IGREJA CATÓLICA E DIVÓRCIO
Agosto 04, 2013
Tarcísio Pacheco
Adoro ver a Igreja Católica a dar tiros nos pés. A última “bojarda” foi de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto. Diz o santo prelado que Portugal tem de combater a “pesada estatística” de divórcios, acrescentando ainda no mesmo saco, uniões não institucionais e poucos nascimentos.
Atribui grande importância à família, como célula de organização social. Mas tem de ser uma família “cmé dado”, como ele quer, “casais de ambos os sexos e dispostos s conceber e a criar filhos”. Mais uma vez e sempre, a cegueira e a obstinação da Igreja Católica, na sua vã e desesperada tentativa de impor um modelo de sociedade e de vida. Modelo que tentou impor pela força e pela repressão até há bem poucos anos, sempre com base na sua condição privilegiada de arautos de Deus.
As declarações do bispo mostram o mesmo de sempre e acima de tudo, a assombrosa incapacidade da Igreja Católica para se renovar e evoluir. Ainda e sempre, o desprezo pelas famílias não convencionais (as que são formadas por elementos do mesmo sexo) e a visão do casamento na sua vertente mais básica e redutora, a da procriação. Devemos casar-nos pelo mesmo motivo que leva os touros a cobrir as vacas, para perpetuar a espécie. Os touros vieram ao mundo para fazer bezerros e os homens para fazer meninos.
Até do ponto de vista bastante elementar da aritmética social, a Igreja Católica não tem razão quanto aos divórcios. Os divorciados, normalmente, não ficam sós. A maior parte deles, acaba por encontrar outra pessoa que, frequentemente, é divorciada também. Não ficamos, à partida, com famílias destroçadas, como a Igreja gosta tanto de apregoar. O que destroça não é o divórcio mas sim a maldade, o ódio, a falta de ética, o egoísmo e a ausência de verdadeiro amor pelos filhos. E os maus casamentos, tão frequentes, fazem estragos terríveis Os divórcios, na verdade, na sua essência mais pura, são actos de liberdade, que deixam duas pessoas livres para ficarem sozinhas ou formarem outras famílias. Como, a maior parte das vezes, elas não ficam sozinhas, o que acontece não é um fenómeno de solidão mas uma saudável recombinação do tecido social.
A Igreja Católica, em acentuada decadência é, paradoxalmente, especialista em afastar gente. Lembra-me uma pessoa que conheço bem, que tem um problema gravíssimo de solidão e de medo de ficar só mas que não gosta de quase ninguém…A Igreja repele a cada vez mais vasta comunidade de homossexuais e bissexuais. Sendo um dado adquirido na sociedade atual, que o casamento (ou qualquer tipo de união entre duas pessoas) não tem nada a ver, obrigatoriamente, com procriação, torna-se cada vez mais natural o relacionamento, fortuito ou duradouro, entre pessoas do mesmo sexo. Pessoas são atraídas por pessoas. Algumas são atraídas por pessoas do mesmo sexo. A maior parte das pessoas é atraída pelo sexo oposto, nada indica que isso vá mudar, por isso, nunca o homossexualismo poderá ser encarado como barreira à sobrevivência da espécie.
A Igreja continua também a afastar a mulher contemporânea, emancipada, culta, educada, profissional, especializada em algo (que não seja forçosamente o Ensino), uma vez que, no sua organização, para ela apenas reserva papeis passivos, contemplativos, de segunda ordem, como o de freiras, catequistas, irmãs, criadas e amantes de padres. E ainda se reclama da condição de Igreja Universal…Que ridículo. Acredito que, hoje, nenhuma mulher verdadeiramente inteligente, atribui qualquer crédito à Igreja Católica.
A Igreja Católica não é capaz de abandonar os dogmas que ela própria criou há muito tempo atrás, para benefício do seu próprio universo restrito e em prol da sua sede de domínio e controle da Humanidade. Certo, isso não é para os meus dias. Mas, no conturbado mundo de hoje, não faltam factores que contribuem para destruir as pessoas e as famílias, quaisquer que elas sejam. O neo-liberalismo económico, a orgia do lucro, o materialismo, a falsa democracia, a corrupção dos políticos, a escravização das sociedades. É com isso que a Igreja Católica se devia entreter. Mas, como faze-lo se a Igreja tantas vezes é cúmplice e se o tenebroso Vaticano é um exemplo de todos os problemas apontados…