BAGA DA TRISTEZA E DA ESPERANÇA (BB123)
Setembro 22, 2021
Tarcísio Pacheco
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- BAGAS DE BELADONA (123)HELIODORO TARCÍSIOBAGA DA TRISTEZA E DA ESPERANÇA – De vez em quando a vidadá-nos um safanão, para nos lembrarmos de como as coisas realmente sãoneste planeta. O único lado bom disso é trazer-nos de volta ao caminho daconsciência e deixarmos de lado eventuais futilidades.A recente morte, trágica, brutal e absolutamente inesperada, de uma docemenina de 10 anos, grande amiga da minha própria filha da mesma idade,para além de provocar uma profunda tristeza, contribui para colocar ascoisas na perspetiva correta. Às vezes ficamos perdidos nas voltas destemundo absurdo e damos demasiada atenção a coisas que não têmimportância nenhuma. Na verdade, nenhum de nós têm qualquerimportância, por muito que alguns pensem o contrário acerca de sipróprios. Somos frágeis, infinitamente frágeis, breves e passageiros.Estamos no mundo por pouco tempo e de nós todos só restarão ossos, pó oucinzas. Os poucos que fazem a diferença são aqueles que a História ou amemória coletiva lembram com carinho e respeito. Pelo amor quedistribuíram, pelas vidas que inspiraram, pela arte, cancões, escritos ouideias que nos deixaram. Uma criança que partiu, enquanto existirem osque a conheceram, será sempre lembrada com amor, carinho e saudade,pois não há amor mais puro, sincero e completo do que o que nos despertam osnossos filhos.A vida material, a incarnação na Terra, é acima de tudo experiência eaprendizagem. Para quê, ninguém sabe. Ninguém tem respostas absolutas.Muito menos, as religiões. Existem múltiplas regiões no mundo e cada uma
- apresenta a sua própria teoria sobre a vida e a morte. Em muitos aspetos, asexplicações são até contraditórias. Por isso e por outras coisas, inteligênciae crença, fé e racionalidade, excluem-se mutuamente. Que me perdoem oscrentes, mas no meu dicionário, dogmatismo é sinónimo de falta deacuidade mental, para ser gentil. Por outro lado, se fizermos um estudocomparado das diversas religiões (e toda a gente devia fazê-lo),percebemos que há muitos elementos que são comuns, mesmo que comdiferentes roupagens e que, portanto, devem ter ido beber à mesma fonte,seja ela qual for.O certo é que nada sabemos sobre os mistérios da vida e da morte e o Papasabe tanto quanto qualquer um de nós. Cada um acredita no que quer,quantas vezes de forma tosca, grosseira, ignorante ou fanática, ou nãoacredita em nada, o que, não deixando de ser uma opção respeitável, éinfinitamente triste.O envelhecimento traz queda de cabelo, artroses nas articulações,inflamações nas veias e problemas de memória. Mas também trazamadurecimento e serenidade. Depois de termos tido todas as experiênciasque nos calharam ou que escolhemos, de acordo com o nosso livre-arbítrio,é tempo de descanso, reflexão e síntese. É suposto ficarmos mais sábiosembora certas criaturas possam por seriamente em causa essa convicção.São aqueles que nada aprenderam neste percurso e que morrerão exaustos efrustrados, por cometerem sempre os mesmos erros e deixarem que aambição, a ganância e o desejo, continuem a moldar as suas pobres vidasaté ao fim.Nesta fase madura da vida, o fundamental é um realismo sereno. Fazer aspazes com os muitos erros cometidos neste processo de aprendizagemdolorosa, acreditar que o amor (incondicional, generoso, puro edesinteressado) é a mais importante fonte de energia no mundo (qualpetróleo…). Não posso ter nenhum tipo de fé, o meu lado racional não opermite, pois não há provas nem evidências materiais de nenhuma vidasobrenatural. Aquilo que vejo é que estamos aqui por nossa conta, à mercêdas leis da física natural e da genética, da sorte e do azar. Mas mesmo umapessoa inteligente pode permitir-se ter esperança. De que a vida não seja só
- esta absurda e cruel materialidade. Que todos nós sejamos centelhas dealgo maior, cheio de luz e amor e que, de alguma forma ninguém jamais seperca. Que cada um de nós seja diferente e eterno. Isso inclui a princesinhaLetícia e traz-me um pouco de paz. POPEYE9700@YAHOO.COM