PXICOLOGIA DA BATATA DOCE
Julho 11, 2012
Tarcísio Pacheco
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O Padre Caetano Tomás acabou de provar que está atento e que não perde uma oportunidade para ficar calado. Honra lhe seja feita. Se ele tivesse ficado calado, talvez as pessoas se esquecessem porque motivo ele foi retirado da lista de condecoráveis do Dia da Autonomia de 2012. Assim, vai ser difícil. E então, quando a emenda é pior que o soneto…Basicamente, o Pe. Tomás diz que vem “esclarecer”, sem qualquer traço de humildade, reafirmando as suas convicções e dizendo que não concorda com as críticas que lhe foram dirigidas. Não fico surpreso, só as pessoas realmente superiores reconhecem os seus erros.
Vale a pena recordar algumas pérolas desse artigo: invocando o mecanismo psicológico da “formação reactiva”, ele tentou fazer passar a ideia de que quem combate ativamente a pedofilia é, no fundo, um pedófilo recalcado; sublinhou que “só” 1% dos pedófilos são padres; desvalorizou o drama pessoal, colocando sempre entre aspas a referência a “vítimas” da pedofilia; acusou as “vítimas” de “andarem na TV com grande publicidade”; disse que na sua vida de padre “nunca encontrou as tragédias que se dizem por aí”; desculpou os rapazes florentinos pedófilos que ele conheceu porque, na época ”era difícil o acesso a mulheres”; no entanto os miúdos da escola a quem eles “recorriam”, nunca apresentaram “qualquer problema psicológico”; acusou as “vítimas” de pedofilia de “quererem receber dinheiro”; e diz que as “expressões neuróticas” que nem ele consegue negar, devem ter, com certeza “outra origem”; tentou, maliciosamente, identificar pedofilia com homossexualidade; e, incrivelmente, afirmou que “há crianças que provocam”; disse que as crianças piores são as que são “esclarecidas em educação sexual”; afirmou que as denúncias de pedofilia na igreja católica não passavam de “uma cruzada contra o Papa e os seus bispos”; e, no final, jogou a sua grande cartada, a de que tudo isto se explicava, por um lado “com relações complicadas com a figura paterna. E por outro lado, com a materna”.
E é precisamente com esta defesa recauchutada que ele volta de novo ao ataque. Poder-se-ia pensar que o Pe. Tomás tirou o curso de Psicologia pela Internet mas isso não é do tempo dele. A impressão que tudo isto me dá é que o Pe. Tomás fez um curso intensivo de Psicologia de 5 aulas. Uma modalidade de ensino que aparentemente partilhou com o “Eng.º” Sócrates. Na 1.ª aula, foi a apresentação do senhor professor e algumas anedotas. Na 2.ª, foi aquela matéria que não tem interesse nenhum, o ABC, origem do nome, psique + logos, etc, mas que tem de se falar. A 3.ª aula foi sobre os verdadeiros fundamentos da Psicologia mas o Pe. Tomás fez gazeta, talvez tenha ido ao dentista. A 4.ª foi sobre a importância das figuras materna e paterna. A 5.ª foi sobre o fenómeno da “formação reactiva”. Depois o Papa levou um tiro e esqueceram-se todos da Psicologia.
Só pode ser por isto que, para o Pe. Tomás, quem acha que o artigo dele era um vómito (vá-se lá saber porquê…), tem “uma mente agressiva em excesso”; “uma personalidade perturbada”; “uma agressividade muito violenta”; tratando-se de uma mulher, só pode ser “vítima de um intenso problema afectivo”; a origem mais provável “é haver um grande problema de relacionamento com a figura paterna” e “o companheiro costuma ir na mesma conta…”; pode também ser “um problema de irmãos”; ou ainda “um anjo cansado” que se transferiu para o outro lado…E termina dizendo que “seja qual for a explicação, a dita agressividade tem origem em alguma circunstância forte da vida de uma personalidade”. Devo dizer que achei bonita, quase poética, a imagem do “anjo cansado”. Deve dar uma imensa trabalheira ser anjo nos dias de hoje e, de certo modo, lembra-me a D. Zuraida.
Eu não sou psicólogo mas também acho que todas as atitudes humanas, por mais bizarras que sejam, têm uma explicação. Esta tendência do Pe. Tomás para desculpar os pedófilos também há-de ter as suas raízes. Se fosse só defender os padres pedófilos, seria mais fácil de entender, corporativismo, lealdade institucional, obediência cega ao Papa. Já a desculpabilização dos pedófilos em geral é mais difícil de entender. Fica aqui o desafio aliciante para alguma tese de mestrado em Psicologia: entender a mente perturbada do Pe. Tomás, a sua infância nas Flores, o relacionamento com o pai, a mãe, os irmãos e os vizinhos (sim, porque toda a gente sabe o mal que pode fazer um vizinho chato, porco ou tarado, todos tivemos um). Eu investigaria também a tentativa de sedução de que ele confessa ter sido alvo a bordo de um navio da “Insulana”. Quem sabe se não há por aí alguma questão de “formação reactiva”. Quem sabe o que se poderá encontrar se formos escarafunchar na história dessas Flores do tempo do Pe. Tomás, onde, pelos vistos, era perfeitamente tolerado o abuso sexual de crianças, devido ao “acesso difícil a mulheres”, não causando “qualquer problema psicológico”. Estou até a imaginar “Oh José, tu “recorreste” a mim, ainda me dói e tenho dificuldades em sentar-me mas eu até entendo, não tinhas nenhuma gaija à mão, não faz mal, hoje tu, amanhã eu, estou porreiro pá, anda daí, vamos para a catequese”…
Senhor Padre Caetano Tomás, o senhor já tem duas condecorações em casa, como faz questão de nos informar, embora diga que não liga nenhuma a isso. Perdeu a terceira, é um facto, mas entenda de uma vez por todas, que isso não tem nada a ver com o pai, a mãe, os irmãos, os primos, o(a) companheiro(a), o gato ou o canário da D. Zuraida. As atitudes de vingança são muito feias, embora não tanto como a pedofilia. O senhor perdeu-a porque, sendo um sacerdote católico, um professor, um formador, um “psicólogo”, uma figura pública na comunidade, a 4 de Maio de 2010, escreveu um artigo que era um vómito, justificando e desculpabilizando os comportamentos pedófilos. O resto, é “Pxicologia” da batata doce. POPEYE9700@YAHOO.COM