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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

BAGA O COVEIRO E O DR. HOUSE (BB 106)

Abril 28, 2020

Tarcísio Pacheco

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imagem em: https://www.cartoonstock.com/newscartoons/directory/p/president_bolsonaro.asp

 

BAGAS DE BELADONA (106)

HELIODORO TARCÍSIO

BAGA O COVEIRO E O DR. HOUSE - A passada semana registou importantes comunicações ao mundo no contexto da crise pandémica; uma delas, no Brasil, no decurso da corriqueira demissão semanal de ministros e a propósito de número de mortos nas 24 horas anteriores, foi a informação, prestada pelo próprio, de que Jair Bolsonaro não é coveiro. Afirmação surpreendente já que, nitidamente, anda a cavar a sua própria sepultura. Todavia, poderia ser importante para ele aprender os rudimentos de uma profissão que está em alta no mercado brasileiro do trabalho, com uma elevada procura. Afinal, a economia não pode parar (Pô!). Digo isto por estar convicto de que em pouco tempo Bolsonaro irá para o desemprego. No exército, não atingiu mais que a modesta patente de capitão. Não sabendo fazer mais nada para além da intriga política, não seria de abraçar uma honesta profissão com futuro, segura e estável e chegar rapidamente a coveiro de primeira? Além de que, na prática, Bolsonaro já é o coveiro de centenas de brasileiros. Só falta mesmo formalizar a função.

A outra comunicação relevante foi a do senhor Trump, eminente cientista, guru da comunidade científica, especialista em praticamente quase tudo e com um QI tão alto que é impossível de avistar cá de baixo, que teve a generosidade de partilhar com o mundo atónito e embevecido alguns conselhos sobre técnicas de extermínio do vírus. Ficámos assim a saber que é possível matar o vírus pelo calor, submetendo-o a elevadas doses de radiação ultravioleta. Na verdade, também graças ao senhor Trump, já conhecíamos as incríveis possibilidades deste tipo de radiação que, entre muitos outros benefícios, proporciona uma lindíssima cor de cenoura às pessoas. E, bem na senda de Einstein, provando que as ideias geniais são as mais simples, Trump percebeu que se o vírus é morto nas mãos por desinfetante, é só uma questão de borrifar os pulmões. O resto são detalhes. Genial. E disse-o, segundo ele próprio, com o tipo de sarcasmo mais inteligente, aquele de que ninguém se apercebe. Admirável. A intervenção de Trump já tinha sido preciosa há algumas semanas quando publicou no Twitter uns comentários sobre a importância da hidroxicloroquina no tratamento do coronavírus. Reforçando a convicção já generalizada de que os apoiantes de Trump são pessoas atentas e inteligentes, um casal do Arizona, esse grande estado onde correm rios de inteligência por canhões pedregosos, embora não estivesse doente, resolveu tomar o remédio de Trump a título preventivo, porque lhe parecia ter algo semelhante em casa e porque o senhor presidente foi muito convincente, segundo afirmaram. Ao que parece, o casal era demasiado parecido com Trump, avesso a leituras, por isso não leram as instruções de uso e tomaram fosfato de cloroquina, um produto geralmente usado na limpeza de aquários. Ou então pensaram, bem na linha intelectual do seu presidente, se não faz mal aos peixinhos pagãos, porque é que há de fazer mal a nós, que somos cristãos e tudo? A verdade é que o homem se livrou de boa, escapou de uma morte lenta e cruel, ligado a ventiladores e morreu comodamente dali a pouco, sem ter sentido muito mais que calor e umas tonturas, conforme descrito pela mulher. Já esta não teve tanta sorte e continua viva e à mercê do vírus. Mas não vale a pena entrar em desespero, basta continuar atenta aos conselhos e sugestões do seu líder. E pensar que eu, há uns anos, admirava o Dr. House. Afinal não passava de um curioso. Quem percebe disto mesmo a sério é o Dr. Trump. E quem disser o contrário, só pode ser comunista. God save the USA. popeye9700@yahoo.com

 

 

BAGA CONFINADA (BB105)

Abril 21, 2020

Tarcísio Pacheco

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imagem em: https://www.hospitaldaluz.pt/funchal/en/the-hospital/media/news/15067/covid-19-new-orientations-recommendations

 

BAGAS DE BELADONA (105)

