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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

XÔ SATANÁS

Setembro 11, 2014

Tarcísio Pacheco

 

XÔ SATANÁS!

 

 

 

 

HELIODORO TARCÍSIO

 

Consegui encontrar qualquer coisa que me liga a Mário Cabral (MC), o nosso “filósofo” cristão. Quem diria…Ele expressou muita pena em relação ao evento de dança do ventre recentemente levado a cabo no Museu de Angra do Heroísmo (MAH). Eu também senti muita pena e nisto começa e termina a nossa identificação. Eu também senti muita pena… por não ter podido estar presente. Esse evento reunia coisas de que gosto muito: música, dança, mulheres, umbigos e o MAH. Outra coisa que me possa ligar a MC, só se for por partilharmos o género masculino. Mas, no meu caso, nota-se bastante, no dele, nem por isso. Adiante, este não é o problema.

Há nesta vida coisas que me irritam, por exemplo, falta de inteligência, ignorância, tacanhez, intolerância, espírito fechado, fanatismos, ortodoxias e radicalismos de qualquer espécie. De tudo isto, MC é um excelso representante. Não é a primeira vez que critico as suas posições públicas. E não será, porventura, a última.

O MAH tem brilhado bastante nos últimos tempos e adquirido notória visibilidade pública. Isso deve-se à qualidade e dedicação dos seus funcionários. Mas, para sermos justos, temos de reconhecer que o presente mediatismo se deve sobretudo à abertura de espírito e qualidades de gestão do atual diretor, Dr. Jorge Bruno. E à presença nos seus quadros de uma professora “emprestada” de quem podemos dizer, simplesmente, que ninguém admite que se vá embora, a não ser por reforma ou idade. Trata-se da Dr.ª Ana Lúcia Almeida, responsável pelo Serviço Educativo do MAH, que é também quem organiza a maior parte dos eventos públicos. É uma pessoa inteligente, dinâmica, extremamente criativa, de espírito muito aberto, simpática e tolerante. Graças a ela, ao seu entusiasmo e dedicação, o MAH, nos últimos anos, tem desenvolvido atividades  criativas que cobrem áreas muito diversas, História, Gastronomia, Artesanato, Música, Dança, Teatro, Arte, etc. Esta intensa atividade tem, entre outras,  a grande vantagem de trazer regularmente públicos muito diversificados ao MAH, nomeadamente os próprios terceirenses que, habitualmente, vieram aqui uma vez, quando estudantes e depois, na melhor das hipóteses, 20 ou 30 anos depois vêm mostrar o seu museu a alguém de passagem. A atual dinâmica do MAH traz com regularidade crianças e estudantes, que se vão habituando a conhecer,  valorizar e  acarinhar o seu museu. E tem transformado o MAH num espaço privilegiado de encontro e debate de ideias, culturas, perspetivas, dinâmicas e tradições. Inovação a partir da tradição. Parece que isso incomoda meia dúzia de tristes, com MC à cabeça.

Está feito o retrato do atual MAH. Dediquemos agora alguma atenção ao retrato de MC. Trata-se de um terceirense, de S. Mateus, professor de Filosofia, cristão ortodoxo radical, solteirão, leigo mas profundamente ligado à Igreja Católica (IC), misógino militante, que se auto-intitula “filósofo”. Porém, nada podia ser mais falso. A primeira premissa para se ser filósofo é ter um espírito bem aberto, duvidar de tudo sistematicamente, sobretudo quando se trata de algo proclamado como “a única verdade verdadeira”. Não sendo, portanto, MC, um verdadeiro filósofo, temos de vê-lo como realmente parece ser: um beato radical, um papa-hóstias enjoativo, um ser híbrido, cinzento na alma, negro nas roupas, que não é nem deixa de ser. E é uma criatura assim que quer determinar como é que o MAH gere a igreja que lhe está confiada.

