FOLHETIM DO ARCO TÔSCO DE ALMEDINA (6)
Setembro 25, 2013
Tarcísio Pacheco
imagem: http://educar.wordpress.com/2009/07/04/os-cartoons-taurinos-do-antero/
Síntese do anterior: este é o sexto e último de uma série de artigos relativos ao blog http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/277567.html, de Isabel A. Ferreira (isabelferreira@net.sapo.pt), onde os Terceirenses são gravemente insultados. Os outros artigos foram publicados a 21, 22, 27, 28 de Agosto e 12 de Setembro. Podem também ser lidos no meu blog http://popeye9700.blogs.sapo.pt/. Termina aqui o folhetim, que foi todo escrito num só dia, porque a criatura já teve muito mais atenção do que merece. Já chega.
Em última análise, nenhum grupo de Portugueses vai decidir algum dia o que acontece nos Açores. Lembro que somos uma região autónoma, com governo e parlamento próprios. Serão sempre os Açorianos e os Terceirenses em particular a decidir sobre touradas. A criatura deve ficar longe da Terceira (e da Graciosa e S. Jorge, tudo terra de “broncos”), já que nos odeia tanto e deixar-nos em paz porque dos touros terceirenses ela não percebe rigorosamente nada embora discorra prolificamente sobre o assunto, como é próprio dos tansos. Imagine-se que a criatura, que nem sequer conhece a Terceira (como ela própria confessa ), tem um discurso completo sobre um lugar onde nunca colocou os pés. Avalia pelo que ouve dizer e pelo que viu em fotos ou vídeos. Diz também que nunca viria cá nem recomenda aos seus “amigos estrangeiros”. Não precisamos dela para nada, como é óbvio e quanto aos “amigos estrangeiros” se forem como ela, isto ia parecer um intercâmbio internacional da Casa de Saúde de S. Rafael. Mas, como diz o meu amigo Fernando Pereira, esse sim, um verdadeiro aficionado (da turma dos vídeos das marradas), que pena ela não vir - a gente metia-a num curral do tio Humberto Filipe, para ela «proteger» o 77.
Nesta altura dos acontecimentos, os meus leitores, apesar de “broncos” na sua maioria, por decreto da criatura, já devem ter percebido que, para mim, o cerne do assunto não é a questão taurina, por vários motivos. Tentei fazer perceber isso à criatura mas, debalde, não é tarefa fácil entrar naquele escudo blindado de obtusidade hostil. Tenho o maior respeito pelas pessoas que tentam proteger e defender os animais, incluindo os toiros, até porque sou também um amante dos animais e amei, acarinhei e protegi muitos ao longo da vida. Leio os textos publicados pelos anti-taurinos, quando são inteligentes e bem escritos. Mas tenho uma alergia visceral à estupidez, à ignorância, ao desrespeito e à falta de educação. Assim como penso que qualquer anti-taurino que não seja totalmente vegetariano incorre em incoerência básica.
A criatura tem o desplante de proclamar que os forcados são todos covardes e pessoas de maus instintos. Claro que isto é uma afirmação totalmente absurda e delirante. Num dos seus blogs , ela publica um texto de outrem em que há uma ridícula tentativa de manipulação das opiniões, dizendo que os forcados “atacam” o toiro. Ora, tudo o que eles fazem é agarrá-lo e imobilizá-lo. Isso dificilmente pode ser considerado um “ataque”. Isso seria se o agarrassem e o violassem, por exemplo. Mas disso nunca ouvi falar, só de histórias de amor entre pastores e ovelhas, lá pelas serranias continentais. Ora aí está um belo tema para ocupar a criatura, a defesa das ovelhas ultrajadas. Quanto aos forcados, imagino que seja preciso uma enorme dose de coragem quando o forcado da cara chama o toiro e vê aquela formidável massa, com os seus cerca de 500 kg de peso em média, de cornos em riste, a galopar na sua direção, restando ao forcado minimizar o impacto, através de uma técnica apurada e esperar o apoio dos companheiros. Imagino que aquela viagem agarrado à cabeça do toiro, que dura alguns segundos e acaba frequentemente mal, deve parecer uma eternidade e o forcado deve sentir-se a pessoa mais solitária do mundo nesses momentos…Um pouco como os marinheiros solitários se sentem à noite no mar alto, com mau tempo. Se os forcados são os maiores covardes, então com certeza será muito fácil para qualquer anti-taurino demonstrar essa afirmação dispondo-se a pegar um toiro de 500 kg, o que seria com certeza uma brincadeira infantil, visto o animal estar “exangue e moribundo”. Ah como eu gostava que a própria criatura se voluntariasse para provar as suas afirmações…Nem que fosse no México, eu ia lá de propósito para ajudar a procurar os dentes dela na arena.
