IMAGEM: http://informarepropagar.blogspot.pt/2013/02/videos-de-pedofilia-dentro-da-igreja.html
Nos últimos dias, têm surgido pelos jornais e revistas, diversos artigos de opinião que pretendem fazer a defesa da Igreja Católica, no actual cenário de denúncia universal dos crimes sexuais dos seus sacerdotes. Parece que a culpa é de um conjunto de perversos jornais, envolvidos numa infame campanha de difamação da Santa Madre Igreja. Os directores, chefes de redacção e editores destes jornais formaram uma sociedade secreta e juraram dedicar as suas vidas à destruição da Igreja Romana. Interrompem esta sagrada missão apenas para ver jogos de futebol. Fazem reuniões clandestinas, numa sala de cortinas negras, sob um crucifixo de pernas para o ar. Todos usam máscaras diabólicas à Darth Vader e prestam culto a um ídolo infernal, cujo rosto lembra vagamente um cruzamento entre a parte da frente de um desastre automóvel e o traseiro de uma fêmea babuína no cio. É preciso uma senha para entrar (consta que a última era “Heil Bento”). Para além dos jornalistas, com excepção dos que trabalham na Rádio Renascença e no programa Ecclesia, fazem parte ateus, pedreiros-livres, jacobinos, maçons, agnósticos, comunistas, socialistas a sério, talibans, polibans (talibans alentejanos), homossexuais, divorciados, cantores de rock, escritores, poetas, prémios Nobel, toxicodependentes, bancários não cristãos, enfim, todo o tipo de escumalha. E aquela gente maléfica, amaldiçoada pelos poderes das trevas, congemina então toda a sorte de planos tenebrosos para envolver inocentes sacerdotes católicos em sórdidos episódios de sedução. Inventam histórias, vítimas, datas, factos, mentiras coloridas sem fim, que depois publicam nos seus ordinários pasquins. Nos intervalos, bebem RedBull e com as asas que aquilo lhes dá, voam de um lado para o outro, entregando-se a orgias inenarráveis, farfalhando luxuriosamente ao som do Quim Barreiros na garagem da vizinha.
É claro que, perante isto, a Igreja Católica, coitadinha, e os seus novos Cavaleiros do Templo têm de se defender. Qualquer um entende isto, no mundo de hoje somos todos muito sensíveis às perseguições e aos ataques aos fracos e oprimidos.
O problema é o discurso escolhido. Ainda bem recentemente, um desses defensores, em peça jornalística, acusa os jornais de quererem convencer a opinião pública de que os padres comem criancinhas. Se ele estava a referir-se a canibalismo, então realmente não conheço nenhum caso. Os padres comem coisas comuns, há magros e gorduchos. Agora, se ele se referia a outra coisa, então, lamento muito mas discordo, literalmente, padres têm comido criancinhas, desde sempre, revelando até um apetite insaciável e voraz. Nesta matéria, temos padres gourmet. Perante as inúmeras evidências, fica assim desmentida, categoricamente, a afirmação contrária.
Diz também que a Igreja Católica tem regras muito claras para lidar com um padre pedófilo. Tem mesmo? Quais? O Bispo dele aplica-lhe tautau no rabinho? Duvido, seria contraproducente. Talvez lhe diga “Seu maroto, incorrigível, não tens emenda, de novo na brincadeira, não é? Vai já rezar 700 Avés-Maria e 1000 Pais-Nosso e fica sabendo que para a semana, já mudas de paróquia…”. E lá vai o pobre do padre, para longe da terra cujos filhos tanto amava, transferido para uma paróquia longínqua, onde talvez os meninos de coro sejam mais feínhos, menos louros, quiçá mais esquivos…Ou pior que tudo, ó horror dos horrores, para uma paróquia onde nem haja meninos de coro, uma daquelas cheias de beatas velhas, carne magra e seca, aromatizada a naftalina.