O edifício de S. Francisco foi um convento franciscano, desde a sua fundação até ao século XIX. Já deixou de o ser há muito tempo. Agora é um museu público, estatal, num país que assume na sua Constituição ser uma república democrática e laica que respeita a liberdade religiosa. A Igreja de S. Francisco, anexa ao antigo convento, já não é, exatamente, uma igreja. Quer dizer, nunca foi dessacralizada. Mas já não serve para o culto regular. A razão é muito simples: Angra do Heroísmo é uma cidade de muitas igrejas, que atestam a riqueza, o poder e influência que a IC teve no passado. Hoje em dia, com a decadência acelerada da IC, várias igrejas tiveram de fechar as portas, tanto por falta de fiéis como pelo facto da Diocese não ter meios de assegurar a sua manutenção. No caso da Igreja de S. Francisco, a Diocese e MC deviam estar muito agradecidos por o Governo ter tomado o seu cargo a sua conservação e permitir, de vez em quando, as atividades da Ordem Terceira de S. Francisco. Obviamente, há contrapartidas. O MAH usa a igreja para os seus eventos, de acordo com os seus próprios critérios, devendo explicações apenas à sua tutela, que não é, decerto, o Bispo e MC. E de vez em quando deixa MC e os seus amigos brincarem aos franciscanos. Um sistema perfeito, em que deveríamos ficar todos satisfeitos. Tivesse MC bom senso e ficaríamos por aqui. Mas não, ele faz birra e quer a presidência da Mesa Censória.

Sejamos claros: pessoalmente, defendo a dessacralização desta igreja. Mas mesmo, neste caso, como sou uma pessoa tolerante e para quem o respeito é essencial, eu próprio advogo que se use de prudência e bom senso na utilização da igreja para fins ditos profanos. Por uma questão de respeito por todas as sensibilidades e crenças. A questão é que eu não acho que tenha havido qualquer desrespeito na realização de um evento de dança do ventre no coro alto da Igreja de S. Francisco. Essa acusação provém da ignorância, do fanatismo e da intolerância. Quem não conhece o assunto mas se deu ao trabalho de ler a extensa entrevista publicada no DI do domingo, 7 de Setembro, sobre este evento, percebe que a dança do ventre contemporânea tem diversas vertentes, como a formativa, a desportiva e a terapêutica. Esta entrevista está assinada, ao contrário da feita a MC, dois dias depois, em que as perguntas são anónimas e claramente tendenciosas. Dá ideia que MC se auto-entrevistou. Tentar conotar a dança do ventre com uma espécie de prostituição mostra estupidez e ignorância. Note-se que nem sequer sou contra a prostituição voluntária e livre, apenas não tenho qualquer interesse pessoal nessa matéria. E não promoveria a prostituição numa igreja, mesmo desativada. Se bem que a IC, em sentido lato, tenha sido sempre uma grande prostituta. A dança do ventre atual é arte, cor, música, expressão corporal, graça e porque não, sensualidade. Tudo coisas que são bem capazes de agradar a Deus, se ele existir, que eu cá não sei de nada. Teoricamente, para quem crê, Deus foi quem inventou tudo, incluindo o sexo, os machos e as fêmeas e o prazer. As mentes dos fanáticos religiosos costumam ser templos de obscurantismo e porcaria. Verdadeiras cloacas. Vêem mal em tudo. Demonizam o sexo, desprezam o corpo humano e odeiam as mulheres, que vêem sempre como Salomés tentadoras. No entanto, apaixonam-se frequentemente uns pelos outros, o que para mim, também não tem mal algum. Mas para eles têm. O pior é quando seduzem e abusam de crianças que lhes foram confiadas.  Na verdade o mal está dentro deles. Dentro de MC. Há cabeças que realmente ficariam melhor cortadas. Xô Satanás. Vai-te desse corpo que não te pertence e deixa-nos em paz com a música, a dança, a alegria, os risos e o prazer de estar vivo que, no entanto,  ninguém pediu. POPEYE9700@YAHOO.COM

 

 

 

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