O mundo da arrogante criatura é uma coisa assim a preto e branco, de inspiração maniqueísta. Para ela, as pessoas dividem-se em dois grupos: os do Bem, os que pensam como ela, que são todos muito inteligentes, cultos, educados, uns anjos em missão na Terra e que não gostam de touradas e os do Mal, que são todos os que pensam de forma diferente, que gostam de algum tipo de tourada, seja qual for, nem que seja uma carneirada e que são invariavelmente broncos, parvos, idiotas, sanguinários e doentes mentais. Bom, como já disse, aqui há realmente uma patologia grave, uma obsessão pela contemplação do seu próprio umbigo sagrado, que pode levar a sérios problemas de coluna.
A criatura publicou, onde qualquer um pode ler, afirmações extremamente insultuosas sobre a ilha Terceira e os seus habitantes (todos “broncos” excetuando com certeza a meia dúzia dos seus colegas de movimento). Ela diz que a tourada à corda terceirense está moribunda e até apontou 2013 como o ano do fim. É mais uma entre muitas mentiras, está vivíssima e de ótima saúde. Lamento informar. Não há mesmo o mais leve sinal de maleita. Só se morrer de repente, de enfarte fulminante. As touradas multiplicam-se em cada Verão e andam animadíssimas. Sei que é duro ler isto mas as perspetivas, para já, são excelentes.
A criatura diz ainda que a Terceira nunca foi evoluída. Entramos aqui em terrenos pantanosos. Para a criatura, ser evoluído é ser contra touradas e ponto final, nem vale a pena argumentar porque é como estar a escrever para um calhau. Quem ajusta os factos à sua teoria, nunca pode ser contradito, é uma técnica infalível, embora absolutamente falaciosa, como é evidente. Evolução não é um conceito absoluto e é frequentemente confundido com mudança. Esta consiste apenas numa alteração de factos, coisas, circunstâncias, ideias. Pode perfeitamente significar um retrocesso em termos evolutivos. Um belíssimo exemplo, ter eleito Passos Coelho significou uma mudança, no entanto não houve qualquer evolução, apenas um gravíssimo retrocesso. Além disso, defina-se progresso. É mais cidades, crescimento urbano, muitos carros, shoppings cada vez maiores, lojas MacDonald’s? A globalização torna o mundo cada vez mais cinzento e desinteressante. Cada vez mais as pessoas procuram o que é genuíno, autêntico, diferente. E a ilha Terceira é assim. Oxalá a ilha Terceira nunca mude, na sua essência.
A criatura também diz que os turistas cultos não visitam a Terceira. Esta afirmação é tão rídicula que hesito em contestá-la, com medo que um pouco desse ridículo me contamine. É como argumentar com um doido ou um bêbado. Não é boa ideia. O Governo Regional passa a vida a fazer estudos sobre o perfil dos turistas e afinal bastava perguntar à criatura. Porque, evidentemente, quem completou “com distinção” o 1.º ano de um curso de História no Brasil sabe de tudo um pouco. A ilha Terceira, por possuir um bom aeroporto, um clima temperado, um parque hoteleiro adequado, bons restaurantes, ser bonita, ter todo o tipo de infraestruturas, uma extensão universitária, um povo pacífico e educado com tradições originais e interessantes, é com muita frequência procurada pelo chamado turismo de Negócios ou de Congressos, envolvendo reputadas instituições do âmbito científico e cultural, por exemplo. Não vale a pena dizer mais nada, esta afirmação conta com abundante documentação.
Nest Não vejo a questão como complexa, tendo a simplificar, para facilitar a vida que, esta sim, é complicada. Na minha perspetiva, haverá touradas à corda na ilha Terceira enquanto uma maioria de Açorianos em geral e Terceirenses em particular quiser que assim seja. A tradição é nossa e somos autónomos, a gente é que decide. Se as touradas à corda tiverem que acabar um dia, pois acabarão, nada é eterno nesta vida. Mas isso, se ocorrer, será apenas quando já não houver gente suficiente que as aprecie, defenda e promova. Seremos, com certeza, uma sociedade muito diferente, nesse hipotético futuro longínquo e alternativo. Que todas as pessoas possam continuar, livremente, a pugnar pelas ideias em que acreditam, desde que não infrinjam a lei comum e a Constituição. Mas que o façam com decência, boa educação, civilidade e sem recurso a mentiras, deturpações, insultos e manipulações.
Na verdade, tenho de confessar que vou sentir a falta dos comentários agressivos e mails insultuosos desta criatura. É como discutir frente a frente com alguém que nos enche de perdigotos. É porco mas é melhor do que falar sozinho. Apesar de tudo, ela divertia-me. Ela era a minha Gata Fedorenta. (FIM). POPEYE9700@YAHOO.COM