A GERINGONÇA DO ARNALDO
Setembro 14, 2017
Tarcísio Pacheco
BAGAS DE BELADONA (35)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA A GERINGONÇA do ARNALDO – Arnaldo Ourique (AO), articulista habitual do DI merece-me todo o respeito e consideração. Todavia, discordo em absoluto da análise que publicou no DI do passado dia 08Set. sobre a geringonça e o seu modelo. Aliás, este artigo fugiu ao carácter habitual dos seus artigos, marcadamente técnico e jurídico, para se revestir de um cunho acentuadamente político e ideológico.
O cerne da teoria de AO é que o modelo da geringonça serviu e serve para manter o PS no poder e para contentar o PCP e o BE com algumas medidas avulsas que constam dos respectivos programas eleitorais. Não posso discordar mais. Claramente, a aliança parlamentar entre estes três partidos teve como grande objectivo afastar do poder a coligação PAF, que tinha destruído o país nos 4 anos anteriores e se preparava para mais do mesmo, alicerçada num universo eleitoral inculto e ignorante e num sistema político podre que sobrevive à custa da corrupção, do clientelismo, do alheamento geral e da abstenção. Tendo em conta o desastre que foi para o povo português o exercício pérfido de Passos e Portas, este era mesmo um desígnio nacional. Até mereciam uma medalha.
Mas, mesmo que se queira pensar deste modo, tão fácil, imediatista e tendencioso, neste contexto, não haverá grande diferença entre a coligação PAF e a aliança da esquerda. A PAF nasceu para colocar o PSD no poder (nunca chegaria lá sozinho) e para permitir ao PP atingir objectivos próprios e colocar os seus impacientes boys.
Estranho que um jurista confunda a Constituição com “ a prática constitucional” e defenda o imobilismo de um sistema porque “foi assim nos últimos 40 anos”. Se a aliança da esquerda portuguesa fosse inconstitucional, nunca teria visto a luz do dia. Pois se até o Prof. Bílis lhe conferiu posse, mesmo que com uma careta ainda mais feia do que o costume e com claros tiques biliosos na face…E Marcelo de Sousa não está a fazer mais do que cumprir o seu papel que é o de respeitar e fazer respeitar a Constituição Portuguesa. Ainda nos recordamos todos de quem é que achava a Constituição um empecilho e tentou atropelá-la por diversas vezes, com a ajuda do Dr. Mole Pastoso e da mais reles chantagem. A esquerda foi sempre maioritária em Portugal e se nunca se aliou antes, foi devido à sua estúpida e persistente desunião e incapacidade para encontrar pontos e estratégias comuns. Bom, isso acabou, pelo menos por 4 anos, doa a quem doer. A mim parece-me que a estratégia de “vamos correr com a corja neoliberal e depois vamos tentar dar-nos o melhor possível e logo se vê” é óptima. Aliás, até porque não havia outra…
Espremendo um bocado o discurso de AO, quer dizer, o PCP e BE têm ideias “estruturalmente interessantes” mas que não interessam para nada na prática porque, como estamos inseridos na CE, temos é de alinhar todos pelo diapasão da praga neoliberal e capitalista que varre a Europa e o pobre mundo. E, claro, para isso, o PSD e o PP servem muito melhor. Pois eu acho ao contrário, são as vozes diferentes e que ainda resistem que vão permitindo que se mantenha esta CE estapafúrdia (ela própria uma óptima geringonça) onde já há um pouco de tudo, um desistente importante (Reino Unido), uma extrema-direita a crescer (França), vencidos que se podem acorrentar para mostrar no Coliseu (os Gregos) e até um regime neofascista (Hungria).
Acho que Portugal, hoje, é um exemplo, de como um país pequeno, periférico e dependente, pode sobreviver no lago dos tubarões, sem deixar de pagar tributo aos donos do dinheiro e do mundo e sem sacrificar a sua população. É um difícil equilíbrio mas a geringonça tem-no conseguido. Essencialmente, basta não ter posições estúpidas e hipócritas como “não há alternativas” e “temos de empobrecer”. Aliás, chamem-me burro mas custa-me a entender como é que quem empobrece paga as suas dívidas. Com o corpo?
Não sei se já terá ocorrido a AO que, se calhar, se as previsões de que o actual governo cairia em pouco tempo falharam redondamente, foi porque, no fim de contas, talvez ele não seja assim tão “torto e ilógico”? As razões aduzidas por AO fizeram-me rir…Diz AO que o governo tem tido “resultados favoráveis” porque é protegido pelo PR, porque a crise acabou e qualquer um brilharia, saindo do fundo do fosso e ainda porque (e esta é a melhor de todas) recolhe “os bons frutos” do governo anterior… Os “bons frutos” do governo anterior resumem-se a terra queimada, crescimento NEGATIVO, cortes de salários e pensões, falências em série, diminuição brutal do poder de compra, suicídios por todo o país e emigração maciça. Realmente, depois disto, até um governo da Porta dos Fundos brilharia. E se a crise acabou (terá acabado?) por que raio é que isso havia de ser um factor negativo para o actual governo?! E alguém está a ver um Marcelo de Sousa, velho compincha de Cavaco, Relvas e Passos, a beneficiar propositadamente uma aliança de esquerda? Acontece que ele é apenas muito mais inteligente do que o Prof. Bílis, disfarça melhor e tem aquele perfil de Avô Cantigas. E quer permanecer no seu trono dourado…
E aquela da “seriedade política” de Passos Coelho é digna de um sketch do Gato Fedorento…Estamos a falar do homem que, através de um golpe parlamentar, permitido pelo Constituição, fez cair o governo e abriu as portas à Troika, com o objectivo quase único, de tomar o poder. Por isso, não me façam rir…
Amigo Arnaldo, a minha discordância é apenas no campo das ideias. De resto, sou um crítico severo do nosso podre sistema político-partidário. POPEYE9700@YAHOO.COM