BAGA TRÁGICÓMICA (BB134)
Abril 26, 2022
Tarcísio Pacheco
imagem em: Vladimir Putin | Cartoon Movement
BAGAS DE BELADONA (134)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA TRAGICÓMICA - Recentemente, o Grande Tumor testou um míssil novo, o top dos mísseis, com que começou logo a chantagear-nos. Com estes mísseis intercontinentais, equaciona matar-nos a todos, se não o deixarmos arrasar a Ucrânia e continuarmos a prejudicar o pobre povo russo que, coitadinho, sofre muito com a malvadez ocidental, com a perda de empregos originada pelas sanções e já nem consegue comer uma Big Mac. Bem, não acredito na Humanidade, já não é de agora e já estou por tudo. Lamento profundamente, sobretudo pelos meus filhos, mas também pelos filhos dos outros. E por todos e tudo o que amo na vida. Mas, não devemos recear a morte, já que ela é inevitável para todos os seres vivos, Grande Tumor incluído. Devemos, sim, ter medo, muito medo, de viver como ratos, escondidos nos esgotos da nossa ansiedade. A minha consolação principal é que, se acontecer o pior, morremos quase todos, mas da Rússia e dos russos pouco sobrará. De resto, temos provado ao longo dos tempos sermos uma espécie tão tóxica que, se calhar, é melhor mesmo ficarmos por aqui na nossa “evolução”, para evitar que, no futuro, venhamos a infetar outros planetas do universo com a nossa maldade essencial. Para onde fossemos levaríamos na bagagem a música de Andrea Bocelli e pombinhas brancas, é certo, mas também mísseis nucleares, para referir apenas um tipo de arma, das mais letais. E acima de tudo, exportaríamos para todo o lado, o nosso amor pelo poder, pela conquista, pela guerra, pelo confronto, pela ambição, pela competição, pela ganância, pela riqueza e pelos bens materiais.
Isto já atingiu o nível da tragicomédia e seria motivo para rirmos muito, se não houvesse tanta gente a sofrer. Os episódios absurdos acontecem praticamente todos os dias. Quando ocorreu o afundamento do cruzador Moskva, pudemos ver no “parlamento” russo, um deputado histérico, aos gritos, à beira da apoplexia, gritando que era um “ultraje”. É aqui que dá vontade de rir. Depois de toda a destruição, barbárie, violência, massacre e homicídio a que temos assistido na Ucrânia desde fevereiro, os russos sentem-se “ultrajados” pela perda de um navio e clamam por vingança. A frota russa inteira não vale a vida de uma única criança ucraniana.
Depois, temos também a cómica questão do armamento cedido pelo Ocidente à Ucrânia. O Grande Tumor até nem se importa que venham umas espingardas de caça, umas baionetas da I Grande Guerra e uns camiões de garrafas de vinho do Porto para o pessoal, depois de as beber, preparar uns cocktails molotov. Mas armamento a sério, que equilibre um pouco as capacidades de invasor e invadido, isso já é motivo para declarações de guerra. Portugal pode também mandar uns excedentes de G3, não há problema, o Grande Tumor até tolera, afinal tem os seus amigos do PCP por cá. Mas os EUA não podem mandar nada. Porquê? Porque não, evidentemente. A Ucrânia também não pode aceitar combatentes voluntários não ucranianos. Mas a Rússia pode pagar a levas de carne de canhão síria e líbia. O Grande Tumor pode ter mísseis intercontinentais que chegam a qualquer ponto da Terra em minutos e têm capacidade para destruir o planeta. Mas a Suécia e a Finlândia, países livres e soberanos, com dirigentes eleitos pelos seus povos, em regimes absolutamente democráticos, não podem aderir a uma aliança defensiva, se assim o entenderem. Como se quaisquer vizinhos não russófonos desta Rússia não tivessem que encher as fronteiras de alarmes e armadilhas para bichos perigosos, para poderem dormir minimamente descansados…
Por cá, sendo alguém que sempre se assumiu, ideologicamente, de esquerda, sinto uma imensa vergonha de partilhar o país com o PCP. Podiam até ter ficado pela simples recusa de participar na sessão com Zelesnky e já seria uma nódoa resistente a qualquer lixívia. Mas não se contentaram com isso. A declaração formal da líder parlamentar comunista foi um escarro nojento e um eco descarado da propaganda russa. O PCP é um partido anacrónico, em queda há bastante tempo, vivem em clima de negação, agarrados a um mundo que já nem existe. É bastante provável que esta atitude seja o princípio do fim para eles porque causaram asco e repulsa um pouco por todo o país. Mas não devem desanimar. Podem sempre emigrar para a Rússia, embora seja garantido que não vão encontrar por lá nenhum tipo de comunismo. De resto, entre tiranias e totalitarismos de direita ou de esquerda, não vejo qualquer diferença. Putin, Le Pen, Ventura, Trump, Bolsonaro, Maduro, Kim Jong-un, Orbán, para citar apenas alguns de entre os vivos, são todos filhos da mesma Besta. É tudo a mesma farinha, só que em sacos diferentes. Lixo e escória da Humanidade.
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