CRISE? QUE CRISE!?
Fevereiro 03, 2014
Tarcísio Pacheco
IMAGEM: http://bancadadirecta.blogspot.pt/2010_12_01_archive.html
HELIODORO TARCÍSIO
Partilhei hoje (17Jan) no meu facebook, um excelente artigo , Por Detrás da Crise «Financeira», a Velha Luta de Classes, da autoria de Vincenç Navarro, reputado professor universitário de Economia Aplicada e Políticas Públicas em Espanha e nos EUA.
Partilhei-o porque é a análise mais lúcida, clara, detalhada e fundamentada sobre a atual “crise” europeia e mundial, que me foi dado ler. É arrepiante lê-lo, em segundo lugar porque mostra com nua crueza o que nos está a acontecer. E em primeiro lugar pela intensa mágoa que nos provoca. Percebemos de imediato que se 25% da população portuguesa que vota fosse capaz de ler e entender o que nos é explicado, em pouco tempo o governo neo-liberal português cairia. E o que viesse a seguir, pelo menos, seria absolutamente diferente. A mágoa consiste também em lembrar-me que uma grande parte da população portuguesa é ignorante, inculta, desinformada e alienada e que esse é um dos grandes trunfos do governo de direita. A direita sempre se caraterizou pela tentativa de manter a ignorância e o analfabetismo funcional. É aliás nesse contexto que se deve entender a recente proposta da Juventude Popular para baixar o nível da escolaridade obrigatória. É uma proposta estarrecedora. Mas eu já espero de tudo, num momento histórico em que o povo português está anestesiado, estupidificado e inerte.
Neste artigo, Navarro explica-nos as origens e a artificialidade da presente “crise” sem usar um discurso técnico em “economês” que pouca gente entenderia. Em termos simples e resumindo muito, ele explica-nos o seguinte: o conflito entre o capital e o trabalho é histórico e permanente, porque os interesses são inconciliáveis. No entanto, com o “boom” verificado depois da II Grande Guerra, era preciso estimular o trabalho, para haver crescimento e dinheiro a circular. Por isso houve um acordo tácito entre capital e trabalho. Esse acordo baseava-se num aumento de salários e benefícios sociais indexados ao aumento da produtividade. Efetivamente resultou e assistiu-se a um forte crescimento económico que durou até ao início da década de 80. Esse pacto rompeu-se dali em diante basicamente porque o capital não tolerou a crescente prosperidade do trabalho. Assistiu-se então à implementação de agressivas políticas neo-liberais, protagonizadas nos EUA pelo fantoche Reagan e no Reino Unido pela fria e conservadora Thatcher. Essas políticas tinham como caraterísticas dominantes o estímulo ás exportações, a baixa de salários e pensões, a criação artificial de desemprego e a contenção dos mercados internos. O crescimento das rendas do capital à custa das rendas do trabalho foi a origem e razão da “crise” económica.
Isto soa-vos familiar? Pois, a mim também. O que estamos a assistir neste momento em Portugal é simplesmente à implementação brutal da conhecida agenda neo-liberal. Tardia porque a nossa cultura dominante de esquerda, que a nossa Constituição ainda defende, por enquanto, impediu até agora que os bandos neo-liberais controlassem o poder. Contudo, infelizmente, chegou a oportunidade deles e que bem a tem aproveitado face a uma oposição socialista medíocre e sem discurso criador, representada em Portugal pelo triste (In) Seguro e na Europa pelo patético Hollande que, nos intervalos dos seus “affairs” amorosos, se prepara para se deixar montar por Merkel, talvez para que o deixem em paz para as suas voltinhas de scooter por Paris.
Não há crise alguma. Ou, por outra, até há, mas é absolutamente artificial. O que há é uma claríssima tentativa de escravizar as pessoas em nome do aumento contínuo dos rendimentos do capital. O mundo poderia ser um lugar melhor, nunca perfeito nem ideal porque a Humanidade é demasiado daninha como espécie. Se os ricos se contentassem em ser ricos e em deixar a maioria das pessoas viver com dignidade e alguns até prosperarem, as coisas poderiam funcionar. Mas não funcionam porque os ricos são insaciáveis, querem ser cada vez mais ricos, sem limites, num processo que não suporta qualquer oposição.
Sair disto? É possível mas não pacificamente. O povo português já percebeu que manifestações servem para pouco. O Governo só tremeu com as dos polícias e tomou de imediato as medidas apropriadas, que estão em curso. Já pouca gente vota e o poder está totalmente nas mãos gulosas dos partidos políticos. Só a revolta maciça e o crescimento dos extremismos, de esquerda e de direita, poderá mudar alguma coisa. Porque do Centrão, da social-democracia e do socialismo, já percebemos o que é que vem. E quem não percebe isto não percebe nada. POPEYE9700@YAHOO.COM