COM PAPAS E BOLOS...
Maio 15, 2015
Tarcísio Pacheco
imagem em: http://www.ronaud.com/sociedade/futebol-como-instrumento-de-alienacao/
COM PAPAS E BOLOS…
HELIODORO TARCÍSIO
Há um filme de 2002, com o título “ A ILHA” com Ewan MacGregor e Scarlett Johansson. A história é muito cativante e a trama apaixona. Mas foi sobretudo o conteúdo simbólico e metafórico da história que me seduziu.
O palco da história é uma comunidade utópica e futurista, onde as pessoas nascem e vivem, em cárcere confortável mas rigoroso, só de lá saindo numa circunstância. O local é um imenso complexo subterrâneo, auto-suficiente e aos residentes, de ambos os sexos, é dito que o planeta sofreu um holocausto nuclear e se tornou inabitável e mortal à superfície. Com excepção de uma pequena ilha, isolada, paradisíaca, aonde qualquer um deles pode ir parar, mais cedo ou mais tarde. O método usado é o do sorteio regular, tipo lotaria. O vencedor de cada edição é imediatamente conduzido à ilha. Os residentes são diariamente bombardeados com filmes maravilhosos sobre a dita ilha e visões da paisagem desolada e contaminada da superfície do planeta. A comunidade está submetida a regras rígidas, o amor e o sexo são rigorosamente proibidos, assim como qualquer tipo de ligação regular. Um exército de funcionários, incluindo seguranças armados, assegura a disciplina e a obediência.
A verdade é-nos revelada pouco a pouco e é sinistra. O holocausto nuclear é treta. O complexo é, na verdade, uma empresa privada que fabrica clones humanos. O mundo lá fora faz a sua vida normal e os clientes são quaisquer pessoas ricas que possam pagar pelo seu clone. Os clones residentes servem fundamentalmente para fornecer órgãos aos seus proprietários. Quando um residente é seleccionado para a ilha, desaparece do complexo porque na verdade é morto em segredo para que algum órgão vital seja utilizado. Claro que tudo acaba bem, as personagens principais fogem e no fim todos os clones são libertados e o complexo é destruído.
Este filme veio-me à memória, recentemente, ao fazer zapping na TV e passar por um daqueles programas idiotas em que é oferecida a possibilidade de gordos prémios “em cartão” a quem ligar. Não somos clones mas somos autómatos. A maioria das pessoas vive uma vida estúpida, estéril, repetitiva, monótona, ignorante e inconsciente. A maioria das pessoas é controlada e manipulada, graças a um sistema educativo propositadamente medíocre, selectivo, castrador e à propaganda e desinformação com origem no poder político e veiculada por alguns media. Na verdade, vivemos uma falsa liberdade, que é condicionada de muitas maneiras. O mundo é dominado por um escasso número de pessoas, cuja única religião é a do dinheiro, do lucro, do poder, a qualquer custo.
O paradigma deste processo de escravização através da manipulação e do alheamento das pessoas é a sociedade norte-americana. Quando os fanáticos islâmicos pintam os EUA como o Grande Satã, ali começa e se esgota a sua razão, já que eles também são demónios, de menor calibre.
Este novo mundo, onde tudo se paga, até a vida mas de forma que não se perceba, um mundo de prémios chorudos na televisão, de lotarias, totolotos e totobolas, de automóveis topo de gama, pagos pelos nossos impostos, oferecidos mensalmente a quem pagar os seus impostos, de maravilhas e benefícios totalmente disponibilizados por empresas privadas que, obviamente, só querem o nosso bem, é o mundo para onde pretende arrastar-nos o malicioso neo-liberalismo luso-germano e pan-europeu. Com papas e bolos se enganam os tolos. Se você leu isto até ao fim, há boas possibilidades de não ser um autómato. Parabéns.
POPEYE9700@yahoo.com