Ainda por cima, aos jornalistas, esses facínoras, agora deu-lhes para pedir contas ao Papa, aos cardeais e bispos, em vez de crucificarem os padres pedófilos. Que é isto, que culpa têm esta gente, coitada ? Eles são apenas os seus líderes , não são pais deles, que os padres católicos não podem ter filhos, embora os tenham amiúde. Quando muito, podiam ser padrinhos ou tios deles…
Depois há a questão dos “truques estatísticos”… Clama-se que se juntam coisas diferentes no mesmo saco e que, desta forma se demonstra seja o que for. A estatística aborrece-me e, provavelmente, o mesmo aconteceria aos meus leitores. Mas qualquer pesquisa básica na Internet, com base em critérios simples, associando apenas religiosos cristãos (não exclusivamente católicos) que abusaram sexualmente de, pelo menos, um menor, tendo sido denunciados, mesmo que muitos anos depois, retornará largas centenas de casos comprovados em todo o mundo E não é preciso uma pesquisa exaustiva, caso contrário teríamos de expandir a memória do computador. Com certeza que terá havido detalhes diferentes: antes ou depois da Missa, na sala da catequese ou no jardim da residência paroquial, menino ou menina, assim ou assado. Mas esta pesquisa simples basta-me perfeitamente. Quanto ao facto das denúncias terem começado a surgir em catadupa nos últimos anos, a resposta é de tal forma básica, que me dispenso de a explicar. Todos sabem que, antes, as vítimas não falavam, com raras excepções. E, quando falavam, raramente eram levadas a sério ou tinham qualquer eco. Acontece que agora há um clima geral de liberdade e toda esta tribo de diabólicos jornalistas, ansiosos por notícias que vendam bem…Acabaram-se as malfeitorias no escurinho das sacristias, abafadas depois nos salões episcopais.
Fala-se também nas “percentagens”. Querem assim branquear os crimes sexuais na Igreja Católica, alegando que a percentagem de sacerdotes pedófilos é irrisória, quando comparada com o número dos outros pedófilos. Eis aqui um bom exemplo de como o fanatismo pode manipular as ideias, para defender teses pobres. Como se a percentagem tivesse alguma importância num caso destes… Tudo o que interessa é que são muitos casos, descobrindo-se mais a cada dia, em todo o mundo. E que se passam no seio de uma instituição que é mais política e temporal do que religiosa e que sempre sonhou dominar o mundo, mesmo à força. E que se arvora em farol do Terra, dona da Salvação da Humanidade, detentora da única Verdade, formadora da Consciência, fonte do Bem, arauto da Virtude, distribuidora do Amor, tesoureira do Perdão, armazenista da Indulgência.. Supostamente, os sacerdotes são representantes de Jesus Cristo na Terra, herdeiros dos Doze Apóstolos e deviam amar, acarinhar, guiar e proteger as crianças que lhes são confiadas. E, sem ninguém os obrigar a isso, renunciaram ao mundo e juraram manter-se castos. Um crime sexual cometido por um sacerdote é hediondo e vale, no mínimo, por 100 crimes idênticos de treinadores desportivos. A estatística não é tão cega como se pensa mas há quem goste de lhe por uns óculos escuros.
Onde é melhor que não mexam comigo, é na minha área de trabalho, que é a História. O artigo que li, com todo o despudor, tenta fazer o branqueamento das Cruzadas e, pasme-se, da Santa Inquisição. Dizem que seria um “mito” ver uma “igreja sanguinária” em ambos os casos. Mito é o que dizem os neonazis do Holocausto. Vou deixar aqui apenas dois brevíssimos apontamentos, que bastarão para elucidar os leitores que ainda precisem disso.
