FOLHETIM DO ARCO TÔSCO DE ALMEDINA (5)
Setembro 13, 2013
Tarcísio Pacheco
imagem: http://minervaemaggie.blogspot.pt/2010/10/touradas-corda.html
Síntese do anterior: este é o quinto de uma série de artigos relativos ao blog http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/277567.html, de Isabel A. Ferreira (isabelferreira@net.sapo.pt), onde os Terceirenses são bastamente insultados. Os outros artigos foram publicados a 21, 22, 27 e 28 de Agosto. Podem também ser lidos no meu blog http://popeye9700.blogs.sapo.pt/.
Tudo isto foi referente à tourada de praça. A tourada à corda da ilha Terceira é outra história bem diferente mas é evidente que a criatura não tem neurónios suficientes na cachimónia para processar toda a informação. A tourada à corda não tem nada a ver com as de praça, a não ser por envolver toiros. Nem se assemelha a nenhuma outra tradição em Portugal, nem mesmo à “vaca de cordas” de Ponte de Lima, como erradamente referiu a criatura. Um dos argumentos mais fortes dos anti-taurinos é que o toiro é forçado, que ninguém lhe pergunta a opinião. Talvez seja verdade. Mas podemos fazer um exercício de especulação, coisa de que a criatura gosta tanto. Seria muito interessante colher a opinião do toiro terceirense. Como o touro terceirense não existe no estado selvagem e, tal como a raça se define hoje em dia, com as suas caraterísticas específicas, é uma pura criação humana, as duas opções básicas são existir ou não existir. Nenhum animal é criado pelo homem se não servir algum propósito, mesmo que o objetivo seja simplesmente ser mostrado num zoológico ou observado numa reserva. Criar toiros tem custos elevados, o seu crescimento e amadurecimento são lentos (3 a 5 anos), a sua carne não é habitualmente consumida porque é, obviamente, de qualidade muito inferior à do gado de carne e o leite das vacas bravas só interessa aos bezerros delas. Os criadores açorianos de gado bravo são, praticamente sempre, lavradores que vivem de produzir leite e carne. Se a tourada terceirense fosse proibida, era apenas uma questão de tempo até o touro terceirense se extinguir totalmente ou desaparecer na mesma, por cruzamento com o gado manso. Por isso falo em existir ou não existir. Ironicamente, os anti-taurinos, quando falam do que não conhecem, estão, na prática, a promover a extinção do animal que tanto querem defender. Eles clamam que não mas é apenas uma questão de analisar o caso com inteligência. Não espero que a criatura entenda isto, seria pedir demais…Além disso, o touro terceirense, dentro da sua qualidade de animal e sem ironias, é muitíssimo bem tratado e tem uma vida regalada. O touro terceirense não precisa de quem o defenda, obrigado. A gente gosta dele. É óbvio que a criatura não sabe de nada disto mas ela é perita em opinar agressivamente sobre aquilo que desconhece, por isso mesmo é que é ignorante. Praticamente tudo o que é dito sobre o toiro terceirense no blog e facebook da criatura, assim nos dos seus amigalhaços é pura e simplesmente mentira. O toiro terceirense passa seis meses por ano pastando no mato em liberdade no meio das vacas. Nada lhe é exigido nesse período e nem sequer passa por qualquer procedimento de estabulação. É bem alimentado, de forma saudável, sem rações, vive ao ar livre e é tratado por veterinários se estiver doente. Entre Maio e Outubro, está sujeito a participar de touradas à corda. Nos últimos anos foi criada legislação regional específica para proteger os toiros de corda. É óbvio que houve uma evolução neste domínio, como em tudo na vida. Por exemplo, eles só podem correr de oito em oito dias, por isso têm esse período de descanso obrigatório entre touradas; e dantes, por vezes eram encerrados nas chamadas “gaiolas” em que são transportados, ainda de manhã cedo e ficavam ali fechados debaixo do sol; na atualidade, só podem ser “engaiolados” depois das 14h00, contando com o tempo necessário para o seu transporte, que é lento e descarga no destino. De acordo com o calendário, as touradas começam entre as 17h30 e as 18h30. O tempo em que cada animal pode ficar na rua também está definido e varia entre quinze a trinta minutos. Não me parece que trabalhar meia-hora a cada oito dias seja demasiado pesado. Comparativamente, quem me dera ter a vida de um toiro terceirense. Eu trabalho todo o dia, até ás 17h30, cinco dias por semana e o Passos Coelho acha que é pouco. O que acontece nas touradas à corda nem sempre é dignificante mas em qualquer lugar podemos deparar com pessoas grosseiras e mal-educadas. Basicamente, o toiro é amarrado pelo pescoço (com um laço largo, sem dor nem sufocação) e passa meia-hora, no máximo, frequentemente menos, a correr na rua de um lado para o outro, procurando apanhar quem o desafia e provoca, pois é esse o seu instinto natural, apurado através de um trabalho de seleção. É raro haver acidentes graves para o toiro, embora, ocasionalmente, ocorra uma morte, um ferimento ou a fratura de um membro. Um toiro de corda terceirense morre frequentemente de velhice ou de causas naturais. Enquanto tem vigor pode passar bastantes anos sendo corrido porque também são muito apreciados os toiros menos vigorosos mas experientes e matreiros. Os toiros terceirenses são estimados , elogiados e admirados. Os que revelam mais qualidades de bravura tornam-se muito conhecidos e apreciados. São especialmente requisitados (dentro dos limites da lei) e os criadores usam-nos como semental, o que imagino que deva ser ótimo para eles. Não sei se a criatura também é contra o sexo e o quer abolir. Quando morrem deixam saudades, provocam mesmo lágrimas entre os aficionados e a sua memória perdura por muitos anos. São conhecidos pelos seus números e ainda hoje se fala no célebre 90 (touro famoso da minha infância) no 110, no 319, no 314 e mais recentemente, no famoso 64 de Humberto Filipe, falecido precocemente de causas naturais e muito chorado na ilha, tendo ficado na história como “ o toiro das mulheres” ou o “monstro das tapadas”, entre muitos outros cujo número e proprietário não fixei. É frequente que, depois da morte natural de um toiro famoso, a sua cabeça seja confiada a um taxidermista para perpetuar a memória do animal. Em suma, se o toiro terceirense pudesse ser consultado, o que pensaria o bicho, se pudesse escolher entre a não existência, a faca do magarefe em tenra idade (destino da maioria dos seus congéneres bovinos) e este tipo de vida? Acho perfeitamente lícita a especulação. E não me custa nada fazer este exercício de antropomorfização quando a criatura já pôs um toiro a chorar no seu blog. (continua) POPEYE9700@YAHOO.COM