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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

BAGA EPISÓDIO DE HISTÓRIA TRÁGICO-MARÍTIMA (BB138)

Setembro 07, 2022

Tarcísio Pacheco

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BAGAS DE BELADONA (138)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA EPISÓDIO DE HISTÓRIA TRÁGICO-MARÍTIMA – Na madrugada do dia 31 de agosto do corrente, pouco antes do nascer do sol, a minha embarcação de recreio atual, o Alexandra, um veleiro de cruzeiro de 39 pés, em viagem de S. Miguel para a Terceira, chocou contra os ilhéus dos Fradinhos, navegando a motor, com a vela grande içada, em piloto automático, a cerca de 4 nós de velocidade. Podia, facilmente, ter sido o fim do barco, mas não foi. Podia, facilmente, ter havido vítimas, mas não houve. Fatores negativos e causadores do acidente: por manifesto azar, o rumo real (não o planeado) levava direitinho às malditas rochas, estas são do mais rijo que há na natureza, não passando, no entanto, de um pontinho no imenso mar, a noite estava muito escura (lua em quarto-crescente inicial e já abaixo do horizonte), o barco estava em piloto automático, o skipper não tomou os devidos cuidados,  pensava estar acordado mas adormeceu na hora errada, sem se dar conta, sentado no cockpit e o outro tripulante, a minha companheira, estava a dormir no interior.  Fatores positivos, que evitaram o pior: ia a motor e a baixa velocidade, o mar estava muito calmo e o primeiro embate foi de lado e acima da linha de água. Claro que os primeiros segundos foram de horror e incredulidade, mas, felizmente, depois do pânico inicial, foi possível reagir, meter marcha à ré e tirar o barco das pedras. Uma rápida avaliação aos estragos revelou um rombo no casco, acima da linha de água, na vante de estibordo e diversas escoriações menores dos dois lados. O motor continuou a funcionar bem, o leme e a hélice não foram afetados, aparentemente não havia entrada de água, por isso, foi acalmar os nervos, rumar rapidamente para a marina de Angra e colocar o barco em seco. Segue-se agora um longo período de inatividade e uma despesa considerável. Mas safámo-nos do pior. Muito azar e depois muita sorte, no fim das contas.

Porque é que eu publico isto? Porque não quero fazer segredo, devemos assumir os nossos erros, aprender com eles e aprender também com os erros dos outros. Sou um navegador experiente, habitualmente cauteloso e instrutor de navegação, com várias passagens oceânicas no currículo como skipper, navego frequentemente entre a Terceira e S. Miguel, fiz aquela rota muitas vezes, a maior parte delas em solitário e uma vez apenas com a minha filha Júlia, na época com 5 anos. Tinha ao meu dispor diversos meios, instrumentos e técnicas para evitar aquele tipo de acidente, incluindo radar. Não podia ter acontecido. Mas aconteceu. Como é frequente em acidentes com barcos e aviões, este foi provocado por uma mistura de algum azar com descuido e erros cometidos e envolveu uma pessoa experiente. No mar, a culpa é sempre do capitão ou skipper e eu assumo-a por completo e com toda a humildade.

Posto isto, aquelas malditas rochas, duras como o demónio, estão ali há milhares de anos e constituem um evidente perigo para a navegação marítima. Na verdade, já causaram muitos acidentes e diversos naufrágios. São constituídas por basalto muito escuro, são baixas (4 metros de altitude máxima) e estão longe da costa. É verdade que estão nas cartas náuticas e roteiros e são abrangidas pelo setor vermelho do farol das Contendas, mas isso não é, nem de longe, suficiente. O grande perigo que representam exige um equipamento local. Um farolim, uma boia de sinalização marítima ou, no mínimo, placas refletoras incrustadas na rocha, uma técnica moderna e resistente.

O nosso país orgulha-se da sua geografia atlântica e da sua história marítima. Mas a verdade é que, relativamente ao mar, como a tantas outras coisas, abundam a incompetência, o desleixo, a incúria, a corrupção, a falta de organização e o mau planeamento, muitas vezes desculpados com a eterna falta de fundos e meios. Basta ver como deixámos morrer a nossa marinha mercante, como não fiscalizamos as nossas áreas marítimas exclusivas, como andámos a construir fragatas e submarinos para brincar às guerras em vez de construir patrulheiros, que tão necessários eram, como aceitamos um governo nos Açores que diz não precisarmos de ferries porque temos aviões. E a Marinha Portuguesa, sempre tão pronta para fazer exigências absurdas (naturalmente, com fundamento legal), que nos levam a procurar outras bandeiras e a passar coimas de 250 euros por falta de revisão num extintor, não tem nada a dizer sobre a falta de sinalização adequada num perigo tão evidente para a navegação marítima, tão antigo e tão conhecido? POPEYE9700@YAHOO.COM

 

BAGA IGREJA PEDÓFILA SIM SENHOR (BB137)

Setembro 01, 2022

Tarcísio Pacheco

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BAGAS DE BELADONA (137)

HELIODORO TARCÍSIO          

BAGA IGREJA PEDÓFILA SIM SENHOR – O editorial do DI do passado dia 9 de agosto era bastante infeliz. Pretendendo fazer justiça, analisava a questão da pedofilia na Igreja (entenda-se Igreja Católica, de Roma) de forma conservadora, parcial e acrítica. Na verdade, fazia eco das posições da própria Igreja que, pretendendo fugir às suas culpas e responsabilidades, costuma fazer-se de vítima e clamar, exatamente, que os pedófilos não existem apenas na Igreja, que “há outros” e que os padres pedófilos o são por inclinação pecaminosa e doentia individual, nada tendo isso a ver com as doutrinas e práticas da Igreja.

