BAGA AUTONOMIA 1
Janeiro 29, 2019
Tarcísio Pacheco
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BAGAS DE BELADONA (67)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA AUTONOMIA 1 – Este é um tema forte em debate no momento presente. Duma forma geral concordo com o que tem sido publicado por outras pessoas, nomeadamente os que são críticos acérrimos da atual situação, conhecendo alguns o sistema por dentro. A mais que provável irrelevância do meu discurso tem sobretudo a ver com a sua base utópica. Há muito tempo que defendo um sistema diferente da democracia partidária. Ou seja, diferente de um sistema de governo em que as estruturas de poder assentam totalmente nos partidos políticos. Eles controlam tudo, desde a presidência da República ao parlamento, desde a Procuradoria-Geral da República até à junta de freguesia e ainda metem a colher no Tribunal Constitucional. Sobretudo, abomino as ideias de que “sem partidos políticos não há democracia” e “não há alternativas democráticas”. Hoje em dia, pelo mundo fora, o cidadão comum é intoxicado com a ideia de que ou é partidos políticos ou é ditadura. A dupla Passos Coelho/Paulo Portas só me ensinou duas coisas: que aquilo é gente a evitar a todo o custo e que há sempre alternativas. Raramente cito outras pessoas, mas desta vez vou citar um pensador e crítico do sistema que admiro, Paulo Morais, ex-candidato à Presidência da República que haveria de ser ganha, inevitavelmente, pelo omnipresente Avô Beijinhos, irmão de Jair Bolsonaro (foi o Vovô quem o disse...) É para não se pensar que isto é só fruto de uma mente fantasista. Com sua licença, escreveu Paulo Morais, a 17 de janeiro: “Criados para representar as diferentes visões da sociedade, ao serviço do eleitorado, os partidos políticos estão em fase acelerada de degenerescência. São habitados por elites políticas que esqueceram os cidadãos e tudo fazem agora para manter os privilégios de que se foram apropriando. São os principais responsáveis pela abstenção, pelo desinteresse crónico pela política e pela crise da democracia. O principal objetivo dos maiores partidos portugueses é, na verdade, manterem-se na esfera do poder, partilhar negócios de Estado com os grupos económicos de que são instrumento e garantir emprego aos muitos milhares de apaniguados, os militantes partidários e seus familiares.”
Depois do 25 de Abril, a criação do estatuto autonómico açoriano era justa, inevitável e foi extremamente benéfica para nós. A legalização dos partidos políticos, proibidos por todos os ditadores, também tinha de acontecer. Agora, quase 45 anos depois, a estagnação e a podridão são perfeitamente evidentes. O sistema está em estado de decomposição cadavérica e a sua fundamentação teórica foi completamente subvertida. O sistema é parlamentar na teoria, mas está absolutamente governamentalizado. Os deputados só representam os interesses dos seus partidos, ao invés de representarem os interesses dos seus eleitores e das suas regiões. Não vale a pena repetir o que outros têm dito, melhor do que eu alguma vez diria. Na verdade, sem meias palavras, o sistema atual é uma intrujice. A questão é que a maioria dos comentadores continua a sonhar com um futuro diferente, mas com os mesmos protagonistas, só mudariam, talvez, as cores do poder. Rio-me todos os dias da kafkiana oposição açoriana (eu já li Kafka, isto não é os comentadores de futebol e os seus aforismos latinos…), porque, além da falta de liderança carismática, até agora, fariam exatamente o mesmo uma vez no poder, como já fizeram antes, só as caras mudariam e nalguns casos nem isso porque existem muitos camaleões políticos, criaturas que permanecem secas por muito que chova, todos nós conhecemos alguns. Ora, esperar que a mesma experiência, repetida mil vezes, com as mesmas condições e pressupostos dê um dia um resultado diferente, é muito pouco científico e bastante irracional. E depois, como diria Filipão, o utópico sou eu… (continua) POPEYE9700@YAHOO.COM