BAGAS DE BELADONA (16)
Maio 31, 2016
Tarcísio Pacheco
BAGAS DE BELADONA (16)
HELIODORO TARCÍSIO
BAGA PENSADORA - Nada como uma noite bem dormida e um dia de mau tempo lá fora, para aclarar as ideias. Lamento mas não vou escrever sobre a base das Lajes e a economia da ilha Terceira. Sobretudo, porque esses assuntos estão profundamente inquinados, desde o início. Procuremos as culpas a montante e em nós mesmos, nas nossas escolhas e nas de quem permitimos que escolha por nós.
A vida, tal como a vejo, desenvolve-se em volta de alguns eixos fundamentais: ética; compaixão; amor; conhecimento; prazer; partilha. Cada um deles é um composto complexo de ideias, crenças, atitudes e práticas cuja designação é significativa e simbólica. Contudo, a ordem pela qual os apresento, não é casual. No seu todo, constituem uma teoria, há um encandeamento lógico e precedências.
Ética: nada tem valor se não tiver na sua base um código ético; não necessariamente ligado a uma religião qualquer; estas não têm, de modo algum, o exclusivo da ética, até porque a ética meramente religiosa, está sempre associada a dogmas, doutrinas e, frequentemente, preconceitos; e não tem de ser assim, há um código ético universal que todos podem aprender e seguir de acordo com o seu caráter e educação, segundo o seu livre arbítrio; todos podem entender que não se deve matar seres humanos, maltratar os animais, mentir, roubar e cobiçar, entre outros preceitos.
Compaixão: este é um valor superior, quiçá o supremo, o que mais distingue o ser humano dos animais; estes agem por instinto, embora sem crueldade (um traço só humano), para satisfazer as suas necessidades básicas; no nosso planeta, apenas o ser humano é capaz de sentir e demonstrar compaixão; esta virtude contém outros conceitos e atitudes importantes, como a empatia, a tolerância, o respeito (o profundo, ético, não a mera formalidade social), o perdão e a bondade.
Amor: nascemos para amar e ser amados; mas não me refiro apenas ao amor romântico mas sim ao amor universal, que envolve dádiva, entrega, respeito, devoção, por tudo e por todos, pelos outros seres humanos, pelos animais, pela natureza, pela liberdade, pela felicidade alheia; só o amor deveria ser sagrado.
Conhecimento: devemos ter amor ao conhecimento, aquele que nos ilumina e liberta, apenas pelo amor ao próprio conhecimento, do princípio ao fim da vida, o que nos torna mais cultos, mais sábios e, sobretudo, mais conscientes e responsáveis; o que nos torna melhores ; não é o conhecimento para quaisquer outros fins, nomeadamente, poder, influência, aquisição de riqueza e bens materiais e estatuto social , que alimentam a vaidade e a ambição.
Prazer: nascemos para ser felizes, obviamente, dentro dos pressupostos anteriormente expressos; não falo do prazer perverso, egoísta, egocêntrico e solitário; toda a gente deve ter oportunidade de ser feliz, usufruindo dos prazeres simples que provêm das virtudes superiores e se expressam através do amor e da amizade, do sexo (livre, generoso e não comercial), da comunicação, do usufruto da natureza, do conhecimento e das artes, por exemplo; por isso é que vida humana não pode assentar no mero exercício da sobrevivência, que é o que nos quer impor a sociedade neo-liberal, dominante no mundo atual.
Partilha: finalmente, nascemos para partilhar; até alguns animais o fazem; partilhar espaço, recursos naturais e materiais, técnicas, capacidades individuais, talentos e dons pessoais; isto tem a ver com bondade, generosidade, abertura de espírito, doação e é o oposto do individualismo e do egoísmo.
Se a Humanidade pautasse a sua conduta por estes eixos, a vida no nosso planeta seria bem mais feliz. Mas, como acontece exatamente o contrário, o nosso mundo é um caos de maldade, ódio, destruição, ganância, fanatismo, individualismo, oportunismo, preconceito e manipulação. Mesmo assim, consigo ver alguma evolução na Humanidade, no seu todo. Vamos ver onde isto vai parar. Estou pessimista mas atento.
Não faço quadras, como o poeta António Aleixo, por isso, são ideias o que vos deixo. Podem não valer muito. Mas hão-de valer qualquer coisinha. Um abraço.
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