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popeye9700

Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

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Crónicas e artigos de opinião, a maior parte publicada no Diário Insular, de Angra do Heroísmo.

O PRÍNCIPE PINÓQUIO

Dezembro 15, 2010

Tarcísio Pacheco

 

 

IMAGEM: http://diariodaminhamenopausa.blogspot.pt/

 

 

PEC 3: austeridade, redução dos salários, subida de impostos diretos e indiretos, aumento de todas as cores em tudo o que é ruim para a vida das pessoas.

Corrijam-me se estiver errado mas a principal razão para termos aderido à CE, em 1986,  não era a aproximação gradual aos padrões de vida europeus ? Definam-me “gradual” com urgência, por favor. É que estou gradualmente ficando mais velho e agora surgiu-me uma secreta esperança de parecer jovem por muito mais tempo, quiçá eternamente.

Baixar salários? Não tínhamos já baixíssimos salários, que há muitos anos praticamente não eram aumentados, de facto? Aumentar os impostos? Mas não tínhamos já uma elevadíssima carga fiscal? Resolver o problema do deficit das contas públicas? Mas a estratégia para atingir esse fim não era, precisamente, o desenvolvimento da economia portuguesa? E não é certo que as anunciadas medidas de austeridade vão, mais do que estagnar, causar a retracção da nossa pobre economia? Do que nos serve ter um país com as contas em dia mas sem a mínima possibilidade de se desenvolver e em permanente retracção?  

Claro que, se olharmos para o país como uma imensa mercearia, com um rol de deve e haver, é tudo muito compreensível. A coluna do deve é muito superior à do haver. O merceeiro é um mau merceeiro. Não convém fechar a mercearia, não podemos prescindir do pão. Mas podemos sempre demitir o merceeiro. Ou chicoteá-lo em praça pública. Eu preferia chicoteá-lo. Sei lá, podíamos perguntar ao Khadafi o que diz a lei islâmica num caso destes. Mentira, má gestão e assalto. Só para termos uma ideia, um termo de comparação…Talvez o chicote não seja apropriado mas quem sabe se não conseguimos um singelo apedrejamento. Afinal, ter lixado um país inteiro, é crime muito pior do que um corriqueiro adultério.

Olho para o estado da nação e acho isto tudo muito parecido com a Inglaterra medieval no tempo do Robin Hood. Lá, enquanto o rei Ricardo Coração de Leão se entretinha a matar mouros e a saquear castelos franceses, o país vegetava na mais negra miséria e o malvado Príncipe João, com a colaboração do pérfido xerife de Nottingham, sobrecarregava o povo de impostos, levando-lhe a maior parte das colheitas. O bispo guloso levava o resto. As pessoas morriam à fome.

Hoje em dia, felizmente, a Igreja já não pode rapinar nada e está, ela própria, sujeita a viver de esmolas. Mas, na ausência de um rei decente, andámos estes anos todos a ser desgovernados pelo Príncipe Pinóquio, um fidalgo de linhagem suspeita, provavelmente ilegítimo, com um duvidoso título de nobreza, aparentado com Cyrano de Bergerac ( o do grande nariz)  pela parte da mãe e criado pelo carpinteiro Gepeto. O seu xerife de Lisboa encarrega-se de levar à prática os seus desígnios, sem piedade e com mão de ferro. Vivemos com pouco dinheiro, sobrecarregados de impostos, à beira de passar fome e ainda vai piorar. Já vi isto em qualquer lado. Precisamos de um herói popular, de um Robin Hood, alguém que roube aos ricos (eles)  para dar aos pobres (nós). Um José das Matas, com os seus companheiros, um João Pequeno, um Tó Esquivo, um Manel Sorrateiro e um Chico Esperto. E se tem que haver um Frei Tuck, , os nossos religiosos mais colunáveis não me parecem elegíveis. Nem o padre Melícias e muito menos o cardeal Policarpo. Lembrei-me do padre Fontes, que há 25 anos organiza o fascinante Congresso de Medicina Popular em Vilar de Perdizes. Parece-me alguém muito alternativo e New Age. E, se não souber manejar um cajado, pode sempre optar por uma toxina virulenta à base de plantas, como arma. Matas é que o fogo não deixou muitas, para eles se acoitarem e temo mesmo que haja problemas com a madeira para fazer as flechas. Além disso, terão de viver da caça e aí vão-lhes cair em cima os esbirros do xerife de Lisboa, mais até por estarem a caçar em zonas de caça associativa ou turística, já que até os baldios foram roubados ao povo. Quanto à Lady Marion, temos uma Maria em Belém mas, com um pouco de sorte e paciência, talvez seja possível encontrar uma dama mais interessante.

Acreditem-me, isto já não vai ao seu lugar com greves gerais. Talvez com porrada geral. O meu pacifismo nato, o meu instinto de sobrevivência e uma preciosa cobardia impedem-me de me alistar. Apesar de eu fazer parte do alvo a abater, a classe média portuguesa e do inimigo público n.º 1, o funcionalismo nacional. Mas se não estou de corpo com essa empresa, estarei, pelo menos, de alma. E se esse exército chegar a ter Armada, eu e o meu “Popeye” estamos às ordens.

Provavelmente, excedi-me neste artigo. Não, excedi-me mesmo, tenho a certeza. Reconheço agora o meu erro. Vou ter de me desculpar perante os meus leitores. Não devia, de modo nenhum, ter chamado “príncipe” ao Eng.º Sócrates. É lamentável. Asseguro que não voltará a acontecer.

POPEYE9700@YAHOO.COM

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