HELIODORO TARCÍSIO

BAGA CONFINADA - Gostava de escrever sobre outra coisa que não fosse o estupor do vírus. Mas está difícil. Pois se o bicho virou as nossas vidas de avesso…

Bom, por estes dias, a Internet e os media pululam de especialistas em medicina, em epidemias e em gestão de crises. Vou, por isso, abster-me de grandes tiradas. Farei apenas alguns comentários avulsos. Ao jeito dos oitavos de marmelada embrulhados em papel vegetal que a minha mãe me mandava comprar, ali na mercearia da esquina e do Sr. António, na rua dos Canos Verdes. Isto não tem nada a ver, mas pareceu-me que ficava bem, está bastante na moda rebuscar no baú das nossas memórias. E eu começo a ter uma bela coleção.

Uma coisa que se tornou chocantemente óbvia nesta pandemia, foi a nossa vulnerabilidade. Quer dizer, neste nosso modelo civilizacional antropocêntrico, em que o desenvolvimento económico contínuo e o primado da tecnologia pareciam ser a resposta para todas as necessidades, anseios e limitações do ser humano, eis que um simples vírus, que nem sequer é dos piores ou mais mortíferos, paralisa a economia mundial, confina em casa mais de metade da população do globo e mata quantidades inacreditáveis de cidadãos séniores, deixando uma série de interrogações pungentes quanto ao futuro. Conclusão, temos de deixar de nos armarmos aos cucos. Valemos pouco na ordem geral do universo. Temos aspirações a criaturas superiores, mas um bando de criaturas microscópicas hostis que nem sequer conseguem fazer sexo entre elas, põe-nos em sentido.

Outra coisa que me tem parecido evidente é a fragilidade do aparente controle social. Quer dizer, tenho-nos sentido próximos da barbárie. Não tenhamos ilusões. Parece-nos que vivemos num ambiente muito organizado, mas se as coisas se descontrolarem, um exército imenso de baratas e ratazanas que aparentam pertencer à espécie humana, sairá dos esgotos onde se acoitam para semear o caos. Senti um leve vislumbre disso quando soube que camiões portugueses carregados de equipamentos sanitários para a luta contra o Covid-19, estavam a ser atacados por grupos criminosos nas autoestradas, com o intuito de roubar o material para revenda no mercado negro. E não foi no México ou na África do Sul. Foi no coração da Europa comunitária, em estradas belgas e francesas. Olha-se para a situação e consegue-se perceber que não é preciso muito para as autoridades perderem o controle: um vírus mais pernicioso, mais mortal e mais generalista, mais mortes entre os líderes e as forças de segurança, mais problemas financeiros, miséria, carências essenciais, fome, falta de medicamentos básicos, por exemplo, bastariam para trazer às ruas gente normal desvairada e encorajar as bestas que vivem entre nós.

Todas as catástrofes, quer queiramos, quer não, têm aspetos positivos. Isso, por si só, tem conteúdo para encher uma futura crónica. Por hoje, vou apenas sublinhar o evidente, que a presente crise traz protagonismo aos líderes. Pelos bons e maus motivos. Pelo lado dos maus, Trump e Bolsonaro são os mais sérios candidatos aos Óscares. Ambos são péssimos líderes, manifestamente impreparados e sem qualquer perfil para liderança de topo. Criaturas patéticas, caricaturais, quase cómicas, não fosse a perigosidade da sua gritante incompetência, guindadas ao poder por interesses privados, manobras políticas, corrupção material e pela ignorância das massas. Como já era previsível, ambos têm estado em foco. Com perfis algo diferentes, partilham, no entanto, uma profunda e perigosa ignorância. Que Trump tenta disfarçar com a habitual arrogância truculenta e o estafadíssimo número do bode expiatório. Já com Bolsonaro, a sua imbecilidade pacóvia está para além de qualquer disfarce (e de qualquer redenção). Basta atentar nas suas recentes afirmações: “Para quê fechar escolas se o perigo de morte é para pessoas acima dos 60 anos?!”. Então, uma consequência muito positiva da crise pode ser a provável perda de popularidade e fim de carreira política, para ambos. Pode ser por impeachment, perda de eleições ou morte em atentado. É-me rigorosamente indiferente. Da forma que for mais rápida e prática. Se bem que ao impeachment, que pode ser demorado, confuso e incerto, confesso que prefiro o clássico pichamento, com alcatrão e penas, tão popular precisamente no velho Oeste. popeye9700@yahoo.com