A igreja católica portuguesa andava descansadinha da Silva e ufanava-se da pedofilia luso-católica ser residual. Mas não era difícil perceber que era uma questão de tempo. As moscas estavam lá todas, apenas não se tinha ainda mexido na caca com um pauzinho. Portugal, neste contexto, não é diferente de outros países. Por cá, como por todo o lado, as vítimas não falavam por medo, por vergonha e por acharem que, sendo a Igreja tão poderosa e, desde sempre, conluiada com o poder, de pouco ou nada serviria exporem-se ao escárnio, maldizer ou simples compaixão da sociedade. Mas basta alguns começarem a falar e gera-se uma avalanche incontrolável, que revela a terrível verdade, oculta por anos e anos de criminoso silêncio, orquestrado por bispos cúmplices e papas medrosos, quando não prevaricadores eles próprios.

É evidente que tenho de concordar com o editorial do DI quando se diz que a pedofilia não é exclusiva da Igreja. Infelizmente, abusar dos mais fracos e indefesos é um dos mais vis e cobardes traços da Humanidade. A pedofilia e a violência doméstica e contra as mulheres são dos abusos mais comuns. Mas fica por aqui a minha concordância. A ligação entre Igreja e pedofilia é fortíssima e óbvia. Nos primórdios da religião cristã, nenhum dogma ou mandamento divino interditava o casamento aos ministros da Igreja. Desde muito cedo houve padres, bispos e até papas, casados e com filhos. S. Pedro tinha uma sogra. A instituição do celibato forçado foi sendo feita progressivamente, de forma conturbada e pouco clara, com avanços e recuos até se chegar ao cúmulo da hipocrisia atual de se dizer que “a Igreja não obriga ao celibato, antes escolhe os seus ministros entre os celibatários convictos”.

O que é certo é que, muito mais por preconceito e dogma do que por qualquer questão doutrinal, a Igreja força o celibato dos padres e demoniza tanto o sexo como o género feminino, reservando para as mulheres papeis menores de freiras, governantas, criadas para todo o serviço, amásias e irmãs solteironas de padres (entenda-se, amas perpétuas dos irmãos). A Igreja cria assim no seu seio ambientes patriarcais fechados, doentios, carentes e antinaturais, que são terrenos férteis para comportamentos homossexuais (que não são doença nem crime, claro, mas não deviam ser apenas um recurso) e para comportamentos pedófilos, esses sim, doentios e criminosos. Simplesmente, não é possível separar a Igreja da pedofilia e qualquer tentativa nesse sentido significa tentativa de desculpabilização e branqueamento. Quem quer arranja sempre desculpa. O Pe. Caetano Tomás desculpabilizava a pedofilia frequente na sua ilha natal das Flores, porque “havia muita falta de mulheres”. Ora essa e não havia cabras e ovelhas adultas? Isso também é crime, mas, pelo menos, essas não se queixariam mais tarde.

Acresce a isto tudo que a pedofilia, existindo por todo o lado, inclusivamente nos ambientes familiares, é especialmente grave no seio de instituições educativas e outras como a Igreja, que lidam ativamente com crianças (ele é colégios e creches católicos, meninos de coro, seminaristas, escuteiros católicos, grupos de jovens, catequeses, etc). Não é só um crime hediondo, é uma traição nojenta e imperdoável.

A Igreja que poderia um dia livrar-se da ignomínia da pedofilia seria um Igreja bastante mudada e renovada, que não forçasse o celibato, que admitisse mulheres como padres e bispos, que não demonizasse o sexo, que não fosse contra a homossexualidade e o divórcio. Pelo que tenho visto, não será para os filhos dos meus filhos…

O editorial do DI foi lamentável, ainda, ao tentar estabelecer comparações com as situações, muito comuns no passado, das amantes “teúdas e manteúdas” de respeitáveis “chefes de família” porque algumas seriam menores e a situação seria tacitamente aceite pelas suas famílias carenciadas. Sinceramente? Que é que isso tem a ver? Que números credíveis, já estudados, revelam quantidades de menores nessa situação? É que os números da pedofilia não mentem e estão cada vez mais bem estudados. E ter uma amante, sendo casado, até pode ser crime de adultério perante a lei civil, mas é comparável à pedofilia, ao crime hediondo da profanação da inocência infantil? E “entre nós, a pedofilia nem era considerada crime”??? O que é isto, um elogio ao atraso cultural do povo açoriano?

Tenham “santa” paciência, este discurso de vitimização e perseguição à Igreja não cola e já enjoa. É, muito simplesmente, uma instituição puramente humana e que só agora começou a pagar pelos seus muitos crimes ao longo da História. O que aprendi na vida até agora, é que fé é lá com cada um, ética sim, cada vez mais, religião, dogmas, doutrinas e rituais, não,  obrigado. POPEYE9700@YAHOO.COM

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