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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Baga VIVOS MAS SAUDÁVEIS

Junho 01, 2018

Tarcísio Pacheco

aruna_dying_dignity_750.jpg

 imagem em: https://www.thenewsminute.com/article/sc-upholds-right-die-dignity-living-will-passive-euthanasia-allowed-77684

 

BAGAS DE BELADONA (51)

 

 

 

HELIODORO TARCÍSIO

 

                  

BAGA VIVOS MAS SAUDÁVEIS – No mesmo dia em que escrevi sobre a eutanásia, foram publicados no DI dois artigos sobre esse tema. Assinados por António Ventura e por Luís Cabral, ambos no sentido do não, embora com razões diferentes. Até aqui nada de surpreendente, não espero muitos artigos no DI a defender a eutanásia.

O que Ventura escreveu é o que esperava dele e desacordo totalmente “comme d’habitude”. Nunca vi Ventura queixar-se do poder (total) atribuído aos partidos políticos no modelo actual. Quem se enoja com isso costumo ser eu e uns poucos. Agora, Ventura não se sente mandatado para votar em matérias que “podem alterar o modelo social vigente”. Pergunto eu, se os partidos, que têm o poder total em Portugal, não servem para mudar a sociedade, servem para quê então? Para “manter o modelo social vigente”? Percebo que seja conveniente… Prosseguindo, a estratégia de Ventura é simplória e daí bastante previsível; tendo em conta a sempre invocada “matriz cristã” da sociedade portuguesa e a ignorância de boa parte do eleitorado, convinha-lhe aglutinar os Portugueses à volta deste tema, na esperança de colocar o PC, o BE e os Verdes do lados dos “maus”, de deixar o PS dividido nos maus lençóis do costume, tentando agradar a gregos e a troianos e de transformar o PSD e o CDS-PP nos campeões dos “bons”. Não sei o que Ventura tem contra “a arquitectura política” da Assembleia da República; uma porque é absolutamente constitucional e outra porque em ocasiões diferentes serviu muito bem os interesses do seu partido. A actual composição do nosso parlamento reflecte a sociedade portuguesa do momento e ponto final, doa a quem doer. O PSD contava, como sempre, com a tradicional desunião da esquerda portuguesa. Contava que a esquerda não alinhasse com a “extrema-esquerda” (sic) e, entretanto, eles alinhariam com a “extrema-direita” (por analogia), como de costume. A coisa saiu-lhes diferente desta vez e não conseguem viver com isso. A solução para isso poderá ser a eutanásia, política, claro. Passos Coelho revelou forte tendência nesse sentido e Rui Rio promete. Ventura também diz que os seus princípios religiosos o levam a decidir “sempre pela dignidade da vida”. Ora, se estamos a falar exactamente de vidas sem dignidade, a questão parece-me um poucochinho autofágica e resolvida à partida, não? Aliás, as perspectivas de Ventura lembram-me muito aquela imagem do cão a correr em círculo, que acaba por morder a própria cauda. Alega Ventura que a legalização da eutanásia travaria o desenvolvimento dos cuidados paliativos e da investigação científica. Ora, estas áreas geram rios de dinheiro e o capitalismo adora-as. O envelhecimento nos países mais evoluídos gera cada vez mais necessidade de cuidados paliativos e a investigação científica não cessa de produzir novos equipamentos, técnicas e medicamentos, para alimentar a indústria farmacêutica. E, com excepção dos suicidas puros, quem não irá preferir viver mais tempo desde que com razoável saúde? Essa natural pretensão alimentará eternamente o sistema. Sem contar que o capitalismo irá também investir na eutanásia, é uma questão de tempo e compensará num lado eventuais perdas noutro. Não nos iludamos, ninguém morrerá de graça, será sempre tudo uma questão de dinheiro e deixar de ser assim é que constituiria uma grande mudança civilizacional. A saúde é um grande negócio, porque é que a morte não haveria de o ser também? Aliás, não o é já? Veja-se a competição entre funerárias… Por outro lado, dizer que na Holanda morre uma pessoa a cada 1h30 por eutanásia é uma afirmação perfeitamente gratuita, populista e vazia; essas pessoas iriam todas morrer em pouco tempo, após grande sofrimento, simplesmente escolheram partir mais cedo e sem sofrimento; não há nenhuma “matança”, a morte humana natural acontece aos milhares no planeta, todos os dias. Outras afirmações de Ventura, como o da “rampa deslizante” carecem de comprovação efectiva. E algumas, como a da “vontade autêntica” também não fazem sentido; todos os países que legalizaram a eutanásia até agora (Holanda, Suíça, Bélgica, Luxemburgo, Colômbia, Canadá e alguns estados dos EUA) prevêem formas exaustivas de garantir a “verdadeira, livre e inequívoca” vontade do paciente. E se há casos sem consentimento, bom, então são casos de polícia, não?

Contestar Ventura é fácil mas ocupa tempo e espaço. Parece paradoxal mal referir o texto de Luís Cabral, melhor escrito e mais inteligente que o de Ventura. Só que a tese de Cabral acaba por se resumir a pouco: debater muito a eutanásia (no que estamos de acordo) sim senhor mas só depois de Portugal se ter transformado num país perfeito. Faz sentido, claro, mas como, se isso suceder algum dia, será no tempo em que os meus tataranetos vão de férias para a Proxima Centauri, vou passar ao lado da questão e escusar-me de comentar. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

 

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