 

 

BAGA DEIXA DEUS NO COMANDO, PÔ! BB 104

Abril 14, 2020

Tarcísio Pacheco

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imagem em: https://www.cartoonmovement.com/cartoon/53628

BAGAS DE BELADONA (104)

HELIODORO TARCÍSIO

 BAGA DEIXA DEUS NO COMANDO, PÔ! – Na sua missão de cobertura da cena mundial, o Diário Insular enviou ao Brasil o seu repórter da Secção Internacional, para uma entrevista em exclusivo com uma das personalidades em destaque na atualidade, o presidente Jair Bolsonaro. Foi difícil escolher entre este e Donald Trump. O fator decisivo foi o uso da máscara. Segurança acima de tudo. Trump aconselha para os outros, mas não usa. Bolsonaro não aconselha para ninguém mas usa nos diretos por imposição tirânica dos media, embora revele grandes dificuldades na sua correta colocação. Queremos ainda agradecer a Marcelo Rebelo de Sousa que disponibilizou de imediato o Falcon da Força Aérea quando soube que queríamos “visitar o nosso irmão do outro lado do Atlântico” (sic) e estávamos com problemas logísticos. E mandou muito afeto.

Depois de um longo voo de mais de 10 horas, chegámos a Brasília, onde fomos recebidos pelo presidente no Palácio do Planalto. Apesar da nossa longa experiência profissional, estávamos cheios de expetativa, para entrevistar aquele que Michelle Bolsonaro, ex-secretária parlamentar, classifica como “um ser humano maravilhoso”.

DI: Boa tarde Senhor Presidente

JB: Boa tarde mêrmão! Que senhor que nada, Pô, você é um irmão pra mim e me fala, como vai Marcelinho lá por Lisboa, esse cara é demais, me dá aí esse abraço que ele com certeza enviou pra mim, Pô!

DI (com uma nota de pânico na voz): Não, não, desta vez ele mandou só um “Olá”, embora muito afetuoso; então, Presidente, como devo tratá-lo?

JB: Ok, Ok, tem certeza que essa sua máscara está bem colocada? Tá estranho isso aí. Excelência, Pô, basta perfeitamente, o resto você mesmo decide.

DI: Com certeza, Excelência Pô.

JB: Excelência Pô? Tá gozando com minha cara, Pô? Quer conhecer uns milicianos amigos de Eduardinho e Flavinho?

DI (com outra nota de pânico na voz): Peço humildemente perdão Excelsa Excelência, fico nervoso na sua presença, perante o seu carisma.

JB: Ah, tá bom então, gozado, Michelle me falou o mesmo, primeira vez que me viu lá na Câmara dos Deputados, Pô. Ok, vamos lá então desenvolver essa sua entrevista. Quer perguntar sobre o quê afinal, Pô? Com certeza quer saber o que tou fazendo por esse país maravilhoso, abençoado por Deus e bonito por natureza?

DI (com uma nota de insegurança na voz): Na verdade, Magnífica Excelência, eu ia centrar a nossa conversa na pandemia que está assolando o mundo e nas sábias medidas que, com toda a certeza, o Brasil está a tomar a esse respeito…

JB: Pô, coronavírus de novo? Essa droga virou obsessão! Com a ajuda de Deus tou fazendo tanto por este país, na moralização da nação, na extinção do PêTê, na promoção da ordem, na liberalização da economia, na guerra contra o socialismo, no progresso da Amazónia e essa mídia desgraçada só fica me falando dessa gripezinha mixuruca, Pô?! Se acha que vírus doi, experimenta tomar uma facada na barriga, Pô!

DI (com uma nota de tensão na voz): Perdão, Infalível Excelência, nesse caso, apenas um breve comentário sobre esse tema tão atual.

