BAGA COITADINHO, CHATEOU-SE TANTO... (BB 111)
Junho 16, 2020
Tarcísio Pacheco
imagem em: https://www.focoeducacaoprofissional.com.br/blog/servidor-publico-cursos-online
BAGAS DE BELADONA (111)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA COITADINHO, CHATEOU-SE TANTO… Como já calculava, o “não me chateiem” tem o pavio curto e chateia-se com facilidade. E quando isso acontece dá em barafustar, vocifera, insulta, solta perdigotos e cospe para o ar, o que nunca é boa ideia devido à lei da gravidade. Fá-lo, contudo, num português burilado e rococó, com requintes de latinório, o que é agradável no plano da estética linguística, mas não implica necessariamente nada de muito interessante no capítulo das ideias.
Volte ou não aqui o Inconsistente, o que me deixa impávido e sereno, só lhe digo que se deixe de tretas. Quem escreve para o público, sujeita-se a ter as suas ideias criticadas. O mesmo acontece comigo. A diferença entre nós, para além de muitas outras, é uma questão de fair play.
As Bagas não foram concebidas para serem simpáticas embora o sejam, ocasionalmente. É como me apetece, escrevo em liberdade e assumo o que escrevo. Se faço inimigos com as Bagas será sempre um tipo de pessoas que jamais seriam minhas amigas. Portanto, não perco nada. Além disso, estou plenamente feliz com os amigos que tenho. Porém, não deixa de ser interessante o facto de ter feito uma série de novos amigos, ao longo dos anos, entre as pessoas que me leem e me dão algum feedback.
Vivemos num planeta belo, mas perigoso, que se encontra num claro processo de destruição, orquestrado por verdadeiras bestas humanas e assente na ignorância, alienação e apatia das massas. Estamos agora a viver um intervalo pandémico, mas no essencial nada mudou. O paradigma da civilização que desenvolvemos é constituído por uma tóxica mistura de tecnologia, materialismo, capitalismo, consumismo, competição, agressividade, manipulação, psicose de controle, ambição, jogos de poder e egocentrismo individual. Que raio de Bagas é que queria que produzisse num mundo destes? Se fosse para serem docinhas seriam bagas de cassis ou mirtilo. A beladona é tóxica e muito perigosa. Mas é tudo uma questão simbólica. As Bagas de Beladona foram concebidas para serem livres, não alinhadas, duras, críticas e, por vezes, venenosas. É para consumir com critério e cuidado. É como o peixe baiacu. Não é para toda a gente. É um produto gourmet e seletivo. Doces, simpáticas e fofas são as crianças, a maioria, pelo menos.
Bem espremido, o assaz venenoso artigo do Inconsistente nada acrescenta ao essencial. Não há qualquer contraditório relativamente ao que escrevi. Nem defesa nem explicações. É fraco opositor e novamente me desiludiu. Pensa que basta escrever bem. Não quer que o chateiem, mas gosta de insultar os outros. Manda-me consultar índices comparativos que colocam em termos opostos desenvolvimento e ratio de funcionários públicos versus os outros trabalhadores. Seria um exercício pueril e acontece que não é esse o cerne da nossa questão. Antes do 25 de abril de 1974, os Açores eram um pequeno arquipélago de 9 ilhas isoladas no meio do Atlântico Norte, pertencentes a um pequeno, pobre e atrasado país, que, como era de esperar, tinham gravíssimos problemas, de transportes, de subsistência, de população. Quase sem industrialização e ainda sem turismo, vivíamos de atividades do sector primário, de algum comércio e serviços. Estava quase tudo por fazer. Na atualidade muito permanece por resolver e há novos problemas. Mas não há comparação possível. Desenvolvemo-nos imenso desde 1974 e descobrimos, entretanto, como um pouco por todo o lado, a vaca sagrada do turismo. É óbvio que só o estado (a nova região autónoma e a nova república) podia e tinha mesmo obrigação de providenciar este desenvolvimento estrutural, quase a partir do zero. E isso só podia ser feito através de um corpo de agentes do estado, os funcionários públicos. Não podia ser de outro modo. É uma constatação de La Palisse afirmar que há muitos funcionários públicos nos Açores. E daí? Isso é assim tão estranho numa região como a nossa? Surpreendente? Isso permite ao Inconsistente insinuar que os funcionários públicos açorianos são todos preguiçosos, incompetentes e que ninguém os controla? Terei alucinado? Mesmo que não tenha usado exatamente estas palavras foi, claramente, esta a impressão que ele quis transmitir. O Inconsistente clama que foi funcionário público. Julgará por si próprio? Há funcionários públicos de todos os tipos, assim como há preguiçosos e incompetentes no setor privado. Nunca afirmei que todo o funcionalismo público prima pela excelência e se há queixas a este nível (e eu também sou um cidadão que recorre aos serviços públicos), o menos que falta em Portugal é queixas de todos os tipos relativamente a empresas privadas. É uma questão ideológica de fundo, que dividirá sempre as sociedades. Um organismo público tem como missão prestar um serviço à comunidade com qualidade e rigor. Mais nada. Uma empresa privada tem como missão dar muito dinheiro a ganhar aos seus donos ou acionistas. São mundos opostos e inconciliáveis, segundo creio. É esse um dos grandes traços que distinguem esquerda e direita. Aquela assenta no serviço público com muito apoio social, esta no estímulo do lucro e do enriquecimento, com algum assistencialismo social. O Inconsistente diz que estou “amarrado” e que sou ideologicamente “bolorento”, mas traça do funcionalismo público açoriano um retrato injusto, incorreto e absolutamente anacrónico que até faz lembrar o aparelho estatal soviético dos anos 70. Acho que ele não deu pela perestroika. Também diz que extrapolei. Terei extrapolado ao criticá-lo pela observação tonta e descabida, porém extremamente maldosa e mal-intencionada de que os funcionários públicos não servem para nada porque “ninguém deu pela falta deles durante dois meses”?
O Inconsistente diz que o insultei por discordar dele e que é isso que faço por sistema. Mas, aparentemente, quem discorda dele é alucinado, descabelado, falacioso, tresloucado, sem capacidade para equacionar, gaseado, confuso, absurdo, raivoso e viciado, entre outros mimos. Reli o meu próprio texto, isso sim e não há ali nada que se compare, em termos de toxicidade. Um dia destes havia de pensar em mudar o nome das crónicas dele para algo que traduza mais fielmente a sua virulenta e pouco ética oposição. Mas Beladona já está tomado. Ele, no fundo, até nem é má pessoa. Só quer que não o chateiem enquanto se entretém a chatear os outros.
Finalmente, nunca votei em nenhum partido, não tenho amigos neste governo (que critico frequentemente) nem na classe política em geral, nunca lhes pedi favores e nem sequer concordo com o atual sistema de avaliação que, ao contrário do que acontece no privado, não tem qualquer estímulo positivo e está indexado a um duvidoso sistema de quotas. Não sou marxista nem comunista. Não sendo mais que um humilde ser humano, sou único e inqualificável. Por isso, o Inconsistente devia guardar a sua saquinha de rótulos e deixar esse feio hábito de atirar caca à parede, a ver se fica alguma colada. Isso acaba por respingar-lhe para cima. Se preferir ficar agora no seu canto, a lamber as feridas, eu vou entender. Se ripostar, então, terei um prazer imenso em continuar a chateá-lo. popeye9700@yahoo.com