recusou qualquer apoio ao projeto de Magalhães, daí ele ter ido bater à porta da concorrência. Espanha era a grande rival de Portugal, na época e o seu grande interesse era chegar às ilhas das especiarias por Oeste e, sobretudo, provar que estas se encontravam na área de domínio espanhol definida pelo tratado de Tordesilhas. Percebe-se o desinteresse português, nós já estávamos lá em força, o Índico e os mares do Extremo-Oriente eram dominados pelos portugueses, chegar lá por outra via, incerta, demorada e tortuosa, não parecia trazer nada de relevante para os interesses portugueses. Concluímos que uma “história ibérica” desta odisseia seria muito difícil. Os interesses eram e são completamente divergentes. Até porque, na época, o poder espanhol tudo fez para apagar o papel de Magalhães e glorificar o capitão espanhol que logrou regressar a Sevilha, Juan Sebastián Elcano. Não nos deixemos enganar. O estreito que dá passagem para o Pacífico, no extremo meridional da América do Sul chama-se “de Magalhães” e não “de Elcano”. Era bom para Espanha, mas as ambições espanholas foram… pelo cano.
BAGA GUERRA NA UCRÂNIA – Vou seguindo as notícias sobre a guerra sobretudo na Internet (onde podemos escolher as fontes) mas também um pouco nos canais televisivos portugueses. Não sou gaulês, mas confesso que tenho algum medo de que o céu me caia sobre a cabeça embora costume ter mais medo ainda de cair do céu, sempre que viajo de avião. O certo é que nunca como agora, foram tão abundantes os especialistas em guerra, coisas militares e estratégia. E nunca estivemos tão perto do precipício, convindo, perceber, pelo menos, como e quando vamos morrer todos e não sermos apanhados no duche ou com coisas combinadas. Entre os inúmeros comentadores tenho as minhas simpatias e antipatias. Dou mais valor aos comentadores mais inteligentes, menos especializados e que emolduram os seus comentários com considerações de ordem filosófica e ética. Mas há um que suporto mal, o major-general Agostinho Costa, um homem com uma perspetiva absolutamente condicionada pelo que ele designa como “realidade militar”. Ainda ontem, pude assistir à sua verborreia militarista em confronto com a comentadora Helena Ferro Gouveia, na CNN Portugal. Para Costa, que não deixa de confessar a sua “simpatia” pela resiliência do povo ucraniano, o que conta são “as realidades militares no terreno”. Ou seja, nada disto vale a pena porque a Rússia é muito forte, o exército ucraniano é muito menor e está cansado e a Ucrânia só sobrevive devido ao apoio dos EUA. Ficamos sem perceber onde é que Costa quer chegar. Isto é, deveríamos deixar Putin e a sua ditadura nojenta em paz, para prosseguirem, sem oposição, a cruzada brutal que iniciaram em 2014, com a anexação da Crimeia? Talvez uns votos de protesto na ONU, se o Conselho de Segurança permitir? E mais uma meia-dúzia de sanções à Rússia? Quer gostemos, quer não (eu odeio isso), a realidade do nosso mundo é que existe um regime brutal, ditatorial, hostil, imperialista, homicida e agressivo, como a atual Rússia, com o apoio cada vez menos dúbio da besta chinesa, do regime paranoico e delirante da Coreia do Norte e do regime violento e fanático do Irão. Bolsonaro também era simpatizante, mas já não conta, felizmente. Os EUA já explicaram por diversas vezes que estão a prestar todo o apoio possível em cada momento e que este é dinâmico, ou seja, depende, da evolução da situação e das iniciativas da Rússia. Esta é, a meu ver, a única posição inteligente a seguir. Infelizmente, se não queremos uma guerra generalizada ou um conflito nuclear (que seria, muito provavelmente, o fim da Humanidade), só nos resta ir apoiando a Ucrânia da melhor forma possível, a ver se a Rússia se cansa ou se chega o fim do mundo, o que acontecer primeiro. No meio disto tudo, tenho dificuldades em perceber o que pretende o senhor major-general Agostinho Costa.
BAGA AFEGANISTÃO – Fala-se muito em ajudar o povo afegão, sobretudo o seu elemento feminino, mas creio que quem precisamos mesmo de ajudar são os talibans. Entre as inúmeras rezas diárias, o estudo do Corão e um mínimo de higiene com aquelas barbaças piolhosas, não lhes deve restar muito tempo para pensar na vida. Definitivamente, pensar não é o modo de ser taliban. Então devíamos ajudá-los com algumas sugestões. Segundo creio, o grande problema deles é evitar o convívio das mulheres com quaisquer homens que não sejam do seu estrito círculo familiar. E terá sido sobretudo por isso que resolveram impedir o acesso das afegãs à educação. Creio que o problema se podia resolver com alguma facilidade. Basta proibir o acesso dos homens às escolas e universidades. E já agora, ao governo também. Assim só haveria mulheres no governo e nos centros de educação e não haveria socialização indesejada. E se os homens ficassem fechados em casa e só pudessem sair com uma esposa, mãe, irmã ou mesmo prima afastada, tudo seria bastante mais harmonioso e teriam muito tempo livre para estudar o Corão. Além disso, parece que outro problema central é os homens verem as mulheres dos outros, por isso as mulheres têm de andar cobertas dos pés à cabeça. Isso resolvia-se facilmente se vendassem todos os homens. Só poderiam andar sem venda dentro de casa. Como os talibans já não veem praticamente nada, não se perderia grande coisa. Podia-se resolver as coisas assim com simplicidade, digo eu, nada como experimentar.POPEYE9700@YAHOO.COM