BB (88) BAGA GRETA É FIXE!
Novembro 26, 2019
Tarcísio Pacheco
BAGAS DE BELADONA (88)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA GRETA É FIXE – Ando excitadíssimo! Greta Thunberg, uma das minhas heroínas no presente, vai passar perto de mim, provavelmente apenas a dezenas de milhas náuticas, a caminho de Lisboa e do parlamento português. Usando o meio de transporte amigo do ambiente que eu usaria sempre, se pudesse, um barco à vela. As últimas notícias dão conta de que teve de atrasar a sua marcha pelo Atlântico Norte devido à ameaça de uma perniciosa tempestade radical de extrema direita, um autêntico Chega de bom tempo. É pena que não pare na Terceira, embora já tenhamos por cá uma personalidade chamada Greta. Não sei se haveria na ilha espaço para duas Gretas famosas. Além disso, sendo Greta uma ambientalista ativa, ela já deve ter ouvido falar da ilha no meio do Atlântico Norte que foi envenenada pelos norte-americanos. Ela é jovem, mas não é nada tola. Sabe que isto aqui é perigoso. É melhor passar ao largo. Coitados dos que cá vivem, pensará ela. Obrigado, querida Greta.
A minha paixão (casta, platónica e toda inteletual) por Greta, praticamente nasceu no dia em que ouvi falar dela. As adolescentes típicas da atualidade, são moças profundamente apaixonadas pelo seu reflexo no espelho, consumidoras compulsivas de telemóveis de última geração e de toda uma série de gadgets eletrónicos, que vivem nas suas cavernas privadas lá em casa, de onde saem de vez em quando, para ir à escola, à explicação, aos treinos de qualquer coisa, às compras e a festas e de onde comunicam com as mães, frequentemente por SMS, para pedir dinheiro, boleia e cenas diversas. Quando são inteligentes, o que acontece ocasionalmente, até entendem que o mundo pode acabar um dia destes. Mas talvez não acabe antes das próximas férias do Verão e, por outro lado, que podem fazer elas quanto a isso? Greta, com 16 anos de idade, preocupa-se com o ambiente, com o futuro da raça humana, anda em viagem ecológica pelo planeta, a chatear políticos sisudos com o tempo muito ocupado e, pecado capital, tem faltado à escola. Insiste em frequentar parlamentos e assembleias cheias de pessoas adultas, sábias e com coisas muito importantes para tratar. Não liga nenhuma aos “mercados”, não respeita os investidores, os uniformes são-lhe indiferentes e não se interessa por vistos dourados. Nitidamente, Greta tem uma forte autoestima e mija fora do penico. Isso deixa muita gente a babar-se de raiva ou inveja.
A minha paixão por Greta atingiu os píncaros quando vi a famosa fotografia em que ela lança aquela olhar enviesado e altamente tóxico a Trump. É um olhar carregado de desprezo, de absoluta superioridade, consciente e natural. É assim que olhamos para uma formiga, que um alienígena evoluído de Sirius olha para um humano, que Deus, se existir, olha para uma testemunha de Jeová. Feio, burro, gordo e mau, terá pensado Greta, não sem umas gotas de piedosa comiseração. Foi aí que me apaixonei, eu, que tenho com frequência sonhos belíssimos e muito divertidos em que traço a perna a Trump, pontapeio-lhe o traseiro gordo, meto-lhe sal fino na lata de Coca-cola light, atiro-lhe com ovos de avestruz podres e o vejo a pisar cocó de cão ou a levar com uma bola de golfe nas partes que o fazem gostar de apalpar. Sim, também passo por aquela fase de desapontamento, ao acordar e perceber que foi tudo um sonho.
Tem sido divertido ler nas redes sociais em português sobre a visita de Greta. O jovem empreendedor, tecnológico, crente da religião start-up, que acha a Web Summit infinitamente mais estimulante que a Feira de Sexo de Barcelona, não suporta quem não entende a absoluta necessidade de ser competitivo no mundo de hoje. O turista do resort, o passageiro da escapadinha de fim de semana ou o viajante frequente, não entendem quem não aprecia comer amendoins a 10 km de altitude e a 900 km/h e não recebe no telemóvel alertas sobre as promoções irresistíveis da Ryanair. Os bem-comportados não lhe perdoam a gazeta às aulas. Os bem-educados não lhe perdoam a irreverência e o desprezo pelo socialmente correto.
As pessoas, em geral, não são insensíveis nem estúpidas. Claro que não. Quase toda a gente acha que o direito à greve é sagrado, desde que não incomode ninguém e não atrapalhe a sociedade. As pessoas até não são más. Claro que não. A maioria das pessoas até é sensível às questões ambientais e comove-se até às lágrimas com os golfinhos presos em redes de pesca. Muitos até já reciclam o lixo em contentores de um bonito amarelo sintético. A culpa até nem é das pessoas. O problema é que é praticamente impossível viver sem plástico, aviões, fast-food, toalhitas higiénicas, fruta fora de época e algum tipo de emprego. O povo Viking nunca há de ser grande outra vez e é bem feito. Greta deve ser meio doida. Aliás, dizem que é. popeye9700@yahoo.com