As Cruzadas aconteceram num período ainda muito atrasado da história da Humanidade e agrupam uma série de expedições militares europeias, em diversos períodos distintos, com o pretexto de “libertar” os lugares santos do Cristianismo no Oriente, então ocupados por turcos muçulmanos. Aconteceram entre os séculos XI e XIII. Em boa verdade e para sermos justos, não se pode dizer que eram empresas da Igreja Católica. Mas esta estava profundamente envolvida e negar isso seria o cúmulo da hipocrisia. Os cruzados consideravam-se soldados de Cristo e envergavam vestes com a cruz de Cristo a vermelho, tendo vindo daí a designação de Cruzadas, que não existiu na época. Consideravam que faziam uma guerra santa e que eram autênticos peregrinos. A Igreja Católica apoiou sempre entusiasticamente as Cruzadas, a todos os níveis. Inclusivamente, algumas Cruzadas foram de iniciativa papal. Algumas das mais conhecidas, ricas e poderosas ordens militares, nasceram no âmbito das Cruzadas, comos os Templários e os Hospitalários. Estas eram constituídas por monges guerreiros, temíveis combatentes, muitíssimo bem preparados e altamente fanatizados. Esta gente era de uma crueldade atroz e cometeram as maiores barbaridades, chacinando indiscriminadamente homens, mulheres e crianças nas cidades que conquistavam. Dois factos históricos não suscitam quaisquer dúvidas: as Cruzadas foram extremamente sanguinárias e estavam intimamente ligadas à Igreja Católica.
No que diz respeito à “Santa” Inquisição, aí então, qualquer tentativa de branqueamento é quase criminosa, ela própria. A maior parte das pessoas (mas não os novos Templários) tem apenas um vago conhecimento sobre a Inquisição. Esta instituição jurídica foi criada pela Igreja Católica e embora os seus crimes mais conhecidos sejam os dos séculos XV a XVII, ela teve o seu início nos finais do século XII e prolongou-se até ao século XIX. A sua intenção primordial era combater qualquer heresia, qualquer fuga à norma, mantendo, pela força, a pura ortodoxia cristã. Todavia, em muitos casos resvalou para o abuso total, permitindo toda a sorte de assassinatos, torturas, prisões arbitrárias e apropriação indevida de bens. Nas suas fases mais extremas, em que o apelo geral à denúncia era fortemente incentivado, as pessoas eram presas pelos motivos mais fúteis, acusadas por um sismo ou tempestade que tinha ocorrido, por terem blasfemado durante um jogo de cartas numa taberna ou, simplesmente, por gostarem de se lavar (almas limpas não precisam de higiene…). As penas iam desde à prisão temporária à pena de morte, muitas vezes na fogueira, passando pela prisão perpétua e confiscação de todos os bens e propriedades, sendo extremamente frequente a tortura requintada, em qualquer caso. Ninguém estava a salvo, pessoas importantes também foram vítimas. A Igreja Católica enriquecia imenso com estes processos e muitas vezes a cupidez e cobiça de um dignitário eclesiástico levavam a que fosse “fabricada” uma acusação contra algum proprietário, para lhe ficar com os bens e as terras. As famílias eram envolvidas e caíam na mais negra miséria. Perdiam tudo e era proibido auxiliar ou mesmo dar trabalho a familiares de um condenado pela Inquisição. Nem 20 páginas do Diário Insular seriam suficientes para descrever todo o horror da Santa Inquisição, todo o incrível sofrimento causado às vítimas e famílias durante séculos. O total das vítimas, directas e indirectas, ascende a muitos milhares, tendo sido na Espanha dos Reis Católicos, o cúmulo da hecatombe.
O que muita gente não sabe, é que a Inquisição, na verdade, nunca acabou. Só mudou de nome e aparência. Hoje em dia chama-se “Congregação para a Doutrina da Fé” e está sedeada no Vaticano. O seu penúltimo responsável é bem conhecido. Chama-se Joseph Ratzinger e agora é papa.
Quanto aos padres pedófilos… Errar é humano, perdoar é divino. Aceito isso. Mas, antes de os perdoarmos, não podemos crucificá-los só um bocadinho ?
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