JB: Tá certo. Olha, Manuel, brasileiro tem coiro duro, está habituado com dengue e outros vírus a sério; não vai deixar de trabalhar só porque acordou tossicando, isso é do cigarro, que é bem mais perigoso; só viado mole é que fica em casa de dia dormindo porque vive dando a bunda de noite; o cidadão tem é que sair pra trabalhar, a economia não pode parar, Pô; todo o mundo vai morrer um dia, Pô. E velho é quem morre mais, certo? Não tem nada de novo nessa história.  Vou mandar fechar o A-Ver-O-Peso em Belém ou o shopping Aricanduva em Sampa? Trancar o Maracanã e acabar com o futebol? Fechar a praia? E praia tem porta? Esse mídia socialista e ímpia quer matar o povo brasileiro de fome ou de tédio, Pô? Ouçam quem sabe, meu amigo Donaldo já está na pista certa com aquele remédinho dele, da hidro não sei das quantas. Eu tenho um lado ecológico que é injustamente esquecido, deixa a natureza seguir seu curso, deixa Deus no comando, Pô!

DI (com uma nota de frustração na voz): Está certo, Magnificente Excelência. Quer aproveitar para dar conta ao mundo de algum projeto relevante do seu governo?

JB: Mas é claro, Manuel. Tamos aí promovendo o Brasil com a ajuda de nossos amigos americanos e israelitas, de nossos camaradas a nível interno, militares, policiais, milicianos, banqueiros, empresários, madeireiros, latifundiários e pastores de Deus, tem muita coisa acontecendo, mas sei que o mundo tá dando muita atenção a nossos projetos na promoção da Amazónia. Primeira coisa, Pô, é preciso o mundo perceber que a Amazónia é nossa, eu não fico dizendo a Portugal o que fazer com o Algarve ou a Marrocos, o que fazer com o Sahara. Certo, Pô? Então, aí tem muito interesse oculto da mídia esquerdista ao serviço do socialismo internacional, do lobby gay e do movimento anti-evangélico. Essa coisa de direitos do índio, cacique pintado, xamã, tem muito folclore nisso. Meu amigo Donaldo me explicou como eles lidaram com problema de índio lá nos States. É só fechar em reserva e dar cachaça bastante pra eles. Índio é tudo burro, mas, prós mais espertos, a gente vai ensinar nosso Hino pra eles, dar fuzil e uma farda. Verde, claro. Se tiver algum surdo, mudo, minha Michelle cuida.  Depois, a Amazónia fechada não aproveita pra ninguém, Pô, é só mato e bicho. Tem que construir estrada, aeroporto e levar turista gringo pra lá. Plantar soja e açaí, criar muito boi, pra alimentar todo o mundo. E fazer shopping, restaurante e casino porque ninguém aguenta ficar olhando onça e papagaio uma semana inteira. E a Amazónia tem muito recurso natural. Pra que Deus teria colocado lá tudo isso se não fosse pra gente usar? Por exemplo, tou por dentro desse negócio de energia limpa, sei que petróleo não é mais o combustível do futuro, mas quem sabe a gente não acha por lá uma jazida de hidrogênio? Eu e Donaldo vamos mudar o mundo, a diferença é que ele precisa comprar a Gronelândia e a Amazónia já é brasileira, Pô. Sacou, Manuel? Fica ligado, mêrmão.

DI (com uma nota de impotência na voz): Está certo, Proeminente Excelência, peço desculpa, mas parece-me que está na hora de regressar. Muito obrigado por esta elucidante entrevista.

JB: Vai em paz, Deus lhe acompanhe. Aquele abraço pra Marcelinho. Se tiver problema com seu avião me fala, eu ligo pro Malafaia e ele empresta o jatinho dele, vive me oferecendo, gente boa aquele cara e com muita visão empresarial, é gente assim que meu Brasil precisa. Pô! popeye9700@yahoo.com

 

 

BAGA LAMENTO, AC ACABOU, AGORA É AC-19 E DC-19 (BB 103)

Abril 02, 2020

Tarcísio Pacheco

 

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imagem em: https://nacoesunidas.org/tema/coronavirus/

BAGAS DE BELADONA (103)

 

HELIODORO TARCÍSIO

 

