BAGA ANGRA SOUND BAY (84)
Outubro 29, 2019
Tarcísio Pacheco
imagem em: https://angradoheroismo.pt/event/concurso-angra-sound-bay-2019-1a-audicao/
BAGAS DE BELADONA (84)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA ANGRA SOUND BAY – Por razões pessoais, mas também por ser um amante de música em geral, este ano, pela primeira vez, participei mais de perto, como espectador, no Angra Sound Bay, o concurso sucessor do velhinho Angra Rock. Por isso, estava no Havana, no Porto das Pipas, no passado dia 25 de outubro. No momento em que escrevo, ainda se ignora o desfecho do concurso. Não irei, por isso e de momento, tecer quaisquer considerações sobre os projetos concorrentes.
O Angra Sound Bay 2019, na sequência do ano anterior, anunciou inovações importantes, nomeadamente a realização de uma 1.ª audição no Continente (FNAC/Alfragide) em que se apresentaram três projetos, um deles com uma vocalista terceirense. No dia 25 realizou-se a 2.ª audição, com os restantes sete projetos.
Fui acompanhando o Angra Rock ao longo dos anos e cheguei a escrever sobre o concurso, numa fase de nítido declínio, quando se realizava no palco do Bailhão e estava às moscas. Na época, impressionava-me bastante que uma ilha que se orgulha de gostar de folia, que delira com qualquer pimba que venha por aí abaixo e que se amontoa para ver o Ivo Silva e “bailarinas”, encarasse com tanto desinteresse e desprezo, música original dos seus conterrâneos. Percebi que folia, música e boa música são coisas bem diferentes e por vezes até antagónicas. Também não ajudava muito que “música original” na Terceira significasse sobretudo rock, especificamente metal e gótico. Compreende-se que o próprio nome e ideia original fossem condicionantes. Na verdade, as coisas não mudaram assim tanto porque mentalidades mudam devagar, é preciso esperar que as gerações sejam educadas, processo lento e complexo. Assisti às duas últimas finais, na Praça Velha e estava sempre bem fraquinho de público, talvez também por ser já depois do Verão e ao ar livre. Contudo, no Havana, no dia 25, tivemos uma noite de música ao vivo diferente e muito agradável, bem composta ao nível do público embora seja forçoso reconhecer que o espaço é pequeno e que só os músicos, acompanhantes, familiares e amigos, enchiam o recinto; mais tarde foi chegando a fauna habitual do Havana ao fim de semana e depois ainda, o rebanho de caloiros da UA, para os rituais da praxe.
Hoje vim ao terreiro sobretudo para congratular-me pela sobrevivência do concurso, para felicitar, nesse sentido, a AJITER (Associação Juvenil da Ilha Terceira) e a CMAH, entidades responsáveis pelo evento, pela capacidade e vontade de o manterem vivo e por procurarem melhoria e inovação num concurso que, sinceramente, há muito tempo precisava de estrutura e produção. Saúdo o Havana e a FNAC, pela disponibilidade e parceria. E para dizer publicamente que gostei muito daquela noite, independentemente da minha avaliação sobre cada projeto.
Nesta fase, tenho apenas uma crítica a fazer. Considerar o voto do público parece-me uma ideia justa e correta. Já não posso dizer o mesmo da forma como se recolhe este voto, que é distribuir papelinhos pelo público presente nas audições, com um código irrepetível e um link para uma página de votação. Percebe-se qual é a ideia. É, de alguma forma, fazer refletir a presença, o entusiamo e a preferência do público no desfecho final do concurso e levar mais gente às audições. Contudo, a estratégia dos papelinhos parece-me medíocre, falível, enganadora, prestando-se a manhas e manipulações. Desconheço a identidade e os critérios do júri, mas acredito que a seleção dos três projetos finalistas tenha por base critérios de qualidade, no que realmente é relevante: tema original, composição musical, letra (poema), execução, nível e desempenho de cada músico ou intérprete. Ouvi dizer que, recentemente, o Ivo Silva encheu a Praça Velha. Se ele tivesse concorrido ao Angra Sound Bay (afinal a “música” dele é…original), com a sua pseudo-música, talvez tivesse levado os seus admiradores e a freguesia do Raminho em peso à audição. Talvez tivesse recebido muitos papelinhos e muitos votos do público. Isso teria alguma coisa a ver com a qualidade musical do projeto? Quanto mais gente eu levar comigo a uma audição “melhor” é a minha música? Popularidade significa forçosamente qualidade? Se é para manter o voto do público (questão sempre discutível), devem reformular o processo. Pessoalmente, penso que é de manter o voto do público mas talvez não a 50%.
Em minha opinião, embora este concurso interesse mais aos Terceirenses, qualquer pessoa em Portugal deve poder votar independentemente de ir às audições ou não. A composição do júri deve ser claramente divulgada. E a organização deve publicar os vídeos na Internet, em página própria e delimitar um prazo para as pessoas poderem votar, de forma irrepetível, claro, usando os recursos tecnológicos disponíveis.
Quando esta crónica for publicada, a decisão do júri poderá ser já conhecida. Tenho as minhas preferências pessoais, obviamente, mas desejo boa sorte a todos e que ganhem aqueles que o mereçam, já que é um concurso. Já ficámos todos a ganhar, este ano, por termos tido dez projetos de música original a concorrer. Que venha mais música, sempre. popeye9700@yahoo.com