BAGA LAMENTO, AC ACABOU, AGORA É AC-19 E DC-19 - Como a maior parte de nós, estou mais ou menos fechado em casa. Não vou à tabacaria nem leio o jornal nos lugares onde o costumava ler. Nunca fui assinante e nunca tive acesso à edição eletrónica. Nunca sei se sou publicado no dia do amigo António Bulcão (já fizemos as pazes, há bastante tempo) ou no dia do Osvaldo Cabral. Ou no dia de outra pessoa qualquer. Ou quando há espaço disponível. Escrevo às cegas. Entretanto, as minhas sagradas rotinas desvaneceram-se. A instituição pública onde trabalho encerrou. Não sendo um trabalhador de uma área considerada essencial para a sobrevivência, faço alguma coisa em termos de trabalho, o que é possível fazer à distância. Cuido da minha família. Continuo a cumprir os meus deveres familiares de companheiro, filho e pai de quatro, um deles uma menina com apenas 9 anos. Providencio aquilo que nunca pode faltar, amor, suporte material, conforto e segurança. Mantenho-me informado, sem exagero e vou criando perspetiva e opinião sobre o que se está a passar no nosso país e no mundo.

Tenho assistido a um certo frenesim social, no sentido das pessoas que não estão a trabalhar se manterem ocupadas. Ele é jogos, adivinhas, músicas, piadas, sugestões de ocupações diversas, de leituras e brincadeiras, tudo no universo digital, bem entendido. E uma ou outra pessoa a tentar impor uma ideia que teve e que achou genial. Nota-se bem o que já antes era claro: as pessoas que vivem para trabalhar entram em stress e ficam à toa se as suas ocupações profissionais e o seu ambiente de trabalho lhes faltam. Não é o meu caso. Tenho respeito e interesse pelo trabalho que me dá o pão de cada dia e cumpro o meu dever. Mas sempre considerei que a melhor parte da minha vida é a que começa, por norma, às 17h30 e prossegue nos fins de semana. O tempo em que faço aquilo que realmente tenho vontade de fazer e em que estou com as pessoas que amo. Curiosamente, embora me preocupe, esteja bem atento ao que se passa e emocionalmente solidário com quem está a sofrer por esse mundo fora, não me sinto aborrecido nem entro em stress. Faço muito do que sempre fiz:  teletrabalho de segunda a sexta; interagir com a família que partilha a quarentena comigo; a atividade física possível, pequenas caminhadas  e as minhas próprias aulas de Zumba; um pouco de bilhar; leitura diária; escrever; cozinhar e outras tarefas domésticas; fazer puzzles; reparações e pinturas domésticas; alguma Netflix; tocar violão; formação em regime de e-learning que, por coincidência, já estava prevista antes. Tenho até, confesso, falta de tempo. Em resumo, para quem já tinha antes uma vida fora do trabalho, talvez a vida não fique assim tão pesada. Quanto aos workaholics, realmente, a vida pode ficar chata e difícil. Acho que esta crise será uma oportunidade para todos aprendermos alguma coisa.

Bom, todos não.  Há quem não tenha nascido para aprender. Líderes medíocres como Trump e Bolsonaro mostram mais do que nunca o pouco que são, como é normal em tempos de crise. Os bons mostram-se, os estúpidos também. Estes irão ser responsabilizados pelas hecatombes que podem ocorrer nos seus países e, a esse respeito, infelizmente, como qualquer asno pode ver, ainda a procissão vai no adro.

Outra coisa que tenho observado: dantes, o nosso país estava ainda atrasadíssimo no que respeita a modernices laborais. Teletrabalho ou a sua precursora, a flexibilidade de horário, não despertavam qualquer interesse na maioria dos nossos líderes, muito menos na Função Pública. Abundavam as chefias do tipo “galinha”, que adoram ter os seus funcionários sempre debaixo da asa ou à vista, dentro do galinheiro, o que diz bem da incapacidade para conceber e gerir diferentes mecanismos de prestação de trabalho e implementar uma avaliação correta, justa e eficaz. A flexibilidade de horário era e é patética e anedótica, com o sistema a permitir apenas às pessoas chegarem ou partirem 15 ou 30 minutos mais cedo ou mais tarde, aqui e ali.

Agora, forçados pela situação, vemos por todo o lado gente a mostrar-se como crentes devotos do teletrabalho. Agora já vale.  Por isso, falando em crenças, acredito piamente que a vida vai mudar bastante, quer se queira quer não. De formas que muitos de nós nem imaginam. Para os que sobreviverem.  Pelo meu lado, vou continuar atento e a cumprir a minha quarentena o melhor que posso. E a escrevinhar uma vez por semana, em princípio. A crise pode prejudicar-me bastante, como cronista. O meu público não é jovem. E eu também não. popeye9700@yahoo.com

 

 

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Fazer olhinhos

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